Discurso no Senado Federal

SOLIDARIZANDO-SE COM A GREVE DOS PROFESSORES DA REDE ESTADUAL DE SANTA CATARINA.

Autor
Esperidião Amin (PPR - Partido Progressista Reformador/SC)
Nome completo: Esperidião Amin Helou Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MOVIMENTO TRABALHISTA. EDUCAÇÃO. :
  • SOLIDARIZANDO-SE COM A GREVE DOS PROFESSORES DA REDE ESTADUAL DE SANTA CATARINA.
Publicação
Publicação no DCN2 de 17/05/1995 - Página 8347
Assunto
Outros > MOVIMENTO TRABALHISTA. EDUCAÇÃO.
Indexação
  • SOLIDARIEDADE, PARALISAÇÃO, CATEGORIA PROFISSIONAL, PROFESSOR, ESCOLA PUBLICA, REDE ESCOLAR, ESTADO DE SANTA CATARINA (SC), MOTIVO, INSUFICIENCIA, SALARIO, EXCESSO, CARGA HORARIA, FALTA, ATENÇÃO, AUTORIDADE PUBLICA, REIVINDICAÇÃO.
  • ANALISE, CRITICA, SITUAÇÃO, SISTEMA, EDUCAÇÃO, BRASIL, EFEITO, FALTA, PRIORIDADE, GOVERNO, INVESTIMENTO, SETOR.

              O SR. ESPERIDIÃO AMIN (PPR-SC. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, os professores do Colégio Nereu Ramos de Itajaí, em Santa Catarina, apresentaram-me um relato dramático da situação lamentável por que passa o ensino da rede estadual de ensino, que culminou com a greve que foram obrigados a deflagrar em decorrência da falta de sensibilidade social das autoridades estaduais.

              Como homem de origem profissional no magistério, como educador e permanentemente preocupado com o papel da educação no desenvolvimento econômico-social do Brasil, cumpro o dever de comparecer à tribuna desta Casa do Congresso Nacional para lutar pela melhoria do sistema educacional de nosso País e, especificamente, para reverter a situação caótica da educação no Estado de Santa Catarina.

              É impossível exagerar a importância da educação no desenvolvimento das gerações futuras e na operação das economias modernas, com suas exigências de alto nível de escolarização da mão-de-obra, como agente social propulsor da construção de uma sociedade aberta, econômica e politicamente.

              Todos sabemos o pesado tributo e a herança negativa que deixarão aos pósteros os países que relegam a educação a um plano secundário.

              Infelizmente, o Brasil vem se mantendo no clube dos países socialmente atrasados, criando uma imensa dívida para nossos filhos e para os filhos de nossos filhos, por não conferir à educação a prioridade que deveria merecidamente receber.

              O imenso desenvolvimento da ciência e da tecnologia, o impacto da informática, da telemática e das ciências correlatas aumentarão exponencialmente o enorme fosso hoje existente entre os países desenvolvidos e os não desenvolvidos, perpetuando gerações de párias e cidadãos de segunda classe, por não terem tido a oportunidade de uma educação adequada.

              Sr. Presidente, Srs. Senadores:

              Como poderá o Brasil desenvolver-se, preparar-se para os grandes desafios do próximo século, como poderá operar uma sociedade cada vez mais complexa, desprezando o ingrediente fundamental para realizar essa revolução, o Professor?

              Sem o Professor bem treinado, bem formado, bem remunerado, respeitado dentro e fora da sala de aula, integrado numa carreira funcional corretamente estruturada, que lhe possibilite desenvolvimento pessoal e profissional, a realização de pesquisas e a incorporação de novos conhecimentos, sem esses ingredientes fundamentais o sistema educacional brasileiro caminhará fatalmente para a falência, levando com ele toda uma geração.

              A rota em que se encontra o sistema educacional brasileiro não nos levará a lamentar apenas a chamada "década perdida"; lamentaremos também uma geração perdida.

              Somente o Professor apoiado, prestigiado técnica e administrativamente, poderá atingir o fim último do sistema educacional: formar cidadãos, na verdadeira acepção da palavra, para o mundo de amanhã.

              Volvendo, rapidamente, os olhos do universal para o regional, neste pequeno sumário da situação caótica da educação no Brasil, deparo-me com a situação extremamente grave da educação no meu Estado, Santa Catarina, que em passado não distante servia de exemplo pelo seu grau de excelência.

              Na raiz desses problemas se encontra a ausência de vontade e determinação política para eleger a educação como a maior prioridade, juntamente com a alimentação, habitação e saúde.

              Em Santa Catarina, os professores da rede estadual de ensino têm sido desvalorizados, pela redução real de seus já baixos salários, pela imposição de uma carga irracional de trabalho, que chega a atingir sessenta horas semanais, sem falarmos na inexistência dos equipamentos de apoio necessários e não disponíveis.

              A atual greve dos professores da rede estadual de Santa Catarina representa apenas a ponta desse imenso iceberg, que é a decadência do sistema educacional.

              Os professores da rede estadual de Santa Catarina faziam parte de um grupo respeitado, por exercerem uma atividade social digna, voltada para os objetivos de construção de um país mais justo.

              Atualmente, os professores da rede estadual de Santa Catarina estão sendo socialmente rebaixados, estão deixando de pertencer à classe média, estão ingressando na pobreza, pelo aviltamento salarial e por não receberem a consideração e o respeito das autoridades estaduais; são obrigados a suportar uma carga de trabalho desumana, sem tempo para o estudo e o aperfeiçoamento, para a pesquisa e o desenvolvimento, prejudicando seus próprios alunos, com graves repercussões negativas para as futuras gerações.

              A greve dos professores de Santa Catarina é um sinal de alarme para todos quantos têm olhos para ver e ouvidos para ouvir: o Brasil do futuro está se perdendo hoje pelo desprezo da educação.

              Os professores de Santa Catarina não são mercenários; não vivem em função da cobiça do dinheiro; são homens e mulheres, cidadãos brasileiros responsáveis pelo sustento de suas famílias e pela formação do caráter e consciência de milhares de jovens.

              Os professores de Santa Catarina exigem respeito das autoridades estaduais, não são adeptos do "grevismo" nem são aventureiros; foram obrigados a entrar numa greve em decorrência da insensibilidade social das autoridades estaduais.

              Sr. Presidente, Srs. Senadores:

              O Brasil não pode desprezar a educação; o Brasil não pode desprezar seus professores; o Brasil não pode desperdiçar seus recursos mais importantes, seus recursos humanos, representados principalmente por seus professores.

              Conclamo as autoridades educacionais de Santa Catarina e do Governo Federal a tomarem providências imediatas para resolver a grave questão salarial dos professores estaduais de Santa Catarina, com os quais me solidarizo de maneira irrestrita, não apenas como educador, mas como brasileiro, como democrata e como cidadão permanentemente preocupado com a educação e o futuro do Brasil.

              É o meu pensamento.

              Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 17/05/1995 - Página 8347