Discurso no Senado Federal

MORTE DO INDIO PATAXOS GALDINO, EM BRASILIA. MAIOR ATENÇÃO DA FUNAI PARA COM OS INDIOS NO BRASIL.

Autor
Romero Jucá (PFL - Partido da Frente Liberal/RR)
Nome completo: Romero Jucá Filho
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
DIREITOS HUMANOS.:
  • MORTE DO INDIO PATAXOS GALDINO, EM BRASILIA. MAIOR ATENÇÃO DA FUNAI PARA COM OS INDIOS NO BRASIL.
Publicação
Publicação no DSF de 23/04/1997 - Página 8285
Assunto
Outros > DIREITOS HUMANOS.
Indexação
  • CONDENAÇÃO, VIOLENCIA, CRIME, ADOLESCENTE, CLASSE MEDIA, BRASILIA (DF), DISTRITO FEDERAL (DF), PROVOCAÇÃO, FOGO, MORTE, GALDINO JESUS DOS SANTOS, INDIO.
  • COMENTARIO, ENTREVISTA, JORNAL, O GLOBO, ESTADO DO RIO DE JANEIRO (RJ), VERA MORETTI, PROPRIETARIO, HOTEL, ALOJAMENTO, INDIO, DEMONSTRAÇÃO, FALTA, PREPARO, ATENDIMENTO, GRUPO INDIGENA.
  • DEFESA, NECESSIDADE, FUNDAÇÃO NACIONAL DO INDIO (FUNAI), RESPONSABILIDADE, DEMARCAÇÃO, TERRAS INDIGENAS, MELHORIA, ATENDIMENTO, INDIO, SIMULTANEIDADE, CONSCIENTIZAÇÃO, SOCIEDADE, VALORIZAÇÃO, VIDA HUMANA.
  • REGISTRO, ARTIGO DE IMPRENSA, DENUNCIA, GRUPO, SUSPEITO, COLOCAÇÃO, FOGO, MENDIGO.

O SR. ROMERO JUCÁ (PFL-RR. Como Líder. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, serei breve. Quero falar, nesta tarde, não só como Líder, não só como cidadão ou como Senador pelo Estado de Roraima, mas também como ex-Presidente da Funai. Quero tratar do mesmo tema a respeito do qual a Senadora Benedita da Silva e o Senador Valmir Campelo já se pronunciaram.

Minhas primeiras palavras devem ser de condenação pelo ato brutal, pela agressão inominável que sofreu o índio Galdino. Sem dúvida, um ato que depõe contra a humanidade, contra Brasília, contra o Brasil e contra todos nós.

Todavia, quero, Sr. Presidente, enveredar por uma linha de raciocínio que os outros Senadores ainda não entraram.

O ato de agressão ao Galdino demonstra duas vertentes distintas. É preciso mais atenção da Funai com a presença dos índios em Brasília. É preciso mais atenção com a contratação das prestações de serviço para os índios que aqui estão.

Chamo a atenção para uma entrevista publicada, hoje, no O Globo, na sessão "Corpo a Corpo", com a Srª Vera Moretti, dona da pensão onde estava o índio Galdino, que passo a ler:

      "O Globo: O Galdino estava autorizado a dormir aqui?

      VERA MORETTI: A Funai enviou autorização dia 18. Para o Galdino e para outros seis líderes indígenas."

      Portanto, o Galdino estava sob a responsabilidade da Funai.

Mais à frente, O Globo pergunta:

      "O GLOBO: É verdade que a senhora não abriu a porta para ele?

      VERA: "Teve alguém que bateu na porta, mas não era índio e nem eram 3h. Tentaram trazer ele (Galdino) para cá e ele não quis. Estava embriagado. Quando esses pataxós saíram, saiu o bando todo."

Sr. Presidente, já se percebe a forma como os índios são tratados nessa pensão. São chamados de "bandos". Foi dito que o índio estava embriagado. Mais à frente, há fatos mais sérios.

Vem a pergunta:

      "O GLOBO: Como é o relacionamento de vocês aqui na pensão com os índios?

      VERA: Para o índio, a casa da gente é como se fosse uma continuidade da Funai. De modo geral, a gente não pode dizer não. Você não pode dar moleza para eles, senão eles montam. Eles não têm educação. Só sabem comer e dormir. Do mesmo modo que há branco safado e sem-vergonha, muito índio não deveria ser mais índio. Mesmo assim, prefiro trabalhar com índio a trabalhar com branco".

Depois, a pergunta:

      "O GLOBO: A Funai entrou em contato com a senhora?

      VERA: Não. Ninguém quer ser incomodado no fim de semana."

Por fim, O Globo pergunta:

      "O GLOBO: Os índios maltrataram a senhora, depois que o Galdino morreu?

      VERA: Não. Mas acho que os xavantes vão aproveitar da situação para pedir mais comida. Mas eu não dou, não. Vão pedir duré, que significa "mais" na língua deles. Um prato a mais me custaria R$4,00. Só dou o que acho ser um prato de comida suficiente para um ser humano".

Sr. Presidente, nessa curta entrevista, a D. Vera, quem não conheço, demonstra que, no mínimo, não está preparada para atender índios ou tratar da questão indígena. Portanto, espero que a Funai tome providências quanto a isso.

Sr. Presidente, rapidamente quero registrar outra matéria: "Gangue é suspeita de queimar mendigos".

O crime cometido contra o índio Galdino trouxe à público uma outra questão muito grave: queimam mendigos no Brasil - em São Paulo, em Brasília. Meu Deus do céu! Que política de direitos humanos estamos tendo? Que solidariedade humana estamos tendo?

Ao encerrar a minha fala, Sr. Presidente, para não ultrapassar o tempo que me é destinado, quero dizer que, de um lado, a Funai precisa tomar providências para que fatos graves como esse não ocorram novamente. A Funai precisa assumir a sua responsabilidade de demarcar a terra indígena e de cuidar dos índios quando vêm a Brasília chamados para discutir a questão da terra. De outro lado, é preciso fazer um trabalho de conscientização da sociedade não só para os índios, mas também para os desvalidos, para os mais pobres. É preciso dar caráter humanitário à sociedade brasileira, sob pena de, futuramente, essas manchetes em nossos jornais não passarem de "notinhas" na coluna policial.

Precisamos tomar providências e condenar esse crime hediondo. É preciso que a Funai assuma a sua responsabilidade por um lado e, por outro, a sociedade brasileira, chocada com esse ato, se recicle e se repense para recuperar a humanidade com os mais carentes, os mais pobres e desvalidos, que estão a merecer o amparo do Governo e mão amiga da sociedade. Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 23/04/1997 - Página 8285