Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM A MEMORIA DE AYRTON SENNA.

Autor
Lourival Baptista (PFL - Partido da Frente Liberal/SE)
Nome completo: Lourival Baptista
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM A MEMORIA DE AYRTON SENNA.
Aparteantes
Albano Franco.
Publicação
Publicação no DCN2 de 10/05/1994 - Página 2121
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, AYRTON SENNA DA SILVA, MOTORISTA PROFISSIONAL, COMPETIÇÃO ESPORTIVA, AUTOMOVEL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
  • SOLICITAÇÃO, TRANSCRIÇÃO, ANAIS DO SENADO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, FOLHA DE S.PAULO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), AUTORIA, JOSE SARNEY, SENADOR, HOMENAGEM POSTUMA, AYRTON SENNA DA SILVA, MOTORISTA PROFISSIONAL, COMPETIÇÃO ESPORTIVA, AUTOMOVEL, ANEXAÇÃO, PRONUNCIAMENTO, ORADOR.

      O SR. LOURIVAL BAPTISTA (PFL - SE. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na última segunda-feira, dia 2 de maio corrente, ouvi emocionado e com muita atenção o pronunciamento do Senador Mauro Benevides sobre o acidente que vitimou o piloto brasileiro Ayrton Senna, e também subscrevi o requerimento de sua autoria para que o Senado Federal preste uma homenagem póstuma, em sessão especial, ao saudoso brasileiro que tanto enalteceu o nome de nosso País em todo o mundo.

      Naquela oportunidade, Sr. Presidente, também usei a tribuna para lamentar esse fato tão doloroso e comovente, que enlutou a Nação brasileira e uma multidão de admiradores seus em países de todos os continentes, tal era a sua fama, a sua perícia, as vitórias surpreendentes que alcançou e a sua personalidade

      marcante.

      Somente agora é que pudemos avaliar a grande perda que foi para o Brasil a sua morte trágica.

      Silenciosamente, de forma discreta, constante, persistente e segura, ele foi consolidando o seu valor, o grande prestígio de que desfrutava, a estima e a admiração de toda que acompanharam sua vertiginosa carreira e observaram a sua conduta irreparável e o seu desempenho na disputa dos prêmios a que ocorreu.

      Seus compatriotas estão certamente surpresos com a repercussão do acontecimento na imprensa estrangeira, onde o fato ocupou as primeiras páginas dos jornais e os espaços nobres dos editoriais de rádio e TV, todos em uníssono lamentando a perda do grande campeão, do ídolo amado das multidões de admiradores que no Brasil, Itália, Inglaterra, Alemanha, Áustria, França, Japão e em tantos outros países demonstraram sua dor pela morte do jovem piloto.

      Foi manchete da imprensa japonesa a declaração de que "O mundo chora de dor em San Marino". Os próprios japoneses diziam que o Japão era a sua segunda pátria, quando esta mesma precedência era reclamada por Portugal, onde ele tinha muitos fãs e residência, nação esta que lhe era muito afeiçoada por ter sido ele o grande campeão do mundo do automobilismo que falava a língua portuguesa.

      Sr. Presidente, após o laudo médico pericial confirmar que Senna morreu na hora, na pista, a indignação geral atingiu especialistas e aficcionados desse esporte, que passaram a denunciar que os grandes interesses desse show milionário, por parte dos seus organizadores, vêm negligenciando o zelo pela vida humana e o rigor nos aspectos de segurança, não somente na preparação dos veículos, mas, principalmente, na manutenção das pistas, onde a velocidade chega a atingir marcas superiores a 300km/hora.

      Foi da imprensa do Japão, país que chorou a morte do piloto, o protesto indignado de um importante cronista desportivo, denunciando que os organizadores desses GPs "privilegiam o show do circo da Fórmula-1 em detrimento da segurança daqueles que fazem o espetáculo".

      A propósito, a imprensa européia, após a comprovação de que Roland Ratzemberger e Ayrton Senna morreram na pista, criticou a encenação das equipes de socorro na hora dos acidentes, com o objetivo de abafar a tragédia e não interromper a corrida.

      Foi muito acertada a medida da Justiça italiana, que determinou a perícia médica nos pilotos e a perícia técnica em seus carros, bem como a interdição da pista de Imola para investigação e inquérito, envolvendo também as pessoas relacionadas com o caso, pois foram quase três vítimas fatais neste temporada, contando-se com Barrichello, que teve mais sorte.

      Sr. Presidente, ao amanhecer da última quarta-feira, o Brasil recebeu de volta, aos prantos, o corpo do seu filho ilustre. O povo, de todas as idades, chorou de emoção ao assistir a sua chegada, durante o cortejo e a visitação na Assembléia Legislativa de São Paulo.

      Falando com o Embaixador José Aparecido de Oliveira, representante do Brasil em Portugal, por telefone, naquela mesma quarta-feira, fui informado de que lá estava havendo as maiores demonstrações de condolências, de sentimento e pesar pela morte de Ayrton Senna, considerado, em Portugal, como um verdadeiro símbolo de bravura, coragem e tenacidade dos povos que surgiram na África e na América, desde as navegações e os descobrimentos, hoje reunidos na comunidade de nações de língua portuguesa.

      Acrescentou o Embaixador José Aparecido que, em Portugal, Senna era considerado o grande atleta do mundo de origem e influência lusitana, e informou ainda que Portugal, como o Brasil, também estava de luto.

      Comentou também o nosso Embaixador em Portugal sobre as afinidades e ligações de Ayrton Senna com aquele país amigo e irmão, lembrando que o seu primeiro prêmio internacional foi conquistado no Autódromo de Estoril, em 1984. Antes, porém, em 1979, lá também havia participado de um campeonato de kart.

      De suas peregrinações pelos torneios do mundo, Senna, na maior parte das vezes, conforme ouvi do Embaixador José Aparecido de Oliveira, voltava para Portugal, ande tinha uma quinta no Algarve e uma casa em Sintra, e que o povo português, que lhe tinha muita afeição, sentia, como demonstrou naqueles dias, a mesma dor e a mesma saudade do povo brasileiro. Era tanta a afluência de pessoas que queriam apresentar à Casa do Brasil as suas condolências e suas demonstrações de dor e saudade, que S. Exª determinou fosse colocado um livro na capela da Chancelaria, que já contava com milhares de assinaturas, registros e mensagem de pesar.

      O Sr. Albano Franco - Senador Lourival Baptista, V. Exª me concede um aparte?

      O SR. LOURIVAL BAPTISTA - Com prazer, eminente Senador Albano Franco.

      O Sr. Albano Franco - Nobre Senador Lourival Baptista, desejo, nesta hora, não só associar-me às homenagens que V. Exª presta ao brasileiro Ayrton Senna, mas principalmente congratular-me pelo que historia. V. Exª cita aqui alguns exemplos, fatos que ocorreram na vida de Ayrton Senna e, principalmente, a causa da sua morte, como também o que foi divulgado no Japão, em Portugal e em todos os países. V. Exª faz, realmente, um relato da maior importância. Quero aproveitar a oportunidade, nobre Senador Lourival Baptista, Srs. Senadores, para dizer que o nosso País, no momento em que a sociedade vive tão desencantada, tão desesperançosa, teve, infelizmente, o desprazer, até mesmo a falta de sorte, de perder aquele seu herói que tantas alegrias e glórias concedeu ao nosso povo. V. Exª sabe também que, além de ser um desportista vitorioso, Senna, através da sua determinação, da sua coragem, da sua personalidade e da sua seriedade, foi efetivamente vitorioso e respeitado em todo o mundo. Todavia, é importante destacar e ressaltar o caráter de Senna no aspecto humanitário: foi homem de gestos, muitas vezes ajudando pessoas carentes, inclusive em casos graves de saúde, sem desejar que o seu nome aparecesse. Isso mostra a sua formação cristã, o seu caráter de solidariedade humana num instante em que tanto falta solidariedade em nosso País. A maior prova é que a sociedade entendeu. Todas as classes sociais homenagearam Senna, não só através da presença física, mas através das orações e das lágrimas. Por isso, como colega de Bancada de V. Exª, desejo, nesta hora, ressaltar que os nossos conterrâneos de Sergipe muito lamentaram, lastimaram e choraram, como todos os demais brasileiros, porque Senna só nos deu alegria. O seu exemplo serve, inclusive com seus princípios e conceitos, para as novas gerações, principalmente em termos de disputa, em termos de esporte, em termos de trabalho. Confirma também a possibilidade de que o País tem jeito.

      O SR. LOURIVAL BAPTISTA - Eminente Senador Albano Franco, ficamos muito gratos a V. Exª pelo seu aparte, que muito veio enriquecer este nosso pronunciamento, trazendo-nos dados que aqui não havíamos citado.

     Na verdade, o enterro de Ayrton Senna comoveu todo o Brasil. Nesta minha vida pública de alguns anos já assisti a muitos sepultamentos de políticos evidentes, de políticos sempre aplaudidos pelo povo, mas igual ao de Ayrton Senna, eu nunca havia visto. Foi algo que comoveu o rico, o pobre, o pé descalço, o de sapato, enfim, todo o Brasil. A morte de Ayrton Senna foi uma tragédia - posso dizer - nacional.

     Fico grato a V. Exª, eminente Senador Albano Franco, pelo seu aparte, que, como disse, muito vem ilustrar e enriquecer o nosso pronunciamento.

     Sr. Presidente e Srs. Senadores, Ayrton Senna, pelo seu exemplo de vida, com o sucesso de sua atuação e com sua morte prematura, repentina e trágica, despertou em todo o mundo, dividido em várias regiões por conflitos sociais e ideológicos, o sentimento adormecido da afeição e da fraternidade, fazendo mostrar-se, tanto lá fora quanto aqui entre nós, a face humana e pura das pessoas em vários países, uma face da humanidade, estimulando a prevalência do espírito da competição desportiva sobre o estigma da violência e da disputa armada, que tantos prejuízos têm causado ao progresso do ser humano e das civilizações.

     Com este lamentável sinistro, Sr. Presidente, o mundo perdeu o seu campeão, um exemplo de pertinácia, ousadia, coragem, destreza, caráter e lealdade, e a Nação brasileira perdeu o seu ídolo, um símbolo de esperança e confiabilidade no sucesso, o seu embaixador desportivo, que a cada vitória desfraldava, com orgulho da nacionalidade, a nossa bandeira, divulgando e enaltecendo o nome e o prestígio do Brasil, que, em reconhecimento e gratidão por tudo o que ele fez pela grandeza do seu nome, na expressão dos sentimentos mais nobres do povo brasileiro, de todas as categorias sociais, prestou comovidas homenagens póstumas a um verdadeiro e querido herói nacional.

     Li um artigo do eminente Senador José Sarney que, com a sua refinada sensibilidade e percepção dos sentimentos da alma brasileira quanto a este lamentável episódio, transcende um comentário e interpreta o enigma do destino e o sentimento da vida e da morte, ao escrever:

     Jovem, carismático, mito, deus, ele encarnou um símbolo que está na alma do homem, o desejo de vencer, de ser herói. Nós, brasileiros, participávamos do seu heroísmo, corríamos com ele e com ele estávamos, comungando e dividindo a vitória, simbolizada naquela bandeirinha do Brasil cruzando a linha da chegada. Era uma emoção que apertava a garganta dos velhos e fazia chorar os mais novos.

     Em Imola, naquele muro, sua alma partiu para um encontro com Deus na mais veloz de todas as suas vitórias, quebrando o recorde da vida.

     Que ele nunca seja esquecido no seu exemplo de dignidade, determinação, coragem e amor ao Brasil.

     Finalizando, Sr. Presidente, peço a transcrição, com o meu pronunciamento, do artigo a que me referi, intitulado "Senna: a glória e a morte", de autoria do Senador José Sarney, publicado na Folha de S.Paulo, edição de 6-5-94.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 10/05/1994 - Página 2121