Discurso no Senado Federal

REGISTRO DO TRABALHO REALIZADO PELA ASSOCIAÇÃO DOS MUNICIPIOS DO VALE DO RIO DOS BOIS.

Autor
Mauro Miranda (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Mauro Miranda Soares
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • REGISTRO DO TRABALHO REALIZADO PELA ASSOCIAÇÃO DOS MUNICIPIOS DO VALE DO RIO DOS BOIS.
Publicação
Publicação no DSF de 10/03/1999 - Página 4751
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • PROTEÇÃO, MEIO AMBIENTE, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL, EDUCAÇÃO, POPULAÇÃO, AMBITO, ECOLOGIA.
  • IMPORTANCIA, LANÇAMENTO, LIVRO, AUTORIA, SONIA MARIA FRANÇA, HISTORIADOR, ASSUNTO, EDUCAÇÃO, MEIO AMBIENTE.

O SR. MAURO MIRANDA (PMDB-GO) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs.Senadores, a reunião de homens que comungam do mesmo ideal, a ele dedicando o melhor do seu labor e empenho, assim como a ampla divulgação de lições criativas, que intentam resguardar, no presente e no futuro, os recursos naturais, constituem proposições oportunas e valiosas.  

Dessas iniciativas se ocupam, com extremado desvelo, a benemérita Associação dos Municípios do Vale do Rio dos Bois, exemplarmente conduzida pelo Presidente Engell Santos, e a ambientalista Sônia Maria França.  

A entidade reúne os progressistas municípios goianos de Americano do Brasil, Anicuns, Avelinópolis, Bom Jesus, Campestre de Goiás, Castelândia, Cezarina, Edealina, Edéia, Goiatuba, Gouvelândia, Guapó, Inaciolândia, Indiara, Jandaia, Mairipotaba, Maurilândia, Nazário, Palminópolis, Pontalina, Porteirão, Quirinópolis, Santa Bárbara de Goiás, Turvelândia, Varjão, Vicentinópolis e Palmeiras de Goiás, sede da Associação.  

Os seus integrantes adotam a política de proteção ambiental instituída pelo poder público, praticando-a em território de natureza intocada, quase sempre habitado pela população nativa, a guardiã de seu meio. Homens e animais lá coexistem de forma nem sempre pacífica, sem que se desrespeite a preservação das espécies e dos recursos naturais, o próprio patrimônio das gerações vindouras.  

A nascente do Rio dos Bois está localizada no Município de Americano do Brasil, alcançando as suas águas, ao término de seu curso, o Município de Gouvelândia. Afluente do Rio Paranaíba, é tido como "a coluna dorsal da irrigação goiana", constituindo o seu leito o "coração do Estado de Goiás". Segundo estudos recentes da SANEAGO - Saneamento de Goiás, o rio preserva a condição de manancial para o futuro abastecimento de água da Capital e de sua região metropolitana, provavelmente no ano de 2015.  

Não obstante, o Rio dos Bois, destinado a ser "um verdadeiro santuário ecológico", como defende o Presidente Engell Santos, não está imune à "rotina devastadora" e sistemática da natureza, erigindo-se a Associação, nesse caso, em instrumento de defesa e de preservação do meio ambiente, pela ação de um grupo de homens conscientes de sua responsabilidade em face de "uma das regiões mais belas do nosso Estado".  

As ações que vêm sendo desenvolvidas pela Associação, somadas à necessidade de formação de uma consciência de defesa do meio ambiente, de modo especial entre crianças e jovens, inspiraram o lançamento do livro "Educação e Meio Ambiente do Vale do Rio dos Bois", de autoria da educadora e historiadora Sônia Maria França, recebido pelo público e pela crítica como notável contribuição à causa da ecologia.  

Com irretocável introdução do Presidente da entidade, a publicação reúne ensinamentos acerca das relações do homem com o meio ambiente, adotando linguagem sempre agradável e de fácil compreensão, a todos acessível.  

Em tom ameno, como se o texto dialogasse com o leitor até a página final, o livro consigna que a natureza e o homem fazem parte do mesmo universo, advertindo que, com a proximidade do século XXI, deve-se desde já cuidar da formação de uma consciência ecológica, ou de uma consciência de cidadania planetária, porquanto "não é só o Vale do Rio dos Bois que corre perigo, é a Terra toda"!  

Saberá o leitor "tudo o que é importante para a vida ter qualidade", que a existência na Terra corre perigo pela ação de poluentes, que são cada vez mais escassos os recursos hídricos, ameaçando o abastecimento de Goiânia. Isso se deve ao modelo de desenvolvimento em prática, que se tornou insustentável, uma vez que é predatório, destruidor e poluidor da natureza, exigindo a mudança para um desenvolvimento sustentável, capaz de "produzir bens sem destruir e desenvolver sem poluir", como recomenda a Agenda 21.  

Esse documento, produto da Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, de fato defende o desenvolvimento sustentável, a partir da "noção de progresso que animou a modernização no século passado", para que se adote "uma ordem econômica internacional mais justa", que venha a considerar as atuais preocupações ambientais, sociais, culturais e econômicas, ao lado de instituir o combate à miséria humana, "sem repudiar a natureza ou ignorar as especificidades locais".  

Prega, portanto, a educadora Sônia Maria França, que, ao contrário de desmatar, deve-se procurar "produzir mais, na área já desmatada". Dessa forma, aquele que produz 2 ou 3 toneladas de soja por hectare, será capaz de obter uma produção de 4 ou 5 toneladas. Também, ao invés de implantar mais pasto, deve-se optar "pelo aumento do número de cabeças de gado por hectare" ou adotar as técnicas de confinamento.  

Ademais, deve-se encontrar formas alternativas de produção de proteínas, ocupando menor espaço, ou "produzir, em pastagens naturais, o boi verde, ou o boi ecológico, que atualmente está valendo 90 dólares a arroba no mercado europeu", preservando as pastagens da aplicação de drogas químicas que envenenam a terra, as águas e os alimentos", prejudicando a saúde do homem.  

Felizmente, a ação dos ambientalistas começa a mostrar resultados satisfatórios. Muitos proprietários rurais mudaram os métodos de produção, adotando o plantio direto, o que é uma evolução na "maneira de usar o solo". Outros tantos, pesquisam novas alternativas de obter lucros, causando menor impacto no meio ambiente, mediante atividades como a criação de peixes e de animais silvestres, além de explorar o turismo ambiental.  

Com elogiável criatividade, a autora refere-se, em seguida, à assembléia extraordinária da fauna e flora do Vale do Rio dos Bois, realizada no dia 5 de junho de 1998, comemorativo do Dia Internacional do Meio Ambiente, destinada à "avaliação da saúde do rio e do Vale do Rio dos Bois".  

Os seus participantes chegaram às seguintes conclusões: o homem, que seria racional, é o componente mais nocivo do meio ambiente; a poluição das águas, que ele provoca, compromete a vida e a saúde de animais e de seus semelhantes; os agrotóxicos estão destruindo o meio ambiente, causando doenças nos animais e nos homens; o resíduo produzido pelas indústrias, "em nome do desenvolvimento", estão "matando o Rio dos Bois da nascente à foz", aniquilando sua flora e fauna.  

Também as dragas, operando ao longo do seu percurso, prejudicam o seu leito para o lucro de uns poucos e prejuízo do rio, que a todos pertence; a pesca predatória continuada acarreta a extinção dos peixes; o desmatamento continua a destruir a mata ciliar; o assoreamento e as voçorocas no Vale do Rio dos Bois é resultante de "ações irracionais dos ditos racionais, que comandam máquinas e tecnologias em busca do lucro", sem se preocuparem com a herança que vão deixar para os seus descendentes.  

As leis federais de proteção do cerrado, como a das águas e dos crimes ambientais, assim como as leis estaduais da pesca e florestal, "devem ser cumpridas, e não apenas publicadas e lidas"; o homem deve "parar de destruir e poluir" o Vale; os políticos dos municípios devem "cuidar de construir estações e usinas de tratamento de esgoto e de lixo"; e, finalmente, registra que a Associação dos Municípios do Vale do Rio dos Bois, que objetiva a proteção e recuperação do Vale, tem na flora e na fauna do cerrado a motivação para novas ações de preservação desse patrimônio natural do nosso Estado.  

Vale repisar que iniciativas como as aqui apontadas, perseguindo tão alto objetivo, merecem-nos o presente registro de especiais admiração e aplauso, posto que orientadas, no médio e longo prazos, à proteção da natureza, sob constante ameaça de agressões de pessoas insensíveis, movidas por ignorância ou simples maldade.  

Pessoas que desconhecem, sem dúvida, que a preservação da natureza é ingente tarefa, na qual se deve empenhar toda a coletividade. Por isso, o meritório trabalho da Associação dos Municípios do Vale do Rio dos Bois, a que se vem somar a edição do livro "Educação e Meio Ambiente do Vale do Rio dos Bois", de Sônia Maria França, prosperam no sentido de consolidar entre todos o sentimento preservacionista, enfatizando, sobretudo às novas gerações, a necessidade irrecusável de proteger permanentemente as nossas riquezas naturais.  

Era o que tínhamos a dizer.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 10/03/1999 - Página 4751