Discurso durante a 46ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Críticas à postura do novo ministro da educação Abraham Weintraub, segundo a qual as universidades do Nordeste não deveriam ensinar Filosofia.

Solidariedade ao Rio de Janeiro, em razão das chuvas que atingem a capital.

Inconformismo com o posicionamento favorável do Presidente Bolsonaro em relação à reeleição. Cobrança ao Governo Federal da indicação do mediador entre Executivo e Legislativo na apreciação da reforma da previdência.

Autor
Jorge Kajuru (PSB - Partido Socialista Brasileiro/GO)
Nome completo: Jorge Kajuru Reis da Costa Nasser
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
EDUCAÇÃO:
  • Críticas à postura do novo ministro da educação Abraham Weintraub, segundo a qual as universidades do Nordeste não deveriam ensinar Filosofia.
CALAMIDADE:
  • Solidariedade ao Rio de Janeiro, em razão das chuvas que atingem a capital.
GOVERNO FEDERAL:
  • Inconformismo com o posicionamento favorável do Presidente Bolsonaro em relação à reeleição. Cobrança ao Governo Federal da indicação do mediador entre Executivo e Legislativo na apreciação da reforma da previdência.
Publicação
Publicação no DSF de 10/04/2019 - Página 14
Assuntos
Outros > EDUCAÇÃO
Outros > CALAMIDADE
Outros > GOVERNO FEDERAL
Indexação
  • CRITICA, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), ABRAHAM WEINTRAUB, POSIÇÃO, REJEIÇÃO, ENSINO, FILOSOFIA, UNIVERSIDADE, REGIÃO NORDESTE.
  • MANIFESTAÇÃO, SOLIDARIEDADE, POPULAÇÃO, LOCAL, RIO DE JANEIRO (RJ), MOTIVO, EXCESSO, QUANTIDADE, CHUVA.
  • COMENTARIO, POSIÇÃO, JAIR BOLSONARO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ASSUNTO, REELEIÇÃO, COBRANÇA, GOVERNO FEDERAL, MEDIAÇÃO, EXECUTIVO, LEGISLATIVO, REFERENCIA, REFORMA, PREVIDENCIA SOCIAL.

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO. Para discursar.) – Brasileiros e brasileiras, V. Exas., nossos únicos patrões, de imediato, o meu agradecimento de sempre ao amigo querido Senador Paulo Paim pela troca.

    Presidente Lasier Martins, estimado amigo, esclareço a sociedade brasileira, como empregado público, que hoje, sem entender, a CPI de Brumadinho foi marcada para 1h30 da tarde e lá só há dois Senadores de uma CPI inteira para questionamento a dois convocados. Eu preciso voltar, pois todos sabem da importância desse crime ambiental.

(Intervenção fora do microfone.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – Querem que eu fale mais alto? Eu falo. Aprendemos no rádio, Senador Lasier.

    Mas não é para rir, não. Pátria amada, desinformada, abandonada, mas idolatrada. Eu estou aturdido. Eu queria que aqui estivessem presentes mais Senadores do Nordeste deste País. Só vejo o Senador Humberto, de Pernambuco. Estou aturdido. Não posso acreditar, mas foi hoje, no seu discurso de posse. E é isso que dá – respeitosamente, Presidente Bolsonaro – escolher para uma pasta da importância da educação um financista, que pode ser até um bom gestor – dizem até que ele está sendo preparado para, depois da festa junina, substituir Paulo Guedes, que não suportará continuar neste Governo –, mas um financista na educação. Eis que ele disparou a seguinte barbaridade, discriminatória a sua fala. Segundo ele, o novo Ministro da Educação, universidades do Nordeste não precisam ensinar Filosofia. Eu estou ansioso, inclusive, para ver o vídeo dessas palavras. Ou seja, só porque nasceu no Nordeste não pode ter acesso ao conhecimento mais nobre que existe. Certo, Presidente? Mais nobre: Filosofia.

    Então, neste Governo, e eu disse para o Presidente Bolsonaro... Uma única vez por telefone, em Goiânia, o seu candidato Davi Alcolumbre estava conversando comigo, toca o telefone, era o Presidente e ele disse: "Eu estou aqui com o Senador Kajuru". E ele brincou: "Deixe-me falar com esse louco aí de Goiás". Ele brincou, eu falei: "Louco, mas não sou ladrão, não é, Presidente?" Ele falou: "Eu também não, Kajuru!". Sim. Eu não gostei da brincadeira. Louco? Não tenho nenhuma intimidade. De louco pode me chamar quem me conhece. Segundo os geniais pensadores, loucura com genialidade é bom. E o Erasmo dizia que a loucura é a única coisa que torna a vida suportável.

    Mas eu já disse aqui nesta tribuna – o Senador Paim deve se lembrar, o Senador Lasier – que este Governo deveria, todos os dias cedo, acordar com uma bronca de um pai e de uma mãe e ouvir a seguinte frase: por favor, no dia de hoje, antes de acionar a boca, ligue o cérebro – se é que o tem, porque alguns não o tem. Não é possível um Ministro da Educação falar tamanha barbaridade como essa e atacar uma região que já sofre neste País e, agora, acaba de sofrer um preconceito. As universidades não precisam ensinar Filosofia. Estou completamente, repito, aturdido.

    Eu gostaria de começar, nesta tribuna, com uma manifestação de solidariedade aos moradores do Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa, que todos nós brasileiros e brasileiras amamos, onde vivi 15 anos de minha vida profissional, onde me casei por duas vezes. Enfim, o Rio vive um estado de crise desde o início da noite de ontem por causa das fortes chuvas que criaram um cenário de guerra em alguns bairros da cidade, sobretudo na zona sul, justamente a área da cidade que abriga a maioria dos cenários naturais que são referências estéticas e turísticas.

    Evidentemente, é difícil enfrentar as consequências de mais de 350mm de chuva em poucas horas. Há regiões no Nordeste em que tal volume de chuva não acontece sequer num ano. O fenômeno, muita chuva em pouco espaço de tempo, vem-se tornando frequente nos últimos tempos. E especialistas o atribuem às mudanças climáticas provocadas pela agressão do homem à natureza, mas também, é claro, falta, no Rio de Janeiro e em outras capitais brasileiras, um trabalho sério de prevenção de riscos em caso de temporais.

    São vários os fatores pelos quais todos são responsáveis: desde o morador que joga lixo na rua até a autoridade municipal, que não faz o trabalho básico de limpeza da rede de esgotos e não se preocupa em desenvolver políticas de segurança para situações de emergência.

    Mas não é só isso. Há seis meses, o Rio sofreu com a destruição do Museu Nacional, em um incêndio que – pasmem, senhoras e senhores – foi provocado por gambiarras no circuito elétrico. A conclusão saiu na semana passada. Há dois meses, houve a tragédia no Ninho do Urubu, Flamengo, com dez adolescentes carbonizados em incêndio no centro de treinamento, multado 31 vezes por falta de alvará.

    O que tais fatos revelam? Improviso, imprevidência, descaso? Infelizmente, características de como fazemos gestão neste País. Em resumo, há situações em que nem o Cristo Redentor, nosso Criador, consegue dar conta. E o cidadão muitas vezes paga também o preço por escolhas erradas – e não se sinta vítima, sinta-se cúmplice –, na hora de cumprir o seu dever cívico eleitoral, ou seja, votar. Como se elege gente irresponsável – irresponsável – em nosso Brasil!

    Mas não vou me aprofundar na questão. Prefiro me restringir ao que falei de início e reiterar a minha solidariedade ao povo do Rio, que amo tanto, em especial, aos familiares das pessoas que morreram em mais uma tragédia anunciada neste Brasil de tantos desmandos.

    Só posso dizer e olhar para cima: Deus, tenha piedade de nós!

    Agora, pasmem de novo, para o encerramento deste pronunciamento, para a gente debater aqui, com coragem, com independência, com isenção, sem revanchismo, pois não sou revanchista.

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – Concluo, sobre promessa de campanha, vou citar uma nota publicada hoje cedo pelo adorável jornal digital O Antagonista.

    Vamos a ela – abro aspas:

[Presidente] Jair Bolsonaro disse que uma das primeiras medidas como Presidente, caso eleito, é mobilizar o Congresso para acabar com a reeleição [projeto que eu apresentei aqui, no Executivo, e outros também]. Isso foi no dia 28 de junho [do ano passado], durante a campanha eleitoral [no primeiro turno]. Ele repetiu a [mesma] promessa às vésperas do segundo turno, em 20 de outubro [do ano passado, das eleições. E o jornal O Antagonista pergunta: isso é] fake news [...] [?]

    Fecho aspas.

    Senador Paulo Paim, que é tão preocupado com fake news, deveríamos ter aqui uma CPI de fake news.

    Presidente Bolsonaro, isso aqui é fake news? Ou então, digo a V. Exa., Senador Lasier Martins, Presidente da sessão, eu quero convocar aqui, para uma audiência pública – V. Exas. aí na tribuna, nas galerias –, o melhor humorista do Brasil para imitar o Presidente Bolsonaro, o Marcelo Adnet, meu amigo pessoal, e quero perguntar a ele numa audiência pública: foi você, Marcelo Adnet, que disse durante a campanha eleitoral que era contra a reeleição, imitando o Presidente Bolsonaro ou foi o próprio que disse e agora quer esquecer isso?

    É fake news, Presidente Bolsonaro, respeitosamente? Porque a notícia tem a ver – pasmem de novo – com o que disse o Presidente Bolsonaro ontem, em entrevista à rede Jovem Pan nacional de rádio. Disse ele – abro aspas: "A pressão está tão grande para que, se eu estiver bem...

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – ... que me candidate à reeleição", disse o Presidente, ou seja, ele quer a reeleição. E eu pergunto: Presidente Jair, é uma promessa de campanha sua? Pergunto.

    O Presidente Bolsonaro disse que, caso se candidate a novo mandato, ele vai fazer a diferença. Ele promete evitar – aspas: "Acordos espúrios que levam a escândalos de corrupção" – fecha aspas.

    Continua ele: "Não quero jogar dominó com ninguém em Curitiba", provocou Bolsonaro, numa referência à sede da Polícia Federal onde Lula cumpre pena. Na mesma entrevista, Bolsonaro reconheceu que a proposta de seu Governo, de reforma da previdência, é impopular, mas ele disse que não teme que o projeto cause qualquer empecilho a uma eventual candidatura. Concluiu: "Se eu pensasse em reeleição, faria uma reforma light, ou não faria. Mas poderia não sobreviver em 2022". Ele já está falando da reeleição.

    E por falar em reforma, acho que está na hora, não sei se os senhores e senhoras concordam, de o Governo definir quem vai fazer a sua articulação política aqui no Congresso, quem é que vai dialogar com os Deputados Federais, quem é que vai discutir mudanças na PEC com os Senadores, porque ontem o Ministro Paulo Guedes e o Presidente da Câmara, Rodrigo Maia, disseram que não vão fazer essa articulação. Os dois participaram de debate promovido pelos jornais O Globo e Valor Econômico e se mostraram bem afinados. Reafirmaram que seguem trabalhando pela aprovação da reforma, mas deixam a articulação para o Palácio do Planalto. No popular, como se diz, Senador Paim: quem pariu mateus que o embale – quem pariu mateus que o embale.

    O Ministro Paulo Guedes voltou a manifestar a certeza de que a PEC da Previdência será aprovada, "tirando uma ou outra coisa". Na semana passada, na CCJ da Câmara, ele já havia admitido alterações nas propostas de mudanças nas aposentadorias rurais e no Benefício Assistencial de Prestação Continuada, o BPC, pago a idosos carentes. Aparentemente, há espaço para negociação, segundo ele. A reforma não vai ser enfiada goela abaixo no Congresso. E que seja assim mesmo. No entanto, cabe a pergunta: quem vai negociar? O Governo completa cem dias amanhã, quarta-feira, acredito que já teve tempo suficiente para amadurecer suas convicções sobre o projeto que ele próprio julga ser o de maior importância neste início de administração. Última palavra – então, que defina quem vai fazer a sua interlocução política em tema de tamanha importância.

(Soa a campainha.)

    O SR. JORGE KAJURU (Bloco Parlamentar Senado Independente/PSB - GO) – O Congresso e o povo brasileiro merecem consideração e respeito.

    Agradecidíssimo pela paciência, Presidente, em função do outro compromisso lá na CPI de Brumadinho.

    E mais uma vez, obrigado, Senador Paim, pela compreensão.

    Obrigado, Pátria amada!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/04/2019 - Página 14