Discurso no Senado Federal

ELEVAÇÃO DAS TAXAS DE JUROS PREJUDICANDO DIVERSOS SETORES DA ECONOMIA, ESPECIALMENTE O DO COMERCIO VAREJISTA. CONTRARIO A POLITICA DE CONTENÇÃO DE CONSUMO.

Autor
Mauro Miranda (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Mauro Miranda Soares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • ELEVAÇÃO DAS TAXAS DE JUROS PREJUDICANDO DIVERSOS SETORES DA ECONOMIA, ESPECIALMENTE O DO COMERCIO VAREJISTA. CONTRARIO A POLITICA DE CONTENÇÃO DE CONSUMO.
Publicação
Publicação no DCN2 de 20/05/1995 - Página 8538
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • PROTESTO, GRAVIDADE, CRISE, NATUREZA ECONOMICA, MOTIVO, AUMENTO, JUROS, PREJUIZO, ATIVIDADE COMERCIAL.
  • DECLARAÇÃO, APOIO, GOVERNO, DEFESA, NECESSIDADE, REVISÃO, CONCEITO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, AUMENTO, TAXAS, JUROS, PREJUIZO, TESOURO NACIONAL, PRIVATIZAÇÃO, EMPRESA PUBLICA, INSUFICIENCIA, PAGAMENTO, DIVIDA PUBLICA.

O SR. MAURO MIRANDA (PMDB-GO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, são graves os sinais de crise que afetam setores importantes da economia brasileira, em conseqüência da atual taxa de juros. Já não falo da questão agrícola, que alcançou enorme repercussão nos últimos dias e que já tem a sua solução encaminhada graças à intervenção direta de Presidente Fernando Henrique Cardoso. Agora é o comércio que mostra a sua fragilidade diante dos elevados custos do dinheiro, com a concordata pedida pela Casas Centro, uma das instituições mais tradicionais e mais sólidas do País. O Dr. Roberto Macedo, líder patronal do setor, afastou o fantasma da generalização da crise, dizendo tratar-se de caso isolado. São declarações oportunas para impedir que se estabeleça o clima de pânico, mas não funcionam como garantia de que novos fatos não se avizinhem. Ninguém revela que está quebrando, para não estimular a fúria dos cobradores.

Tenho compromissos partidários e pessoais de apoio ao Governo e compreendo as responsabilidades das autoridades econômicas num sistema monetarista. Nossos economistas optaram pela política de bloqueio do consumo para segurar a inflação, e o método universal para chegar a esse objetivo é a prática dos juros elevados. Os resultados estão funcionando dentro da expectativa, mas seus custos invisíveis começam a aparecer. É como se estivéssemos diante de um dogma de questionamento proibido. Penso que não é este o caminho da sensatez, e que a economia deve ser vista no seu todo, com suas verdades formais e com suas verdades relativas. O dinheiro que financia a produção está caro, e seu custo vai onerar o produto, alimentando a inflação. Se este custo não é repassado, quebra-se a cadeia de interdependência das atividades produtivas. Não há teorema que sustente, se tentar quebrar essa lógica universal.

É preciso pensar. É imperativo trilhar os caminhos da humildade e rever conceitos em benefício de todos. Estamos com as privatizações em andamento, mas o tempo de maturação é longo. Há dias, um articulista econômico de respeito calculava que o valor a ser obtido com a venda da Vale do Rio Doce correspondia a cinco meses de juros da atual dívida mobiliária do Governo. Com o crescimento vegetativo dessa dívida, essa relação cai dramaticamente para apenas um mês, se a venda da empresa acontecer daqui um ano. A constatação é grave e mostra que o Tesouro Nacional é a vítima principal da taxa de juros, embora possa, mesmo agravando a sua crise, emitir moeda para pagar ou para rolar a dívida. Isso não acontece com o setor privado, que, ou quebra, ou desmobiliza patrimônio, gerando desemprego e diminuindo a arrecadação do Estado. É um círculo vicioso navegando na contramão do ideal, que seria o crescimento econômico.

Na época mais dura da inflação, o custo real do dinheiro para os financiamentos produtivos correspondia a aproximadamente 10% da correção monetária. Hoje, com uma inflação média de 2% nos últimos meses, os bancos chegam a cobrar taxa 12% a 15%. Em termos reais, isso significa um ágio de 600% a 700% no custo real da moeda para o tomador particular. É a dura realidade dos fatos e um caminho cruel para rumos desconhecidos. Sei que a complexidade da economia não contempla saídas milagrosas, nem aponta soluções imediatas quando se vive uma quadra de perplexidades como a que estamos vivendo.

O Presidente Fernando Henrique Cardoso não pode ser acusado de insensibilidade. Todos estamos acompanhando e somos solidários com as suas angústias e devemos apontar-lhe soluções. Acredito sinceramente no profissionalismo e no patriotismo de seus auxiliares no campo da economia. Por isso, creio que a eles não faltarão talento e vontade para redimensionar os valores que orientam as suas políticas.

Não há caminhos sem retorno, desde que haja grandeza para parar, olhar em todas as direções e voltar, se for o caso, para corrigir a rota, sem perder de vista o objetivo. Não tenho dúvidas de que os resultados poderão compensar e muito, e o povo brasileiro agradecerá por isso.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 20/05/1995 - Página 8538