Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM PELO TRANSCURSO DOS 60 ANOS DA ORGANIZAÇÃO FILANTROPICA ALCOOLICOS ANONIMOS.

Autor
Júlio Campos (PFL - Partido da Frente Liberal/MT)
Nome completo: Júlio José de Campos
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM PELO TRANSCURSO DOS 60 ANOS DA ORGANIZAÇÃO FILANTROPICA ALCOOLICOS ANONIMOS.
Publicação
Publicação no DCN2 de 14/06/1995 - Página 10260
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, INSTITUIÇÃO BENEFICENTE, OBRA FILANTROPICA, TRATAMENTO, ALCOOLISMO, MUNDO.
  • REGISTRO, ANAIS DO SENADO, SERVIÇO, ATUAÇÃO, INSTITUIÇÃO BENEFICENTE, TRATAMENTO, ALCOOLISMO, BRASIL, MUNDO.

O SR. JULIO CAMPOS (PFL-MT. ) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o dia dez de junho é uma data que deveria ser objeto de uma manifestação pública de reconhecimento das autoridades e dos serviços de saúde dos mais diversos países a uma das mais eficientes organizações filantrópicas de todo o mundo: os Alcoólicos Anônimos.

Admirador que sou do trabalho abnegado e eficaz desse imenso contingente de homens e mulheres que se dedica, anonimamente, a lutar contra um dos maiores problemas de saúde pública, em nível nacional e internacional, ocupo, hoje, a tribuna desta Casa para prestar minha homenagem aos Alcoólicos Anônimos pelo transcurso do sexagésimo aniversário de fundação dessa conceituada organização, que atua no campo da compreensão e da ajuda à recuperação do alcoolismo.

Criada em 1935, em Akron, Ohio, nos Estados Unidos, a Irmandade dos Alcoólicos Anônimos, mais conhecida como A.A., expandiu-se internacionalmente, e encontra-se hoje presente em cerca de cento e quarenta e quatro países, contando, no momento, com aproximadamente cem mil grupos, em todo o mundo.

No Brasil, as atividades dos Alcoólicos Anônimos iniciaram-se em cinco de setembro de 1947, por iniciativa de um americano radicado no Rio de Janeiro que, recuperado em seu país de origem, quis difundir entre nós essa experiência positiva e fundou o primeiro grupo, na então Capital Federal. Hoje, passado quase meio século, nosso País conta com cerca de cinco mil grupos de A.A., atuando em todas as vinte e sete Unidades da Federação.

Srªs e Srs. Senadores, nos tempos atuais, o alcoolismo é considerado uma verdadeira tragédia de saúde pública. As estatísticas demonstram que os índices de consumo de bebidas alcoólicas são preocupantes em um grande número de países. Segundo dados da Organização Mundial da Saúde - OMS, é o segundo maior problema de saúde do mundo, atingindo cerca de dez por cento da população mundial.

No Brasil, há cerca de quinze milhões de pessoas dependentes de álcool. O alcoolismo deixou de ser apenas um problema de saúde para tornar-se também um grave problema econômico para o País. De acordo com um estudo conduzido por um grupo de entidades de prevenção da doença em empresas, usado como base para o Programa Nacional de Alcoolismo do Ministério da Saúde, cerca de três bilhões e trezentos milhões de dólares são drenados, anualmente, dos cofres públicos e privados, para cobrir despesas provocadas pelo consumo excessivo de álcool.

Alguns dados publicados pelo jornal Estado de S. Paulo, em maio deste ano, sob o título "Tragédia Brasileira" nos dão uma radiografia do problema no País. De seis a vinte por cento do efetivo de cada empresa brasileira de médio porte para cima é dependente de álcool. Isso implica um prejuízo já quantificado: cerca de sete e meio por cento do PIB.

Em agosto de 1993, o Ministério da Saúde divulgou que cerca de quatrocentas e trinta mil internações por ano no País são derivadas diretamente do alcoolismo e que pelo menos vinte por cento dessas internações são de menores de vinte e um anos.

O problema é grave, Srªs e Srs. Senadores. O consumo de bebidas alcoólicas está crescendo muito entre os jovens. O artigo "Alcoolismo Precoce", publicado recentemente pelo jornal Folha de S. Paulo, serve de grave alerta para as autoridades sanitárias brasileiras. Parece inacreditável, mas, segundo pesquisa realizada entre estudantes da rede estadual de primeiro e segundo graus da cidade de São Paulo, pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas - CEBRID, cerca de setenta por cento dos jovens começam a beber entre os dez e os doze anos de idade, e esses números vem crescendo a cada ano.

Felizmente, nem todos os jovens que começam a beber em tão tenra idade tornam-se dependentes de álcool. Calcula-se, porém, que cerca de dez por cento da população brasileira conhece ou conhecerá a trágica experiência de entregar-se ao vício de beber.

Médicos em geral, psiquiatras e psicólogos em particular, admitem que os tratamentos de desintoxicação e de psicoterapia são apenas paliativos, pois a própria Organização Mundial da Saúde considera o alcoolismo uma doença progressiva e incurável, sob a denominação de Síndrome da Dependência do Álcool.

Dentro dessa ótica, o trabalho desenvolvido pelos Alcoólicos Anônimos é considerado por inúmeros especialistas como a terapia mais adequada para a recuperação dos dependentes de álcool. As atividades dos grupos de A.A. vêm modificando a vida de milhares de pessoas, fazendo-as recuperar a esperança, a fé, a dignidade, e reintegrar-se ao meio familiar, profissional e social em que vivem. O êxito desse trabalho é fruto da integração, da força de vontade, da experiência compartilhada por homens e mulheres que se ajudam mutuamente, sem obrigação, sem remuneração, com o único objetivo de livrar-se da terrível dependência provocada pelo álcool. 

Em reuniões de grupos, fundamentalmente com base na prática de trinta e seis princípios espirituais que constituem os três legados de Alcoólicos Anônimos - recuperação, unidade e serviço - homens e mulheres de todas as raças, credos, profissões, níveis sociais, ajudam-se mutuamente a manter a sobriedade e se dispõem a compartilhar livremente sua experiência de recuperação com todos aqueles que tenham problema com a bebida.

Por essa razão, não podemos deixar de reconhecer, elogiar, divulgar e deixar registrado nos Anais desta Casa o serviço fraterno e solidário prestado à sociedade brasileira pela Irmandade dos Alcoólicos Anônimos.

Srªs e Srs. Senadores, ao concluir meu pronunciamento, quero reiterar minhas homenagens, meus parabéns e meu estímulo à irmandade dos Alcoólicos Anônimos, para que continue a expandir seu trabalho tão louvável de minorar o sofrimento de tantas pessoas e de tantas famílias em nosso País, sobretudo nos dias atuais, em que um grande número de jovens desesperançados se refugiam no vício, com conseqüências desastrosas para si mesmos e para a sociedade como um todo.

Tenho a certeza de que, ao prestar esta homenagem, aqui da tribuna do Senado Federal, não estou externando apenas uma admiração pessoal. Tenho a certeza de que minhas palavras expressam também o agradecimento da sociedade brasileira e das autoridades da área de saúde pela inestimável ajuda que os grupos de Alcoólicos Anônimos têm prestado aos dependentes de álcool em todo o território nacional. Tenho a certeza, principalmente, de que elas expressam o agradecimento sincero de milhares de cidadãos deste País que, recuperados de uma terrível doença, têm uma imensa dívida de gratidão com essa organização admirável - os Alcoólicos Anônimos - que, há sessenta anos, vem ajudando milhares de pessoas, em todo o mundo, a vencer a batalha diária contra o alcoolismo.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 14/06/1995 - Página 10260