Discurso no Senado Federal

A GREVE DOS PETROLEIROS E A POSIÇÃO DO GOVERNO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO.

Autor
Gilvam Borges (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AP)
Nome completo: Gilvam Pinheiro Borges
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
MOVIMENTO TRABALHISTA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.:
  • A GREVE DOS PETROLEIROS E A POSIÇÃO DO GOVERNO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO.
Publicação
Publicação no DCN2 de 30/05/1995 - Página 8998
Assunto
Outros > MOVIMENTO TRABALHISTA. GOVERNO FEDERAL, ATUAÇÃO.
Indexação
  • CONGRATULAÇÕES, POSIÇÃO, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, RELAÇÃO, GREVE, PETROLEIRO, PETROLEO BRASILEIRO S/A (PETROBRAS).
  • REFERENCIA, ATUAÇÃO, GOVERNO, JOSE SARNEY, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ACEITAÇÃO, GREVE, BUSCA, RESTAURAÇÃO, DEMOCRACIA, PAIS.
  • HOMENAGEM, JOSE SARNEY, PRESIDENTE, CONGRESSO NACIONAL, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, ESFORÇO, RESTAURAÇÃO, PAZ, PAIS.

O SR. GILVAM BORGES (PMDB-AP. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, nobres Srªs e Srs. Senadores, durante as últimas três semanas acompanhamos pela mídia e no plenário das duas Casas a grande queda de braço e o confronto entre a categoria dos petroleiros e o Governo Federal, na figura do Presidente Fernando Henrique Cardoso.

Na reflexão, é preciso fazer uma retrospectiva histórica para que possamos ver que este momento não é de gravidade nem de preocupação exacerbada de que essa queda de braço poderá trazer conseqüências drásticas para o processo de tranqüilidade do País.

Volto meu pensamento ao ex-Presidente da República e atual Presidente do Congresso Nacional, Senador José Sarney, um homem que enfrentou para mais de duas mil greves. Com a missão de conduzir o País, de reintegrá-lo à vida democrática, teve, no seu governo, o mais alto equilíbrio da convivência democrática. E como S. Exª não houve, na História, a complacência e a sabedoria da convivência democrática, quando muitos diziam que José Sarney tornava-se refém das forças políticas e dos partidos.

O calvário do ex-Presidente, que teve que receber as forças represadas, aquelas forças que, há muito, ávidas pelo desejo da livre manifestação, então transformavam as ruas do País num grande palco das greves - das greves coordenadas, das greves manipuladas, das greves justas, das greves injustas.

Congratulo-me com o Presidente Fernando Henrique Cardoso. Que Sua Excelência não se irrite com algumas pedradas ou com as palavras, muitas das vezes ferinas, que em certos momentos o tiram do sério. Às vezes vemos o Presidente Fernando Henrique de certa forma contrariado.

Sr. Presidente, os petroleiros cumprem com a sua obrigação, com o seu dever. A categoria dos petroleiros, uma das mais bem organizadas do País, procura puxar as outras nesse equilíbrio de força democrática.

Mas quero, Sr. Presidente, dar ao atual Governo o exemplo do ex-Presidente José Sarney. S. Exª sofreu muito à frente da Presidência da República.

Sr. Presidente, o povo brasileiro deve se orgulhar de ter, no clube dos homens da mais alta responsabilidade, reunidos no Japão, o brasileiro, o poeta, membro da Academia Brasileira de Letras, o Presidente do Congresso Nacional, um homem do trânsito, que é o Presidente José Sarney.

Sr. Presidente, venho à tribuna para fazer uma reflexão juntamente com todos os Srs. Senadores da República. É verdade que a nossa situação não é muito boa. Com apenas 500 anos de idade, passamos por regimes de exceções e por regimes autoritários; vivemos numa economia em frangalhos, em que quase todos os ex-governos buscaram esse equilíbrio.

Hoje, eu gostaria de chamar a atenção do Governo Federal, bem como do Sr. Ministro da Fazenda, da equipe econômica, que, com a sua visão técnica, visão teorizada dos grandes economistas, esquecem, talvez, alguns detalhes importantes que o homem simples do povo sente no dia-a-dia, no cotidiano.

Represou-se demais o remédio amargo empregado. Quando houver necessidade de se abrirem as comportas, gradualmente, sérios problemas poderão surgir. Os juros estão num patamar insuportável.

Sr. Presidente, nobres Senadores, a situação é grave; a economia está sem controle, está ameaçada. O Governo precisa tomar algumas providências imediatamente. Nunca se viu quebradeira como a que estamos presenciando. Do pequeno assalariado aos comerciantes, aos empresários, a situação é de lamúria e de penúria. A quebradeira é praticamente generalizada, só falta vir à tona. Acreditamos no Governo do Presidente Fernando Henrique Cardoso. Sabemos da sua integridade. O desejo de Sua Excelência é o de manter esse equilíbrio e de controlar a economia. Além disso, a grande responsabilidade do Governo, nesses quatro anos, Sr. Presidente, sem sombra de dúvida, mais que o controle da economia, da inflação, é a reforma constitucional. Neste momento da vida nacional, acredito que o Senhor Presidente Fernando Henrique Cardoso está indo muito bem.

O Congresso Nacional não poderia ter como timoneiro outro nome mais importante pela sua experiência, pela sua gama de informações, pelas suas convivências de um homem que não só navegou as duas margens mas também o meio do rio.

Sr. Presidente, o Congresso Nacional mostra a sua nova face de trabalho, e essa observação já foi feita nas nossas bases. O Congresso Nacional tem o novo tom da objetividade diante das suas atribuições, que não são tão concretas como as do Executivo, de fazer leis e fiscalizá-las.

Estamos de parabéns e prontos para resgatar a credibilidade perdida perante a opinião pública.

A minha manifestação da tribuna, Sr. Presidente, é no sentido de falar a respeito do desperdício deste País, por não prestigiar as experiências acumuladas de juízes, políticos e dos profissionais liberais. Isto é impressionante.

Sr. Presidente, gostaria de fazer um paralelo entre o ex-Presidente e o atual Presidente Fernando Henrique Cardoso. Os dois se afinam, convergem para a mesma postura de homens extremamente democráticos.

Na última entrevista a que assisti, o Presidente Fernando Henrique Cardoso dizia que o diálogo é necessário. Estamos acreditando nesse diálogo para que se possa aparar, organizar a situação do País.

Sr. Presidente e nobres Srªs e Srs. Senadores, afinam-se os homens públicos desta Pátria, e eu acredito neles. Como jovem Senador da República - tenho 36 anos de idade, farei 37 no dia 1º de agosto - trago aquele entusiasmo, aquela vontade de acertar, de ajudar, de fazer acontecer. Há sempre uma diferença drástica entre o que se fala e o que se faz. Tenho observado que, nos nossos conflitos internos, muitas vezes nos questionamos se vale a pena vir à tribuna falar acerca dos graves problemas deste País. Quantas vozes não ecoaram nestas Casas do Congresso Nacional. Quantos belos pronunciamentos a respeito dos problemas sociais brasileiros? Sempre digo, Sr. Presidente, que dentro de cada um de nós, homens públicos, há o desejo de bem servir.

No meu querido Estado do Amapá, às margens do Rio Amazonas, no extremo norte, nós não só nos manifestamos pela televisão, pelo rádio e pelos jornais, como nos grandes centros urbanos. Temos também o contato direto, praticamente frontal. E observamos que a descrença sempre se fez presente.

Certa vez, um eleitor me abordou, dizendo: "Gilvan, não acredito mais nos políticos. Não vou votar em ninguém". Respondi-lhe: "Meu amigo, levante a cabeça. Se eu tivesse dinheiro, eu lhe daria uma passagem para Moçambique, para que você passasse uns 6 meses naquele país. Tenho certeza de que você voltaria pedindo, pelo amor de Deus, que uma eleição ocorresse imediatamente". Lá, como em outros países, o poder é disputado pelas armas, pela força, pela intransigência. Ele concordou e eu lhe disse: "Agora que me deste razão, vota em mim". Creio que ele votou.

Sr. Presidente, que fabulosa a democracia: o confronto entre as palavras e as pedras; entre a truculência e a afabilidade da retórica, da defesa de idéias! Que maravilha! Emociono-me quando vejo tanta brutalidade, enquanto nós, aqui, permanecemos firmes no propósito de bem servir a este País, com experiências e vivências democráticas.

Quero fazer uma homenagem ao meu Líder, o ex-Presidente José Sarney e atual Presidente desta Casa, e a outro democrata, para que, juntos, Congresso Nacional e Presidência da República, possam conduzir este País com a paz necessária. Não há equilíbrio maior, e o momento é favorável, estratégico. Assim, haveremos de avançar no respeito ao direito de greve, um direito regulador, que busca o equilíbrio e o crescimento dos seus associados ou sindicalizados.

Sr. Presidente, viva a democracia, viva o Brasil e viva a experiência dos sábios homens públicos!

Muito obrigado. Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 30/05/1995 - Página 8998