Discurso no Senado Federal

CONSTERNADO COM A MORTE DO JORNALISTA ALAGOANO JOÃO VICENTE DE FREITAS NETO E DE SUA ESPOSA EM ACIDENTE AEREO, NO ULTIMO SABADO, EM CUBA.

Autor
Guilherme Palmeira (PFL - Partido da Frente Liberal/AL)
Nome completo: Guilherme Gracindo Soares Palmeira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • CONSTERNADO COM A MORTE DO JORNALISTA ALAGOANO JOÃO VICENTE DE FREITAS NETO E DE SUA ESPOSA EM ACIDENTE AEREO, NO ULTIMO SABADO, EM CUBA.
Publicação
Publicação no DSF de 15/07/1997 - Página 13965
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JOÃO VICENTE DE FREITAS NETO, JORNALISTA, ESTADO DE ALAGOAS (AL).

O SR. GUILHERME PALMEIRA (PFL-AL. Para uma comunicação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, quero, lamentavelmente, registrar, profundamente consternado, o falecimento, ocorrido em Cuba, no último sábado, do jornalista alagoano João Vicente de Freitas Neto e de sua esposa Maria das Graças Carvalho de Freitas. O acidente aéreo que lhe tirou a vida tornou-se tão mais trágico quando se sabe que deixou em Havana os seus dois filhos menores, órfãos de pai e de mãe. Tratava-se de um dos mais conceituados profissionais da imprensa alagoana, militante do Partido Comunista, incondicional admirador do regime cubano e profundamente identificado com a ideologia que abraçou como ideal de sua vida.

Muito embora tivéssemos posições e concepções políticas inteiramente antagônicas, jamais deixei de respeitá-lo como profissional, como figura humana e como um homem profundamente íntegro, reto, honesto e coerente. De sua parte, a despeito de nossas divergências, só recebi demonstrações de respeito, carinho e afeto.

Algumas posições de sua vida dão bem a idéia de sua integridade. Foi vereador em Maceió, eleito tanto por amigos que não comungavam com suas idéias, quanto por seus correligionários. Ao fim de um campanha extremamente modesta e idealista, como era a sua marcante personalidade, foi brindado com a vitória que ele mesmo acreditava impossível. E no auge de sua euforia, pediu ao jornalista Cláudio Humberto Rosa e Silva, que o ajudara, que guardasse um segredo que não conseguia conter. E, ante a promessa de sigilo, confessou que não tinha votado nele mesmo, mas sim na sua colega Kátia Born, atual Prefeita de Maceió, que, segundo ele, era mais digna de seu voto que ele mesmo.

Um homem com essa personalidade, Sr. Presidente, é seguramente a representação mais elevada dos ideais éticos de quem abraça uma causa e a ela se devotou.

Registra a Gazeta de Alagoas de domingo que, na véspera da viagem que o vitimou, Freitas Neto trabalhou no fechamento da edição do jornal, como fazia habitualmente. Como todos os colegas de redação sabiam de sua viagem, pois tinha inclusive a pretensão de morar em Cuba, começaram as brincadeiras de sempre, que incluíam, é claro, ataques e provocações ao regime cubano, até a incitação premonitória de seu colega Fernando Araújo, advertindo-o para que tomasse cuidado com os aviões russos, que são velhos e não têm manutenção, ao que Freitas, em sua infinita devoção e bondade, respondeu prontamente: "Morro feliz".

Ninguém poderia imaginar que esse desfecho para uma vida edificante, marcada pela coerência e retidão de caráter, que personificou várias das mais elevadas qualidades humanas. Alagoas inteira o pranteia, Sr. Presidente, pois acima das divergências com suas posições políticas, com o ideal da causa que abraçou e que embalou os seus sonhos de vida, todos - adversários, amigos, correligionários e, suponho, até desafetos, que não acredito que tivesse - reconheciam nele traços de caráter extremamente raros. Era intrinsecamente uma personalidade admirável pelas qualidades que externava com a ternura de um verdadeiro idealista. Foi por duas vezes presidente do Sindicato dos Jornalistas de Alagoas e presidente regional da Federação Nacional dos Jornalistas.

Ao fazer este registro, quero juntar-me à dor de seus filhos, dos familiares e dos amigos e patentear minha admiração pelo grande profissional que ele sempre foi. A família jornalística do meu Estado está de luto, consternada e compungida, pois perde em Freitas Neto não só um símbolo de retidão, mas também um exemplo humano que não podemos deixar de admirar e, neste momento, prantear, com a tristeza que nos inunda a alma e os sentimentos.

Era o que eu tinha a dizer.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/07/1997 - Página 13965