Discurso no Senado Federal

SITUAÇÃO PENOSA DOS TRABALHADORES DO SETOR TEXTIL DO ESTADO DE MINAS GERAIS.

Autor
Junia Marise (PDT - Partido Democrático Trabalhista/MG)
Nome completo: Júnia Marise Azeredo Coutinho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • SITUAÇÃO PENOSA DOS TRABALHADORES DO SETOR TEXTIL DO ESTADO DE MINAS GERAIS.
Publicação
Publicação no DSF de 25/01/1996 - Página 856
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • COMENTARIO, RECEBIMENTO, CARTA, AUTORIA, SINDICATO, INDUSTRIA TEXTIL, ESTADO DE MINAS GERAIS (MG), DEMONSTRAÇÃO, APREENSÃO, TRABALHADOR, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, AUMENTO, DESEMPREGO, FECHAMENTO, INDUSTRIA, RESULTADO, EXCESSO, TAXAS, JUROS, CONCORRENCIA DESLEAL, PAIS ESTRANGEIRO.
  • QUESTIONAMENTO, POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA, GOVERNO, REDUÇÃO, MANUTENÇÃO, INFLAÇÃO, PROVOCAÇÃO, QUEBRA, SETOR, PRODUÇÃO, AUMENTO, MISERIA, FOME, DESEMPREGO, PAIS.

A SRª JÚNIA MARISE (PDT-MG. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, tenho em mãos uma carta do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Fiação e Tecelagem em Geral do Estado de Minas Gerais, que contém um exemplo significativo das conseqüências perversas da política econômica. No ano passado, 52 mil trabalhadores ligados direta e indiretamente ao setor têxtil perderam o emprego. Desse total, 5.422 trabalhadores eram sindicalizados.

Pais e mães de família que viram, de uma hora para outra, sua sobrevivência ser comprometida por conta de um plano de estabilização econômica posto em prática às custas de promessas de dias melhores, de uma distribuição de renda mais justa e de combate à miséria.

Passados quase 20 meses, o que os trabalhadores brasileiros estão verificando? Estão verificando exatamente o contrário do que foi prometido pelo Governo. Ficaram mais pobres, mais miseráveis e a prometida distribuição de renda tornou-se concentração ainda maior de riqueza nas mãos do sistema financeiro, que até agora tem sido o grande beneficiado do plano de estabilização econômica.

Basta olharmos os dados do IBGE para identificarmos com clareza as conseqüências funestas da política econômica. Quase dez por cento da população economicamente ativa do Brasil está sem emprego. Ontem mesmo, o jornalista Joelmir Betting, em reportagem que foi ao ar no Jornal Nacional, revelou que mais da metade dos trabalhadores da indústria da construção civil perderam o emprego nos últimos doze meses. O número de vagas extintas na construção civil foi de mais de 140 mil.

No setor bancário, a situação é tão grave quanto essa, uma vez que, de cada quatro bancários, um já perdeu o emprego.

No caso dos tecelões de Minas, como se não bastasse o garroteamento das indústrias devido às altas taxas de juros, ainda há o agravante da concorrência desleal praticada por países como China, Coréia e Índia, que vendem seus tecidos a preços muito inferiores aos praticados pelos nossos produtores. O critério para essas importações tem de ser revisto. E há que ter crédito para que a produção nacional se desenvolva e se modernize, caindo, conseqüentemente, os preços, e tornando os nossos tecidos mais competitivos.

Com as vendas em queda vertiginosa e tendo de enfrentar o arrocho no crédito, não resta às indústrias outra alternativa senão fechar suas portas. Em Minas Gerais pelo menos dez indústrias fecharam. A maioria delas com décadas de tradição.

Milhares de famílias estão vivendo a perspectiva da fome e da miséria. Situação muito semelhante à enfrentada pelos 340 mil trabalhadores com carteira assinada demitidos entre dezembro de 1994 e novembro do ano passado, conforme reconhece o próprio Ministério do Trabalho.

De que adianta termos uma inflação baixa, com índices festejados pelo Governo, se estamos quebrando o setor produtivo do País? De que adianta termos uma moeda valorizada se os trabalhadores estão sendo empurrados para a miséria, a fome e o desemprego?

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero, neste momento em que faço aqui o registro da situação dos trabalhadores da indústria têxtil de Minas Gerais, que terão hoje uma audiência com representantes do Governo Federal para tratar dessa matéria - e que estão nas galerias do plenário do Senado Federal -, reafirmar a minha posição e fazer uma conclamação ao Governo: estamos diante de uma situação que deixou de ser crítica para ser dramática. Ao constatarmos a violência que se tem praticado em todo o setor produtivo do nosso País, desencadeando o processo de desemprego em massa, temos que atentar para essa situação. Estamos hoje preocupados com todos os problemas que dizem respeito à economia do nosso País. No Senado Federal, estamos tratando de questões relevantes, como, por exemplo, a rolagem das dívidas dos Estados e perspectivas melhores para o equilíbrio econômico-financeiro dos Estados, mas é preciso atentarmos também para essa situação dramática que tomou conta do País: o desemprego em massa em todo o setor produtivo.

Não é apenas o desemprego que está nos preocupando e aos trabalhadores da indústria têxtil de Minas Gerais. Eles também estão preocupados com o fechamento das indústrias, com o fechamento de fábricas de grande tradição em Minas Gerais. Uma delas, a Fábrica Renascença, por exemplo, com 60 anos de tradição em Belo Horizonte, uma fábrica que já teve cerca de dez mil trabalhadores em suas dependências, fabricando tecidos e, evidentemente, contribuindo para o desenvolvimento econômico de Minas Gerais e do Brasil.

Pois bem, fábricas como essa estão fechando, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, e o mais preocupante de tudo é que isso está acarretando desequilíbrio social, com a demissão em massa de trabalhadores.

À preocupação dos trabalhadores soma-se a dos empresários, porque eles desejam manter o seu emprego, mas desejam, evidentemente, que as empresas sobrevivam. É por isso que estamos registrando aqui, neste momento, essa preocupação dos trabalhadores da indústria têxtil, que estarão hoje com representantes do Governo Federal no Ministério do Trabalho, quem sabe também no Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo, levando a sua palavra de indignação diante da omissão do Governo Federal com a quebradeira que acontece em todo o setor produtivo nacional.

Não adianta abrirmos as portas para a importação de tecidos, para a importação de outros produtos quando estamos vendo, aqui no Brasil, os nossos trabalhadores, que já ganham pouco, serem colocados no olho da rua. Aumentamos o nível de emprego lá fora e aqui colocamos os trabalhadores na rua.

Por isso estamos aqui.

Anexamos, Sr. Presidente, a este nosso pronunciamento, o manifesto do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Fiação e Tecelagem de Belo Horizonte, correspondência que nos foi enviada e está sendo também encaminhada ao Ministério do Trabalho, ao Ministério da Indústria, do Comércio e do Turismo e ao Presidente da República.

O Governo Federal e o próprio Presidente da República estão insensíveis a essa situação, até porque não estão abordando a questão do desemprego no País, a não ser para dizer que os trabalhadores desempregados estão sendo remanejados para outras áreas. Não é verdade! Essa é uma mentira deslavada que está sendo dita ao País. Só os desempregados, aqueles que estão no olho da rua, passando fome e miséria, podem atestar exatamente a situação caótica e dramática que vivem hoje os trabalhadores de todo o País.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/01/1996 - Página 856