Discurso durante a 22ª Sessão Especial, no Senado Federal

Sessão Especial destinada a comemorar os 98 anos do jornal Folha de São Paulo e a homenagear, in memoriam, o Diretor de Redação Otávio Frias.

Autor
Kátia Abreu (PDT - Partido Democrático Trabalhista/TO)
Nome completo: Kátia Regina de Abreu
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM:
  • Sessão Especial destinada a comemorar os 98 anos do jornal Folha de São Paulo e a homenagear, in memoriam, o Diretor de Redação Otávio Frias.
Publicação
Publicação no DSF de 15/03/2019 - Página 12
Assunto
Outros > HOMENAGEM
Indexação
  • SESSÃO ESPECIAL, DESTINAÇÃO, COMEMORAÇÃO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, HOMENAGEM POSTUMA, JORNALISTA, OTAVIO FRIAS, DIRETOR, REDAÇÃO, PERIODICO.

    A SRA. KÁTIA ABREU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PDT - TO. Para discursar.) – Bom dia a todos!

    Quero cumprimentar o nosso Presidente Antonio Anastasia, nosso competente Senador; o Presidente da Câmara dos Deputados, que nos honra com a sua presença, Deputado Federal Rodrigo Maia; o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Sr. Gilmar Mendes – muito obrigada pela presença –; Governador em exercício do Distrito Federal, Sr. Paco Britto; Vice-Presidente do Conselho Federal da OAB Nacional, Sr. Luiz Viana; e a Diretora de Editorial e Redação do jornal Folha de S.Paulo, Sra. Maria Cristina Frias.

    Quero cumprimentar a todos os jornalistas que aqui se encontram, Embaixadores, Conselheiro do Conselho Nacional de Justiça, Sr. André Luis, Diretor-Geral da Associação Brasileira de Emissoras de Rádio e Televisão, Sr. Cristiano Flores, Diretor-Executivo da Associação Nacional de Jornais, Sr. Ricardo Pedreira, todos os familiares de Otavio Frias Filho, Sérgio Dávila, Diretor-Executivo da Folha de S.Paulo, enfim todos os jornalistas, colunistas importantes do Brasil.

    Obrigado a todos pela presença, especialmente a grande maioria da própria Folha de S.Paulo que está aqui no dia de hoje.

    Ao celebrar os 98 anos do jornal Folha de S.Paulo e relembrar abriu a biografia e memória do notável Jornalista Otavio Frias Filho, ex-Diretor da Folha, que faleceu no ano passado, aos 61 anos de idade, estamos homenageando também a democracia, a liberdade de expressão em todas as formas, sem distinção ou partidarismos, sobretudo neste tempo de redes sociais, de notícias falsas, de fake news e de duros ataques a quem trabalha para levar aos brasileiros informação essencial à existência de qualquer democracia. Onde há desenvolvimento e nações fortes, existe imprensa livre e independente!

    Jornalismo informativo e combativo, como sempre fez a Folha de S.Paulo ao longo de sua história, desde Octavio Frias pai, é essencial para a manutenção de qualquer Estado democrático. Os problemas não estão na imprensa, mas sim nas práticas criminosas, injustiças e irregularidades que ela denuncia com o seu trabalho. A função básica de quem atua com jornalismo é informar e ajudar na correção de rumos, seja de empresas, de governos, ou mesmo da sociedade em seu conjunto. Se a imprensa incomoda é porque está fazendo o seu papel!

    Os excessos e abusos cometidos pela imprensa devem ser levados à Justiça, com todo o rigor, por quem se sente injustiçado. E também defendo, com veemência, que seja dado aos inocentados o mesmo espaço dado na imprensa à época das acusações.

    Otavio Frias Filho foi, sem dúvida, um desses homens que cumpriu importante papel na modernização da imprensa no Brasil. Foi um dos mais cultos e talentosos do País. Como bem escreveu o jornalista Reinaldo Azevedo, Frias foi "dramaturgo de primeira, jornalista rigoroso, ensaísta ousado, dono de uma inteligência fulgurante e de uma discrição como não se vê". Reinaldo Azevedo descreveu exatamente quem era Otavio Frias.

    Sempre elegante no trato das matérias intelectuais e profissionais, Otavio Frias Filho comandou, por décadas, o maior jornal do País, que completou 98 anos no último 19 de fevereiro, sem perder de vista o contraditório, a pluralidade e a diversidade de vozes. E isso está presente na imensa obra que construiu.

    Conheci Otavio em um almoço de trabalho na sede da Folha de S.Paulo. Uma situação comum para ele, mas incomum para mim. Na ocasião, Otavio ouviu com atenção e interesse o que eu disse em defesa da agricultura brasileira e me perguntou: "O que podemos fazer para dar mais atenção ao campo?".

    Falei sobre a necessidade de ouvir os produtores a respeito das leis ambientais. Argumentei que a defesa do meio ambiente não é bandeira deste ou daquele grupo, que o ecossistema sustentável é causa da humanidade.

    Falamos também sobre a insegurança jurídica, que tanto prejudica a atividade produtiva no País, no campo e na cidade. Falamos sobre os preconceitos contra o setor agropecuário. Falamos sobre economia, falamos sobre política.

    Apesar de sua posição de destaque, Otavio sempre conversava com as pessoas, com seu jeito gentil, de saber ouvir, de se interessar pelo que o outro dizia, mesmo se estivesse discordando.

    Acertamos outras conversas depois deste almoço de apresentação e iniciamos ali um diálogo que durou uma década e uma amizade que levarei sempre comigo. E, ao longo desses anos, conversamos muito sobre a vida, sobre tudo, sobre o País, que para mim é maior que a política. Nós dois tínhamos histórias radicalmente diferentes, mas havia um ponto em comum: tanto eu quanto ele assumimos cedo responsabilidades muito grandes.

    E, cada vez em que eu abria a Folha de S.Paulo todas as manhãs, ficava mais claro para mim que aquele homem havia cumprido todas as obrigações que foram exigidas dele.

    Amigo a gente não conhece, amigo a gente reconhece, disse Vinícius de Moraes. Desde o almoço em que o conheci até setembro de 2017, quando ele adoeceu, Otavio Frias agiu como um amigo querido, atento e cuidadoso.

    Fiquei honrada e feliz quando o convidei e ele aceitou visitar o Tocantins. Além de Palmas e Formoso do Araguaia, um grande polo de produção de grãos, estivemos também no Jalapão. O excepcional jornalista crítico, apartidário e pluralista que deixou o jornalismo muito melhor – e muito maior – do que encontrou estava ali, ao lado dos artesãos e das artesãs do meu Estado, no Jalapão, conversando sobre a realidade do nosso Brasil profundo. Apreciou os pontos turísticos de uma beleza esplendorosa no Jalapão: tomou banho no fervedouro, caminhou pelas dunas alaranjadas e se emocionou com a força da Cachoeira da Velha.

    Se ele estivesse na sede da Folha de S.Paulo ou no interior do Tocantins, era a mesma pessoa: sinônimo de simplicidade e de correção. A vida feliz não se vê com os olhos, disse Santo Agostinho. A vida feliz é a que temos até chegar a noite. Não conheci alguém mais civilizado e mais culto que Otavio Frias Filho, sempre interessado no futuro do País, sempre disposto a discutir saídas para o Brasil, sem que tivéssemos de estar de acordo com ele ou ele conosco.

    Naquela altura, fui convidada por Maria Cristina Frias a escrever na coluna Mercado. Escrevi, com total liberdade, centenas de artigos para a Folha dizendo respeito à agricultura brasileira.

    Pela primeira vez, de forma contínua e persistente, durante tanto tempo, os produtores rurais participavam do debate nacional através da minha coluna na Folha de S.Paulo. Toda semana, um artigo explicando a força da nossa agricultura, um espaço extraordinário para esse mundo rural, que tanto ajuda o País.

    A exemplo de tantos brasileiros e de tantas brasileiras de todos os matizes políticos, sou testemunha de uma verdade incontestável: Otavio foi um dos principais construtores e um dos maiores responsáveis pelo ambiente democrático deste País.

    Aprendi com meu amigo: o bom jornalismo é o melhor antídoto para a notícia falsa e para a intolerância. Também aprendi que um jornal não se faz só por quem o escreve, mas também por quem o lê. Precisamos, cada vez mais, de espaços para o contraditório e para o debate feito com liberdade e independência. Nós somos um mundo civilizado.

    Otavio, assim como nós, enfrentou tempos complicados. A destruição dos sonhos dos mais novos, a pobreza entre a maioria da população, os impostos sem as devidas contrapartidas, as políticas sem comando, a sucessão de medidas equivocadas foram e são testes diários à capacidade de não desistir da política, porque ela traz boas soluções para as pessoas e a sociedade. A capacidade de encontrar, dentro de nós mesmos, a força e o amor para continuar a trabalhar por um Brasil melhor e mais justo, a política é capaz disso.

(Soa a campainha.)

    A SRA. KÁTIA ABREU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PDT - TO) – A Folha de S.Paulo, solidificada a partir do projeto de Otavio, tem imperfeições, como ele admitia, por ser feita diariamente, às pressas, a sangue quente; mas é um jornal com vida, com inconformismo e liberdade de pensamento, como acredito que um jornal de verdade deve ser.

    A informação, gostemos ou não, tem o poder de mudar e transformar a vida das pessoas. Quando eu cheguei ao meu Estado, o Tocantins, eu não sabia absolutamente nada sobre agropecuária. Era apenas uma recém-formada psicóloga. E foi com base nas informações, sobretudo as claras e precisas, que criei, por exemplo, meu senso crítico sobre a agropecuária. E isso me ajudou no desafio de me tornar líder nesse importante setor da economia.

    Todo brasileiro tem o direito de decidir sobre seu destino. E, em tempos de fake news, informação de qualidade é essencial nesse processo. É esse um dos serviços que cabe à imprensa. Qualquer tentativa de intimidação desse importante pilar da democracia será inaceitável barreira para o acesso à informação ao cidadão. É também negação à democracia.

    Por isso, quero agradecer, como cidadã, à imprensa brasileira, da qual muitas vezes fui vítima, e lembrar os inúmeros jornalistas que fazem dessa tarefa de informar o seu trabalho diário. Quero lembrar os mais famosos, além de Otavio, como o jornalista Ricardo Boechat, falecido em tragédia de acidente aéreo no início deste ano, e recordar também os demais operadores diários do mundo da informação, tão essenciais, como é o caso de fotógrafos, cinegrafistas, radialistas.

    Encerro com uma frase do jornalista Alberto Dines, um grande pensador, sobre o papel da imprensa:

A imprensa é o espelho do País, mas, como todos os espelhos, é um instrumento polido e trabalhado para que possa representar não só a imagem daquilo que está refletindo, mas aquilo que o objeto gostaria de parecer. A imprensa não deve ser reprodução exata do país que a produz. Tem de ser melhor, para servir de estímulo e fornecer os desafios.

    O Brasil tem muitos e enormes desafios neste momento, e penso que precisaremos superá-los. E isso só será possível com a imprescindível atuação da imprensa. Foi duro chegar até aqui. Não aceitaremos retrocessos. São mais de 200 milhões de brasileiros que optaram pela democracia. Custou, inclusive, muitas vidas. Tomografia da democracia: se pudesse ser tirada em qualquer momento, nós examinaríamos o exame de tomografia e enxergaríamos na transparência as instituições, a liberdade de imprensa e o Estado de direito.

    Muito obrigada.

    Parabéns, Otavio Frias Filho, por tudo você representou para nós, e à Folha de S.Paulo. (Palmas.)

    O SR. PRESIDENTE (Antonio Anastasia. Bloco Parlamentar PSDB/PODE/PSL/PSDB - MG) – Cumprimentando a eminente Senadora Kátia Abreu, autora do requerimento desta sessão de homenagem extremamente oportuna, eu tomo a liberdade de convidar S. Exa. para assumir a Presidência dos trabalhos.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/03/2019 - Página 12