Pronunciamento de Eduardo Girão em 05/03/2024
Discurso durante a 13ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal
Críticas à postura diplomática do Brasil em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia.
Defesa do Requerimento nº 4/2024-CRE, de autoria de S. Exa. e outros Senadores, convidando o Presidente da Ucrânia, Sr. Volodymyr Zelensky, a comparecer na reunião da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado.
- Autor
- Eduardo Girão (NOVO - Partido Novo/CE)
- Nome completo: Luis Eduardo Grangeiro Girão
- Casa
- Senado Federal
- Tipo
- Discurso
- Resumo por assunto
-
Assuntos Internacionais,
Conflito Bélico,
Governo Federal:
- Críticas à postura diplomática do Brasil em relação à guerra entre Rússia e Ucrânia.
-
Assuntos Internacionais,
Atuação do Senado Federal,
Conflito Bélico:
- Defesa do Requerimento nº 4/2024-CRE, de autoria de S. Exa. e outros Senadores, convidando o Presidente da Ucrânia, Sr. Volodymyr Zelensky, a comparecer na reunião da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado.
- Aparteantes
- Jorge Seif.
- Publicação
- Publicação no DSF de 06/03/2024 - Página 53
- Assuntos
- Outros > Assuntos Internacionais
- Outros > Conflito Bélico
- Outros > Atuação do Estado > Governo Federal
- Outros > Atuação do Estado > Atuação do Senado Federal
- Matérias referenciadas
- Indexação
-
- CRITICA, GOVERNO FEDERAL, ITAMARATI (MRE), POSIÇÃO, GUERRA, PAIS ESTRANGEIRO, RUSSIA, UCRANIA, DEFESA, REQUERIMENTO.
- DEFESA, REQUERIMENTO, Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CRE), CONVITE, PRESIDENTE DA REPUBLICA, PAIS ESTRANGEIRO, UCRANIA, DEBATE, DIFICULDADE, RELAÇÕES DIPLOMATICAS, BRASIL.
O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE. Para discursar.) – Paz e bem, Sr. Presidente, Senador Styvenson Valentim, Sras. Senadoras, Srs. Senadores, funcionários desta Casa, assessores, brasileiras e brasileiros que estão nos acompanhando aí pelo trabalho sempre muito fidedigno da equipe de comunicação da Rádio Senado, da TV Senado e da Agência Senado.
Sr. Presidente, uma coisa que marca muito a minha existência nesta vida é a busca por justiça. Esse sentimento é muito forte. Eu gosto de estudar os pacifistas da humanidade, que muito me encantam. Em momentos de sombras, de trevas, como o que a gente vive neste exato momento da humanidade, me marca ouvir, por exemplo, o Martin Luther King, quando diz que uma injustiça em algum lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar. Então, a ponderação, o equilíbrio, o diálogo são premissas muito importantes para o meu ser.
Eu quero aqui fazer uma abordagem, Sr. Presidente, de algo que tem me incomodado muito com relação à diplomacia brasileira. Nós temos um histórico com o próprio patrono desta Casa, Ruy Barbosa, um histórico com o Oswaldo Aranha, com tantos nomes da diplomacia brasileira que mostraram para o mundo que este país é o país da cultura da paz, que este país é um país de neutralidade, no mínimo. Não toma posição, não toma lado. Na diplomacia isso é importante. O Brasil é muito benquisto mundialmente por causa desse histórico.
Mas eu confesso para o senhor que, há mais ou menos uns quatro meses – foi no ano passado –, eu estive com o Embaixador da Ucrânia aqui no Brasil. Fui à embaixada conversar sobre este momento dramático para o povo ucraniano – nós temos colônias muito grandes no Brasil, tanto em Santa Catarina como também lá no Paraná –, e ele estava tendo dificuldade para encontrar diálogo com o Governo brasileiro. E eu vejo a Rússia, por exemplo, tendo uma facilidade. Já foram recebidos emissários pelo menos duas vezes pelo Governo Federal, pelo Governo Lula. Então, são dois pesos e duas medidas inaceitáveis para a história que o Brasil tem de neutralidade. E trata-se, Senador Jorge Seif, do maior conflito militar na Europa após o fim da Segunda Guerra Mundial. Completou dois anos agora, no mês de fevereiro. A invasão da Ucrânia pela Rússia teve início em 2014, com a anexação da Crimeia, mas o conflito se agravou a partir de 2022, quando Putin reconheceu as Repúblicas Populares de Donetsk e Lugansk, que se autoproclamaram Estados, em um movimento separatista apoiado pela Rússia, começando a guerra propriamente dita com o lançamento de mísseis em direção à capital Kiev, Senador Plínio Valério.
Para termos uma ideia do impacto social desse conflito, a Ucrânia tem uma população de 43 milhões de habitantes, quase 6 milhões de ucranianos já deixaram o país e mais de 7 milhões tiveram que fazer deslocamentos internos forçados. Estima-se que já morreram em combate cerca de 500 mil soldados de ambos os lados. Olha que tragédia humanitária. Mas os impactos econômicos dessa guerra são mundiais.
Há poucos dias, depois que a França manifestou a disposição de ajudar militarmente a Ucrânia, Putin fez uma ameaça mundial, dizendo que, se outros países decidirem intervir no conflito, ele não hesitará em usar armas atômicas. E todo mundo sabe que uma guerra nuclear nunca será pontual, mas terá abrangência global.
Os arsenais nucleares em posse da Rússia e dos Estados Unidos têm potência para a destruição completa do planeta Terra. Portanto, não é hora de o mundo cruzar os braços, ignorando a gravidade dessa guerra, que continua enquanto a gente está aqui dialogando, debatendo esse assunto.
E qual deve ser o papel do Brasil?
Sem tomar partido e sem optar simplesmente pela neutralidade, nosso país pode aplicar positivamente todos os seus instrumentos diplomáticos no sentido de buscar a paz entre as duas nações.
Essa é a nossa tradição histórica.
Não podemos esquecer que, no final do século XIX e início do século XX, houve uma grande imigração de ucranianos para o Brasil, que somam atualmente mais de 600 mil habitantes, a maior parte concentrada nos Estados de Santa Catarina e, especialmente, do Paraná.
Olha, a gente tem percebido como é movido hoje o nosso Presidente da República, o Lula. É movido por um espírito de vingança, de revanchismo, e a gente não pode negar as sinalizações, a amizade, as relações e o apreço que ele tem com ditadores, porque não tem sido essa a posição adotada pelo Governo Federal, que prioriza relações diplomáticas com essas ditaduras sangrentas, como a de Nicolás Maduro, na Venezuela, e de Daniel Ortega.
O Governo brasileiro não tem deixado nenhuma dúvida de que lado está. Então, jogou na lata do lixo, está jogando na lata do lixo, a neutralidade histórica nossa; está jogando na lata de lixo toda a nossa diplomacia que, no mínimo, com neutralidade, trabalha pela cultura da paz.
O Embaixador da Ucrânia no Brasil, Andrij Melnyk, aguarda há seis meses que o Governo brasileiro convide o Chanceler Dmytro Kuleba para esse diálogo com o Governo. Tal atitude seria o primeiro passo para a preparação da visita do próprio Presidente da Ucrânia, o Zelensky, aqui ao nosso país. Em contrapartida, o Chanceler russo, Sergey Lavrov, já foi recebido duas vezes em menos de um ano. Repito, por duas vezes, já foi recebido, em menos de um ano.
Por que a Ucrânia também não é, para ter o equilíbrio? Por que não é recebida pelo Governo brasileiro? Está muito claro o alinhamento político e ideológico com a Rússia, em detrimento da Ucrânia. O Brasil nunca fez isso. Nunca, na história deste país, o Brasil teve esse tipo de postura tomando um lado na história.
Buscando cumprir com o nosso dever, apresentei requerimento na Comissão de Relações Exteriores, apoiado por mais nove Senadores: Senador Cleitinho, Senador Heinze, Senador Magno Malta, Senador Jorge Seif, Senador Jaime Bagattoli, Senador Izalci Lucas, Senador Carlos Viana, Senador Portinho e Senador Hamilton Mourão. Nós, juntos, pedimos que o Presidente da Ucrânia, Zelensky, seja ouvido pela Comissão de Relações Exteriores sobre a guerra também, para gerar um equilíbrio, já que o Governo brasileiro está ignorando a Ucrânia, solenemente ignorando a Ucrânia. E repito: isso é um desrespeito com o povo ucraniano. Por que o Brasil está fazendo isso? E os mais de 600 mil brasileiros que vivem, principalmente em Santa Catarina e no Paraná, o que nós vamos dizer para eles?
Eu volto a dizer...
(Soa a campainha.)
O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – ... nosso objetivo não é tomar partido de nenhum dos dois lados nesse conflito. O povo russo merece o mesmo respeito que o povo ucraniano. O nosso objetivo é contribuir efetivamente para a busca da paz.
Esta Casa, que está completando neste ano 200 anos de existência, o Senado Federal, não pode se comportar como um puxadinho do Palácio do Planalto, baixar a cabeça no momento em que está havendo uma injustiça com um país também amigo histórico do Brasil.
Devemos agir com autonomia e independência em respeito aos mais de 100 milhões de eleitores brasileiros, dentre eles milhares de descendentes ucranianos.
É isso, Sr. Presidente. O objetivo desta fala é uma questão de justiça...
(Soa a campainha.)
O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – ...apenas questão de justiça. Que a gente possa, já que o Governo brasileiro ignora, não quer receber o embaixador, o Presidente Zelensky, não abre nenhum diálogo com o Chanceler daquele país, que o Senado possa cumprir esse papel de ouvir o outro lado, já que o Governo brasileiro só quer ouvir a Rússia – que é bom ouvir também –, mas não pode ter dois pesos e duas medidas. Tem que ouvir também o lado ucraniano para que haja justiça, haja equilíbrio, e esse é o objetivo.
Muito obrigado, Sr. Presidente.
O Sr. Jorge Seif (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SC) – Senador Girão, o senhor me concede um aparte?
O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Claro.
O Sr. Jorge Seif (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SC. Para apartear.) – Quero só lhe dizer – Sr. Presidente, obrigado; obrigado, Senador Girão – que, há menos de 10 minutos, eu recebi uma ligação da Sra. Sônia...
(Interrupção do som.)
(Soa a campainha.)
O Sr. Jorge Seif (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SC) – Presidente Styvenson, está com raiva de mim?
O SR. PRESIDENTE (Styvenson Valentim. Bloco Parlamentar Democracia/PODEMOS - RN) – Nunca, nunca. Foi só desatenção mesmo.
O Sr. Jorge Seif (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SC) – Obrigado, meu amigo. Estou brincando.
Então, Senador Girão, a D. Sônia, da Associação Ucraniana Catarinense Ivan Frankó, ligou-me reivindicando exatamente isso. Está mandando uma carta para nós Senadores, pedindo para que as autoridades ucranianas, de preferência o Presidente da República Volodymyr Zelensky, sejam ouvidas pelo Brasil.
Nós temos relações internacionais com os dois países e lamentamos imensamente a questão da guerra; lamentamos os civis, porque isso foi uma decisão governamental que fere a vida de cada um dos ucranianos e cada um dos russos. No entanto, cadê a neutralidade da pátria amada Brasil?
Então, ela está mandando essa carta hoje para nós e eu vou pedir a sua ajuda, a do Senador Amin e a dos demais colegas aqui para que ouçamos...
(Soa a campainha.)
O Sr. Jorge Seif (Bloco Parlamentar Vanguarda/PL - SC) – ... essas autoridades ucranianas.
Obrigado.
O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – Obrigado, Sr. Presidente.
Eu peço apenas que o aparte do Senador...
O SR. PRESIDENTE (Styvenson Valentim. Bloco Parlamentar Democracia/PODEMOS - RN) – Seja incluído, Senador Girão.
O SR. EDUARDO GIRÃO (Bloco Parlamentar Vanguarda/NOVO - CE) – ... Jorge Seif seja incluído no meu discurso.
Aumenta ainda mais a nossa responsabilidade com esse requerimento assinado por nove Senadores, para que a gente possa ouvir o Presidente Zelensky também aqui no Senado Federal.
Muito obrigado a todos.