Discurso no Senado Federal

ELOGIOS E APOIO AO PROJETO RENASCER, DESENVOLVIDO PELA DRA. VERA CARNEIRO PARA CRIANÇAS CARENTES DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO.

Autor
Benedita da Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Benedita Souza da Silva Sampaio
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SOCIAL.:
  • ELOGIOS E APOIO AO PROJETO RENASCER, DESENVOLVIDO PELA DRA. VERA CARNEIRO PARA CRIANÇAS CARENTES DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO.
Publicação
Publicação no DSF de 20/03/1996 - Página 4460
Assunto
Outros > POLITICA SOCIAL.
Indexação
  • ELOGIO, INICIATIVA, VERA CARNEIRO, MEDICO, DESENVOLVIMENTO, PROGRAMA, ASSISTENCIA SOCIAL, CRIANÇA CARENTE, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).

A SRª BENEDITA DA SILVA (PT-RJ) - Sr. Presidente, Srªs E Srs. Senadores, é com grande satisfação que quero manifestar, no dia de hoje, todo o meu apoio e deixar registrado nos Anais desta Casa, a extraordinária iniciativa da Dra. Vera Carneiro, médica no Rio de Janeiro, cujo trabalho social tem se revestido de vívida esperança e devolvido a alegria de viver a centenas de crianças, mães e famílias pobres do Rio.

Trata-se do Projeto Renascer, que surgiu da indignação da Dra. Vera, Chefe do Serviço de Psicossomática do Hospital da Lagoa, que não se conformava com o destino desolador das crianças que deixavam o hospital, sem condições de reabilitação pela falta de alimentação adequada e de dinheiro para dar continuidade aos tratamentos.

Vera, mãe de duas filhas adolescentes, mulher de um gerente de uma multinacional, viu o inferno de perto quando foi transferida para o Serviço de Pediatria. Os dramas que enfrentava todo o dia, de crianças com desnutrição profunda, de famílias miseráveis que não podiam adquirir os remédios par dar continuidade aos tratamentos ou, mesmo, dar um teto e uma alimentação razoável para os seus despertaram um sentimento de tristeza e impotência profundas que a colocaram doente. Ao fim de cada dia uma dor esmagava seu peito e a fazia pensar que estava infartando. Mas ela não se conformou por muito tempo. Resolveu, então, reagir frente à tragédia da qual era testemunha, de maneira prática.

No começo fazia vaquinhas entre os colegas de hospital para poder comprar leite ou remédios para as crianças. Percebeu que era muito pouco diante da crônica dos dramas de famílias miseráveis que por ali passavam. 

Reuniu, então, um grupo de pessoas no playground de seu prédio e rifou um lençol. Surgia, assim, o Projeto Renascer. Conseguiu uma carta de apoio do sociólogo Herbert de Souza, o Betinho, e duas salas no Parque Lage. Hoje o Renascer tem 2.018 sócios que pagam no mínimo 5 reais por mês e ajudam a manter 180 famílias.

Durante um período mínimo de quatro meses, as famílias recebem cesta básica, remédios, roupas, brinquedos, muitos pais são encaminhados para empregos, as crianças matriculadas em escolas e creches, e algumas famílias chegam a receber ajuda para construir suas casas.

O Renascer tem, ainda, o Projeto "Anzol", que cede máquinas e material de costura para as mães produzirem roupas para ser vendidas em bazares.

Como a boa semente que lançada em solo fértil, e bem cuidada, dá bons frutos, no rastro do "Renascer" vieram os projetos "Ressurgir", do Hospital Sales Neto; o "Reviver", do Hospital dos Servidores do Estado; o "Reagir", do Hospital de Piedade; e o "Refazer", do Instituto Fernandes Figueira.

Entre médicos, enfermeiros e voluntários, esses projetos reúnem pessoas que recusam o imobilismo diante das mazelas sociais e encarnam o espírito de luta que nos 365 dias do ano, busca minimizar o sofrimento dos desassistidos.

A linha do Projeto Criança-saúde, que reúne os cinco grupos, é bem definida e parte de uma constatação clara no dia-a-dia das enfermarias. Por trás de uma criança doente, na maioria dos casos, existe uma família completamente desestruturada. A criança, quando sai do hospital, volta a viver na miséria, acaba voltando para o hospital, num estado ainda pior, e muitas vezes morre.

Muitos dirão: é assistencialismo! e eu defenderei que o verdadeiro objetivo do projeto vai muito mais além, agindo como uma poderosa alavanca de impulso rumo ao verdadeiro resgate à saúde, ao trabalho, à moradia, à dignidade, à cidadania. O projeto, auxiliando as famílias a se reestruturarem, é um instrumento que viabiliza uma perspectiva de vida totalmente nova aos desassistidos.

A escolha, entre as crianças internadas, não é fácil. Entra no projeto a mais doente e miserável. Foi o caso de uma menina internada no hospital da lagoa com um quadro dramático de septicemia (infecção generalizada) e parada cardíaca. Com uma anemia falsiforme, doença genética que dilapida o organismo com uma sucessão de infartos nos vasos sanguíneos do corpo, e causa dores terríveis nos ossos, essa menina passou quatro meses com atendimento intensivo do Projeto Renascer, com alimentação e medicamentos adequados, e uma atenção que os hospitais públicos não possuem condições de dispensar. Depois desse período, a menina passou para outro estágio: o Projeto "Madrinha", quando as crianças que realmente necessitam são adotadas por pessoas que se comprometem a fornecer, todo o mês, uma cesta de alimentação básica no valor de 50 reais.

Tão difícil quanto escolher quem entra é escolher quem sai. Uma comissão analisa os casos que não necessitam mais de ajuda. algumas pessoas ficam até dois anos pois não têm condições de deixarem de ser atendidas pelo projeto.

No entanto, ao contrário daqueles que pensam que as pessoas beneficiadas iriam se acomodar, se aproveitando da situação, aqueles que se sentem em condições, a maioria a partir da obtenção de um trabalho, de um emprego, deixam, voluntariamente, o projeto pois sabem que outros precisam dele. São famílias muito pobres e honestíssimas, diz o Dr. Luiz Carlos, membro do Projeto Renascer.

Cada vez mais as pessoas sentem necessidade de fazer alguma coisa. Percebem que têm o dever e o direito de participar na busca de soluções para vários problemas os quais a estrutura governamental não tem conseguido resolver.

Quero deixar registrado meu reconhecimento, meu respeito e e minha admiração por esta magnífica obra social que vem salvando vidas e alimentando espíritos, através do carinho, da dedicação e do apoio material dispensados.

muito obrigada!


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/03/1996 - Página 4460