Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM AOS 13 ANOS DA REDE MANCHETE.

Autor
Benedita da Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Benedita Souza da Silva Sampaio
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM AOS 13 ANOS DA REDE MANCHETE.
Publicação
Publicação no DSF de 06/06/1996 - Página 9449
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, EMISSORA, TELEVISÃO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ).
  • HOMENAGEM POSTUMA, ADOLPHO BLOCH, EMPRESARIO, IMIGRANTE, CRIAÇÃO, EMPRESA DE TELECOMUNICAÇÕES.

A SRª BENEDITA DA SILVA (PT-RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, representantes da Rede Manchete, em primeiro lugar, gostaria de parabenizar a iniciativa do Senador Roberto Requião.

O Partido dos Trabalhadores, associando-se à iniciativa do nobre Senador, vem a esta tribuna, democraticamente representado pela Senadora Benedita da Silva, para prestar esta homenagem a uma empresa à qual imputamos respeito, dignidade, transparência. São poucas as vezes em que o Partido dos Trabalhadores pode, com segurança, ocupar a tribuna para falar de uma empresa nacional como a Rede Manchete de Televisão. Para nós, sem dúvida nenhuma, é um desafio. Eu não poderia deixar de lembrar um nome nesta sessão comemorativa dos 13 anos de existência da TV Manchete: Adolpho Bloch.

Tive a oportunidade de conversar com ele, por várias vezes, e pude constatar a sua simplicidade. Ele era russo de nascimento, emigrante pobre quando aqui chegou, em 1922. Mas a sua vida em nosso País foi um exemplo de patriotismo, de amor pelo Brasil.

Talvez eu não possa falar com a mesmo brilhantismo com que o fez o Senador Requião, mas, pelo conhecimento que tenho dos investimentos que fez Adolpho Bloch no Estado do Rio de Janeiro, posso dizer que ele tinha pura e simplesmente sonhos. E alguns foram certamente realizados.

Adolpho Bloch costumava dizer àqueles que conviveram com ele que a riqueza e o dinheiro não valiam nada. Para ele o importante mesmo era o trabalho. E foi com esse objetivo que, depois de perder tudo na Rússia, ele veio para o Brasil e, por que não dizer, para o maior e melhor pedaço do Brasil, o Rio de Janeiro. E refez tudo evidentemente. Foi um estrangeiro que amou o Brasil como se fosse a sua terra de nascimento. Ele sempre fez esta declaração: "o Brasil é minha pátria de coração".

A TV Manchete foi, na verdade, um dos seus últimos sonhos realizados. Quando a emissora entrou no ar, em 5 de junho de 1983, Adolpho Bloch inaugurava também um novo capítulo da história da televisão em nosso País. Naquela época, o desafio era colocar no ar uma emissora moderna, com alta tecnologia, que pudesse não só acompanhar, mas chegar à frente, com um padrão de qualidade superior àquele que os brasileiros estavam acostumados a ver.

A preocupação com a qualidade da programação foi não só uma exigência, mas uma meta a ser cumprida. E saltou aos olhos de todos a qualidade dos programas da emissora e o alto nível técnico de seus profissionais, notadamente os do jornalismo.

Treze anos depois é importante notar que, mais viva do que nunca, a Manchete continua a primar pela qualidade e a competência profissional, que lhe conferem grande credibilidade junto ao público. A receita deu certo.

Durante esses anos, a Manchete inaugurou ainda, e isso é importantíssimo, a competitividade na televisão brasileira. Ela introduziu essa forma de competir com muita elegância, justeza e, por que não dizer, realidade. Inovou ao dedicar grande parte de sua programação ao jornalismo e ao apresentar um telejornal com duas horas de duração, onde as notícias tinham o peso adequado e comentários de quem entende do assunto. É bom ver e ouvir Manchete. Inovou ao buscar na qualidade a matéria-prima para seus programas. Inovou ao criar novelas com categoria de cinema. Inovou ao lançar talentos em diversas áreas da TV.

Na teledramaturgia, o resgate das superproduções começou com "A Marquesa de Santos" e teve seu ponto de honra com "Dona Beija", que causou grande repercussão nacional, tanto pela fascinante história como pela beleza da atriz Maitê Proença, num de seus melhores trabalhos. Por que não citar também a participação altamente ativa do ator Antônio Pitanga, reconhecido no cinema novo brasileiro, mas que teve na Manchete as oportunidades de participar, por exemplo, de "Tudo em cima", "Helena", "Corpo Santo", "Carmem", "Olho por Olho", "Ana Raio e Zé Trovão", "Guerra Sem Fim" e "Kananga do Japão", grandes sucessos da teledramaturgia brasileira. Mas desejo ressaltar a verdadeira explosão ecológica, a novela "Pantanal", que deu início a uma nova fase da televisão brasileira.

Com o cenário saindo dos estúdios para o bucolismo de uma das mais belas regiões do planeta, o pantanal mato-grossense, a Manchete fez história e lançou para o Brasil e o mundo imagens que ficaram gravadas para sempre. Foi o maior debate que houve em relação a uma novela na televisão brasileira.

Os índices de audiência comprovaram o grande sucesso. E, nesse ano, 1990, a emissora recebia o prêmio de veículo do ano, concedido pela ABAP (Associação Brasileira de Propaganda). Os responsáveis foram a qualidade do jornalismo e a inovação na teledramaturgia.

Essa linha de produção continua. Agora mesmo está no ar "Tocaia Grande", de Jorge Amado. A Manchete apostou também nas minisséries, para vencer a guerra da audiência: "Ilha das Bruxas", que contava histórias do folclore catarinense; "O Farol", que mostrava as belezas de uma ilha paradisíaca; "Escrava Anastácia", onde o sincretismo era destaque, além da exuberância de "Canto das Sereias". Esses foram alguns dos presentes que a emissora deu ao público. Desse filão também saíram "O Guarani", "Floradas na Serra", clássicos da literatura, levados com ousadia e inteligência para a telinha.

Essas são produções que, além de reacenderem em nós a prática de nossos hábitos e costumes, têm dado trabalho a milhares de autores, produtores, artistas de um modo geral. São produções nacionais, feitas por profissionais brasileiros, para serem vistas por brasileiros e elogiadas também no estrangeiro, por que não?

Outra característica da Manchete é a ousadia, é a busca do inusitado, da novidade. Foi assim que a emissora inaugurou também uma nova faixa de horário dedicada à programação infantil. Nesse particular, quando o "Clube da Criança" entrou no ar, com uma linguagem inteiramente voltada para a criançada, apresentadoras como Xuxa e Angélica ganharam fama da noite para o dia.

A cobertura do carnaval, a maior festa popular do nosso País, também sempre foi um ponto alto da emissora. O pioneirismo e, por que não dizer, a audácia moldaram mais esse sucesso da Manchete. A emissora apostou na grande façanha de mostrar as imagens do carnaval carioca, e o público brasileiro foi quem ganhou com a Manchete no ar.

É importante lembrarmos coberturas memoráveis, ao vivo, realizadas pela emissora. Foi assim com a campanha pelas "Diretas Já", a eleição de Tancredo Neves, o drama que atingiu o Presidente eleito, os trabalhos da Assembléia Nacional Constituinte, a queda de Fernando Collor, o Plano Real e a eleição do Presidente Fernando Henrique Cardoso. Aos poucos, a TV Manchete foi conquistando o público com qualidade e eficiência, ocupando o seu espaço no seio da família brasileira.

E mais novidades ainda estão por vir. A emissora já se prepara para colocar no ar o primeiro telejornal interativo que ligará, via Internet, o Brasil ao resto do mundo.

Adolpho Bloch continua entre nós. Seu espírito corajoso e empreendedor está infiltrado no chão, nas paredes, em cada lugar por onde deixou sua marca de realizador. Ele deixou sementes espalhadas por todo o País. Ao todo são hoje 49 emissoras afiliadas em todo o território nacional. As sementes estão aí plantadas, não só em suas realizações materiais, como também nos corações daqueles que com ele conviveram e partilharam dos frutos do seu trabalho.

Falo de Pedro Jack Kapeller - o Jaquito, novo Presidente; de Carlos Sigelmann, Vice-Presidente; de Jackeline Kapeller, superintendente; de nosso tão conhecido Carlos Chagas; e de todos os trabalhadores que fazem hoje da TV Manchete uma realidade.

Não só a informação e a qualidade das imagens projetadas, Adolpho Bloch, através de sua empresa, construiu e doou escolas. Eu não poderia deixar de fazer esse registro, quando sei que a Escola Joseph Bloch, com 550 alunos, em Parada de Lucas, pôde funcionar com doação dessa empresa, como também a Escola Gilda Bolch, em Teresópolis, com 800 alunos. Empresas como essas, com a responsabilidade, com esses investimentos, com a seriedade com que têm tratado o povo brasileiro, merecem de todos nós o carinho e o respeito.

Por isso, em nome do Partido dos Trabalhadores, quero repetir que Adolpho Bloch continua entre nós como um exemplo de amizade, atenção e carinho pelas pessoas, e dedicação ao trabalho.

Quem sabe, sente. Manchete é prá gente! (Palmas)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/06/1996 - Página 9449