Discurso durante a 18ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

Indignação com a presença dos irmãos e sócios da empresa JBS, Joesley e Wesley Batista, na comitiva que acompanha o Presidente Lula à China. Preocupação com a suposta crise de valores que o País vivencia.

Autor
Eduardo Girão (NOVO - Partido Novo/CE)
Nome completo: Luis Eduardo Grangeiro Girão
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Assuntos Internacionais, Atividade Política:
  • Indignação com a presença dos irmãos e sócios da empresa JBS, Joesley e Wesley Batista, na comitiva que acompanha o Presidente Lula à China. Preocupação com a suposta crise de valores que o País vivencia.
Aparteantes
Jorge Kajuru.
Publicação
Publicação no DSF de 23/03/2023 - Página 28
Assuntos
Outros > Assuntos Internacionais
Outros > Atividade Política
Indexação
  • DESAPROVAÇÃO, PRESENÇA, SOCIO, EMPRESA, PRODUTO, CARNE, GRUPO, ACOMPANHAMENTO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, VIAGEM, PAIS ESTRANGEIRO, CHINA, PREOCUPAÇÃO, CRISE, VALOR, PAIS.

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE. Para discursar.) – Muitíssimo obrigado, Sr. Presidente desta sessão, Senador Plínio Valério, do Estado do Amazonas.

    Queria cumprimentar também o Senador Kajuru, demais Senadoras, Senadores, assessores, funcionários desta respeitosa Casa, Senador Esperidião Amin e brasileiros que estão nos assistindo neste exato momento.

    O pronunciamento que eu quero fazer hoje aqui é sobre essa inversão de valores em que o nosso país está mergulhado. E isso é um problema nosso. Não é um problema, absolutamente, que a gente deve personalizar, mas a gente tem que problematizar para buscar solucionar a situação. Tudo, ou a gente aprende pelo amor, ou a gente aprende pela dor, e a verdade tem que ser entregue como uma pedra preciosa, com amor, porque, se simplesmente pegarmos essa pedra preciosa, esse diamante, e a jogarmos na cara, a gente vai estar ferindo. Mas, se a enrolarmos no papel de veludo e entregarmos para o destinatário, a gente está fazendo um papel, inclusive, cristão.

    A JBS era uma empresa familiar que começou na década de 50 como açougue, matadouro e, depois, frigorífico de carnes. Mas, a partir de 2007, durante o primeiro Governo Lula, acontece um verdadeiro fenômeno empresarial: através de generosos empréstimos concedidos pelo BNDES, que totalizaram R$8 bilhões – "b", de bola; "i", de índio –, entre 2007 e 2011, a JBS se transforma na maior produtora e exportadora de carnes do mundo.

    Já na sua primeira grande operação internacional, realizada em 2007, com a compra de um dos maiores frigoríficos norte-americanos, a Swift, por R$1,4 bilhões – "b", de bola; "I", de índio –, foram detectadas várias irregularidades que, segundo o TCU, provocaram um prejuízo de R$126 milhões ao BNDES.

    Tal relatório já responsabilizava diretamente não só o Presidente do banco, mas também o Ministro da Fazenda de Lula, Guido Mantega. O esquema foi tão pesado que o BNDES tornou-se, Sr. Presidente, o segundo maior acionista da empresa JBS, com 21% das ações.

    Depois do início da Operação Lava Jato, em 2014, os irmãos Batista se anteciparam e fizeram um acordo de delação premiada de forma a evitar uma provável prisão. Fizeram revelações estarrecedoras, com a organização de um verdadeiro "propinoduto", nos moldes da Odebrecht, que transferiram cerca de R$500 milhões, ou seja, meio bilhão de reais, para 1.829 políticos – Governadores, Senadores, Deputados Federais, Deputados Estaduais ––, de 28 partidos políticos.

    Na época, o jornal O Globo, dá a seguinte manchete – eu abro aspas –: "Lula e o PT institucionalizaram a corrupção, diz Joesley". Isso porque foram enviados para contas abertas em paraísos fiscais do exterior U$150 milhões, nos Governos Lula e Dilma, para serem usados nas campanhas eleitorais.

    Mas os escândalos envolvendo os negócios dos irmãos Batista não se limitaram àqueles trazidos pela Operação Lava Jato.

    Depois da criação da holding J&F para controlar investimentos bilionários, mais crimes foram praticados e descobertos por outras operações, como a Bullish, Sépsis, Cui Bono, Carne Fraca – crimes de suborno, transações fraudulentas, sonegação e descumprimento de normas sanitárias essenciais. Um acordo de leniência fixou uma multa de R$10,3 bilhões – "b" de bola, "i" de índio –, a maior multa já aplicada em toda a história. Um acordo...

    E aí eu quero fazer aqui um aparte.

    É importante que a gente lembre que, em 2019, o Ministério Público Federal pede a anulação da colaboração premiada por terem omitido informações e se beneficiado com informações privilegiadas para ganhar mais dinheiro no mercado financeiro. O Ministério Público Federal pede também a prisão preventiva dos irmãos Batista, que é derrubada pelo STJ. Além disso, de tudo isso, a holding J&F responde ainda a vários processos na Comissão de Valores Imobiliários.

    Mas por que, senhores – muita gente pode estar agora aqui no Plenário do Senado ou fora dele; você que está em casa, você que está agora nos acompanhando no trabalho, na rua –, o Eduardo Girão está trazendo aqui esse relato resumido sobre os irmãos Joesley e Wesley Batista? Por que esse Senador está falando isso? Porque eles foram agora, nesta semana, convidados de honra na grande comitiva que acompanha Lula à viagem à China, entre 26 e 31 de março.

    Qual é o melhor adjetivo a ser usado nesse caso? Indecente? Indecoroso? Despudorado? Imoral? Todos eles são ainda insuficientes, pois não estamos apenas tratando de corrupção e impunidade praticadas por gente poderosa. No Brasil, a corrupção – a gente sabe – é um verdadeiro câncer em metástase, um câncer que, respeitando quem pensa diferente, no meu modo de entender, é agravado pela nossa Suprema Corte quando acabou, em 2019, com a prisão em segunda instância e decidiu, em seguida, revogar a condenação de Lula.

    Estamos falando de valores morais. Estamos falando de dignidade. Estamos falando de caráter. Estamos falando de ética e de honestidade. Estamos falando de herança cultural, que será deixada para as próximas gerações dos nossos filhos e netos.

    Senhoras e senhores, quando o ex-Gerente do terceiro escalão da Petrobras, Pedro Barusco, fez acordo de delação premiada na Lava Jato, o que evitou a sua prisão em regime fechado, declarou ao juiz que se sentia aliviado ao devolver ao Brasil US$100 milhões.

    Senador Plínio, um gerente do terceiro escalão da Petrobras, empresa sua, empresa minha, empresa dos assessores, de quem está nos ouvindo, empresa do Brasil, um gerente de terceiro escalão devolveu US$100 milhões – mais de meio bilhão de reais, com "b" de bola e "i" de índio. Ele disse, o Sr. Pedro Barusco, que a corrupção é um caminho sem volta.

(Soa a campainha.)

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Nós não podemos jamais esquecer que a Lava Jato conseguiu recuperar R$22 bilhões – me perdoe, bi, com "b" de bola e "i" de índio. Ela já recuperou para o Brasil essa quantia, roubada, roubada do povo brasileiro, e que deverá ser devolvida em 20 anos. Mas uma parte já voltou, inclusive com declarações públicas da própria Petrobras, com atestados, enfim.

    Nós vivemos tempos muito difíceis, mas não podemos desistir. Por mais poderoso que seja um sistema corrompido e corruptor, ele nunca conseguirá ser superior a toda uma nação unida que almeja por desenvolvimento e justiça social. São tempos de resistência, porque, acima do poder político e econômico das criaturas humanas, impera a soberana justiça divina.

    Vivemos aqueles tempos – para encerrar. Sr. Presidente, agradecendo a sua benevolência – profetizados pelo Patrono desta Casa, nesse trecho memorável de discurso feito em 1914 no Plenário do Senado Federal. Abro aspas para encerrar e passar o aparte para meu amigo, meu irmão, Senador Kajuru: "De tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantaram-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da desonra e a ter vergonha de ser honesto". Ruy Barbosa, Patrono desta Casa. Há duas semanas, nós celebramos aqui os cem anos da sua passagem para o mundo espiritual. Ele está mais vivo do que nunca.

    Senador Kajuru, o senhor tem um aparte.

    O Sr. Jorge Kajuru (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO. Para apartear.) – Agradeço. Amigo irmão Girão, eu sou do seio da sua família e você é um dos poucos amigos dessa forma que fiz aqui dentro, nestes quatro anos. Discordar de você me dói, mas você respeita sempre quem discorda.

    Eu vou lhe falar: ninguém aqui conhece mais do que eu a história da JBS. Eu sou de Goiás. Não foi o Governo Lula que abriu as portas escancaradas para a corrupção do grupo JBS.

    Presidente da sessão Plínio, saiba: o nome – que eu não cito e que você citou da tribuna – sabe o que fez? Isto foi denúncia do Ministério Público Federal, o Ministro, hoje Senador, Moro, deve se lembrar, foi matéria do Jornal Nacional: o sócio da JBS declarou que cansou de dar dinheiro vivo em caixa dois para esse ex-Governador de Goiás, cujo nome você citou. Foi matéria do Jornal Nacional. Ele declarou, e o denunciado não falou nada, ficou calado e, depois, foi parar na cadeia, conforme eu falei, no camburão.

    Então, foi o Governo do PSDB que abriu as portas da corrupção dessa sórdida empresa JBS.

    Não vou discordar de tudo o que você falou. Você, no meio, esqueceu-se apenas de um outro: o Presidente Temer. O Presidente Temer também abriu as portas para o Grupo JBS. Você se lembra daquela conversa, à noite, às 10h30 da noite, na casa de Temer, no Palácio, com o Joesley, da JBS.

    Então, eu queria apenas fazer essa colocação e lembrar que o Governo Bolsonaro, que prometeu que iria taxar as grandes fortunas e enfrentar as grandes fortunas corruptas, como essa da JBS, nada fez nos seus quatro anos. Tivesse feito Bolsonaro, hoje, certamente, esse Joesley Batista não iria na comitiva para a China.

    Mas eu concordo com você: ele não poderia estar nessa comitiva.

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Que bom.

    O Senador Kajuru, sempre justo, com colocações que agregam o nosso discurso. Peço que inclua a íntegra, Sr. Presidente, do aparte do Senador Kajuru no meu discurso...

(Soa a campainha.)

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – É aquela velha história, Senador Kajuru: um erro não justifica o outro.

    Com corrupção, a gente não pode ter tolerância. Com impunidade, também não.

    Então, seja Temer, seja Bolsonaro, seja quem for, seja de esquerda, seja de direita, seja de centro, a gente precisa entregar a verdade e mostrar as incoerências, mostrar a tolerância que, de uma certa forma, pode estar leniente com o crime.

    Então, é muito importante que a gente deixe claro que o importante é o valor, é o valor do que nós estamos falando aqui, da importância de termos virtudes a passar para as futuras gerações.

    Muito obrigado.

    O Sr. Jorge Kajuru (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – Só rapidamente dizer que eu esqueci uma informação importante, o Jornal Nacional trouxe a matéria, na época: o então Governador de Goiás Marconi Perillo concedeu um perdão fiscal...

(Soa a campainha.)

    O Sr. Jorge Kajuru (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PSB - GO) – ... à JBS de R$20 bilhões. Foi aí que ela começou a nadar em mar livre.

    Um perdão fiscal de R$20 bilhões, denúncia do Ministério Público Federal, matéria do Jornal Nacional!

    O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Que a verdade possa sempre vir à tona. São importantes esses dados, para que a gente possa lembrar a história e não esquecer.

    Mas o atual, o factual é que, na comitiva de Lula, a maior parte dos empresários que estão indo é ligada à JBS.

    Isso é uma vergonha para o nosso país, para um Governo que acaba de assumir e que, infelizmente, parece que não aprendeu nada com o passado.

    Muito obrigado, Senador Plínio.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/03/2023 - Página 28