O SR. GILBERTO MIRANDA (PFL-AM. Pronuncia o seguinte discurso) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, venho a esta tribuna expressar minha grata satisfação por constatar que só se tem valorizado e, cada vez mais, nos últimos tempos, o precioso patrimônio institucional brasileiro que é sua diplomacia.

           De fato, a qualidade da diplomacia brasileira vem de uma longa e sólida tradição, de defesa de nossas aspirações, de promoção da harmonia com nossos vizinhos e com nossos parceiros internacionais.

           Nascida com a independência, a diplomacia brasileira é quase duas vezes secular. Sua grande figura--símbolo, seu patrono, o Barão do Rio Branco, serve--lhe de inspiração. De geração em geração, nossos diplomatas interpretam o sentido das mudanças históricas no Brasil e no mundo, e projetam os interesses de nossa sociedade, cada vez mais complexa, na forma das muitas pontes e muitas vias que são nossas relações exteriores, sempre a serviço do País.

           Com talento, profissionalismo e espírito público, a diplomacia brasileira tem sabido responder aos desafios de cada hora histórica, promovendo as mudanças necessárias em sua atuação e usando a nosso favor as oportunidades internacionais. Foi assim, há um século, quando foi assegurada a formidável empreitada da construção de nossas fronteiras, estáveis e seguras, da paz com nossos muitos vizinhos e da credibilidade junto a eles. É assim, hoje, quando o mundo se vai tornando, cada vez mais, algo como um único e compacto continente, e a era da globalização vem sendo enfrentada pela nossa diplomacia com sua tradicional habilidade, com alto nível de percepção das novas realidades e com notável agudeza e dinamismo nas correspondentes novas ações e iniciativas.

           Os diplomatas brasileiros formulam as alternativas de nossa política externa e a executam. É uma política externa, a de hoje, que reflete o Brasil e seus anseios. Que reconhece nossas deficiências, mas também nossos rápidos progressos em todos os setores. Que leva em conta nossa pujança e a renovação do nosso prestígio, que adveio com a estabilização econômica. Que espelha nossa riqueza e diversidade cultural. Não é uma política externa de gabinetes fechados. Atende ao quotidiano das cidades, dos campos, das regiões, dos cidadãos, dos agentes econômicos.

           Nos dias que vivemos, a política externa afeta diretamente a sociedade. Pode--se mesmo dizer: diz respeito ao que se encontra nas prateleiras dos supermercados. E a sociedade deve dela tomar conhecimento, deve acompanhá--la, por meio da opinião pública em geral, da imprensa, do Congresso, das entidades empresariais e sindicais, dos núcleos de estudo especializado das universidades. O Itamaraty tem plena consciência e sensibilidade quanto a esses aspectos inovadores de interação político--social, atua em conformidade com eles, como não pode deixar de ser em uma democracia que se vai afirmando cada vez mais amadurecida.

           O que mais caracteriza a política externa brasileira, atualmente, é a ampla gama de seu alcance, a sua horizontalidade. O Brasil interage com todos os continentes, com todos os blocos, procura ativamente uma grande diversidade de parcerias: regionais, bilaterais, multilaterais. A recém--readquirida credibilidade e confiabilidade do Brasil no cenário internacional, por força de sua evolução interna e por ação da diplomacia brasileira, produz também uma dinâmica de retorno: o Brasil desperta interesse, é procurado para parcerias políticas e econômicas, para investimentos. Tudo isso contribui para nosso desenvolvimento econômico e social.

           Não se pode deixar de lembrar, a propósito, o sucesso e a dinâmica que marcam o Mercosul. O sucesso do Mercosul reforça o prestígio e os ganhos de cada um de seus parceiros e, certamente, realça o prestígio do Brasil. Dos bons resultados do Mercosul derivam uma série de ações diplomáticas positivas, que nossa diplomacia tem sabido muito bem gerir e aprofundar. O Mercosul gera comércio com outras regiões do mundo e fortalece a democracia em nossa região. E, segundo a firme posição do Itamaraty, o Mercosul deverá ser o canal de inserção de seus participantes na futura Área de Livre Comércio das Américas, a ALCA. O estabelecimento da ALCA deverá se dar nos termos definidos por nossa política externa: no ritmo e gradação conveniente aos membros do Mercosul.

           As ações da diplomacia brasileira, a nossa nova realidade interna, tudo isso tem levado, no mundo todo, ao surgimento de uma confiança renovada no Brasil. Isso é fator de acesso do País a mercados diversificados, a novas tecnologias, a investimentos, tudo redundando a favor de nossa prosperidade.

           Nossa diplomacia se apóia em firmes diretrizes, em comunhão com os diversos pólos dinâmicos internacionais: a democracia, a liberdade econômica, os direitos humanos, o desenvolvimento sustentado -- que implica cuidados com o meio ambiente --, a não--proliferação de armas de destruição em massa. Mas a variedade, a agilidade e a habilidade nas ações da diplomacia brasileira, sua capacidade de agir com eficácia, de aproveitar as novas realidades do País e do mundo, devem--se às qualidades tradicionalmente cultivadas nos quadros do Itamaraty: a valorização do mérito, da hierarquia, do senso do dever, do sentido de serviço público, da lealdade e fidelidade ao Brasil.

           Sr. Presidente, de há muito, muito tempo o Itamaraty deixou de ser o "de punhos de renda". Hoje, ele é o Itamaraty de mangas arregaçadas, trabalhando, com afinco e com altos resultados, para o bem do Brasil e para o progresso da sociedade brasileira.

           Muito obrigado.