Discurso no Senado Federal

HOMENAGENS DE PESAR PELO FALECIMENTO DO SENADOR HUMBERTO LUCENA.

Autor
Nabor Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Nabor Teles da Rocha Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGENS DE PESAR PELO FALECIMENTO DO SENADOR HUMBERTO LUCENA.
Aparteantes
Ronaldo Cunha Lima.
Publicação
Publicação no DSF de 15/04/1998 - Página 6420
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, HUMBERTO LUCENA, SENADOR, ESTADO DA PARAIBA (PB), EX PRESIDENTE, CONGRESSO NACIONAL.

O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB-AC. Para encaminhar a votação.) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, as palavras que acabam de ser pronunciadas pelo Senador Ronaldo Cunha Lima a respeito do falecimento do Senador Humberto Lucena, ocorrido ontem, em São Paulo, no Instituto do Coração, traduzem bem o sentimento de todos os seus colegas, seus amigos e, particularmente, de nós do PMDB, seus correligionários e companheiros em tantas jornadas pela democracia e pelas liberdades no País.

Gostaria de aduzir, Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, algumas palavras a respeito desse vitorioso homem público da Paraíba e do Brasil, Humberto Lucena, que, para mim, tem também a dimensão de um grande amigo, com quem tive o privilégio de conviver durante 22 anos.

E é com a mais forte emoção e responsabilidade que - enfocando as suas qualidades de homem público e as virtudes de cidadão digno, leal e positivo - relembrarei alguns fatos, acompanhados por mim, na fecunda vida de Humberto Lucena.

Em 1975, ao chegar a Brasília, eleito Deputado Federal pelo Acre, já encontrei Humberto Lucena na Câmara, representando a Paraíba. Recebemos da Casa apartamentos vizinhos, no mesmo edifício da Super Quadra Norte 302. Eu no apartamento 501, Humberto no 502, iniciamos a convivência fraternal, digamos assim, porque a minha família participava diretamente das reuniões com a família Lucena; nossas filhas saíam juntas. Hoje, mais do que nunca, entendo e fico feliz em rememorar aqueles dias felizes, aquele período tão caloroso e amigo com pessoas tão admiráveis.

Em 1978, por ter sido eleito Senador pela Paraíba, pela primeira vez, Humberto Lucena mudou-se para a 309 Sul, onde o Senado tem os apartamentos funcionais destinados aos seus membros.

Eu próprio, em 1986, fui eleito Senador, depois de ter exercido o mandato de Governador do Estado do Acre - e entre as grandes alegrias do novo mandato estava a expectativa de retomar o convívio com Humberto Lucena, já então reeleito pelo seu querido Estado da Paraíba.

Em 1994, disputei a reeleição, e como disse Ronaldo Cunha Lima, há poucos instantes, Humberto também concorreu mais uma vez ao Senado Federal, para exercer o seu terceiro mandato de Senador. Mas, uma das coisas que pouca gente sabe, Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, é que Humberto Lucena por duas vezes deixou de ser candidato a Governador da Paraíba, pelo PMDB. Sua generosidade e seu desprendimento fizeram-no abrir mão em 1986, para Tarcísio Buriti, e em 1994, para Antonio Mariz, que era seu amigo fraterno, também Senador pelo Estado da Paraíba.

Há três anos, viajei com Humberto para representar o Senado na Assembléia-Geral das Nações Unidas; ali nos hospedamos no mesmo hotel, juntamente com o Senador Lucídio Portella, que também fora designado para a mesma missão. Saíamos, com nossas esposas e filhas, e juntos fazíamos nossas refeições, quase diariamente.

Quando Humberto Lucena foi Presidente do Senado pela segunda vez, tive a honra de também integrar a Mesa, como 2º Secretário. Se eu já possuía uma grande admiração pela sua pessoa, essa cresceu ainda mais, vendo a probidade, a serenidade, a sensibilidade com que agia no trato dos assuntos políticos e administrativos. Como disse o Senador Ronaldo Cunha Lima, S. Exª era um conselheiro, que nos orientava nos momentos de grande dificuldade, e um homem sereno. Essa virtude se mostrou ainda mais sólida e grandiosa quando se viu a campanha infamante que fizeram contra S. Exª, na época em que foi candidato a Senador, em 1994: eu, que freqüentava o seu gabinete constantemente, nunca ouvi do Senador Humberto Lucena qualquer manifestação de revolta ante a sordidez das notas e dos comentários maldosos, nutridos na prevenção e nos preconceitos que o Sul do País, inclusive setores de sua imprensa, tem contra os Parlamentares do Norte e Nordeste do País.

Desde o momento em que soube do falecimento de Humberto Lucena tenho em minha mente uma lição de William Shakespeare, em sua obra Julius Caesar, quando Marco Antônio diz: “O mal que o homem faz sobrevive-lhe - o bem é quase sempre sepultado com seus ossos.”

           Com essa amarga observação, o grande poeta e dramaturgo britânico fala de situações como a de Humberto Lucena, cuja biografia registra momentos gloriosos de coragem, determinação democrática e luta vigorosa contra a ditadura. Ser democrata, hoje, não implica em riscos para ninguém - mas não podemos esquecer: naqueles duros tempos, alguém defender a liberdade significava expor-se à cassação do mandato, à suspensão dos direitos políticos e à mais feroz repressão social, civil e econômica. Pois em quase duas décadas o grande homem público que hoje pranteamos foi um dos mais constantes, firmes e decididos lutadores pelos direitos da cidadania e pelo restabelecimento das franquias democráticas.

           Pobre de quem, sem ter grandeza de caráter e de espírito para ver esses registros positivos na biografia de Humberto Lucena, prende-se a detalhes mesquinhos e distorcidos, de fatos mal expostos à opinião pública. São pessoas que vêem apenas os espinhos das pequenas árvores e jamais conseguem enxergar a floresta inteira, avaliar sua grandeza e sua força.

           Valho-me, neste instante, do depoimento de outro valoroso homem público do Nordeste, nosso ex-Colega, ex-Presidente da Casa, Mauro Benevides, que me pede a apresentação de sua mensagem de pesar ao Senado, ao povo da Paraíba e à família de Humberto Lucena. Não podendo participar desta sessão, em homenagem ao grande paraibano, Mauro Benevides presta-lhe homenagem, nos termos que passo a ler:

O Senador Humberto Lucena.

Durante mais de quatro décadas, Humberto Lucena teve saliente participação na vida política da Paraíba, do Nordeste e do País.

Deputado estadual nos anos 50, projetou-se no cenário nacional por sua vocação para a vida pública, revelando em todas as oportunidades o seu talento, competência e devotamento à causa da democracia.

No antigo MDB, foi um dos mais bravos defensores da normalização político-institucional, fazendo-o sempre com obstinação e destemor a ponto de alçar-se à liderança de sua bancada na Câmara dos Deputados, no salutar entrechoque de autênticos e moderados.

No Senado, em dois mandatos, passou a ser figura estelar, reelegendo-se Presidente daquela Casa e do Congresso, bem assim Líder da Maioria, postos que exerceu com aprumo, clarividência e patriotismo.

Quando mais árduas eram as adversidades, Lucena impunha-se diante de seus pares pela serenidade e determinação, compondo, muitas vezes, tendências antagônicas em nome do inarredável princípio de fortalecimento do Poder Legislativo.

Na Assembléia Nacional Constituinte, ao lado de Ulysses Guimarães, propôs emendas relevantes, inclusive sobre o sistema de governo, patrocinando-as da tribuna em meio a argumentação lúcida e convincente, até transformá-las em dispositivos insertos na Lei Maior de 05 de outubro de 1988.

Ao ser cogitada, durante o debate constituinte, a extinção pura e simples do Senado Federal, Humberto Lucena e Nelson Carneiro, aliaram-se fraternal e ardorosamente para garantir a prevalência da estrutura bicameral entre nós.

No trâmite do caviloso procedimento judicial, intentado para subtrair-lhe o mandato popular, a solidariedade que lhe foi emprestada chegou a comovê-lo em inúmeras ocasiões, reanimando-o para novos embates, diante dos quais sempre se comportou com grandeza e dignidade.

O longo sofrimento a que foi submetido, a partir de 18 de fevereiro, fê-lo legar a Da. Ruth Maria Lucena e seus filhos exemplo edificante de resignação e esperança, bem assim a incontáveis amigos que acompanharam, mesmo à distância, a sua hospitalização em São Paulo, na expectativa de vê-lo superar as sucessivas crises que atingiram a sua saúde combalida.

A Nação perdeu um de seus filhos mais ilustres, identificado com as idéias de intransigente defesa das liberdades públicas.

A Paraíba pranteia o desaparecimento daquele que foi, depois de João Pessoa, José Américo, Argemiro Figueiredo e Ruy Carneiro, um dos seus vultos exponenciais, com extensa folha de serviços prestados ao País.

Todos nós, companheiros de Humberto Lucena, numa convivência vintenária, haveremos de reverenciar sua memória verdadeiramente imperecível.

           Que Deus o guarde!

Mauro Benevides, ex-Presidente do Senado e membro do Conselho Político do PMDB.

Concedo agora um aparte ao Senador Ronaldo Cunha Lima.

O Sr. Ronaldo Cunha Lima (PMDB-PB) - Agradeço a V. Exª, porque cometi uma omissão, fruto da própria emoção com que eu falava. Pedi este instante para transmitir à Casa que entre os subscritores do requerimento de homenagem a Humberto Lucena está o Senador Ney Suassuna, que me pediu que também falasse em seu nome na certeza de que nós dois sempre estivemos juntos sob o comando de Humberto Lucena.

O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB-AC) - Agradeço a V. Exª e, concluindo, Sr. Presidente, desejo manifestar em nome do povo do Acre, em meu nome pessoal, de minha esposa e de meus filhos, as mais sentidas condolências a Dona Ruth Maria Lucena e seus filhos, a todos os seus amigos e parentes e, principalmente, ao povo da Paraíba, por tão irreparável perda.

Muito obrigado.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/04/1998 - Página 6420