Discurso no Senado Federal

COMUNICANDO A CASA O RECEBIMENTO DE CARTA DO SINDICATO DOS JORNALISTAS PROFISSIONAIS DO PARANA SOLICITANDO QUE SE TORNE PUBLICO, ATRAVES DA TRIBUNA DO SENADO FEDERAL, O INCIDENTE ENVOLVENDO UM CASAL DE JORNALISTAS BRASILEIROS BARRADO NA INGLATERRA. CRITICAS AO MINISTERIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES PELA FRACA ATUAÇÃO NO EPISODIO.

Autor
Roberto Requião (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/PR)
Nome completo: Roberto Requião de Mello e Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA EXTERNA.:
  • COMUNICANDO A CASA O RECEBIMENTO DE CARTA DO SINDICATO DOS JORNALISTAS PROFISSIONAIS DO PARANA SOLICITANDO QUE SE TORNE PUBLICO, ATRAVES DA TRIBUNA DO SENADO FEDERAL, O INCIDENTE ENVOLVENDO UM CASAL DE JORNALISTAS BRASILEIROS BARRADO NA INGLATERRA. CRITICAS AO MINISTERIO DAS RELAÇÕES EXTERIORES PELA FRACA ATUAÇÃO NO EPISODIO.
Publicação
Publicação no DSF de 03/07/1996 - Página 11305
Assunto
Outros > POLITICA EXTERNA.
Indexação
  • LEITURA, CARTA, AUTORIA, SINDICATO, CATEGORIA PROFISSIONAL, JORNALISTA, ESTADO DO PARANA (PR), SOLICITAÇÃO, DIVULGAÇÃO, IMPEDIMENTO, ENTRADA, CASAL, BRASILEIROS, PAIS ESTRANGEIRO, INGLATERRA.
  • CRITICA, NEGLIGENCIA, ATUAÇÃO, REPRESENTANTE, ITAMARATI (MRE), EMBAIXADOR, CONSUL, OCORRENCIA, IMPEDIMENTO, ENTRADA, BRASILEIROS, PAIS ESTRANGEIRO, INGLATERRA.

O SR. ROBERTO REQUIÃO (PMDB-PR. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, recebi do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Paraná uma comunicação, em forma de carta. O Sindicato me solicita que a torne pública desta tribuna. Trata-se do caso dos jornalistas brasileiros que foram barrados na Inglaterra.

A carta tem o seguinte teor:

      "Um casal de jornalistas brasileiros, que escreve para o semanário Folha Popular, em Curitiba, foi impedido de entrar na Inglaterra na semana passada(20/06). Depois de 30 horas de vôo, com escalas em São Paulo, Salvador, Zurique, na Suíça, Fábio Riesemberg e Cristiane Rangel foram detidos pelo Serviço de Imigração britânico, no Aeroporto Internacional de Heathrow, em Londres.

      O motivo alegado pelo Immigration Office do aeroporto foi o casal ter "cara" de quem intencionava ficar morando no país. Assim informou o funcionário da imigração, que se identificou apenas por "Paul", e interrogou os brasileiros em várias sessões de sabatina, num total de nove horas de interrogatório. Para os jornalistas tudo não passou de um mal-entendido. Segundo eles, "Paul" não falava muito bem o português e não fez nenhum esforço para que houvesse entendimento. Para agravar a situação, o casal conta que "Paul" tinha um forte cheiro de álcool, o que fez com que eles ficassem ainda mais inconformados".

Ou seja, Sr. Presidente, o funcionário da imigração inglesa estava bêbado, de porre durante o serviço.

      "Outro fato que os deixou indignados foi o machismo usado pelo oficial da imigração. A jornalista não pôde deixar a sala de interrogatório em nenhum momento, apenas o namorado era convocado a tomar decisões sem sequer ter o direito de consultá-la a respeito. Segundo eles, "as tão sonhadas férias de verão londrinas" tinham sido planejadas com quatro meses de antecedência e permitiriam também o envio de uma série de reportagens especiais sobre a organização social e política britânica. Na bagagem os jornalistas levavam a Carteira Internacional de Imprensa, emitida pela Federação Internacional de Jornalistas (FIJ) e reconhecida em todo o mundo, que sequer foi levada em consideração pelo Immigration Office.

      Um telefonema foi o único direito cedido ao casal, que contatou imediatamente o Consulado brasileiro em Londres. O Cônsul, Reinaldo Salgado, aconselhou os jornalistas a voltarem ao Brasil pacificamente,..."

É para isso, Sr. Presidente, que serve o nosso Itamaraty, para, como Pilatos, lavar as mãos quando brasileiros têm problemas no exterior.

      "... e disse que não poderia fazer nada para ajudá-los, mas que eles deveriam reclamar junto às autoridades. Depois de muita conversa pelo telefone com Salgado," - espero que esse Cônsul passe pela aprovação do Senado proximamente - "a imigração deu uma segunda opção ao casal: ir para Portugal exclusivamente pela empresa aérea britânica British Airways, que cobraria US$800 por duas passagens. Além disso, os dois chegariam a Portugal com os passaportes rasurados pela imigração inglesa. O perigo era acontecer nova apreensão em Lisboa."

Que diferença, Sr. Presidente, ser cidadão de um País sério como os Estados Unidos e ter apoio consular e diplomático e ser cidadão brasileiro!

      "Por falta de opção, o casal foi repatriado, isto é, forçado a voltar para o Brasil. Os jornalistas dizem ainda que, depois de todo o tempo de viagem não puderam sequer tomar banho e chegaram a passar fome. Os dois foram trancafiados em um camburão e levados até um dos terminais do aeroporto em que embarcaram num 747 da British, que voou direto para o Aeroporto Internacional de Guarulhos, em São Paulo. A custódia dos brasileiros foi dada ao comandante do avião. Passaportes, passagens e até um alicate de unha foram confiscados pelos ingleses e só devolvidos no desembarque, em Guarulhos. O alicate de cutículas foi considerado perigoso pelas autoridades de imigração. A maior contradição do serviço de imigração inglês é que os passaportes dos jornalistas já haviam sido carimbados com o visto de treze(13) meses, que, depois, foi riscado - pelo funcionário embriagado - com uma caneta esferográfica preta indicando o cancelamento do mesmo.

      A Embaixada britânica, em Brasília, foi notificada e pediu um relatório completo sobre o caso ao Departamento de Imigração, em Heathrow, e prometeu ao casal entrar em contato assim que receber o documento. O Embaixador do Brasil, em Londres, Rubens Antônio Barbosa, declarou, através de fax, que estaria pedindo providências também ao Foreign Office (Ministério das Relações Exteriores inglês)."

Sr. Presidente, essa é uma situação que tem que ser resolvida diplomaticamente porque originou um terrível constrangimento de dois jornalistas brasileiros. Ressalte-se, diante da tragédia desse casal de jornalistas, o descaso do nosso Ministério das Relações Exteriores, por intermédio de seus representantes: o Embaixador Barbosa, que atribui ao Cônsul a responsabilidade, e o Cônsul, que não assume responsabilidade alguma.

Brasileiros no exterior têm que se conformar com a notícia de que os nossos embaixadores dão bailes e festas e dançam a "dança da garrafa".


Este texto não substitui o publicado no DSF de 03/07/1996 - Página 11305