Discurso no Senado Federal

OMISSÃO DE VULTOS ACREANOS ILUTRES EM PUBLICAÇÃO DE NOMES DE EXPRESSÃO DA HISTORIA DO ACRE, DISTRIBUIDA NA BARRACA DAQUELE ESTADO, POR OCASIÃO DA FESTA DOS ESTADOS, EM BRASILIA.

Autor
Nabor Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Nabor Teles da Rocha Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESTADO DO ACRE (AC), GOVERNO ESTADUAL.:
  • OMISSÃO DE VULTOS ACREANOS ILUTRES EM PUBLICAÇÃO DE NOMES DE EXPRESSÃO DA HISTORIA DO ACRE, DISTRIBUIDA NA BARRACA DAQUELE ESTADO, POR OCASIÃO DA FESTA DOS ESTADOS, EM BRASILIA.
Publicação
Publicação no DCN2 de 04/07/1995 - Página 11602
Assunto
Outros > ESTADO DO ACRE (AC), GOVERNO ESTADUAL.
Indexação
  • CONDENAÇÃO, MANIPULAÇÃO, GOVERNO ESTADUAL, ESTADO DO ACRE (AC), OMISSÃO, NOME, PERSONAGEM ILUSTRE, PERIODICO, HOMENAGEM, PESSOAS, IMPORTANCIA, VIDA PUBLICA, HISTORIA, REGIÃO, DISTRIBUIÇÃO, FESTA DOS ESTADOS, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF).

O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB-AC. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quem compareceu neste final de semana à tradicional Festa dos Estados, em Brasília, foi brindado, na Barraca do Acre, com uma publicação - "Gente Acreana de Expressão" - que apontava os mais importantes filhos daquele Estado, tanto os que lá nasceram quanto os que optaram por sua cidadania e lançaram profundas raízes em seu solo generoso e fértil. Também foi dado destaque aos que praticamente apenas nasceram no ex-Território Federal, elevado à condição de Unidade da Federação em 1962, pessoas que cedo deixaram a terra natal e foram construir vitoriosas carreiras, nos mais diversos campos de atividade profissional e nas mais diversas regiões.

Foi com muita emoção e gratas lembranças que reencontrei, nas páginas da revista, acreanos saudosos e dignos de reverência, como Epaminondas Barahuna, Epílogo de Campos, Edmundo Pinto, Chico Mendes, Garibaldi Brasil, JG de Araújo Jorge, José Guiomard dos Santos, e tantos outros, mesclados com personalidades da mesma grandeza e ainda hoje entre nós.

À medida que avançava na leitura, todavia, assaltava-me a desconfortável e inquietadora sensação de que algo estava errado: a lista estava incompleta, a publicação se fazia maldosamente discriminatória e omissa quanto a algumas das mais respeitadas e pranteadas expressões do acreanismo. Ao ver uma página inteira dedicada a Enéas Carneiro, não contestei a homenagem, mas senti a falta de registro quanto a Oscar Passos, o gigante que veio dos Pampas para governar o então Território Federal, que foi o primeiro Presidente e organizador do Banco de Crédito da Borracha, hoje Banco da Amazônia S/A, que, durante 20 anos, representou o povo acreano como Deputado Federal e Senador, que, nos duros tempos da ditadura, teve coragem histórica para fundar e ser o primeiro Presidente do Partido de oposição, o glorioso Movimento Democrático Brasileiro - MDB.

Procurei, também em vão, o registro da gloriosa passagem de Adalberto Sena pela educação e pela vida pública do Acre e do País; Adalberto Sena, médico brilhante e educador consagrado, um dos precursores das mais modernas teorias pedagógicas, que colaborou diretamente, na CASEB, para o embrião das escolas extensionistas, em tempo integral; Adalberto Sena, que governou interinamente o Território Federal do Acre, nos anos 50, e que, nas décadas seguintes, enriqueceu os Anais e as tradições do Senado Federal, como Vice-Presidente e Presidente de Comissões; Adalberto Sena, que, com sua mansidão de homem corajoso e humilde, foi Vice-Líder da oposição nos tempos das cassações e das injuriosas perseguições que a ditadura movia contra seus adversários.

Ao ver o retrato do meu digno e leal adversário de tantas jornadas, Jorge Kalume, procurei as menções devidas ao seu contemporâneo, hoje no PSB, Geraldo Mesquita, e nada encontrei sobre o "Barão" - apelido pelo qual era conhecido no Acre -, adorado pelo povo e que, com dignidade, enfrenta problemas econômicos pessoais para viver uma velhice reverenciada, isso depois de ter dedicado toda a vida ao Acre, como Governador, Deputado Federal e Senador.

Emocionado com a lembrança de Edmundo Pinto, procurei também o retrato e a biografia de José Augusto de Araújo, primeiro Governador do Estado do Acre, seu organizador constitucional, vítima da truculência institucional dos Atos Institucionais e que não sobreviveu ao desgosto e às mágoas da cassação inexplicável. Omitir o nome de José Augusto jamais pode ser creditado a um mero "esquecimento", porque todos os acreanos aprendem, como lição primordial, a história da formação do Estado e a luta para consolidá-lo, após os tempos pretéritos como Território Federal.

Encontro, com satisfação, o retrato e a vitoriosa vida pública da Senadora Marina Silva, mas não consigo admitir a ausência do também Senador Flaviano Melo, herdeiro das tradições e da honradez de outro excluído, Raimundo Melo, ambos, pai e filho, gigantescos e consagrados Prefeitos de Rio Branco, em décadas distintas. A Flaviano Melo o Acre deve, ainda, uma das melhores administrações e um dos mais consistentes períodos de paz política que o Estado conheceu em sua História.

A emoção de encontrar as fotos de mulheres elegantes e vitoriosas, como Iolanda Fleming e Flora Valladares Coelho, me trouxe à lembrança a personalidade de D. Nini, esposa do pranteado ex-Governador e ex-Deputado José Ruy Lino. Como estará D. Nini, guardiã da memória e das realizações de Ruy Lino, sentindo a injustificável ausência do grande companheiro e líder acreano nessa publicação, onde, teoricamente, estão retratados os heróis do Estado? Como esquecer logo José Ruy Lino?

Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, rogo a V. Exªs que não permitam distorções maldosas quanto as minhas palavras, nesta oportunidade. É importante e digna de aplausos a iniciativa de retratar e divulgar os nomes que o Acre ofereceu à vida pública, às artes, à literatura e ao progresso social do Brasil. Não posso, porém, aceitar calado a manipulação, a omissão dolosa de personalidades que são, no mínimo, tão destacadas e dignas de registro quanto as mostradas na revista "Gente Acreana de Expressão", distribuída pela Barraca do Acre e editada pelo Governo do Estado. Repugna-me a sensação de odiosa discriminação, evidenciada pelo fato de que gigantes como Oscar Passos, Adalberto Sena, Ruy Lino, Geraldo Mesquita, Flaviano Melo, José Augusto de Araújo e Hugo Carneiro - para circunscrever-me aos que têm presença destacada nos Anais do Congresso Nacional -, certamente foram banidos do volume porque, de alguma forma, representam um pensamento distinto, uma corrente política que não é a do atual Governador e de suas linhas auxiliares ostensivas ou reservadas.

Reafirmo o meu aplauso aos acreanos destacados na revista e endosso as elogiosas referências a eles formuladas, mas lamento profundamente que ódios e divergências menores tenham escondido da massa de visitantes à Festa dos Estados outros nomes que são, repito, no mínimo tão importantes quanto os citados.

Condeno, acima de tudo, essa atitude odiosa, que nada tem em comum com as tradições de respeito, dignidade e grandeza que marcavam a vida do Acre até um passado bem recente.

É o registro que se impunha, para que os Anais do Senado, soberanos e justos, façam a reparação devida aos que foram vitimados pela atitude injuriosa do Governo do Estado do Acre - uma atitude que, em última instância, tisna apenas quem a praticou.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DCN2 de 04/07/1995 - Página 11602