Discurso durante a 28ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com o uso das redes sociais como fomentadoras dos discursos de ódio e violência, o que motiva a necessidade de realização de audiência pública para discussão do tema. Reflexão acerca da liberdade de expressão e de seus limites no contexto das redes em uma sociedade democrática. Apelo para a importância do não compartilhamento de casos de violência extrema.

Registro da inclusão do Presidente Lula na lista das cem pessoas mais influentes em 2023 pela revista Time, dos Estados Unidos.

Autor
Paulo Paim (PT - Partido dos Trabalhadores/RS)
Nome completo: Paulo Renato Paim
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
Direitos Individuais e Coletivos, Telefonia e Internet:
  • Preocupação com o uso das redes sociais como fomentadoras dos discursos de ódio e violência, o que motiva a necessidade de realização de audiência pública para discussão do tema. Reflexão acerca da liberdade de expressão e de seus limites no contexto das redes em uma sociedade democrática. Apelo para a importância do não compartilhamento de casos de violência extrema.
Homenagem:
  • Registro da inclusão do Presidente Lula na lista das cem pessoas mais influentes em 2023 pela revista Time, dos Estados Unidos.
Aparteantes
Eduardo Girão.
Publicação
Publicação no DSF de 15/04/2023 - Página 8
Assuntos
Jurídico > Direitos e Garantias > Direitos Individuais e Coletivos
Infraestrutura > Comunicações > Telefonia e Internet
Honorífico > Homenagem
Matérias referenciadas
Indexação
  • PREOCUPAÇÃO, UTILIZAÇÃO, MIDIA SOCIAL, INTERNET, DISCURSO, VIOLENCIA, RACISMO, NECESSIDADE, AUDIENCIA PUBLICA, COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS (CDH), COMENTARIO, LIBERDADE DE EXPRESSÃO, LIMITAÇÃO, DEMOCRACIA, SOLICITAÇÃO, CONSCIENTIZAÇÃO, COMPARTILHAMENTO, FATO, INCENTIVO, CRIME, DEFESA, DIREITOS E GARANTIAS FUNDAMENTAIS.
  • REGISTRO, INCLUSÃO, LUIZ INACIO LULA DA SILVA, PRESIDENTE DA REPUBLICA, RELAÇÃO, INFLUENCIA, PERIODICO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA).

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Para discursar.) – Senador Styvenson, é uma satisfação estar na tribuna, neste momento, com V. Exa. coordenando os trabalhos, com o Senador Girão e com o Senador Izalci, que estão no Plenário.

    Sr. Presidente, eu quero falar um pouco hoje sobre as redes sociais. É um tema que a Comissão de Direitos Humanos... Senador Girão, se eu não me engano, tem até lá um requerimento seu para debater esse tema também. Eu vou falar aqui sobre as redes sociais.

    As redes sociais, ou redes digitais, estão sendo usadas radicalmente no Brasil. Muitas vezes incitam o ódio, a violência, o racismo e diversas fobias. Tudo isso preocupa todos nós. E por isso, Senador Girão, já teremos uma audiência pública provocada por V. Exa., cujo eixo de debate é esse, as redes sociais.

    Isso aumentou, de forma expressiva, nos últimos anos, deixando todos nós perplexos e até com medo. O medo é normal que as pessoas sintam, uns mais e outros um pouco menos, mas todos sabem que o medo faz parte das nossas vidas. Nichos transformaram as redes sociais em depósitos de verborragia, onde o vale-tudo é a regra. A terra de Marlboro é uma fala popular, mundial, para expressar um lugar sem lei. Liberdade de expressão e de opinião não é liberdade de agressão, de ofensa; não é fomento à criminalidade, não é fomento a mortes e até a assassinatos, como estamos vendo crescendo no Brasil.

    Os resultados são trágicos. Não podemos subestimar o potencial negativo que elas têm no indivíduo que as utiliza e também no chamado inconsciente coletivo. Eu costumo dizer que é uma viagem sem volta, sentimentos e comportamentos dos mais desumanos se fazem aflorar – e ninguém, em sã consciência, pode querer isto, instigar que a parte mais ruim do ser humano seja aflorada.

    Vamos falar só de um dos últimos casos, senão eu vou ter que falar das facadas que o menino deu agora em quatro, mais daquele caso em que três crianças foram mortas a machadadas – meu Deus, que é isso? Ao longo da minha vida, nesses 73 anos, quando eu penso que já vi tudo, percebo que não vi nada. Nunca tinha ouvido falar isso, nunca tinha visto três crianças numa escola serem mortas a machadadas.

    Fomenta-se, assim, a violência, o ódio de irmão contra irmão, o racismo, a homofobia, a xenofobia, o feminicídio, a pedofilia. Fomenta-se, assim, a capacidade da criminalidade, da psicopatia – entre aspas – "daqueles que precisam de palco para se autoafirmar" e saem matando pessoas. É inadmissível isso, é um de um crime hediondo de que nós estamos falando aqui, é de crimes hediondos.

    Mas este processo não é por acaso. Na minha opinião, é devido à complexidade da tecnologia. Estamos aqui discutindo, queiramos ou não, todos os dias, no Brasil e no mundo, a inteligência artificial e a influência.

    Sr. Presidente, há um tratamento específico, e aqui para compor um pouco mais desta minha fala, eu cito Niall Ferguson, A praça e a torre: redes, hierarquias e disputas pelo poder, de 2019.

    A nossa esperança, senhoras e senhores, é termos cidadãos da internet. Mas o que vimos hoje no Brasil, especificamente, é a proliferação do primitivismo em rastilho de pólvora a explodir no nosso país. Incabível que divulguem montagens com discurso de ódio contra homens públicos. Isso é inadmissível! Inaceitável que deixem proliferar nas redes chamamentos para atentados e massacres. O pânico se instala nas famílias, entre os jovens, na escola, em toda a sociedade, no campo e na cidade.

    Pesquisa da RD mostra que no Brasil são 171,5 milhões, olhem bem, 171,5 milhões de usuários ativos nas redes sociais, 79,9% da população brasileira, ou seja, 80% da população brasileira. Esse número representa um crescimento de 14,3% ou de 21 milhões de usuários de 2021 para 2022. Portaria do Governo visa à responsabilização das plataformas digitais na vinculação de conteúdos com apologia à violência nas escolas.

    Todos nós temos que nos movimentar contra essa violência, que, para mim, é inexplicável. É tão absurda que só pode ser considerada crime hediondo e todos nós temos o dever de falar desse tema, como eu tenho visto outros Senadores lá na Comissão de Direitos Humanos e aqui no Plenário, também, falando.

    A Comissão de Direitos Humanos deste Senado, da qual sou Presidente, não vai se omitir – não vai se omitir. Vamos, sim, ouvir especialistas de todas as áreas, do Governo, da oposição, Facebook, Twitter, Instagram e TikTok. Por isso, eu lembrei do seu requerimento. Não está citado o seu nome aqui, mas eu lembrei quando escrevi, dizendo: "Olha, o Girão, se não me engano, já tem lá um requerimento". E, se for em cima do seu requerimento, vamos construir, se for necessário, uma audiência, duas audiências, tantas quantas forem necessárias, para ajudarmos a combater essa chaga do mal.

    Temos que tratar as redes sociais como direito humano. Assim eu penso. E, se assim o é, com normas que reconhecem e protegem a dignidade de todos os seres humanos. Não podemos permitir que usem esse espaço privilegiado para a perversidade, para pregar o ódio, a destruição e até o assassinato; para incitar instintos selvagens e cruéis, para atacar a democracia, a liberdade e as políticas humanitárias, o voto, proliferar fake news, atiçar um contra o outro. Não podemos permitir isso. Temos que ter posição.

    Uma pesquisa da Universidade de Ijuí, no meu Rio Grande do Sul, mostra o alto grau de violação dos direitos humanos na internet. Abro aspas: "É uma das práticas mais frequentes, por meio de comentários, posts ofensivos e até discussões" sem nexo, que vão para a ofensa pessoal. Eu sempre digo: mesmo o homem público, ele tem todo o direito de pensar diferente, situação ou Oposição, ter visões que não sejam as mesmas, mas nem por isso você tem o direito de tratar o outro como se fosse um inimigo mortal, como se instalasse um campo de guerra, não é isso e não é por isso que nós estamos aqui.

    Eu tenho, e falo por mim aqui, Senador Styvenson, Senador Girão, Senador Izalci – que está aqui no Plenário também, ele tinha se deslocado, mas já está aqui de volta –, eu tenho uma relação com todos os senhores. Agora Senador Girão, por um requerimento seu, eu vou ao seu estado para um debate que vai ter na Assembleia sobre a questão da saúde. E qual é o problema? Não vejo problema nenhum.

    Estarei lá, claro, representando a Comissão de Direitos Humanos, mas o requerimento é de sua autoria. Como iria aos outros estados, a qualquer estado, porque foi uma decisão, quando eu assumi, que o Plenário tomou, teríamos também diligências. E nas diligências eu vou tentar estar em todas presente.

    Aí alguém disse: "Mas tu vais ter pique para estar?". Olha eu só não vou ter pique quando eu estiver lá deitadinho para sempre, com a alma indo para o céu. Até lá eu estarei sempre fazendo aquilo que eu entendo que é defender causas justas.

    Sr. Presidente, eu digo que um espaço público tem que ser um instrumento potencial para defender a democracia, a liberdade, a justiça e as políticas humanitárias. Mas também temos de entender que se não tiver nada que dê um norte, que dê um guia, ele se mostra um instrumento frágil.

    Faço um espaço para fazer um apelo aos que nos assistem neste momento pela nossa tão querida TV Senado, que é um instrumento de liberdade. A TV Senado, a Agência Senado, a Rádio Senado, são, sim, um instrumento de liberdade. Aqui, todos são ouvidos. Qualquer um que vier a esta tribuna por aquilo que ele falar é responsável, a TV Senado bota no ar, porque é ao vivo, aqui não tem censura. E eu agradeço muito pelo potencial que é hoje a TV Senado para fortalecer a democracia.

    Aos que estão nos ouvindo pela Rádio Senado, pela TV Senado e pela própria Agência Senado, peço a todos, a todos, independentemente dos elogios que eu fiz aqui ao sistema de comunicação aqui do nosso Senado, mas a todos, todos os veículos que não repassem mensagens de ódio, de violência e de incitação ao crime, que não compartilhem – estou me refiro aqui às redes sociais –; observem o comportamento dos seus entes queridos, dos seus filhos, de seus familiares, alunos, amigos. Isso é muito importante, é prevenção, é prevenção!

    Nelson Mandela dizia, a frase é antiga, mas eu a repito tantas vezes quanto for necessário, ninguém nasce odiando outra pessoa pela cor de sua pele – e eu diria pelo que pensa ou pelo que fala –, por sua origem ou ainda pela sua religião. Para odiar as pessoas, vocês precisam aprender. Aprender a odiar? Não! Aprender, sim, a amar.

    E Nelson Mandela diz: se podem aprender a odiar, com muito mais facilidade podem aprender e ensinar o amor, a importância de amar.

    Senhoras e senhores, é sobre isso que estamos falando. Temos que ensinar as pessoas a amar, a respeitar, a sermos solidários, fraternos, tolerantes, seres humanos, a respeitar a vida, respeitar o outro, a adversidade e a diferença.

    Sr. Presidente, eu termino agora, nos últimos dois minutos, só para fazer um registro. Registro, com alegria – acho que é importante para todos nós, para a democracia, para o mundo –, que o Presidente Lula foi incluído na lista das cem pessoas mais influentes em 2023, segundo a revista Time, dos Estados Unidos.

    O perfil do Presidente é assinado pelo ex-Vice-Presidente dos Estados Unidos, em que ele aponta Lula como um campeão do clima em um contexto de ações políticas para mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Abrem-se aspas:

Depois de anos de degradação e destruição ambiental sancionadas [...] [infelizmente pela participação em muitos países], o povo do Brasil escolheu um novo caminho ao eleger um campeão do clima [diz o ex-Vice-Presidente] em Luiz Inácio Lula da Silva.

O perfil destaca que o Presidente Lula prometeu fortalecer a posição do Brasil no mundo, renovando o compromisso do país com a democracia, justiça e equidade [...] [com a própria economia e com a responsabilidade social].

Lula aparece na categoria "líderes", ao lado de políticos como os presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da Colômbia, Gustavo Petro, [entre outros].

A lista [...] inclui [...] políticos, artistas, empresários e esportistas e não estabelece uma ordem de classificação. Nenhum outro brasileiro está na lista [...].

    Eu faço questão de destacar que a lista coloca os cem com mais destaque, sem dizer: esse é o primeiro, esse é o segundo, esse é o melhor, esse é por esse motivo ou não. Diz e coloca ali o motivo de estar entre as cem pessoas com mais destaque no mundo.

    Era isso, Presidente.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Querido Senador Paulo Paim, se o senhor puder me dar um aparte.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Com certeza, Senador Girão.

    O Sr. Eduardo Girão (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE. Para apartear.) – Com a aquiescência do nosso Presidente, Senador Styvenson Valentim, que é também um idealista da questão da educação no Brasil, a Escola Maria Ilka, que eu tive a oportunidade de conhecer no Rio Grande do Norte, tem um trabalho seriíssimo dentre essas escolas que trabalham a ordem. E, infelizmente, o atual Governo, com todo o respeito a quem pensa diferente, não priorizou as escolas cívico-militares, que a população abraçou. Há filas grandes para entrar, para ter novas oportunidades, e este Governo, infelizmente... E o Ministro da Educação, que é do meu estado, uma das primeiras coisas que fez foi desmobilizar esse programa, que foi um sucesso e que eu tive a oportunidade de testemunhar na escola coordenada pelo Senador Styvenson.

    Mas, Senador Paulo Paim, eu queria lhe parabenizar pelo seu pronunciamento, pela sua forma democrática de ser. Isso aí é inegável. O senhor colocou para votar o requerimento extrapauta para a gente ouvir as big techs. Têm outros nomes também que eu gostaria de sugerir que a gente possa ouvir nessa audiência que vai ser marcada ainda sobre essa contenção. E a tecnologia tem que ser usada a favor da vida, sim, e não só para vender coisas, como a gente percebe na inteligência artificial funcionando com algoritmos, Senador Styvenson. Ela pode interferir em ataques? Pode! E os órgãos de Estado – o Ministério da Justiça, a Polícia Federal – podem se utilizar das big techs para identificar quem, porventura, está estimulando isso, porque me parece algo orquestrado, pelo que a gente tem visto aí, o temor. As minhas filhas estudam numa escola e ontem, para dormir, foi difícil e isso está acontecendo com todo mundo, de diferentes classes sociais, o temor pelo que está acontecendo nas escolas.

    Agora, se tem algo orquestrado, o Governo tem que identificar rápido, e as big techs têm que ajudar. Agora, isso não é motivo, quero deixar isso muito claro, Senador Izalci, isso não é motivo para o oportunismo, que espero que não ocorra no Brasil. Fiquei surpreso com a fala do Ministro da Justiça relacionando os ataques nas escolas com os atos do dia 8 de janeiro, uma coisa que não tem absolutamente nada a ver com a outra. Ele faz essa ligação, no meu modo de ver, oportunista.

    Eu também estava vendo uma matéria que, por exemplo, teve o relatório do Governo de Transição – olha a gravidade disto: o relatório do Governo de Transição –, ainda de dezembro, 13 de dezembro de 2022. "Relatório [...] produzido com pesquisadoras da Rede da Campanha aponta como coibir violências geradas por discursos e práticas ultraconservadores", em 13 de dezembro, falando de atentados em escolas que ainda não tinha. Aí você vai pegar quem financia essa ONG e são Fundação Bill e Melinda Gates, Campanha Nacional pelo Direito à Educação, financiada por... São instituições que defendem a legalização do aborto, questão ideológica mesmo, a indústria farmacêutica e isso aqui me preocupa muito, com relação ao que a gente está vendo. Que não se use isso para criminalização do discurso conservador, do discurso da direita, não tem nada a ver uma coisa com a outra.

    Aliás, Presidente, teve um professor que, depois do covarde ataque, relatado pelo Senador Paulo Paim, que aconteceu em Blumenau, uma tragédia, teve um professor, em Joinville, Senador Izalci, que você acredita que ele defendeu os ataques? Ele defendeu, ele fez uma defesa. Aí foi se pesquisar esse professor, Senador Paulo Paim – é por isso que a gente não pode misturar alhos com bugalhos, porque a gente tem que entender qual a origem disso –, esse professor, sabe o que ele fazia? Ele critica que no mundo tem muita gente – o que é um discurso muito utilizado por ambientalistas, inclusive – e ele critica a religião das pessoas, zombava da religião das pessoas, alunos estão testemunhando lá, ou seja, o meu receio com a caçada à liberdade de expressão que a gente está vivendo no Brasil é que isso seja usado, e a gente precisa ficar atento, como uma forma de calar mais ainda os conservadores que estão sob ataque numa democracia em que a gente vive no Brasil.

    Então, Senador Paulo Paim, eu o cumprimento pelo discurso, para a gente ter atenção com relação a isso. O senhor é muito cuidadoso com isso, eu testemunho isso, o senhor é muito cuidadoso.

    E a gente tem que ter muito cuidado para não entrar em narrativas que possam, de alguma forma, levar para o lado político. A questão é humana, a questão é realmente técnica. E a gente precisa ter atenção a isso.

    Muito obrigado.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Senador Girão, tenha certeza absoluta... Eu uso muito o termo "políticas humanitárias". Essa é a nossa preocupação. Se nós levarmos isso para um debate ideológico... Eu nunca virei à tribuna dizer que a pessoa que não pensa como eu penso no campo ideológico é culpada dos massacres e dos assassinatos. Nunca direi isso. Todos sabem que eu nunca direi, porque é irracional, a menos que seja uma pessoa realmente, eu vou usar o termo, "doente". Se eu usar outro termo, vão dizer "não, nem ciclano faria isso". Agora, se é doente, vá se tratar.

    Agora, eu entendo, Senador Girão, que nós temos, ao mesmo tempo, de ter o cuidado devido para não dizer que o culpado é um setor conservador ou é um setor de centro ou de esquerda, culpado de algo irracional, de crimes hediondos como esses. Nós não podemos acusar uns aos outros. Não fiz isso ao longo do meu pronunciamento.

    V. Exa. viu muito bem que eu me socorri, inclusive, do seu requerimento. Não vou apresentar um outro requerimento, mas vou apresentar um requerimento, sim, para que... E eu gostaria mesmo que o Ministro da Justiça... Fica aqui já o convite. Como alguém disse, eu repito: a Comissão de Direitos Humano é uma Comissão em que se trata de todos os temas. Vou convidar o Ministro da Justiça – convidar – para que ele venha à Comissão de Direitos Humanos, como veio a Ministra Anielle nesta semana. Passaram por lá 17 Senadores. Ela foi aplaudida de pé depois da sua exposição, pela sua simpatia, pela forma equilibrada e tranquila como fez toda a exposição. Vou convidar também o Ministro da Educação para que venha à Comissão de Direitos Humanos dialogar conosco. E tenho certeza de que eles virão para que a gente tenha oportunidade lá de ver...

    Eu, por exemplo, desde moleque... Muitos são contra o sistema das escolas técnicas. Eu vim de uma escola técnica! Foi por isso que eu cheguei aqui. Eu era, Senador Styvenson, um vendedor de banana em Porto Alegre, numa feira livre de um primo meu. Felizmente, passei num concurso de escola técnica – naquele tempo, era concurso –; passei, confesso que entrei na suplência, mas entrei; e tive uma profissão que me permitia ganhar como se fosse hoje um salário de R$5 mil. É claro que minha vida mudou: eu ganhava meio salário mínimo e passei para R$5 mil.

    As escolas militares sempre existiram, Senador Styvenson, em todos os governos que passaram. Ditadura ou não, sempre existiram. Colegas meus formaram em escolas militares, seguiram carreira ou não. E sempre existirão. O que não dá, na minha avaliação e na minha opinião, é a gente achar que todas as escolas agora vão ser escolas militares. Eu estou exagerando, porque sei que não é essa a intenção. Agora, também ninguém vai proibir que existam escolas militares. Sempre existiram e vão continuar existindo. Então, é importante que o Ministro da Educação venha, que ele coloque o que ele está pensando, como ele está vendo este momento.

    E eu tenho certeza de que o Governo sabe que esta Casa é uma Casa de diálogo. É aqui que nós vamos construir os grandes entendimentos, seja na área da educação, seja na da saúde, seja na da habitação, seja na das liberdades, seja para fortalecer a democracia, seja na área do próprio direito.

    Vocês sabem que eu atuo muito no mundo do trabalho. Eu, por exemplo, sou o autor do Estatuto do Trabalho, e alguém já veio me perguntar: "Ah, o seu estatuto vai dizer que é tudo para o trabalhador?". Meu Deus do céu, o Estatuto do Trabalho, se ele não tiver um equilíbrio, não passa nesta Casa! É ou não é? Vocês são testemunhas. Quem achar que vai fazer um Estatuto do Trabalho só para um lado ou só para outro está perdendo tempo e gastando dinheiro público. É um debate equilibrado, olhando os tempos modernos. Como o mundo todo mudou – tecnologia, robótica, cibernética, como eu digo, inteligência artificial –, o Estatuto do Trabalho vai ter que ter esse olhar.

    E as outras políticas todas também. Se nós queremos, de fato, um país para todos, é para todos! Não é só para quem é de esquerda, de direita, ou de centro. Eu acredito que podemos construir.

    Na Comissão de Direitos Humanos, eu tenho tido esse cuidado. Todos lá têm voz. Todos os requerimentos, de uma forma ou de outra – podemos ajustar aqui, ajustar ali, porque faz parte –, serão aprovados. Todos que eu apresentei foram aprovados. E todos que foram apresentados foram aprovados.

    Temos lá uma coisa pendente ainda, vou dizer aqui – e aqui eu concluo, neste um minuto –, da Senadora Damares, que quer uma Subcomissão – que, ao mesmo tempo, está na Mesa, para que seja uma Comissão permanente – sobre a questão da criança e do adolescente. Então, estamos fazendo também esse debate, conversando e achando um caminho e vamos achar. Bom, se não é uma Subcomissão, pode ser um ciclo de debates que nós vamos ter que fazer sobre esse tema, por exemplo, o que é um meio-termo. Naturalmente, quem apresentou o requerimento... É como é o seu caso, em relação ao seu estado para discutir saúde lá, sendo que eu fiz questão de botar prevenção na minha agenda já, para estar lá, junto, com os três Senadores, chamando o Governo do estado, chamando a prefeitura...

(Soa a campainha.)

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – ... chamando os hospitais, chamando todos, como propõe V. Exa. e como fizemos aqui, para fazer um debate fraternal, solidário, em que a vida e as políticas humanitárias estejam em primeiro lugar.

    Obrigado pela tolerância, Presidente.

    O SR. PRESIDENTE (Styvenson Valentim. Bloco Parlamentar Democracia/PODEMOS - RN) – Senador Paulo Paim, se o senhor me permitir um pequeno comentário sobre essa postura....

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS. Fora do microfone.) – Faço questão, Presidente.

    O SR. PRESIDENTE (Styvenson Valentim. Bloco Parlamentar Democracia/PODEMOS - RN) – ... essa postura inelutável do senhor, que é irretocável, de vendedor de banana, para quem não conhece... Eu não conhecia essa história.

    O senhor quer um aparte?

(Intervenção fora do microfone.)

    O SR. PRESIDENTE (Styvenson Valentim. Bloco Parlamentar Democracia/PODEMOS - RN) – Ah!

    É só um comentário sobre o seu discurso. Eu entendi o que o Senador Eduardo Girão... E as pessoas que assistem em casa podem entender também e não ficar compreendido... Ninguém tratou aqui de censura, ninguém tratou aqui de proibição, ninguém tratou de nada disso. Está-se tratando de violência. O senhor falou, especificamente, de violência na escola. O Senador, quando pediu a palavra, disse que parece que existe uma orquestra... Não! É a orquestra dos likes, é a orquestra do surgimento, nas redes sociais, dessas figuras que buscam esse tipo de aparição na vida virtual. E parece que se encorajam, por trás da tecnologia, para cometer esses absurdos.

    Eu digo que isso não é só na escola. O meu estado passou por 12 dias de ataques terroristas quando, quanto mais se atacava e mais se publicava, mais se divulgava, mais aconteciam esses ataques.

    E parece, Senador Paulo Paim – e o senhor me corrija, com a experiência que o senhor tem, sendo um dos poucos Senadores que eu vejo aqui que tem uma postura realmente retilínea e inabalável, pois, mesmo sendo ideologia de esquerda, o senhor aceita os requerimentos, como o senhor mesmo disse, o senhor debate os assuntos, encara de frente –, que, quando o senhor trata de violência em redes sociais, violência contra as mulheres, contra o negro, contra o idoso, contra as crianças, de todo tipo de violência, Senador Eduardo Girão e Senador Izalci Lucas, está no DNA do brasileiro ou da humanidade gostar de violência. Ele quer ver a briga política, ele quer ver a briga no trânsito... Quando vê um acidente de trânsito, ele não vai lá prestar socorro, não; ele vê se a pessoa está morta, se foi despedaçada... Quando vê uma confusão, ele não vai apartar, não, ele não vai apaziguar, não; ele vai incentivar. Então, parece que isso já está no DNA da gente; culturalmente, foi cultivado.

    É importante que a gente tenha essa providência. Existem meios de tirar esse tipo de violência. Existem, pois, da mesma forma que se posta, se tira. Ora, a gente às vezes quer postar com uma palavra alguma coisa e não consegue, não tem engajamento, não consegue ter, na rede social, a mesma exploração do assunto que um tema de violência tem. Eu garanto para você que esta sessão aqui, morna, ia bater recorde de audiência se eu saísse na mão agora com o Izalci numa briga. Se a gente fosse para a porrada, ia explodir esta audiência, todos os jornais iam mostrar. Ninguém quer ver a civilidade, ninguém quer ver a coisa realmente educacional.

    Primeiro, meus parabéns pela postura. O senhor falou aí em um número alarmante: 80% da população brasileira usam isto aqui hoje, nas redes sociais. É irreversível isso aí, ainda mais para nós políticos, muitos fazem campanha por aqui. Este mesmo instrumento que é para divulgar coisas boas... Isso hoje emprega pessoas, hoje vende produtos, hoje faz um papel importantíssimo na sociedade. As redes sociais são importantíssimas, sim. Não tem como a gente negar isso. Elas ditam o ritmo de vida da gente, dizem o que a gente vai vestir, dizem o que a gente vai comer, dizem como é que a gente vai ser fisicamente, dizem o tipo de cabelo... Elas ditam o ritmo. Antigamente, era uma novela, era um filme... Na época dos mais experientes do que eu – não é, Izalci? –, um corte de cabelo era baseado num ator famoso. E hoje, não. É o que aparece nas redes sociais e que está tendo mais likes. Então, talvez seja esse o problema que a gente está passando hoje. O problema é que as redes sociais, as curtições, os comentários estão modificando o cérebro da gente. Parece que a gente está vivendo em dependência delas, a gente vive em dependência das redes sociais, exclusivamente para isso. E a gente não sabe lidar com o negativo, não, com a crítica; não sabe lidar com a chateação. A gente só quer mesmo o lado bom das redes sociais. E esse lado bom para uns é o lado ruim, é mostrar para as pessoas ali a violência.

    Era isso que eu tinha que ressaltar. Eu entendi perfeitamente bem. Eu só acho que são tratamentos... Como o Senador Eduardo Girão colocou, são coisas bem separadas. Elas têm um lado bom– pelo menos no lado político, no lado social, no lado econômico, no lado de divulgação, no lado de fazer até mesmo um lado social, as redes sociais são importantíssimas – como têm o lado ruim, o lado da pedofilia, da violência, de tudo a que a gente está assistindo.

    Parabéns pelo seu discurso e parabéns também por trazer esta informação que eu não sabia: eu não sabia que o senhor tinha sido vendedor de bananas. A gente olha o senhor assim e pensa que já nasceu Senador, não é? (Risos.)

    Já apareceu Senador na Terra, não veio de uma origem como eu ouvi agora.

    O SR. PAULO PAIM (Bloco Parlamentar da Resistência Democrática/PT - RS) – Um contraponto em 30 segundos.

    É só para dizer que a sua reflexão aqui é perfeita. Eu confesso que eu adoro vir à tribuna trocar ideias, até divergir, o que é natural, mas agressão, vir para cá agredir um Senador ou uma Senadora e eles me agredirem?! Eu não me presto a isso. Quando vem um Senador muito agressivo à tribuna, eu saio do Plenário, confesso que eu saio. "Ah, tu não vais responder?" Eu digo: "Eu vou perder o meu tempo com esse monte de agressões?". E que quem está em casa também não gosta ou não gosta no primeiro momento, porque, se vem um outro à tribuna responder e vir aqui o botar o dedo na cara, daí, como senhor disse, dá Ibope. Eu não me presto a isso!

    Por isso, quero cumprimentá-lo pelo comentário final e também pelo aparte, que foi tranquilo, um aparte tranquilo, levantando preocupações. Nós estamos aqui para isso; senão, vamos para casa. E os comentários que V. Exa. faz têm uma linha de equilíbrio perfeita. Não estou dizendo que é a direita, a esquerda ou o centro que são os culpados, mas temos, sim, que achar aqueles que são culpados de estarem matando as nossas crianças nas escolas. Quem é que não vai ser favorável?! Foi o seu comentário, foi o seu comentário. Parabéns, Senador Styvenson. V. Exa. é equilibrado e tranquilo, como sempre.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/04/2023 - Página 8