Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO DR. SADALLA CESAR AMIN GHANEM.

Autor
Esperidião Amin (PPR - Partido Progressista Reformador/SC)
Nome completo: Esperidião Amin Helou Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM DE PESAR PELO FALECIMENTO DO DR. SADALLA CESAR AMIN GHANEM.
Publicação
Publicação no DCN2 de 28/04/1995 - Página 6735
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, SADALLA CESAR AMIN GHANEM, MEDICO, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC).

O SR. ESPERIDIÃO AMIN (PPR-SC. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, reza um provérbio, muito difundido, que santo de casa não opera milagres. Mais que propriamente negar a possibilidade de alguém ser profeta em sua terra, essa frase aponta, em sua significação mais profunda, para a história pessoal de tantos indivíduos e famílias que, tendo deixado seus países natais em conseqüência de guerra, perseguição política ou religiosa, fome, desemprego ou dificuldades de qualquer tipo, vão encontrar, nos países que passam a adotar, a oportunidade de progredirem, de se fazerem membros destacados das comunidades que os acolhem.

Descendente de imigrantes e, mais ainda, natural de um Estado fortemente marcado pelo influxo de diversas etnias e nacionalidades, tenho muito clara a importância da abertura e da hospitalidade que este País, historicamente, tem oferecido aos que aqui vêm aportar, muita vez em condição desesperada. Também por minha origem de família e de naturalidade, trago claras em minha memória várias dessas histórias _ talvez devesse dizer, dessas predestinações _ de gente que, nascida em alguma parte distante do globo, veio ao Brasil construir vidas que precisamos chamar exemplares. É precisamente sobre a personagem de uma dessas histórias, o dono de uma dessas trajetórias, que desejo falar hoje aos nobres Pares.

Venho fazer registrar-se, nos anais desta Casa, na impossibilidade de homenagem mais condigna, um pálido resumo da vida e da obra de um grande catarinense de adoção, falecido no último dia dezessete de abril. Trata-se de Sadalla César Amin Ghanem, libanês de nascimento. Chegado a nosso País com um ano de idade, contava oitenta e dois ao falecer, 1tendo dedicado a maior parte desse tempo à comunidade de Joinville, nos mais diversos campos de atividades: na medicina, profissão que exerceu com extraordinário sentido social; no esporte, como dirigente inigualado do América Futebol Clube daquela cidade; na religião, como principal incentivador da construção da Catedral de Joinville.

Médico oftalmologista, Sadalla Amin Ghanem foi pioneiro de sua especialidade em Joinville. Por trinta e seis anos, clinicou para os sindicatos da cidade; por outros vinte e seis, prestou atendimento, sem remuneração, aos indigentes das enfermarias do Hospital São José de Joinville, atividades que granjearam a admiração e a amizade pessoal de grande parte dos joinvilenses. Em sua profissão, foi autor de dois importantes trabalhos científicos e membro ativo da Associação Panamericana de Oftalmologia, pela qual participou de vários congressos no Brasil e no exterior. Recebeu, ainda, uma homenagem especial da comunidade médica da região no Terceiro Congresso Sul-Brasileiro de Oftalmologia, realizado a oito de novembro de 1989.

Em seu período na direção do América Futebol Clube, foi o responsável pela construção do estádio daquela agremiação esportiva, façanha considerada incomum por todos os que conheceram as dificuldades enfrentadas com as dívidas do clube, com a falta de crédito e com uma tempestade que derrubou a obra quando ela já se encontrava pela metade de sua edificação. Conta-se que foi somente a vontade férrea de Sadalla que possibilitou a retomada da obra pela comunidade do clube. Um livro de sua autoria registra essa peripécia: O Estádio do América F.C.

A construção da Catedral de Joinville foi outro episódio em que se mostrou imprescindível a determinação inquebrantável de Sadalla. Presidente, por dezoito anos consecutivos, da Comissão para a Construção da Catedral, a ele se deve quase todo o trabalho de conscientização popular para a necessidade da construção da igreja, bem como a própria viabilização da obra. Trabalho que pareceria, a qualquer homem menos provido de ânimo combativo, uma quimera inatingível. Ele mesmo percorreu centenas de vezes a cidade à cata de colaboração, arrecadando dinheiro, promovendo bingos e quermesses, numa epopéia que também deixou relatada em um livro seu, A Catedral de Joinville.

Por todos esses serviços à comunidade, Sadalla recebeu da Câmara de Vereadores de Joinville, em vinte e três de abril de 1975, o título de Cidadão Benemérito. Naquela ocasião, em seu discurso, Sadalla proclamou seu amor por Joinville e por sua terra natal com as frases que foram repetidas pelos concidadãos em seu sepultamento: "Lá, berço; aqui, túmulo. Os extremos se tocam; daria a vida por eles".

A morte, disse-o o escritor francês André Malraux, transforma a vida em destino. De fato, somente o término de uma existência empresta-lhe sua verdadeira dimensão. A partir do momento em que não temos mais a presença material e cotidiana de uma pessoa é que podemos aquilatar na justa medida o valor de sua atuação e de sua obra. É uma verdade confirmada mais uma vez quando lamentamos o falecimento de Sadalla Amin Ghanem. Quem diria, ao ver aquela criança que deixava o Líbano no colo de sua mãe, oito décadas atrás, que o menino iria ter uma vida grandiosa na pátria distante que ele haveria de fazer sua? E a gente de Santa Catarina, que então sequer podia imaginar haver destinado para ela, vindo do chamado Oriente Próximo, um de seus cidadãos mais dignos e ilustres deste século?

Mas esses, Sr. Presidente, são os insondáveis mistérios da Providência Divina.

Muito obrigado.


1 vítima de uma isquemia cerebral.



Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 28/04/1995 - Página 6735