O SR. OSMAR DIAS ( -PR. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srs. Senadores, a comunicação é inadiável e, sobretudo, lamentável. Não vou comunicar o falecimento de ninguém, mas, talvez, o assunto que trago seja da mesma forma revoltante.

Todos sabem que, há cerca de um ano, apresentei aqui um projeto que proibia o uso de anabolizantes em bovinos. Esse projeto recebeu parecer favorável do Senador Eduardo Suplicy, na Comissão de Assuntos Econômicos. No entanto, um pedido de vista do Senador Jonas Pinheiro fez com que essa discussão se prolongasse, o que não permitiu a sua votação.

Tenho convicção daquilo que afirmo na justificativa do meu projeto em relação à proibição do uso de anabolizantes, pelos danos que pode causar à saúde se não for utilizado corretamente.

Para respaldar a minha posição, Sr. Presidente, busquei a opinião dos órgãos de pesquisa, dos órgãos que representam os consumidores, dos órgãos, enfim, que representam a sociedade.

Neste instante, lamento a ausência do Senador José Eduardo Vieira, mas acredito que S. Exª estará aqui para pronunciar-se - e espero que o faça - a respeito da comunicação que farei a esta Casa, porque o fato é lamentável.

Sr. Presidente, entre os órgãos que se manifestaram, há dois lados: os consumidores, os representantes da sociedade civil, que se são absolutamente contra o uso de anabolizantes, e há um pequeno grupo de grandes pecuaristas e de laboratórios, interessados no lucro fácil e rápido, que defendem o seu uso.

Pois bem, o Iapar, um instituto de pesquisa do Paraná, enviou-me um parecer apoiando a proibição do uso de anabolizantes. Hoje, recebi a notícia de que o Presidente daquele instituto foi afastado das suas funções. O Instituto Agronômico do Paraná é um instituto de pesquisa respeitado internacionalmente.

O Secretário de Agricultura do Paraná chamou o Presidente para comunicar-lhe que o parecer havia desagradado o Senador José Eduardo Vieira e que este, então, havia sugerido o afastamento do Presidente. A sugestão foi aceita, e o Presidente foi afastado, para atender a uma atitude de prepotência.

Não posso acreditar que, de repente, o Iapar tenha-se transformado em uma agência de banco! O Iapar é um instituto de pesquisa respeitado e não pode ser tratado dessa maneira. Assim como não posso acreditar que o Governador do Paraná tenha se curvado a essa exigência e acatado a sugestão de afastamento de um profissional competente, sério, que deu uma contribuição enorme à agricultura do Estado e que poderia continuar a fazê-lo, não fosse esse fato deplorável.

Sr. Presidente, vou aguardar o esclarecimento desse episódio. Não quero acreditar que isso seja verdade, mas, se for comprovado, terei o apoio daqueles que se manifestaram a favor - e aí são 78% da população: o Idec, que é o Instituto de Defesa ao Consumidor; a Sociedade Brasileira de Ciência e Tecnologia de Alimentos; o Procon; a Sociedade Brasileira de Medicina; a Sociedade Brasileira de Medicina Veterinária; o Movimento das Donas de Casa de Porto Alegre; a União Européia e até o Ministério Público de Sergipe.

Segundo uma publicação no jornal do Senador José Eduardo, a União Européia afirmou que, se o Brasil usar anabolizantes, não importará mais carne do nosso País.

Não sei qual é o poder daqueles que defendem o uso de anabolizantes, mas talvez os cargos dos presidentes dessas instituições também estejam ameaçados, assim como ocorreu com o Presidente do Iapar.

Não quero acreditar que isso seja verdade e vou esperar que esta comunicação seja esclarecida. Aceito debater o assunto, o meu projeto na Comissão de Assuntos Econômicos. Mas cassar a cabeça do presidente de uma instituição porque ele se manifestou favoravelmente à proibição do uso de anabolizantes é demais para mim, Sr. Presidente!

Na Bélgica, mataram um veterinário. Foi a máfia do hormônio que o assassinou.

Parece que o movimento começa a alcançar o País em que vivemos.

Prefiro não acreditar nesse fato.

Muito obrigado.