Discurso no Senado Federal

CONQUISTAS E AVANÇOS DO ESPORTE BRASILEIRO NAS OLIMPIADAS DE ATLANTA. IMPORTANCIA DE INVESTIMENTOS NO DESPORTO E DE INCENTIVO AOS ATLETAS. NECESSIDADE DA CRIAÇÃO DE UMA ESTRATEGIA PARA CONVENCIMENTO DA CUPULA MUNDIAL, DA VIABILIDADE DA REALIZAÇÃO DAS OLIMPIADAS DE 2004 NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.

Autor
Mauro Miranda (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Mauro Miranda Soares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ESPORTE.:
  • CONQUISTAS E AVANÇOS DO ESPORTE BRASILEIRO NAS OLIMPIADAS DE ATLANTA. IMPORTANCIA DE INVESTIMENTOS NO DESPORTO E DE INCENTIVO AOS ATLETAS. NECESSIDADE DA CRIAÇÃO DE UMA ESTRATEGIA PARA CONVENCIMENTO DA CUPULA MUNDIAL, DA VIABILIDADE DA REALIZAÇÃO DAS OLIMPIADAS DE 2004 NO ESTADO DO RIO DE JANEIRO.
Aparteantes
Júlio Campos, Pedro Simon.
Publicação
Publicação no DSF de 07/08/1996 - Página 13557
Assunto
Outros > ESPORTE.
Indexação
  • ELOGIO, ATUAÇÃO, ATLETAS, BRASIL, OLIMPIADAS, NECESSIDADE, AUMENTO, INCENTIVO, ESPORTE, SUGESTÃO, PARCERIA, MUNICIPIOS.
  • DEFESA, CANDIDATURA, CAPITAL DE ESTADO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), SEDE, OLIMPIADAS, NECESSIDADE, ATUAÇÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA EDUCAÇÃO (MEC), MINISTERIO EXTRAORDINARIO, ESPORTE.

O SR.MAURO MIRANDA (PMDB-GO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, nos últimos vinte dias, o Brasil entrou em sintonia com o mundo para viver a febre das Olimpíadas, encenadas nos Estados Unidos e levadas a todos os cantos do Planeta. Eu não diria que o País parou com os olhos e os ouvidos colados na televisão, mas é difícil negar que o espetáculo de Atlanta galvanizou os sentimentos cívicos mais fortes do nosso povo. As agruras da crise social entraram de férias, cedendo lugar à euforia pelas vitórias que conseguimos em importantes modalidades esportivas. A cada pódio brasileiro, a cada Hino Nacional, a cada atleta envolto na Bandeira, o coração cívico do País explodia de orgulho, iluminando milhões de rostos, espantando tristezas e multiplicando emoções.

É pena que sejam alegrias bissextas e que nada garanta que elas serão repetidas ou aumentadas daqui a quatro anos, na Austrália. As lágrimas das atletas medalhadas, mas desempregadas do basquete, comoveram o País. E isso mostra que os caminhos do sucesso podem estar lá fora, onde os investimentos no desporto são colocados em nível de afirmação nacional.

No Brasil, com a sua vastidão continental, o processo de mudança deste quadro deve começar por um eficiente sistema de parceria com os municípios. Os jogos olímpicos mostraram a milhões de crianças e adolescentes que chegar ao pódio pode não ser um sonho impossível. Mas o que estamos fazendo ou vamos fazer para apoiar essas motivações da juventude brasileira?

No iatismo, no vôlei, no basquete, no atletismo, no hipismo, na natação e no futebol, os nossos heróis olímpicos fizeram pela imagem do País muito mais que todos os esforços da atividade diplomática. E para dentro de nossas fronteiras, os atletas vitoriosos renovaram as forças da alma brasileira, combalida pelo dia-a-dia perverso do desemprego, da insegurança e da falta de perspectivas. E antes que se fale em efeitos alienantes da realidade, é preciso reconhecer que cada vitória teve o efeito de injetar novos valores nas perspectivas da afirmação individual. As Olimpíadas são uma grande indústria de exemplos para que o homem supere seus próprios limites.

Assim é que cada uma das epopéias individuais ou coletivas a que assistimos haverá de forjar novas vontades e desenvolver o espírito competitivo que revela os líderes sociais e os heróis populares. Mas é preciso que não se perca o embalo e que sejam buscados a todo custo os meios para aproveitar este momento favorável em que conquistamos a marca inédita de 15 medalhas. Centros olímpicos nas universidades, ginásios poliesportivos nas cidades de médio porte e quadras de esporte em todos os municípios são instrumentos que não devem ser negados aos nossos campeões de amanhã. É assim que vamos combater a perversidade do mundo subterrâneo das drogas, canalizar para o bem as energias rebeldes do jovem e reestruturar princípios de convivência social e familiar. Isso para não falar num futuro que possa levar o País a aproximar-se dos bichos-papões da tradição olímpica, como os Estados Unidos e os países do Leste europeu. Falta apenas vontade política para quebrar esse monopólio, que tem servido para vender as superioridades nacionais ou de raça.

É importante reconhecer que o avanço brasileiro nas Olimpíadas de Atlanta não foi resultado exclusivo da consciência dos atletas de que é preciso perseverar no aperfeiçoamento dos métodos de treinamento, levados à exaustão. O Comitê Olímpico Brasileiro, sob a presidência de Carlos Arthur Nuzman, passou por grandes melhorias qualitativas nos últimos anos e os resultados começaram a aparecer. Agora que o Brasil se candidata a sediar os Jogos Olímpicos de 2004, é indispensável que os Ministros Pelé e Paulo Renato se debrucem na formulação de uma estratégia que convença a cúpula mundial de que estamos entronizados neste universo exigente de infra-estruturas apropriadas.

O Sr. Júlio Campos - Senador Mauro Miranda, V. Exª me concede um aparte?

O SR. MAURO MIRANDA - Ouço V.Exª com todo o prazer, Senador Júlio Campos.

O Sr. Júlio Campos - Nobre Senador Mauro Miranda, ouço com muita atenção o pronunciamento de V. Exª e aproveito para também congratular-me com os atletas brasileiros que participaram das Olimpíadas de Atlanta de 1996. Realmente, o Brasil fez bonito, embora, nesse final de competição, muitos tenham deixado de comemorar o segundo lugar, quando o Brasil saiu vice-campeão em vários setores. É muito honroso sermos o segundo dentre uma centena de países. No Brasil, muitas vezes isso não é comemorado. Um fato lamentável foi o que ocorreu na Argentina, um país vizinho-irmão. Em Buenos Aires, um brasileiro foi assassinado, fruto do fanatismo dos argentinos por ocasião do jogo da Argentina contra a Nigéria, no qual, brilhantemente, os atletas nigerianos venceram, com justiça, como aconteceu contra o Brasil, excluindo-nos da disputa pela medalha de ouro do futebol olímpico. Esse fato ocorreu, deixando-nos entristecidos pelo fanatismo com que os amigos e vizinhos-irmãos argentinos ainda comemoram o seu futebol. E quero reiterar o meu apoio às palavras de V. Exª de que, mais uma vez, todos nós, brasileiros, devemos somar forças ao Presidente do Comitê Olímpico Brasileiro, Dr. Carlos Arthur Nuzman, e ao Alto Comando Olímpico do País, no sentido de fazermos com que as Olimpíadas de 2004 venham a se realizar na Cidade do Rio de Janeiro, essa belíssima ex-Capital brasileira e hoje Capital do grande Estado do Rio. Tenho certeza absoluta de que todos nós nos uniremos - o Poder Público, a iniciativa privada e o povo brasileiro -, a fim de prepararmos o Rio de Janeiro para ser a sede das Olimpíadas de 2004. Tenho certeza de que estaremos lá: V. Exª, eu e todo o povo brasileiro, ajudando o Rio a se preparar para esse grande evento que, se Deus quiser, virá para o Brasil.

O SR. MAURO MIRANDA - É o nosso sonho também, Senador Júlio Campos. Agradeço o aparte de V. Exª.

O Sr. Pedro Simon - V. Exª me permite um aparte, nobre Senador Mauro Miranda?

O SR. MAURO MIRANDA - Pois não, nobre Senador Pedro Simon.

O Sr. Pedro Simon - Nobre Senador Mauro Miranda, já havia feito um aparte ao Senador Eduardo Suplicy sobre este assunto, mas, agora, faço a V. Exª com relação apenas ao aparte que terminou de receber do nosso ilustre Senador pelo Mato Grosso. Penso que devemos deixar a questão em seu devido lugar. Foi profundamente lastimável e cruel o que aconteceu com um brasileiro na Argentina, pelo fato de estar torcendo contra aquele país. Imagina-se até que ele estava torcendo contra a Argentina porque o Brasil havia também perdido para a Nigéria; e terminou acontecendo o que aconteceu. No entanto, aquele é um fato absolutamente isolado, que não se identifica com a nossa amizade, com o nosso carinho que aumenta cada vez mais, que cresce entre o Brasil e a Argentina. Tenho a mais absoluta convicção de que o Governo e o povo argentinos estão mais magoados do que nós. Estamos sofrendo a morte de um brasileiro - e é claro que estamos sofrendo! -, mas eles estão sofrendo a morte de um brasileiro, naquelas circunstâncias, lá na Argentina. Se alguém deve estar magoadíssimo com esse fato, se alguém deve estar sofrendo por isso, esse alguém é o Presidente Menem e as autoridades argentinas. O mesmo aconteceu conosco aqui: de repente, porque perdemos para a Nigéria, um maluco incendiou a garagem da Embaixada daquele país. E a imprensa publicou que "um brasileiro" invadiu e tentou queimar a Embaixada da Nigéria. Não! Foi um maluco, um irresponsável, que tem a repulsa de todos nós e, se for descoberto, tem que levar uma punição exemplar, porque é ridículo o que ele fez. Então, sob esse ângulo, é bom esclarecermos que esses fatos são delicados, mas lamentavelmente acontecem. Como também foi o caso de um maluco, lá em Atlanta, que colocou uma bomba em plena Olimpíada. Desgraçadamente, existem no mundo minorias radicais, esquizofrênicas, que querem aparecer da maneira mais excepcional e mais dolorosa. Felicito V. Exª pelo seu pronunciamento. E penso que nunca é demais repetir: ao longo do tempo, não vínhamos dando importância ao esporte. Mas, hoje, isto está começando a mudar. E façamos justiça: o resultado foi bom para nós: foram 15 medalhas. Estamos chateados porque perdemos no futebol. Fomos para ser campeões e, de repente, vieram uns moreninhos, lá da África, dos quais não sabíamos a intenção, e ganharam de nós. E não minto que, quando os vi ganharem da Argentina, disse: "Bom, pelo menos não são tão ruins assim; eles nos "paparam", mas também "paparam" a Argentina". Quanto ao basquete feminino, os americanos realmente são melhores do que nós. Quer dizer, ali nós nos superamos; não há como deixar de reconhecer: foi uma partida excepcional! No vôlei feminino, não tivemos sorte; por pouco, não ganhamos de Cuba. Inclusive, achei meio deselegante o comportamento delas; não precisavam ter feito aquilo. Mas isso é tarimba delas; e nós não tínhamos. Elas já estão acostumadas; é a terceira ou quarta vez que elas ganham. E essa foi a nossa primeira vez. Para mim, aquela medalha de bronze foi uma das que teve mais significado. Então, creio que o Brasil foi bem. O problema todo é que isso não seja um fato isolado. Por exemplo, vejo a imprensa toda criticando muito o Banco do Brasil porque apoiou um esporte, e a Caixa Econômica apoiou outro. Sou favorável; no mundo inteiro é assim. Não existe mais aquela estória do amadorismo, do cidadão, de repente, ir lá e competir. Não. Ele tem que estar preparado, tem que ter condições para chegar na hora e poder competir. Se olharmos para o grande mérito dos Estados Unidos, a sua grande formação de medalhas olímpicas nos Estados Unidos está nas universidades. Os jogos universitários americanos são os grandes formadores de atletas naquele país. No Brasil, lamentavelmente, não temos, como nos Estados Unidos, universidades fechadas onde o cidadão mora, tem uma formação completa - moral, ética, social - e só sai nas férias. O esporte faz parte dessa vida. Aqui, a chamada vida universitária resume-se praticamente a três horas diárias. Mesmo que ainda não tenhamos condições de fazer do ensino o grande formador de atletas, creio que o caminho é por aí. A Austrália, por exemplo, está fazendo o seu segundo jogo olímpico. Se não me engano, o primeiro foi há 40 anos, quando ganharam trinta e poucas medalhas. Estão se preparando agora para isso. Portanto, se quisermos ser sede e ter êxito no ano 2004, temos que fazer o que fez a Austrália, que, ao ser designada como a próxima sede, acompanhou todo o trabalho de Atlanta. Ela sabe hoje o que deu errado, o que deu certo, o que foi bom e o que foi ruim em Atlanta, para se preparar. Acho que deveríamos começar a observar desde a organização, indo a Sidney, até a equipe, porque não podemos, no ano 2004, fazer uma equipe nas Olimpíadas, em que o Brasil não logre êxito em um grande número de esportes. Meus cumprimentos a V. Exª.

O SR. MAURO MIRANDA - Agradeço ao Senador Pedro Simon. Nossa identidade é muito grande em relação a esse ponto de vista, especialmente ao mínimo fato acontecido na Argentina. Prefiro destacar ao máximo o grande crescimento que tivemos no Brasil todo a falar nesse pequeno incidente que houve. Acredito que o povo argentino, como V. Exª muito bem ressaltou, deve estar muito mais triste do que nós mesmos.

É preciso mostrar ao mundo que temos competência para construir uma marca de confiança e, para isso, o esforço do Governo deve manter-se à altura da capacidade de superação que foi exibida nos Estados Unidos pelos nossos heróis olímpicos. Mas é indispensável que se comece já, para que não se percam os ímpetos deste momento extremamente favorável. Para ser o palco privilegiado da festa olímpica de 2004, o primeiro e grande passo terá que ser consolidado na Austrália.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente. Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/08/1996 - Página 13557