Discurso no Senado Federal

INDIGNAÇÃO COM O BARBARO CRIME OCORRIDO EM BRASILIA, COMETIDO POR CINCO JOVENS DE CLASSE MEDIA, QUE QUEIMARAM VIVO O INDIO PATAXOS GALDINO.

Autor
Regina Assumpção (PTB - Partido Trabalhista Brasileiro/MG)
Nome completo: Regina Maria D'Assumpção
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DIREITOS HUMANOS. SEGURANÇA PUBLICA.:
  • INDIGNAÇÃO COM O BARBARO CRIME OCORRIDO EM BRASILIA, COMETIDO POR CINCO JOVENS DE CLASSE MEDIA, QUE QUEIMARAM VIVO O INDIO PATAXOS GALDINO.
Publicação
Publicação no DSF de 23/04/1997 - Página 8295
Assunto
Outros > DIREITOS HUMANOS. SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • REPUDIO, VIOLENCIA, AUSENCIA, JUSTIFICAÇÃO, CRIME, ADOLESCENTE, CLASSE MEDIA, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), PROVOCAÇÃO, FOGO, MORTE, GALDINO JESUS DOS SANTOS, INDIO.
  • COBRANÇA, JUSTIÇA, PUNIÇÃO, CRIME, OPORTUNIDADE, SOCIEDADE, QUESTIONAMENTO, FORMA, HERANÇA, MORAL, JUVENTUDE, NECESSIDADE, VALORIZAÇÃO, VIDA HUMANA.

A SRª REGINA ASSUMPÇÃO (PTB-MG. Pronuncia o seguinte discurso) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, os sentimentos que motivam este pronunciamento são os de indignação, de inconformismo e de cobrança de justiça exemplar diante do bárbaro crime que enlutou não só Brasília, mas o Brasil todo, na madrugada do último domingo. Um crime que fere o senso de dignidade de todos os seres humanos e que não há de ficar impune. Já não assistimos somente a violência policial e do aparelho do Estado, mas a violência imotivada de jovens de classe média, aos quais aparentemente nada falta, senão humanidade, do mínimo respeito ao ser humano.

A vítima, para agravar ainda mais a barbárie cometida, o índio Galdino, era um tutelado pelo Estado e em luta pela demarcação das terras de sua tribo, espoliadas por fazendeiros. Não podemos nos calar diante desta brutalidade animalesca, em que se brinca com a vida e o sofrimento de um ser humano, tratamento que não se permite nem mesmo a animais, protegidos que são também pela lei.

Os jovens criminosos, ao contrário de tantos outros que cometeram delitos de gravidade semelhante, já estão presos. Mas por quanto tempo? Terão, também eles, o benefício da impunidade, o benefício de pertencerem estatisticamente às elites brasileiras, às quais não faltam oportunidades de estudo, atendimento à saúde e assistência de bons advogados?

A indignação é de tal ordem que justifica até se questionar se o melhor não seria entregar esses meliantes à justiça tribal dos Pataxós, hoje uma impossibilidade jurídica. Provoca, também, a pergunta: como estamos nós, brasileiros de outras raças, criando nossos filhos, formando nossos jovens? Com que valores?

O crime que marcou o encerramento das comemorações do "Dia do Índio" deve servir para que nossa sociedade venha a questionar de forma mais profunda a herança moral que estamos transmitindo a esses jovens, que se arvoram em senhores da vida dos excluídos. Afirmaram os jovens criminosos mão terem conhecimento que a vítima era um índio. Pensavam que fosse apenas mais um pobre, mais um dos mendigos excluídos de nossa sociedade. Ora, independentemente da cor da pele, da raça, das convicções religiosas, nada justifica tal crime, e muito menos o fato de ser pobre.

O sofrimento e agonia de Galdino vão marcar, para sempre, a nossa consciência e, certamente, serão motivadores dos nossos melhores esforços para trabalharmos pelo fim definitivo da impunidade que corrói a nossa sociedade e tira a autoridade do Estado em prevenir, reprimir e punir os atos anti-sociais.

Precisamos, ainda, além de cuidarmos do aspecto coercitivo indispensável à paz social, atentarmos para a necessidade de construirmos uma nova sociedade. A violência praticada na Capital Federal deve servir de símbolo na luta pela mudança de valores, de valorização do ser humano em toda sua dimensão.

Sr. Presidente, nobres colegas, a indignação e a revolta são tantas que até impedem, neste momento, a análise mais fria deste crime hediondo. Encerro este breve pronunciamento em dúvidas dolorosas: Por quê? Por que tanta violência? Por que tamanho desrespeito à dignidade e à vida humana? Que satisfação pode dar impingir tamanho sofrimento a um ser humano?

À comunidade indígena brasileira, nossa solidariedade e um pedido sincero de desculpas e de perdão pela selvageria praticada, sem motivos, em inconseqüência desumana.

Muito obrigado


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/04/1997 - Página 8295