Discurso no Senado Federal

REGOZIJO PELO LANÇAMENTO, NA BAHIA, DO 'PREMIO LITERARIO LUIZ VIANA FILHO'.

Autor
Lourival Baptista (PFL - Partido da Frente Liberal/SE)
Nome completo: Lourival Baptista
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CULTURAL.:
  • REGOZIJO PELO LANÇAMENTO, NA BAHIA, DO 'PREMIO LITERARIO LUIZ VIANA FILHO'.
Aparteantes
Aureo Mello, Francisco Rollemberg, Jutahy Magalhães, Mauro Benevides, Saldanha Derzi.
Publicação
Publicação no DCN2 de 14/04/1994 - Página 1765
Assunto
Outros > POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • COMENTARIO, IMPORTANCIA, LANÇAMENTO, PREMIO LITERARIO, BIOGRAFIA, HOMENAGEM, LUIZ VIANA FILHO, POLITICO, ESCRITOR, ESTADO DA BAHIA (BA).
  • TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, A TARDE, HOMENAGEM, LANÇAMENTO, PREMIO LITERARIO, ESTADO DA BAHIA (BA).

      O SR. LOURIVAL BAPTISTA (PFL - SE. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, no último dia 6 de abril corrente, com o lançamento de um importante prêmio literário, a Bahia relembra a vida e a obra de um dos seus filhos mais ilustres e cultos deste século, que realizou uma brilhante carreira política e uma produção literária que se constituiu em preciosa contribuição para a cultura brasileira e para a nossa história contemporânea. Em solenidade concorrida, que contou com as presenças do Presidente da Academia Brasileira de Letras, Josué Montello; do Presidente da Academia de Letras da Bahia, Cláudio Veiga; dos ex-Governadores Antônio Carlos Magalhães e Roberto Santos; do escritor Jorge Amado; do Presidentes do Conselho de Cultura, Renato Bento de Castro; do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia, Jaime Sá Menezes, e da Fundação Pedro Calmon, Afonso Maciel Neto; de magistrados, acadêmicos e outras personalidades do meio intelectual e político da Bahia, foi lançado o Prêmio Luiz Viana Filho de Biografias, que tem o patrocínio do Copene Petroquímica S.A. e da Academia de Letras da Bahia.

      Durante essa solenidade, várias vezes lembrado como príncipe dos nossos biógrafos, expressão que foi anteriormente referida por Tristão de Ataíde, Luiz Viana Filho teve a sua obra muito enaltecida pelos presentes, que ressaltaram o estilo marcante do seu gênero literário e das biografias que escreveu - entre elas a de vultos ilustres como José de Alencar, Machado de Assis, Eça de Queiroz, Joaquim Nabuco, Rui Barbosa e do Barão do Rio Branco, consideradas como primorosos trabalhos de pesquisa, interpretação histórica e política da participação desses vultos na formação do pensamento brasileiro e da nacionalidade.

      Em entrevista à imprensa, o Presidente da Academia Brasileira de Letras, acadêmico Josué Montello, destacou a importância do incentivo ao trabalho dos biógrafos, com a instituição de prêmios literários, porque o exemplo dos grandes homens é como um espelho para gerações futuras; e ainda afirmou que ‘’é muito importante que o País tenha não só denúncias para os seus erros, mas também louvor para os seus acertos’’. E é para isso que são escritas as biografias.

      Sr. Presidente, faço este breve registro para ressaltar a importância desse acontecimento literário e cultural de grande significado, aproveitando também o pretexto para reverenciar a memória do nosso valoroso companheiro, grande amigo e conselheiro que tive. Devo-lhe a gratidão de ter convidado meu filho, Francisco Baptista Neto, para oficial do seu gabinete, quando foi chefe do Gabinete Civil da Presidência da República. Posteriormente, quando fui Governador de Sergipe e ele, da Bahia, levou meu outro filho, Francisco, para ser o seu secretário particular.

      O Sr. Rachid Saldanha Derzi - Permite-me V. Exª um aparte?

      O SR. LOURIVAL BAPTISTA - Com prazer, eminente Senador.

      O Sr. Rachid Saldanha Derzi - Congratulo-me com V. Exª, nobre Senador Lourival Baptista, por rememorar aquele extraordinário homem público e digno parlamentar, um dos parlamentares mais capazes, mais competentes que teve o Parlamento brasileiro. Luiz Viana Filho nos deixou grande saudade, e, hoje, V. Exª presta essa homenagem justíssima ao grande brasileiro, cujo desaparecimento realmente ainda choramos com saudade.

      O SR. LOURIVAL BAPTISTA - Muito grato a V. Exª, eminente Senador Saldanha Derzi, que foi grande amigo do ex-Senador, ex-Deputado, ex-Governador da Bahia, Luiz Viana Filho. Sei da amizade que ligava V. Exª a ele; muitas vezes encontramo-nos em sua casa para almoços ou jantares, quando V. Exª nos distinguia com visitas e convites.

      Quanto a ele, como disse, além da amizade que nos unia, honrou-me, quando Governador, com o convite a meu filho para ser seu oficial de Gabinete, e quando foi Chefe da Casa Civil da Presidência da República levou meu filho mais velho para ser, também, seu oficial de Gabinete. Quer dizer, independentemente da amizade fraterna que tivemos nesta Casa, tive dele a solidariedade para com o meu filho.

      O Sr. Aureo Mello - V. Exª me permite um aparte?

      O SR. LOURIVAL BAPTISTA - Com prazer, eminente Senador Aureo Mello.

      O Sr. Aureo Mello - Senador Lourival Baptista, ao trazer aqui à nossa evocação a figura de Luiz Viana Filho, V. Exª merece realmente os maiores aplausos, os parabéns, porque está prestando um ato de justiça ao reverenciar uma memória que não sai das nossas lembranças. Aqueles que convivemos com ele aqui nos acostumamos a lhe admirar a polidez, a juventude espiritual e física também, porque ele, como Joaquim Nabuco, era um parlamentar apolíneo; e, ao mesmo tempo, recordar tantas coisas que Luiz Viana fez, principalmente na Bahia, terra da sua vida e vivência e que não pode ser olvidada. Pessoalmente, sou admirador seu por um ato que secundou uma iniciativa minha, que foi o projeto de lei que mandava sepultar as cabeças de Lampião, Corisco e Maria Bonita. Esse projeto que apresentei na Câmara dos Deputados, em função de uma solicitação do poeta Eurícledes Formiga e também de carta do filho de Corisco, que era professor de Economia no Estado de Alagoas, foi, a princípio, recusado pela bancada alagoana e pela baiana por motivos que, francamente, não posso compreender, embora o diretor do Instituto Nina Rodrigues fizesse questão de exibir as cabeças daqueles cangaceiros para auferir os preços de entradas das pessoas que compareciam àquele instituto e apreciavam essas figuras já em decomposição, saponificadas, que não tinham qualquer utilidade científica. Porém, foi Luiz Viana Filho que, num gesto pessoal, durante o seu governo, mandou sepultar todas as cabeças de cangaceiros que estavam expostas no Nina Rodrigues. E, com isso, evidenciou aquele sentido de humanidade que lhe era tão peculiar e que tantas vezes foi evidenciado, não só no plano da atividade pública, como no relacionamento doméstico que mantinha com seus serviçais, um dos quais conheci e que me relatava coisas maravilhosas a respeito do Luiz Viana. Era um companheirão aqui nesta Casa; amigo de todos nós, simples, educado, e era uma alegria conversar com ele. De maneira que V. Exª receba as minhas modestas felicitações pela sua brilhante idéia de reverenciar e trazer à evidência a memória de Luiz Viana Filho, cujos cabelos de prata ainda rebrilham em nosso pensamento e cujo cavalheirismo é uma lição para quantos pertencem a esta augusta e serena Casa, que é, sem dúvida, o exemplo da urbanidade e da elevação política do nosso País. Muito obrigado.

      O SR. LOURIVAL BAPTISTA - Muito grato a V. Exª, eminente Senador Aureo Mello, pelas referências que fez a respeito de Luiz Viana Filho, a quem ligavam, também, grandes laços de estima e amizade.

      Quanto a mim, já disse hoje, num dos apartes a que respondi, a minha amizade com Luiz Viana Filho veio desde que nos mudamos, em 1960, do Rio de Janeiro para Brasília, como deputado federal. Naquela oportunidade, os deputados e senadores moravam em pensões ou em hotéis. Como havia trazido uma cozinheira, doze parlamentares, dentre os quais o Senador Luiz Viana Filho, faziam refeições em nosso apartamento; vínhamos para Brasília na terça-feira e voltávamos na quinta-feira. Luiz Viana Filho, como chefe da Casa Civil do Presidente da República, convidou o meu filho mais velho para ser o seu oficial de gabinete.

      Depois, quando eu e ele éramos governadores, eleitos na mesma época, como governador da Bahia, convidou esse meu filho para ser o seu secretário particular. Logo, a minha amizade com Luiz Viana Filho foi, por assim dizer, de família. Tudo o que se refere a ele tenho obrigação de destacar nesta Casa, para que sua lembrança fique sempre viva.

      O Sr. Mauro Benevides - Permite-me V. Exª um aparte?

      O SR. LOURIVAL BAPTISTA - Ouço com prazer o eminente Senador Mauro Benevides.

      O Sr. Mauro Benevides - Senador Lourival Baptista, V. Exª faz esta Casa reviver, na manhã de hoje, mais um dos momentos de grande emoção ao evocar a figura inolvidável do ex-Senador Luiz Viana Filho, que foi, sem dúvida, uma das figuras de maior preeminência da vida pública do País. Senador, governador do seu Estado, Ministro-Chefe do Gabinete Civil, intelectual de méritos incontáveis, membro da Academia Brasileira de Letras; enfim, uma personalidade extraordinária por quem devotamos a mais profunda admiração e respeito. Neste instante, após o seu desaparecimento, a mais sentida das saudades. Tive o privilégio de conviver, durante algum tempo, com Luiz Viana e, mais do que isso, privar da amizade da sua família, da amizade daquela dama extraordinária, Dona Juju Viana, e da amizade de seu filho, Luiz Viana Neto, que integra a outra Casa do Congresso Nacional. Aquela convivência, no edifício onde residiam os Senadores, fez com que nos entrelaçássemos mais solidamente. Naturalmente isso permitiu-me conhecer aquela figura admirável de homem público impoluto, que sempre mereceu o respeito e a admiração de todos aqueles que com ele conviveram de perto. Dois episódios desejo relembrar neste instante. O primeiro deles foi quando exerci a Presidência da Assembléia Legislativa do Ceará, num dos instantes mais delicados de nossa vida político-institucional. Luiz Viana interveio certa vez, com a sua prudência, com o seu equilíbrio, com o seu descortino, com a sua clarividência, para que fosse superado um impasse que poderia fazer periclitar a própria estrutura democrática brasileira. Em um telefonema para Fortaleza, em nome do então Presidente Humberto de Alencar Castello Branco, o Ministro Luiz Viana Filho assegurou que a ordem democrática seria mantida no Estado natal do Chefe da Nação. E, ao se dirigir a mim, ele o fazia em nome do Marechal Humberto de Alencar Castello Branco, que tinha naquele momento as responsabilidades de comandar a vida política e administrativa do País. Depois, com a minha eleição para o Senado Federal, o então Presidente desta Casa, Luiz Viana Filho - e ninguém o excedeu em dignidade, em elegância, em brilho, em cultura -, entendeu, Sr. Senador Lourival Baptista, de pinçar a mim, entre tantos colegas desta Casa - ele que era ou que foi até agora, ninguém o ultrapassou, o maior biógrafo de José de Alencar - de confiar a mim o discurso de uma solenidade que objetivava rememorar o Sesquicentenário de nascimento do grande romancista, ficcionista, teatrólogo, José de Alencar. E, no curso daquele pronunciamento, quando anunciei que a grande frustração de José de Alencar fora a de não ter sido alçado também ao Senado Federal - como o seu pai, escolhido que fora numa lista tríplice, pois o Imperador, por razões ainda não suficientemente conhecidas, preteriu sua indicação -, Luiz Viana, depois desse pronunciamento, procurou-me e aditou outros esclarecimentos, deixando realmente patente que ele era a maior autoridade em termos de obra, em termos de vida, em termos de figura do grande José Martiniano de Alencar. Esses dois fatos fizeram com que eu admirasse ainda mais arraigadamente o Senador Luiz Viana Filho. E neste instante em que V. Exª vem à tribuna para relembrar a sua figura inconfundível, senti-me no dever de aparteá-lo, para reiterar aqui aquele reconhecimento, aquela gratidão, aquele respeito e, sobretudo, a grande amizade que me vinculou a Luiz Viana Filho, a sua esposa incomparável, Dona Juju Viana, que foi a inspiradora de tantas das suas lutas, dos seus êxitos, da consistência da sua cultura polimorfa e do seu filho, Deputado Luiz Viana Neto, que honra a tradição política do seu pai, ocupando uma das cadeiras destinadas à Bahia, na Câmara dos Deputados. Foi, sem dúvida, um grande brasileiro, e V. Exª pode ficar absolutamente certo de que o exemplo de Luiz Viana será sempre admirado por todos nós, seus contemporâneos, e sempre lembrado pelas gerações porvindouras.

      O SR. LOURIVAL BAPTISTA - Fico grato a V. Exª, Senador Mauro Benevides. Os dados apresentados por V. Exª, o seu testemunho sobre a figura de Luiz Viana, sobre a sua maneira de agir, enfim, tudo o que V. Exª disse a respeito desse grande homem veio engrandecer ainda mais o nosso discurso.

      Membro ilustre desta Casa, Luiz Viana Filho foi figura exponencial do Congresso Nacional, do qual foi Presidente em uma fase muito importante da vida parlamentar e da Instituição. Ele nos deixou, junto com a saudade dos que conviveram com ele, um admirável conjunto de obras literárias e uma folha exemplar de serviços prestados ao Nordeste, à Bahia e ao Brasil.

      Deputado Federal em 1935, foi Constituinte em 1946, renovou o seu mandato em várias legislaturas desde então, foi Governador da Bahia, Chefe do Gabinete Civil da Presidência da República, Embaixador do Brasil em Paris, Ministro de Estado da Justiça, Presidente do Senado e do Congresso e possuidor de uma extensa lista de importantes condecorações nacionais e estrangeiras, como reconhecimento do seu prestígio e da sua atuação literária, diplomática e política.

      Da sua atividade intelectual, dedicou muitos anos ao magistério superior como Professor de Direito e de História do Brasil na Universidade da Bahia e foi membro da Academia Baiana de Letras, do Instituto Geográfico e Histórico Brasileiro, da Academia Internacional de Cultura Portuguesa, da Academia de Ciências de Lisboa e da Academia Histórica de Portugal, sendo um dos grandes colaboradores do intercâmbio cultural entre os dois países.

      Relembrar Luiz Viana Filho é também enaltecer a memória desta Casa, por onde já passaram tantos brasileiros ilustres, entre eles o pai do saudoso homenageado, o Conselheiro e Senador do Império Luiz Viana, e seu filho, Luiz Viana Neto; portanto, três gerações dessa importante família baiana que muito fizeram pela sua região e pelo Brasil.

      O Sr. Jutahy Magalhães - Permite-me V. Exª um aparte?

      O SR. LOURIVAL BAPTISTA - Com prazer, ouço V. Exª, eminente Senador Jutahy Magalhães.

      O Sr. Jutahy Magalhães - Senador Lourival Baptista, V. Exª hoje evoca a figura do companheiro sempre lembrado, nosso amigo Luiz Viana Filho. Tive a satisfação de não apenas conviver com S. Exª no Senado, mas de ter sido seu Vice-Governador na Bahia. V. Exª sabe que nem sempre há uma ligação tranqüila entre Governador e Vice-Governador, mas mantivemos um relacionamento respeitoso e até fraterno. Todas as vezes que S. Exª se afastava da Bahia, mesmo não sendo obrigado pela Constituição, ele passava o governo ao seu Vice-Governador. No exercício da governança, eu tinha a oportunidade de praticar todos os atos de um Governador, muitas vezes, inclusive, um pouco polêmicos; havia reações políticas de companheiros fraternais do Governador Luiz Viana Filho, mas S. Exª jamais modificou um ato por mim praticado. Em relação ao convívio no Senado, V. Exª sabe como era o tratamento dispensado pelo Senador Luiz Viana - V. Exª teve uma convivência maior com S. Exª: fidalgo, a educação prevalecia sobre qualquer sentimento, sobre qualquer razão de ordem política. Nas divergências, ele sempre mantinha uma postura educada, de um verdadeiro estadista inclusive. Por isso evoco não só a figura do político, do literato, do educador, mas a figura da pessoa humana de Luiz Viana Filho e de sua esposa, Dona Juju; a ligação que tinha com seus filhos, a convivência familiar, que dava a todos nós a satisfação de ver uma família em que o chefe era respeitado e carinhosamente tratado por seus familiares. Por isso tenho sempre em minha lembrança a figura de Luiz Viana Filho. Neste momento, quero apenas trazer a palavra de quem teve alguma convivência com ele, em diversos aspectos, em diversas situações. Divergimos politicamente várias vezes, mas acredito que sempre tenha havido reciprocidade em relação ao respeito que eu tinha por ele.

      O SR. LOURIVAL BATISTA - Senador Jutahy Magalhães, o aparte de V. Exª muito o enaltece.

      Naquela época em que V. Exª era Vice-Governador da Bahia - recordo-me porque, como disse, eu tinha um filho que era secretário particular de Luiz Viana Filho-, eu sabia da estima que ele tinha por V. Exª e também por seu querido pai. Desta tribuna, já mencionei as ligações que tive e que mantive com o então Governador Juracy Magalhães.

      Como já afirmei, conheci S. Exª na Revolução de 30, quando desceu com as tropas revolucionárias: ele, Rui Carneiro, Agildo Barata e outros, após uma batalha de tropa do Exército com os revolucionários que desciam de Aracaju, em Sauípe, onde morreram várias pessoas, e chegaram à estação de Alagoinhas. E seu pai, o então Tenente ou Capitão Juracy Magalhães, Agildo Barata e outros foram a Alagoinhas. O almoço, no dia seguinte, foi na casa do meu querido pai. Daí vem a nossa amizade: seu pai e meu pai.

      Acompanhei a trajetória política de Juracy Magalhães e sempre fui seu eleitor, na Bahia, como o meu pai.

      O aparte de V. Exª enriquece demais este pronunciamento, que faço hoje de saudades, a respeito de Luiz Viana Filho; foi expressivo e sincero. V. Exª falou com o coração, como digo sempre, sem passar pelos filtros da inteligência.

      Quando vejo qualquer nota a respeito de Luiz Viana Filho, sinto-me no dever de falar sobre S. Exª

      Muito grato a V. Exª, eminente Senador Jutahy Magalhães.

      Finalizando, Sr. Presidente, quero me congratular com os promotores deste evento relativo ao Prêmio Luiz Viana Filho de Biografias e enviar os meus cumprimentos aos seus familiares, especialmente a D. Juju e ao seu filho Luiz Viana Neto, ambos também presentes naquela solenidade.

      O Sr. Francisco Rollemberg - Permite-me V. Exª um aparte, Senador Lourival Baptista?

      O SR. LOURIVAL BAPTISTA - Com prazer, eminente Senador Francisco Rollemberg.

      O Sr. Francisco Rollemberg - Eminente Senador Lourival Baptista, V. Exª, melhor do que qualquer um de nós, registra neste instante as homenagens prestadas, recentemente, na Bahia, ao eminente ex-Senador Luiz Viana Filho. Conheci S. Exª ainda como Deputado Federal e participei com ele de algumas missões no exterior. Lá, fora do Brasil, tive a oportunidade de conhecer o homem magnífico que ele representava: inteligente, cultura polimorfa, conversa agradável. E, em muitas tardes, quando estávamos no labor de representar o País, sentávamos para conversar e eu me impressionava com a sua cultura, com o que ele conhecia de História e de Filosofia. E, de certa forma, impressionou-me a sua alta e rara sensibilidade política. As nossas conversas serviram como um orientador, um roteiro para o andamento da minha vida pública. S. Exª me ensinou o que era tolerância, o que era paciência, o que era saber esperar; e me ensinou também a agir, a decidir de pronto, quando necessário. Sua figura, por isso, encantava-me e eu o procurava sempre que me era possível, para ouvir, para me aconselhar, trocar idéias, conversar sobre literatura, sobre política, enfim, para me abeberar dos seus conhecimentos. Às vésperas do seu falecimento, havíamos conversado a respeito de um trabalho meu, sobre o qual ele me aconselhava que publicasse para o Senado e que fizesse uma apresentação diferente - e orientou-me sobre como fazê-lo. Conversamos muito sobre o assunto e, no dia seguinte, soube que ele havia falecido. Juntei-me a V. Exª e a outros companheiros e fomos a Salvador prestar a última homenagem àquele eminente homem público. Mas, Sr. Senador, V. Exª, realmente, é o homem que deveria estar prestando esta homenagem. Digo isto porque, há mais ou menos 15 dias, conversei com o filho do Senador Luiz Viana Filho e ele me disse: ‘’Como vai o Lourival? Meu pai queria muito bem a ele’’! E me disse ainda: ‘’Se você quer ter um amigo ou quer conhecer um amigo, conheça o Lourival Baptista e seja amigo dele’’. Era esta a impressão que o Senador Luiz Viana tinha de V. Exª e era isto o que ele dizia sobre V. Exª aos seus filhos; ele tinha cuidado com V. Exª e também um grande afeto, Senador Lourival Baptista. Portanto, neste instante, vendo V. Exª emocionado, prestando a homenagem a este grande amigo, quero juntar-me a ela, em nome da minha Bancada, em nome dos sergipanos que represento e dizer que todos nós que fazemos o Senado da da República sentimos a sua ausência. Sentimo-nos felizes em termos louvado a presença de Luiz Viana Filho nesta Casa, quando foi possível estar entre nós. S. Exª não se enriqueceu por ser Senador, mas o Senado Federal foi enobrecido, tenho certeza, com a sua presença. E a Bahia, seu berço natal, sua origem, sua família, há de prestar, através dos séculos, homenagens como a que prestou agora, reverenciando sua memória, como só a Bahia sabe fazer aos seus filhos mais ilustres. Associo-me, portanto, às homenagens que V. Exª presta a Luiz Viana, nosso companheiro, seu amigo, meu amigo.

      O SR. LOURIVAL BAPTISTA - Muito grato a V. Exª, eminente Senador Francisco Rollemberg, pelo depoimento e pelos esclarecimentos que faz a respeito de Luiz Viana Filho.

      Permita V. Exª e esta Casa que eu relate episódio de minha vida de jovem, quando fazia vestibular na nossa saudosa e querida Faculdade de Medicina da Bahia. O vestibular era muito concorrido - havia mais de mil candidatos -, porque só existiam duas escolas federais de Medicina no Brasil: uma na Bahia e outra no Rio de Janeiro. Eram dez provas, cinco escritas e cinco orais. Na primeira disciplina, não me fui muito bem - tirei 0 e 1. Nas outras oito provas, portanto, eu precisaria obter 49 pontos para inteirar os 50 e ser aprovado. Na última prova, eu não estava muito afiado. Sentei-me, fui argüido, tirei 4; fui para outro professor e tirei 3. Dirigi-me então para o último professor, o qual eu nunca havia cumprimentado, nem lhe apertado a mão. Quando me sentei, ele perguntou:

      -- Menino, que nota você tirou ali?

      Eu disse que tinha tirado 4.

      -- E ali?

      -- Ali eu tirei 3.

      -- Vou lhe dar 9.

      Não me fez nenhuma pergunta e me deu 9. Nunca lhe havia - repito - apertado a mão. Foi o primeiro ano em que houve curso pré-médico na Faculdade de Medicina da Bahia. Por causa dessa nota, passei no vestibular.

      Matriculávamo-nos em agosto, pagávamos 10 mil réis por mês, as aulas começavam às 4h. Ficávamos naquele saguão, que V. Exª conhece, na entrada, tocando cavaquinho e cantando embolada. Esse professor passava e nos via tocando e cantando.

      Três dias depois, mudei a roupa, fui ao consultório dele. Cheguei às 4h30min da tarde. Do lado de fora, havia cadeiras, sala de entrada e sala de consulta. Sentei-me, veio o enfermeiro e perguntou:

-- O que deseja?

-- Falar com professor fulano de tal.

      -- Ainda tem oito clientes.

      -- Espero.

      Às 20h30min o professor abriu a porta do consultório para sair o último cliente. Eu ainda estava sentado, à espera. Ele perguntou:

  -- Menino, o que é que você veio fazer aqui?

      -- Vim agradecer.

      -- O quê?

      -- A nota 9 que o senhor me deu. Graças a ela, passei no vestibular.

      Tirei um cartão do bolso e disse: aqui está meu nome, moro na Praça Ruy Barbosa, nº 44, em Alagoinhas, Bahia. Se algum dia eu puder, ser-lhe-ei útil. Ele bateu a mão em meu ombro e disse: -- Menino, já aprovei muitos, mas nunca nenhum voltou para agradecer.

      Portanto, entendo que é meu dever, quando ouvir notícia referente a Luiz Viana Filho ou outra pessoa que me tenha ajudado, falar e distinguir. Nós, que fazemos política - eu há 43 anos, creio que V. Exª não era nem nascido -, sabemos que hoje os agradecimentos são poucos; poucos voltam para agradecer. O que fizemos hoje foi um agradecimento a um homem digno, a um homem que honrou a Bahia e, podemos dizer, o Brasil.

      O Sr. Francisco Rollemberg - V. Exª não quis revelar o nome do professor que o argüiu, mas tenho a impressão de que sou capaz de saber. Permita-me que divulgue, então, esse nome: Edgar Rego dos Santos.

      O SR. LOURIVAL BAPTISTA - Não queria dizer, mas foi.

      O Sr. Francisco Rollemberg - Foi meu Reitor, era uma figura excepcional. Também faço parte dos que votavam grande admiração por Edgar Rego dos Santos. Foi um homem que renovou a Universidade da Bahia e deu-lhe a dimensão que hoje tem. Realmente, há um divisor de águas entre a Universidade pré e pós Edgar Rego dos Santos.

      O SR. LOURIVAL BAPTISTA - Edgar Rego dos Santos foi o meu segundo pai na vida. No meu gabinete, no Senado, está o seu retrato de Reitor, com a seguinte dedicatória: ‘’Ao querido amigo Lourival, inexcedível em dedicação e fidelidade, Edgar Santos’’.

      Quando eu cursava o quarto ano de faculdade, Edgar Rego convidou-me para ser seu interno. Naquela época, o interno ganhava 120 mil réis; meu pai mandava 150 mil réis, e eu morava naquela Pensão das Nações, na Rua Chile, em cima da Confeitaria Chile. Depois, convidou-me para ser seu assistente, mas, por um motivo, não pude ficar na Bahia e fui para o Estado de V. Exª, onde cheguei um ano depois da minha formatura.

      Em 1943, desci em Sergipe; em 1946, elegi-me Deputado Estadual só por São Cristóvão; em 1950, Prefeito; depois, Deputado Federal e Governador; e, em 1970, Senador. Estou sentado neste local há 23 anos.

      Sei da lealdade que V. Exª também teve para com Edgar Santos. Não me canso de dizer: foi meu segundo pai na vida, porque, se não me tivesse dado aquela nota 9, talvez eu não tivesse passado no vestibular.

      Assim, Sr. Presidente, congratulo-me com os produtores do evento relativo ao Prêmio Luiz Viana Filho de Biografias. Envio meus cumprimentos aos familiares, especialmente a D. Juju e ao seu filho, Luiz Viana Neto, ambos presentes naquela solenidade.

      A TARDE · Quinta-feira · 7/4/1994

      Peço, Sr. Presidente, a transcrição, com o meu pronunciamento, da notícia publicada em A Tarde, edição de 7-4-94, com o título ‘’Montello elogia lançamento do Prêmio Luiz Viana Filho’’.

      Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 14/04/1994 - Página 1765