Discurso no Senado Federal

COMEMORAÇÃO DOS 80 ANOS DA CRIAÇÃO DO ESTADO ROMENO.

Autor
Mauro Miranda (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Mauro Miranda Soares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • COMEMORAÇÃO DOS 80 ANOS DA CRIAÇÃO DO ESTADO ROMENO.
Publicação
Publicação no DSF de 02/12/1998 - Página 17520
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO, CRIAÇÃO, ESTADO, PAIS ESTRANGEIRO, ROMENIA.

O SR. MAURO MIRANDA (PMDB-GO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, estamos comemorando, neste dia primeiro de dezembro, os 80 anos de constituição do Estado romeno. Ele resultou das mais antigas aspirações de uma pátria até então dividida e refletiu o forte desejo comum de união daqueles povos num só espaço geopolítico. Hoje, a octogenária Romênia impõe-se ao mundo como o "berço da latinidade e da civilização européia".  

As referências que têm sido feitas ao episódio histórico da unificação sugere algumas breves considerações de minha parte, como Presidente do Grupo Parlamentar Brasil-Romênia. E a ocasião é mais do que oportuna, em face da homenagem fraterna que merecem, nesta data especial, o Governo do Presidente Emil Constantinescu e o povo romeno.  

A Romênia é o mercado interno mais forte de todo o Leste Europeu. Com seus 23 milhões de habitantes, é o segundo país mais populoso da região, superado apenas pela Polônia. E contava, em 1996, com um Produto Interno Bruto de US$24 bilhões.  

Devo enfatizar que, durante a XIII Reunião da Comissão Mista Romênia-Brasil, realizada na sede da Federação das Indústrias de São Paulo, as delegações discutiram as reformas econômicas de ambos os países e as perspectivas de desenvolvimento abertas pela legislação sobre investimentos e comércio exterior. Prevaleceu o consenso de que existe uma real possibilidade de cooperação econômica, financeira e comercial nas áreas de infra-estrutura, siderurgia, montagem de tratores, produção de equipamentos elétricos e petroquímica.  

Daí a avaliação do Itamaraty de que "as relações entre o Brasil e a Romênia se caracterizam por apreciável densidade de elos e de afinidades culturais, além de uma cooperação marcante, ao longo de vários anos, tanto no campo político-diplomático como na esfera econômico-comercial". Nossos diplomatas consideram ainda que o relacionamento com a Romênia apresenta "promissoras perspectivas de crescimento e desenvolvimento".  

Vivendo um processo de reestruturação de suas economias, os dois países procuram intensificar as relações de comércio, que registraram um crescimento de trocas em torno de 124%, entre 1994 e 1995, graças à conjugação de esforços de núcleos empresariais brasileiros e romenos na abertura de novas oportunidades de negócios. O Brasil, oferecendo à exportação um elenco de produtos minerais, agrícolas e industrializados de alto teor de valor agregado e alta tecnologia; a Romênia, com seu sólido parque fabril, oferecendo ao consumo externo sobretudo a produção de sua inigualável indústria pesada.  

Com sua posição geográfica estratégica, a Romênia permite acesso a mais de 200 milhões de consumidores em um raio de 1.000 quilômetros. Para o empresariado brasileiro, o comércio com a Romênia é instrumento para a expansão comercial até uma extensa área de novos mercados. Essa faixa vai desde a bacia do Mar Negro e do Danúbio, alcançando o Oriente Médio.  

No plano cultural, a Romênia alcança posição privilegiada como referência para outros povos e para o Brasil. A presença romena deixou-nos marcas indeléveis desde a Semana da Arte Moderna de 1922, tendo significativa participação em nosso projeto de industrialização, a partir do Estado de São Paulo. Tais afinidades foram bem percebidas pelo saudoso Senador Darcy Ribeiro, ao referir-se à nossa "neo-romanidade" como a "Nova Roma" ou a "Roma tardia e tropical".  

Para o inesquecível representante do Estado do Rio de Janeiro, o Brasil, "sendo já a maior das nações neolatinas pela magnitude populacional, começa a sê-lo também por sua criatividade artística e cultural", tão ao gosto do exigente povo romeno. Ele são consumidores ávidos da produção de autores, como Machado de Assis, Jorge Amado, Érico Veríssimo, Clarice Lispector, Orígenes Lessa, Guilherme Figueiredo, José Lins do Rego e tantos outros.  

Em resumo, conforme foi corretamente definido na obra "Convergências Brasil-Romênia – em Busca de uma Romanidade Fértil", o Brasil integra um "dos ramos mais fortes do tronco comum da latinidade", enquanto a Romênia, dentre os membros da família latina, é o país que mantém as melhores tradições culturais e lingüísticas nas raízes da romanidade. Esses valores "se entrelaçam, resistindo a todas as vicissitudes dos impérios e dos regimes políticos, numa afirmação de liberdade criadora".  

De fato, é irrecusável que a arte e a cultura deste século receberam notável contribuição de escritores, artistas, filósofos e dramaturgos romenos, com especial destaque para Ionesco, na dramaturgia; Brancusi, na escultura; Tristan Tzara, na literatura; e Cioran, na filosofia. Eles influenciaram fortemente a vida intelectual européia e da própria civilização ocidental. Essa afinidade de línguas e de cultura entre as duas nações edificou a simpatia que marca as relações mútuas entre os povos de Brasil e Romênia.  

Devemos registrar, finalmente, que as nações se unem por diversas razões, por interesses econômicos compartilhados, por motivações históricas ou, simplesmente, em função de razões de ordem afetiva, surgidas e alimentadas por crescentes demonstrações de mútuo respeito e admiração, que geraram ligações sentimentais plenas e perpétuas. Brasil e Romênia cobrem todo esse vasto universo de motivações nos seus vínculos comuns de amizade.  

Para o Governo romeno, o Brasil é um país do presente, mas sobretudo um país do futuro. Para os nossos amigos, o Brasil inspira sentimentos permanentes de respeito, enquanto o seu povo tem uma nobreza diretamente proporcional ao enorme espaço geográfico que ocupa.  

Como se vê, a admiração dos brasileiros pelo povo romeno não é maior que as múltiplas considerações que nossos amigos nos dedicam. Para eles, nós somos "o maior país de expressão latina do mundo".  

Enfim, brasileiros e romenos somos todos filhos comuns dos mesmos laços de latinidade. Parceiros das mesmas doses e das mesmas qualidades de carinho sincero e generoso, estamos juntos, hoje, para comemorar a unificação do Estado romeno. Temos um imenso patrimônio de solidariedade comum para compensar a nossa distância física. E é com esse espírito de confraternização que encerro as minhas palavras.  

Ao nosso ilustre e querido Presidente Antonio Carlos Magalhães, nossos agradecimentos pela audiência especial que concedeu ao Grupo Parlamentar de Amizade Brasil-Romênia, nesta manhã.  

Era o que eu tinha a dizer, Sr. Presidente.  

Muito obrigado.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 02/12/1998 - Página 17520