Discurso no Senado Federal

ANALISE DA ULTIMA PESQUISA DA VOX POPULI DE OPINIÃO ACERCA DO DESEMPENHO DO GOVERNO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO NAS AREAS DE SAUDE, REFORMA AGRARIA, EDUCAÇÃO, DESEMPREGO, AGRICULTURA E OUTRAS.

Autor
Junia Marise (PDT - Partido Democrático Trabalhista/MG)
Nome completo: Júnia Marise Azeredo Coutinho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.:
  • ANALISE DA ULTIMA PESQUISA DA VOX POPULI DE OPINIÃO ACERCA DO DESEMPENHO DO GOVERNO FERNANDO HENRIQUE CARDOSO NAS AREAS DE SAUDE, REFORMA AGRARIA, EDUCAÇÃO, DESEMPREGO, AGRICULTURA E OUTRAS.
Publicação
Publicação no DSF de 30/05/1996 - Página 9044
Assunto
Outros > POLITICA ECONOMICO FINANCEIRA.
Indexação
  • ANALISE, PESQUISA, OPINIÃO PUBLICA, ATUAÇÃO, GOVERNO, AREA, SAUDE, EDUCAÇÃO, COMBATE, DESEMPREGO, NECESSIDADE, REALIZAÇÃO, REFORMA AGRARIA, INVESTIMENTO, AGRICULTURA, SETOR, HABITAÇÃO POPULAR, PAIS.

A SRª JÚNIA MARISE (PDT-MG. Como Líder. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, eu gostaria de voltar à análise da última pesquisa que demonstrou para a sociedade brasileira, para a opinião pública deste País, a situação em que vive, hoje, o Governo Federal, principalmente, no que toca à credibilidade do Presidente da República.

É evidente que essas pesquisas são momentâneas, refletem a realidade do momento, como refletiram, anteriormente, há alguns meses, quando dava ao Presidente da República um grande índice de popularidade. Mas é preciso, também, realçar que, na verdade, as insatisfações da população brasileira não refletem apenas este momento, mas a realidade social do nosso País.

A pesquisa Vox Populi, realizada em oito Capitais - Rio de Janeiro, São Paulo, Salvador, Belo Horizonte, Fortaleza, Curitiba, Recife e Porto Alegre -, aponta que, em uma avaliação de 0 a 10, o desempenho do Governo nas áreas de saúde, reforma agrária, educação, desemprego, previdência, transportes, privatização, desenvolvimento industrial, agricultura e controle da inflação é apenas de 3%.

Ora, Sr. Presidente, o desemprego é o tópico que mais preocupa os brasileiros. Seguramente os dados oficiais já apresentados e divulgados pela imprensa brasileira mostram que 10 milhões de trabalhadores estão fora do mercado de trabalho; que 1 milhão de trabalhadores perderam o seu emprego somente em São Paulo, nos últimos quatro meses; que lá no meu Estado, Minas Gerais, esse número já alcança mais de 500 mil trabalhadores que perderam o seu emprego em apenas em três meses - sem falar que na região metropolitana de Belo Horizonte esse número já alcança 224 mil trabalhadores. Por outro lado, constatamos mediante entrevistas a esses institutos de pesquisas, como o Vox Populi, que a população se ressente da falta de projetos sociais na área de habitação, da saúde, e principalmente na área da educação.

Tenho ocupado esta tribuna por várias e várias vezes para questionar e cobrar deste Governo o cumprimento das promessas de campanha, que foram muitas. Prometeu-se resolver o problema da educação, da saúde, da moradia, da miséria e da fome. Hoje os índices demonstram - e não sou eu e nem a Oposição que está mostrando os dados, mas os institutos de pesquisa e os levantamentos e dados oficiais do próprio Governo - que, sem dúvida, nenhuma dessas metas foi alcançada neste País.

Por várias vezes coloquei a importância de se quebrar a cultura inflacionária em nosso País. A queda da inflação e a estabilidade econômica são razões evidentes para merecer os nossos aplausos, entretanto, o País não pode conviver com essa situação de miséria social que está tomando conta de toda a sociedade brasileira.

Esses números alcançam ainda outras expectativas. O Jornal do Brasil fez uma análise e um comentário, demonstrando que "há descrença popular em relação ao Governo, à estabilidade dos preços, às vantagens tecnológicas, que resultam num clima geral de desencanto, desânimo e desejo por mãos firmes capazes de dar um recado de esperança mais entusiasmante que a repetição pura e simples de que tudo vai bem."

É verdade. Outro dia, a televisão mostrou ao Brasil inteiro o próprio Presidente da República comentando a situação do desemprego no País: "Não há desemprego. Ao contrário, há apenas um remanejamento de trabalhadores, que saem de uma indústria e vão para outro setor produtivo."

Não é verdade. O Presidente da República está fechando os olhos para essa realidade gritante. Certamente, não são apenas os trabalhadores sem-terra que lutam por um pedaço de terra para trabalhar, mas também milhares e milhares de trabalhadores sem casa estão pedindo um teto para abrigar suas famílias.

Em Belo Horizonte, há cerca de quarenta dias, mais de quatrocentas famílias invadiram um terreno de propriedade privada para pedir providências com relação ao problema da casa própria. Lá estão e, até hoje, as nossas autoridades não encontraram nenhuma solução.

Por todas as regiões das grandes cidades do meu estado e do País constatamos o clima de pobreza e miséria que tomou conta de nossa população. Se os trabalhadores do campo não têm um pedaço de chão para plantar, para trabalhar, certamente vão para as grandes cidades. Lá não encontram emprego nem moradia. Portanto, a providência a ser tomada é lutar, ir à praça pública, como ocorre, por exemplo, em frente à Faculdade de Direito da Universidade Federal de Minas Gerais, em pleno centro de Belo Horizonte, onde algumas famílias se assentaram no passeio, transformando aquele pedaço de chão em suas moradias. São famílias desesperadas. Adultos e crianças lá estão, há vários meses, sem que nossas autoridades sequer tomem conhecimento da verdadeira situação.

Por isso, quero fazer deste nosso pronunciamento, mais uma vez, um alerta ao Governo Federal.

Sabemos que, neste momento de eleições municipais, o Presidente da República, que está em Paris passando o maior tempo de sua viagem fazendo turismo na capital francesa, está preocupado com as eleições municipais de São Paulo. Certamente, Sr. Presidente, não é essa a preocupação que os brasileiros gostariam que tivesse o seu Presidente da República.

Essa pesquisa, que atesta a média de apenas 3.3%, na avaliação de 0 a 10 do desempenho deste Governo, demonstra claramente a desconfiança, a indignação, o desânimo por parte da sociedade brasileira. Se esses dados, que são frios, não demovem o Presidente da República da sua decisão de implantar neste País um programa voltado para as questões sociais, com certeza continuaremos a caminhar, celeremente, para um grande caos social.

Há comentários aos resultados da pesquisa Soma- Opinião, publicada no jornal Correio Braziliense, indicando que a reprovação dos brasilienses ao Governo Federal cresce todo mês, chegando a 46%, tendo como causas a recessão, o desemprego, a falta de ação social, a indecisão política e os conflitos sociais.

Por outro lado, ainda no mesmo jornal, o Presidente da República vem garantir que dados da pesquisa encomendada por Sua Excelência ao Instituto MCI mostram que as alterações dos índices são mínimas e que, na verdade, o Governo continua ótimo e bom. Se esses dados são os mesmos que utilizou para dizer ao Brasil que não há desemprego, miséria, fome, não há falta de moradia e que a saúde pública e a educação vão bem, certamente esses dados são irreais e não mostram a realidade do nosso País.

Por isso queremos fazer, por intermédio deste pronunciamento, a cobrança a este Governo, principalmente por constatarmos que as dificuldades sociais hoje alcançam limites de grande preocupação nacional.

Vários Líderes que apóiam o Governo no Congresso Nacional tiveram publicadas declarações, muitas delas até com propriedade, manifestando sua preocupação quanto a mudanças de métodos e práticas, por parte do Governo Federal, para se colocar o dedo na ferida desta grande chaga social.

Ressalto que, neste momento, o Governo precisa estar atento à voz do povo, mas sobretudo aos problemas que enfrenta a sociedade brasileira.

Alguns meses atrás, vieram aqui protestar os representantes e empresários da indústria têxtil. Agora, a caravana dos empresários, representantes da elite empresarial brasileira, veio a Brasília para protestar pela alta taxa de juros e pela quebradeira do setor produtivo nacional. Vimos, por intermédio do seu protesto, a manifestação de que a empresa e o setor produtivo geram emprego neste País.

É por isso que entendemos que, como o setor produtivo nacional, as empresas, está hoje buscando o único caminho para a solução dos seus problemas: a concordata e a falência.

Sr. Presidente, a agricultura também não fica atrás nessa questão. Seguramente, a agricultura brasileira foi o pilar que sustentou, durante todos esses meses, o Plano Real e a estabilidade econômica. E quais foram os benefícios que teve a agricultura brasileira?

Estamos aqui diante de um Senador que tem grande identidade com a agricultura do nosso País, sobretudo com a do seu estado, e sabe das dificuldades por que passa a agricultura neste País, que não tem nenhum incentivo deste Governo, fazendo com que muitos produtores rurais deste País abandonem as suas terras, por falta de condições de continuar plantando alimentos.

Ora, Sr. Presidente, essa é a radiografia deste País. Sinceramente, não gostaria de estar falando dessas mazelas do Governo ou, quem sabe, dessa situação de dificuldades por que passa hoje o nosso País. Eu gostaria de estar aqui ocupando esta Tribuna para cumprimentar o Governo e o Presidente da República pelo seu grande índice de popularidade, porque está fazendo um programa beneficiando a educação, a moradia, a saúde, o setor produtivo nacional e a agricultura do nosso País. Mas, certamente, esse não seria o discurso da realidade. E é o discurso da realidade que faço agora, para conclamar o Governo mais uma vez a sua responsabilidade diante dessa chaga social, que tomou conta de todo o nosso País.

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/05/1996 - Página 9044