Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM PELO CINQUENTARIO DA FENAJ - FEDERAÇÃO NACIONAL DOS JORNALISTAS PROFISSIONAIS.

Autor
Benedita da Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Benedita Souza da Silva Sampaio
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM PELO CINQUENTARIO DA FENAJ - FEDERAÇÃO NACIONAL DOS JORNALISTAS PROFISSIONAIS.
Publicação
Publicação no DSF de 11/09/1996 - Página 15621
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CINQUENTENARIO, FEDERAÇÃO NACIONAL DOS JORNALISTAS PROFISSIONAIS, ELOGIO, ATUAÇÃO, PERIODO, DITADURA, DEFESA, DEMOCRACIA, REGISTRO, GESTÃO, APERFEIÇOAMENTO, CATEGORIA PROFISSIONAL.

A SRª BENEDITA DA SILVA (PT-RJ. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, Sr. Presidente da Fenaj, Srs. Jornalistas, não poderia deixar de fazer desta tribuna uma saudação por uma federação que reúne, sem dúvida nenhuma, uma categoria profissional que tem prestado relevantes serviços à Nação brasileira.

Os que falarão - até os que já falaram - não deixarão de afirmar que todos esses jornalistas, profissionalmente, lutam pela liberdade: a liberdade de imprensa, a liberdade da informação. Passamos momentos difíceis no sistema político brasileiro e contamos com o trabalho dos profissionais dessa área, que, cassados, perseguidos, não deixaram, nem que fosse nas entrelinhas, de nos passar as informações.

Em que pese não ser jornalista, acompanhei todo o trabalho que iniciamos no período autoritário da sociedade brasileira, ocasião em que introduzimos a comunicação popular. Para tal, contávamos com o jornalista para ensinar as comunidades carentes a fazer um jornalzinho, a passar um notícia. Associada à metodologia de Paulo Freire, tínhamos ali uma parceria completa e nos comunicávamos daquela forma.

Foi um período difícil, quero resgatar isso, em que só contávamos com a vontade de alguns jornalistas, porque as representações políticas, altamente identificadas, naquele momento, com a Oposição, algumas delas, já tinham saído do Brasil e outras não podiam, de forma alguma, aparecer.

O chamado Movimento Popular precisava se comunicar e não tinha como fazê-lo se não houvesse realmente auxílio. Pasmem, mas, naquela época, muitos de nós fomos cassados porque pedíamos luz direta da Light e queríamos saneamento básico. Era altamente revolucionário para as comunidades carentes um pedido dessa natureza.

Então, quando tivemos a oportunidade de trabalhar com a vontade do jornalista, pudemos nos comunicar, passávamos a nossa proposta e sabíamos onde encontrar os nossos companheiros e companheiras, os nossos parceiros. Iniciamos um processo de comunicação comunitária até então inexistente: surgiram os nossos chamados jornaizinhos, que não eram de bairros, porque as favelas não eram consideradas bairros; eram apenas um aglomerado de pessoas.

Ora, quem presta relevantes serviços dessa natureza - que gera muitos frutos - não poderia deixar de ser lembrado hoje desta tribuna. Por isso, parabenizo a Fenaj, afirmando que continuaremos juntos na defesa da democracia, da liberdade de mão dupla, porque queremos que este seja um País informado. Desejamos também garantir o espaço do contraditório, manifestando nossas opiniões, e ser críticos, porque só assim estaremos contribuindo com uma informação verdadeira para que a cidadania do povo brasileiro fique resguardada.

Tenho muita alegria em participar, neste momento, desta homenagem pequena. Confesso que não me preparei para fazer uma intervenção com mais conteúdo; quis apenas citar uma situação particular que, talvez, não seja do conhecimento de todos, mas que, muito particularmente, tocou-me profundamente e, sem dúvida nenhuma, ajudou na formação das comunidades dos seus jornais. Entendo que assim estarei prestando uma homenagem que considero relevante.

Portanto, parabenizo a Fenaj por esses 50 anos, os quais, por ter nascido primeiro, há 54 anos, tenho acompanhado. Espero que continuemos juntos nessa parceria, fazendo do Brasil um País informado e fazendo da notícia informação e democracia permanente.

Srªs e Srs. Senadores, esta Casa realiza hoje sessão especial, e com justiça, em homenagem aos 50 anos da Federação Nacional dos Jornalistas - Fenaj, uma bandeira neste País durante suas cinco décadas.

Desde setembro do ano passado, em parceria com os sindicatos de jornalistas filiados, instituições da área de comunicações, órgãos públicos e privados, a Fenaj realizou em todo o país atividades comemorativas do seu cinqüentenário. Fundada em setembro de 1946, a Federação dos Jornalistas constitui-se nestas últimas décadas como um pólo de defesa dos interesses não só dos jornalistas brasileiros, mas do conjunto da sociedade na luta pelas liberdades, pela democracia e pela justiça social.

Nos anos 50, por exemplo, a entidade empunhou as bandeiras nacionalistas e engajou-se na luta pela criação do salário-mínimo. Nos anos 60/70, sofreu as conseqüências do regime de opressão imposto em 1964, participando depois dos movimentos contra a ditadura até a redemocratização do país. Mais recentemente, integrou-se à mobilização da sociedade pela ética na política e que resultou no histórico impeachment do Presidente Collor, em 1992.

Buscando refletir sobre a trajetória do País neste período e sobre o papel específico desempenhado pela imprensa e pelos jornalistas, o Projeto Fenaj 50 Anos teve como objetivo apontar os caminhos da atividade profissional em um mundo globalizado em que as comunicações, impulsionadas pelas novas tecnologias, passaram a jogar responsabilidade estratégica. A função social do jornalista e suas responsabilidades éticas em um mundo em transformação foi, neste contexto, tema central das atividades do cinqüentenário e, em particular, do 27º Congresso Nacional, realizado em maio deste ano, em parceria com o Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul e que reuniu na capital gaúcha mais de 700 profissionais, professores, especialistas e estudantes. Também no ENAJ de Campina Grande, Paraíba, realizado em junho, em parceria com os Sindicatos dos Jornalistas da Paraíba, este tema voltou a merecer destaque, resgatando sobretudo o impacto das novas tecnologias nas atividades jornalísticas.

Ao levantar a responsabilidade social dos jornalistas e a importância de seu engajamento nas lutas pela democratização das comunicações, o Projeto FENAJ 50 Anos não deixou de lado, no entanto, questões sindicais indispensáveis ao futuro da profissão de jornalista. Este foi o caso, por exemplo, dos lançamentos dos livros "Stress e violência no lead da notícia" e de "O Papel dos Assessores". Da mesma forma, a formação profissional e a regulamentação da profissão foram enfocadas nas atividades dos 50 anos, seja no trabalho de revisão nacional dos registros dos jornalistas - atividade que está sendo desenvolvida com o Ministério do Trabalho e entidades empresariais - ou no Movimento pela qualidade no Ensino de Comunicação, cuja campanha de fiscalização das escolas lançadas pela Executivas dos Estudantes de Comunicação em Florianópolis, tem o apoio e o engajamento da Fenaj e dos Sindicatos dos Jornalistas.

Depois da homenagem da Câmara dos Deputados em setembro do ano passado no início das comemorações do cinqüentenário, o encerramento das atividades com a sessão solene no Senado Federal, coroa de êxito o resultado de um esforço de reflexão sobre o papel da imprensa e do jornalista desenvolvido pela FENAJ nos últimos doze meses, nos mais diversos fóruns. Na concretização do projeto, além do apoio dos Sindicatos e diversas instituições, a Federação contou com a participação da agência M&C, empresa responsável pela criação da marca dos 50 anos.

Parabéns a Fenaj e aos seus diretores. Parabéns pelo espírito de luta em prol de uma melhor comunicação e de uma nação livre e soberana, onde a liberdade e a igualdade devem ser o direito de todos.

Era o que tinha a dizer, Sr. Presidente. (Muito bem! Palmas)


Este texto não substitui o publicado no DSF de 11/09/1996 - Página 15621