Discurso no Senado Federal

OMISSÃO DO GOVERNO FEDERAL PELA NÃO-ABERTURA DE UMA PONTE CONSTRUIDA HA DOIS ANOS ENTRE CAPANEMA, NO PARANA, E ANDREZITO, NA ARGENTINA.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA FISCAL.:
  • OMISSÃO DO GOVERNO FEDERAL PELA NÃO-ABERTURA DE UMA PONTE CONSTRUIDA HA DOIS ANOS ENTRE CAPANEMA, NO PARANA, E ANDREZITO, NA ARGENTINA.
Publicação
Publicação no DSF de 08/06/1996 - Página 9547
Assunto
Outros > POLITICA FISCAL.
Indexação
  • CRITICA, FERNANDO HENRIQUE CARDOSO, PRESIDENTE DA REPUBLICA, OMISSÃO, REFERENCIA, ATRASO, IMPEDIMENTO, ABERTURA, INAUGURAÇÃO, PONTE, LIGAÇÃO, MUNICIPIO, CAPANEMA (PR), ESTADO DO PARANA (PR), CIDADE, PAIS ESTRANGEIRO, ARGENTINA.

O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB-PR. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, provavelmente, não precisarei dos cinco minutos.

Quero, mais uma vez, neste plenário, registrar a omissão do Governo Federal em coisas corriqueiras da ação política.

Há dois anos, o governo do Paraná construiu uma ponte entre a cidade de Capanema, no Paraná, e Andresito, na Argentina. É uma ponte que liga o Brasil à Argentina. E essa ponte resolve o problema da famosa Estrada do Colono, que atravessava, antigamente, o Parque Nacional do Iguaçu e que foi fechada, para que a reserva não fosse depredada, violada. Essa ponte foi construída depois de um acordo entre o então Chanceler brasileiro, Fernando Henrique Cardoso, e o Presidente da Argentina, Carlos Menem. Como o Paraná tinha muito interesse nesta passagem que encurta o caminho entre o Sudoeste do Paraná e a cidade do Foz do Iguaçu, em duzentos quilômetros, nós assumimos a construção da ponte antes que a União tomasse a iniciativa.

Eu era Governador. Pedi licença à Assembléia Legislativa. E, há dois anos, entreguei a ponte pronta para o Governo Federal. A ponte, a aduana - é uma aduana conjugada - o quartel da Polícia Federal brasileira e da gendarmería argentina e o acesso há dois anos. Entretanto, até hoje, o Governo Federal não abriu a ponte, porque existe uma disputa ridícula entre a Fazenda e a Casa Civil da Presidência da República, em torno da criação de um cargo de chefia, de duzentos e cinqüenta reais. O Cláudio Vieira não aceita a indicação da Fazenda. Cláudio Vieira, eu disse. Perdoe-me, Sr. Presidente, mas é que depois da nomeação do Antônio Kandir, já não consigo diferençar o governo do Fernando Henrique Cardoso do antigo governo de Fernando Collor de Mello. É o Clóvis Carvalho; o Clóvis Carvalho não encaminha para o Presidente assinar esse decreto criando um cargo que se origina da transformação de outro, porque não quer que a Fazenda crie nenhum cargo a mais.

O Paraná perde, o Brasil perde; a ponte está abandonada, enquanto os argentinos já estão lá, há meses, porque acreditaram numa declaração do Presidente da República, quando da sua visita a Buenos Aires, que a ponte seria aberta no dia 20 daquele mês. Na Argentina, ainda acreditam no Presidente Fernando Henrique Cardoso, coisa que aqui no Brasil, segundo as pesquisas, não acontece mais.

Mas a ponte lá está, diante da indignação do Sudoeste e do Paraná inteiro, com a presença da gendarmería argentina, com os fiscais do governo da Argentina e a ausência absoluta da representação brasileira, porque existe uma disputa entre meninos, coisa ridícula no Governo da República, que impede que o Presidente da República tome a ação administrativa necessária para que a ponte seja aberta. E não é só essa ponte. É essa ponte, o Porto de Suape em Pernambuco, o aeroporto que deve ser internacionalizado em Campina Grande, o Porto Seco de Curitiba, com reforço da agência do portão, o reforço do Porto de Paranaguá. São vinte e sete cargos que a Fazenda pede ao Presidente da República, ao preço de oito mil reais.

Mas este Presidente, que dá Proer para banqueiro ladrão e falido, não assina a criação de 27 cargos ao preço de R$8 mil. E o Porto de Suape não funciona; o Aeroporto Afonso Pena, no Paraná, não é internacionalizado; o Aeroporto de Campina Grande, na Paraíba, não é internacionalizado, e temos uma ponte, há dois anos, pronta e fechada. A situação é absolutamente ridícula, mas nos mostra o quadro geral desta absoluta inação do Governo Federal.

Não existe Governo Federal para os brasileiros; existe Governo Federal para as multinacionais e para os banqueiros. Existe essa insistência na globalização. Sr. Presidente, aprendi, na escola, com a minha primeira professora, que globalização se chamava entreguismo; é a falta absoluta de visão, de fraternidade e de solidariedade, que se traduzem, politicamente, como noção de pátria, de nação e de soberania.

O Governo só se dedica ao esforço da venda do patrimônio historicamente acumulado no Brasil. Quer vender a Vale do Rio Doce, e a isso se dedica com afinco. Mas o Presidente, entre jantares, almoços e viagens, não encontra tempo para abrir a ponte entre Andresito e Capanema, ligando o Brasil à Argentina. Isso enquanto se fala em Mercosul, enquanto se reproduzem reuniões que discutem o Mercado Comum do Cone Sul Latino-Americano.

É, sem sombra de dúvida, a ausência absoluta de governo que caracteriza esse desastrado período do Fernando Henrique Cardoso. O povo, no Paraná, na região de Capanema, já se refere ao Presidente da República como "Viajando Henrique Vaidoso." As pesquisas de opinião continuarão a refletir essa tragédia de um governo omisso nas grandes coisas de interesse nacional e tão generoso com as multinacionais e com o capital financeiro. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 08/06/1996 - Página 9547