Discurso no Senado Federal

REFLEXÃO SOBRE A ESCALADA DE VIOLENCIA NA CLASSE MEDIA BRASILEIRA. PUBLICAÇÃO DE PESQUISA NA REVISTA VEJA DESTA SEMANA, MOSTRANDO A GEOGRAFIA DE VIOLENCIA NO BRASIL. IMPORTANCIA DA ADOÇÃO DE MEDIDAS EFETIVAS PARA O SEU CONTROLE.

Autor
Valmir Campelo (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/DF)
Nome completo: Antônio Valmir Campelo Bezerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA.:
  • REFLEXÃO SOBRE A ESCALADA DE VIOLENCIA NA CLASSE MEDIA BRASILEIRA. PUBLICAÇÃO DE PESQUISA NA REVISTA VEJA DESTA SEMANA, MOSTRANDO A GEOGRAFIA DE VIOLENCIA NO BRASIL. IMPORTANCIA DA ADOÇÃO DE MEDIDAS EFETIVAS PARA O SEU CONTROLE.
Publicação
Publicação no DSF de 20/08/1996 - Página 14331
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • ANALISE, EXPANSÃO, VIOLENCIA, ZONA URBANA, BRASIL, VITIMA, JUVENTUDE, CLASSE MEDIA, COMENTARIO, PESQUISA, ESTATISTICA, CRIME.
  • ANALISE, NECESSIDADE, PROVIDENCIA, EMERGENCIA, APARELHAMENTO, POLICIA, MELHORIA, DISTRIBUIÇÃO DE RENDA, PRIORIDADE, EDUCAÇÃO, POVO.

O SR. VALMIR CAMPELO (PTB-DF. Pronuncia o seguinte discurso) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a classe média brasileira deu-se conta, de repente, que a violência não é um fenômeno exclusivo dos morros e favelas.

Dolorosamente, nossa classe média vem tomando consciência de que a violência, esse fenômeno típico dessa era de desencontros e sobressaltos em que estamos vivendo, invadiu aqueles redutos razoavelmente protegidos das nossas grandes cidades, e que a juventude vem sendo a principal vítima desse flagelo de fim de milênio.

Durante muito tempo, a classe média brasileira alimentou a ilusão de que criminalidade era um fenômeno que atingia predominantemente os segmentos de baixa renda. Crimes e violências envolvendo pessoas bem postas na sociedade era coisa rara e ocasional.

Vez ou outra, Srªs e Srs. Senadores, a gente ouvia falar, nos noticiários da TV ou nos jornais, que um psicopata qualquer, nos Estados Unidos, havia invadido uma lanchonete, com arma em punho, e executado dez ou quinze pessoas a sangue-frio e sem qualquer razão. Ouvíamos falar e dávamos graças a Deus, porque isso não acontecia no Brasil.

As recentes execuções de jovens da classe média, em São Paulo, no entanto, trouxeram para o cotidiano da população mais privilegiada uma realidade até então restrita à periferia, da qual se tinha notícia através dos jornais televisivos.

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a escalada da violência nas grandes cidades brasileiras está se tornando um problema alarmante de imprevisíveis dimensões sociais.

Hoje em dia, ninguém está mais à salvo dos assaltos à mão armada, dos seqüestros, dos estupros e da crueldade dos criminosos.

A revista Veja desta semana publicou uma pesquisa impressionante e macabra, mostrando a geografia da violência no Brasil.

Brasília é retratada como a "capital do estupro", registrando, de janeiro a julho deste ano, a preocupante marca de 433 casos de violência sexual.

O Rio de Janeiro, lamentavelmente, sem nenhuma surpresa, aparece como campeão de criminalidade.

A verdade dos fatos, Sr. Presidente, é que a violência vem-se disseminando pelas nossas cidades como verdadeira epidemia.

A sociedade, como um todo, encontra-se num grande impasse. O que fazer para por fim a essa onda de violência que nos ameaça a todos e, em particular, à juventude brasileira?

Será que a solução é armar a Polícia e intensificar o policiamento ostensivo, como pretendem algumas autoridades e o próprio Ministro da Justiça Nelson Jobim?

Ou será que a criminalidade seria reduzida se promovêssemos uma justa distribuição de renda em nosso País?

No estágio de emergência a que chegamos, é claro que é preciso intensificar a ação policial, promover o reaparelhamento da Polícia e buscar o aperfeiçoamento dos recursos humanos disponíveis.

Não resta dúvida, porém, de que se trata de uma solução que traz riscos consideráveis, porque ninguém ignora a existência de outro tipo de violência, ciosamente camuflada nas delegacias e corporações: a violência policial.

Por outro lado, a tão decantada distribuição de renda, por si só, não resolve o problema.

Fatores típicos do nosso tempo, como o narcotráfico e o inconformismo das gerações mais recentes, provaram que sociedades modernas e desenvolvidas, com elevado padrão de consumo, não estão imunes à violência. Ao contrário, é exatamente aí que a violência grassa com maior intensidade.

No meu modesto ponto de vista, Senhor Presidente, a solução desse estado de coisas começa antes, começa no seio das famílias, com a educação daqueles que serão os pais de amanhã.

Claro que é preciso encontrar meios de distribuir mais justa e equilibradamente a riqueza nacional.

Evidente que precisamos de um aparelho policial capacitado a nos oferecer segurança e prevenir a criminalidade nas nossas grandes e pequenas cidades.

Mas, fundamentalmente, Senhoras e Senhores Senadores, o que precisamos mesmo é promover uma mudança profunda de mentalidade, preparando os nossos jovens para o trabalho, para a vida.

Para tanto, necessitamos de um sistema de ensino moderno, renovado e suficientemente dimensionado para oferecer oportunidade de educação a todos.

Todas as outras soluções, a meu ver, são emergenciais.

Isso não significa, naturalmente, deixar a população entregue à própria sorte. Cada governo, cada administração estadual deve, de imediato, adotar providências efetivas para conter essa onda de violência que assola o País.

A solução duradoura, no entanto, passa necessariamente pela educação do nosso povo. O povo educado, com certeza, vai encontrar meios pacíficos para promover a distribuição da riqueza e, sem qualquer sombra de dúvida, será capaz de equacionar o problema da violência, que tem sua origem na miséria e na falta de informação.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente.*


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/08/1996 - Página 14331