Discurso no Senado Federal

AUMENTO DA PRODUTIVIDADE AGRICOLA NO ESTADO DE MATO GROSSO, DEVIDO AO APOIO DA COOPERATIVA AGRICOLA DE LUCAS DO RIO VERDE - COOPERLUCAS. DESENVOLVIMENTO DA AGROINDUSTRIA MATO-GROSSENSE.

Autor
Júlio Campos (PFL - Partido da Frente Liberal/MT)
Nome completo: Júlio José de Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
AGRICULTURA.:
  • AUMENTO DA PRODUTIVIDADE AGRICOLA NO ESTADO DE MATO GROSSO, DEVIDO AO APOIO DA COOPERATIVA AGRICOLA DE LUCAS DO RIO VERDE - COOPERLUCAS. DESENVOLVIMENTO DA AGROINDUSTRIA MATO-GROSSENSE.
Publicação
Publicação no DCN2 de 08/04/1994 - Página 1662
Assunto
Outros > AGRICULTURA.
Indexação
  • COMENTARIO, AUMENTO, PRODUÇÃO AGRICOLA, LAVOURA, SOJA, ATIVIDADE, AGROINDUSTRIA, APOIO, COOPERATIVA AGRICOLA, ESTADO DO MATO GROSSO DO SUL (MS).

    O SR. JÚLIO CAMPOS (PFL - MT. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, de tanto conviver com o infortúnio e de tanto ser bombardeado por notícias ruins, infelizmente parece que a gente desenvolve certa insensibilidade para o lado bom das coisas. No campo agrícola, por exemplo, o que mais temos visto ultimamente são notícias de inundações no Sul, seca no Nordeste, o que serve para levar a frustração àqueles que se dedicam à exploração econômica da terra. A dinâmica do clima não deixa, no entanto, que os problemas aconteçam ao mesmo tempo em todos os lugares. Atendo-me a essa outra face da realidade, que também se repete em nosso País, estou hoje nesta tribuna municiado de notícias auspiciosas e benfazejas que vêm do meu Estado, o Mato Grosso.

    Durante muito tempo, parecia pairar sobre o médio-norte do Estado de Mato Grosso uma espécie de maldição ou preconceito que desaconselhava se fizesse aí qualquer investimento agrícola de vulto, de vez que era fácil predizer o fracasso. Essa espécie de maldição chegou até a contaminar cabeças iluminadas do Governo Collor, que, sob a desculpa de zelar pela aplicação do dinheiro público, cortaram todos os financiamentos que, no ano de 1990, destinavam-se aos agricultores instalados naquela região.

    Algumas centenas de homens persistentes e determinados não se deixaram, porém, abater por essa decisão e, com o apoio da Cooperativa Agrícola de Lucas do Rio Verde, resolveram levar adiante os próprios projetos. A conseqüência dessa teimosia e dessa determinação é que hoje, nos municípios de Lucas do Rio Verde, Tapurah, Nova Mutum e Sorriso, já está em andamento a colheita de cerca de 1,1 milhão de toneladas de soja, plantada em 400 mil hectares.

    A produtividade dessas terras, Sr. Presidente, Sras. e Srs. Senadores, de quase 3.000 quilos por hectare, é superior à média nacional de 2.400 quilos por hectare e também à média norte-americana de 2.700 quilos por hectare. Em termos financeiros, isso representará para a Cooperativa um faturamento de 130 milhões de dólares, 30% superior aos 100 milhões de dólares de 1993. Felizmente, o Governo já reviu a sua política para a região, em termos de créditos, sendo, hoje, o Banco do Brasil um verdadeiro parceiro dos produtores locais. No dizer de um associado da Cooperlucas "sem esta parceria não chegaríamos a lugar nenhum".

    Apesar dessas cifras tão elásticas e alvissareiras, os agricultores querem mais: nos próximos cinco anos a meta é triplicar o volume de grãos produzidos. Para isso, contam com dois trunfos poderosos: a possibilidade de expandir a área plantada em cerca de um milhão de hectares, na direção do município de Tapurah, e, o mais importante, poderão dispor dos resultados de intensas pesquisas patrocinadas pela Cooperlucas com vistas ao melhor manejo do solo e à descoberta de novas variedades de sementes. Só no período de 92 até o corrente ano, foram aplicados 1,5 milhão de dólares nessa modalidade de pesquisas.

    Essa região, Srs. Senadores, tem algumas particularidades que não podem ser esquecidas quando se pretende uma agricultura verdadeiramente produtiva. A primeira e a principal delas é o ciclo das chuvas e o da estiagem, que são bem definidos: a estiagem se estende por seis meses e durante os outros seis meses do ano chove. Na exploração tradicional da terra, essa característica proporciona queda substancial da fertilidade, depois de duas ou três safras. A solução para isso, no entanto, já foi encontrada. Munefumi Matsubara, próspero produtor da região, promoveu por conta própria pesquisas com a finalidade de encontrar solução para o problema que os técnicos identificaram como lixiviação do solo, que vem a ser a perda da fertilidade provocada pela seca, dado que os nutrientes que estavam na superfície descem para o subsolo e não podem mais ser recuperados. Contornaram o problema com a rotação de culturas: no intervalo das safras anuais de soja e arroz, semeados pelo sistema do plantio direto, plantou-se milho, sorgo ou milheto. A palhada dessas culturas serviu de proteção ao solo e fez com que os nutrientes não se esvaíssem. Essa já é uma das várias técnicas com que os produtores locais já podem contar na exploração racional da sua terra.

    Além do aumento da produção, os agricultores mato-grossenses estão convencidos de que o melhor caminho a trilhar é o da agroindústria. Devem eles partir em breve para a industrialização daquilo que produzem. Para isso, já estão se unindo aos suinocultores e aos pecuaristas da região para a implantação de frigoríficos, laticínios e indústrias de processamento da soja. Com isso, uma boa parcela do que produzirem já seguirá para os centros consumidores como produto acabado, o que proporcionará maiores lucros.

    Nesse processo, só está faltando transporte mais eficiente e mais barato, dado que atualmente tudo é transportado por rodovia. Também nisso já dispõem de duas opções a serem negociadas com a Vale do Rio Doce: a primeira é a Ferrovia do Verde, que percorreria 1.025km até Carajás, no Pará. Dessa forma, a região estaria ligada ao porto de Ponta da Madeira, em São Luís, no Maranhão. A segunda alternativa é a construção de uma linha férrea de 600km até o rio Araguaia. Daí, a produção seguiria por balsas até Marabá, no Pará, de onde seria levada pelos trilhos da Ferrovia de Carajás até o mesmo porto de Ponta da Madeira. Em termos econômicos, a segunda alternativa proporciona melhores vantagens para o Estado, pois, além de usar o rio como estrada, abre uma nova fronteira no Mato Grosso, na região de Paratinga e Nova Xavantina, onde ainda existem perto de 1 milhão de hectares intocados e que poderão ser agregados ao mapa agrícola do Brasil.

    Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, é com imensa alegria que hoje lhes trouxe essas notícias. São elas boas para a economia do Estado do Mato Grosso e, mais do isso, são boas para a economia do Brasil. Entretanto, o que mais gratifica a mim e aos meus coestaduanos mato-grossenses é saber que, com isso, o Mato Grosso se insere definitivamente no mapa de prosperidade que tem caracterizado a agricultura do Brasil e, ainda que modestamente, presta uma colaboração efetiva para erradicar a fome do nosso País.

    Muito obrigado, Sr. Presidente!


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 08/04/1994 - Página 1662