Discurso no Senado Federal

COMENTANDO EDIÇÃO DA GAZETA MERCANTIL NA QUAL TRAZ, DE FORMA DETALHADA, A ESTAGNAÇÃO QUE ATINGIU AS REGIÕES PRODUTORAS, EM FUNÇÃO DO DESCOMPASSO ENTRE OS CUSTOS DOS FINANCIAMENTOS E A REMUNERAÇÃO DOS PRODUTOS.

Autor
Mauro Miranda (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Mauro Miranda Soares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
AGRICULTURA.:
  • COMENTANDO EDIÇÃO DA GAZETA MERCANTIL NA QUAL TRAZ, DE FORMA DETALHADA, A ESTAGNAÇÃO QUE ATINGIU AS REGIÕES PRODUTORAS, EM FUNÇÃO DO DESCOMPASSO ENTRE OS CUSTOS DOS FINANCIAMENTOS E A REMUNERAÇÃO DOS PRODUTOS.
Publicação
Publicação no DCN2 de 04/05/1995 - Página 7287
Assunto
Outros > AGRICULTURA.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, JORNAL, GAZETA MERCANTIL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DETALHAMENTO, SITUAÇÃO, CRISE, AGRICULTURA, PAIS, RESULTADO, DEFASAGEM, CUSTO, FINANCIAMENTO AGRICOLA, PREÇO MINIMO, PRODUTO, REDUÇÃO, RECEITA, AGRICULTOR.
  • INFORMAÇÃO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, ESTADO DO RIO GRANDE DO SUL (RS), ESTADO DO PARANA (PR), ESTADO DE MATO GROSSO (MT), ESTADO DE GOIAS (GO), RESULTADO, CRISE, AGRICULTURA.
  • ADVERTENCIA, GOVERNO, NECESSIDADE, DIALOGO, AGRICULTOR, EXECUÇÃO, PROGRAMA DE GOVERNO, PRIORIDADE, REFORÇO, AGRICULTURA, INSTRUMENTO, COMBATE, FOME, INFLAÇÃO.

O SR. MAURO MIRANDA (PMDB-GO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a agricultura brasileira está gritando por socorro, e este grito nunca foi tão estridente, pelos contornos de sua gravidade. Era uma crise submersa, porque seus ecos não chegavam às grandes cidades, onde as prateleiras dos supermercados mantiveram-se abastecidas. Hoje, não acredito que haja um único parlamentar neste Congresso que não possa testemunhar essa realidade. Mesmo aqueles que aqui chegaram por fortes influências do voto urbano já ouviram lamentos advindos do campo. É o encadeamento de toda a cadeia produtiva prenunciando sérias ameaças de colapso. Não se trata de sinistrose, mas da constatação realista de que está em marcha um quadro de impasse econômico-social.

A edição de hoje da Gazeta Mercantil traz uma fotografia detalhada da estagnação que atingiu as regiões produtoras, em função do descompasso entre o custo dos financiamentos e a remuneração dos produtos. São duas páginas inteiras, com reportagens locais, mostrando em cores muito vivas que "o interior está parando". Recomendo aos meus colegas que leiam com atenção os números assustadores da crise estampada por este jornal de indiscutível credibilidade. E desejo que estas mesmas informações sensibilizem os gabinetes da área econômica do Governo,neste momento em que são negociadas novas condições para o crédito agrícola.

Após indicar uma queda de 24 por cento na receita dos agricultores, fato que levou à paralisação dos negócios, o matutino constata que "a economia brasileira vive uma contradição. Enquanto nos grandes centros urbanos as vendas disparam, levando o governo a editar seguidos pacotes para refrear o consumo, nas pequenas cidades os negócios estão paralisados" travando a comercialização de uma safra recorde. Ao mergulhar nos efeitos da crise, o jornal afirma que o impasse "rompeu os vasos comunicantes da economia local, aumentando a inadimplência, que já não perdoa postos de gasolina, farmácias e nem padarias". Sobre esse quadro dramático, temos levado nossos depoimentos às autoridades econômicas, mas é importante que um jornal especializado, com o peso da Gazeta Mercantil contribua para confirmar a legitimidade de nossas advertências.

Para fugir, neste rápido pronunciamento, de incursões mais detalhadas sobre o quadro crítico reproduzido pela Gazeta Mercantil, quero trazer ao conhecimento desta Casa as informações de maior impacto: No Rio Grande do Sul, nove municípios decretaram estado de emergência. No Paraná, o esforço das cooperativas é no sentido de alongar as dívidas dos agricultores. Na região de fronteira de Mato Grosso, o mês de abril mostrou uma queda de 40 por cento no recolhimento de impostos. Em todas essas áreas produtoras, existe a disposição de suspender novos investimentos, o que comprometeria a próxima safra e a garantia de abastecimento, com seus efeitos no controle da inflação. No meu Estado, Goiás, o perfil da crise é ainda mais grave, e o fato mais preocupante é a redução drástica de 80 por cento na venda de máquinas agrícolas, na região sudoeste do Estado. A história de prosperidade na região mais rica do Estado é hoje uma história de desolação. Há casos de postos de combustíveis que foram punidos com suspensão de fornecimentos pela Petrobrás, porque o pagamento de suas faturas está atrasado.

São fatos reais que se confrontam com a imagem preconceituosa que foi forjada neste país contra os agricultores. A agitação do noticiário dos últimos dias colocou no pelourinho os parlamentares que defendem a suspensão da TR na correção do crédito rural. Criou-se uma imagem injusta e antipática para os interesses da agricultura, enfraquecendo o poder político do setor nas negociações com o governo. O que se reclama é diálogo. O agricultor não possui o recurso corporativo da grave, suas reivindicações não têm o poder de inflamar o interesse dos meios de comunicação, e seus instrumentos de persuasão junto aos órgãos federais são lentos e emperrados.

Tenho compromissos de lealdade com o governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso, e não me afastarei desse objetivo. Por temperamento pessoal, não me anima a ilusão demagógica da dissidência. Quero alertar o governo a que pertenço, até pelo dever da lealdade. O Presidente da República foi eleito por um conjunto de programas prioritários, e o fortalecimento da agricultura, como instrumento de combate à fome e à inflação, foi uma das mensagens mais fortes de sua campanha. Auxiliar o Presidente a encontrar soluções é prerrogativa intransferível do Congresso e dever indeclinável de seus auxiliares. Todos os sacrifícios toleráveis que poderiam ser impostos à agricultura para ajudar no combate à inflação já chegaram aos limites do esgotamento. É imperativo que a consciência desse fato flua por todos os canais da área econômica, para que se estabeleça o clima de compreensão. O que espero é que o Presidente Fernando Henrique, com a sua autoridade e a sua liderança, patrocine a causa e encurte os caminhos de um diálogo construtivo e salvador, antes que o desânimo se instale e a inadimplência generalizada multiplique a possibilidade de um caminho sem volta.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 04/05/1995 - Página 7287