Discurso no Senado Federal

CARENCIA DE INVESTIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL. NECESSIDADE DE UMA EFETIVA POLITICA DE GERAÇÃO DE EMPREGO, PATROCINADA PELO GOVERNO FEDERAL.

Autor
Valmir Campelo (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/DF)
Nome completo: Antônio Valmir Campelo Bezerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ECONOMIA NACIONAL. POLITICA DE EMPREGO.:
  • CARENCIA DE INVESTIMENTOS SOCIAIS NO BRASIL. NECESSIDADE DE UMA EFETIVA POLITICA DE GERAÇÃO DE EMPREGO, PATROCINADA PELO GOVERNO FEDERAL.
Publicação
Publicação no DSF de 01/06/1996 - Página 9259
Assunto
Outros > ECONOMIA NACIONAL. POLITICA DE EMPREGO.
Indexação
  • ANALISE, GLOBALIZAÇÃO, ECONOMIA, APREENSÃO, EXPECTATIVA, INFERIORIDADE, BRASIL, INSERÇÃO, MERCADO INTERNACIONAL, EFEITO, DEFICIENCIA, INVESTIMENTO, EDUCAÇÃO, SAUDE, PESQUISA CIENTIFICA, INFRAESTRUTURA.
  • SOLICITAÇÃO, GOVERNO, DEFINIÇÃO, POLITICA DE EMPREGO, ATENÇÃO, GRAVIDADE, SITUAÇÃO, POBREZA, DESEMPREGO, PAIS.

O SR. VALMIR CAMPELO (PTB-DF. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, alcançamos o alvorecer do Terceiro Milênio em um mundo marcado pela crescente competição entre as economias nacionais.

Os componentes tecnológicos de alguns bens e serviços produzidos pelas indústrias mais modernas atingiram um tal grau de sofisticação que é praticamente impossível a um determinado país ser capaz de arcar, de forma autônoma, com toda a sua produção de mercadorias de alta tecnologia.

Tornaram-se igualmente complicadas as formas de organização administrativa das empresas de grande porte, incluindo o marketing e as imensas redes de distribuição dos produtos.

Tudo isso naturalmente contribui para o aumento da associação entre empresas, principalmente aquelas que atuam no mercado internacional.

Assistimos assim ao fim da possibilidade de sobrevivência das economias autárquicas.

Definir de que maneira o Brasil há de se inserir nos fluxos de financiamento, de produção e de distribuição da economia internacional é uma das tarefas mais importantes que cabe à elite política brasileira na atualidade.

Triste é reconhecer que o Brasil se encontra mal-aparelhado para fazer frente, de forma competitiva, à inevitável integração dos mercados nacionais que se seguirá nos anos que virão.

Prejudicados pela crise financeira do Estado e pela recessão, nossos investimentos em infra-estrutura, em pesquisa científica e em educação, entre outras rubricas relevantes, têm sido insuficientes.

Causa enorme preocupação a deficiência dos chamados investimentos sociais, dentre os quais destacaríamos a saúde, a educação e alimentação.

Tais investimentos, que visam diretamente ao homem, necessitam de um longo tempo para surtir efeitos.

Com uma população mal-alimentada, de baixo nível de escolaridade e de saúde precária e mal-atendida, o Brasil não tem a menor perspectiva de aspirar uma posição favorável dentro do contexto da economia mundial.

O investimento na mão-de-obra tem sido a chave para o êxito das economias desenvolvidas desde o Japão - que possui o melhor sistema educacional do mundo -, passando pela Europa, até os Estados Unidos.

O crescimento espantoso, verificado nas duas últimas décadas, de Formosa, da Coréia do Sul, de Hong Kong e de Singapura, os chamados Tigres Asiáticos, também se apóiam na ênfase dada pelo Estado a uma população saudável, bem alimentada e bem-educada. É espantoso o progresso que essas nações fizeram em apenas 20 anos em relação aos índices de alfabetização que ali atingem níveis semelhantes aos dos países mais desenvolvidos do planeta.

Entretanto, Sr. Presidente, uma questão de importância maior está a desafiar a cegueira da elite brasileira.

Refiro-me, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, à questão do desemprego!

Esse é um problema que aflige a todos os países do mundo. Ninguém, em sã consciência, pode negar que o desemprego assumiu proporções gravíssimas entre nós, nos últimos anos.

Nos dias de hoje, gerar emprego, voltar a crescer são prioridades que desafiam governos e nações do mundo inteiro.

O Brasil vivencia essa mesma realidade, uma realidade de tensão, em virtude das altas percentagens de desemprego e do crescente aumento da pobreza nas cidades e no campo.

Nesse contexto, o emprego produtivo passou a ser objetivo essencial para reverter o quadro de desequilíbrio criado entre crescimento econômico e pobreza, por ser o emprego o único caminho de ascensão social para os assalariados e o fator interno adequado à distribuição da riqueza produzida.

Em muito maior escala do que se pensa, a tão decantada globalização da economia passa necessariamente pela eliminação da pobreza.

A História ensina que a pobreza, deixada à própria sorte, tende a alargar-se vegetativamente, gestando tensões e preparando o terreno para transformações violentas.

Portanto, pela enésima vez, estou ocupando esta tribuna para reclamar do Governo uma efetiva política de geração de empregos.

Naturalmente, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, ao chamarmos a atenção para a perda de capacidade competitiva em que o País incorre, ao deixar de dar assistência adequada à qualidade de vida de sua população de baixa renda, destacando apenas o aspecto do desemprego, não ignoramos as premências da educação, da saúde e da alimentação, nem tampouco são esses argumentos mais fortes em favor da retomada dos investimentos sociais.

Tais investimentos devem se realizar sobretudo por uma questão ética, solidária e humanista. Devemos sempre ter presente que o objetivo maior da Administração Pública e das Políticas Públicas é proporcionar ao homem brasileiro melhores condições de vida e aumentar o bem estar geral da sociedade. Qualquer outro argumento, Sr. Presidente, é mero exercício de retórica.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/06/1996 - Página 9259