Discurso no Senado Federal

PREOCUPAÇÃO COM O ARCAISMO DO SISTEMA ADUANEIRO NO BRASIL.

Autor
Carlos Patrocínio (PFL - Partido da Frente Liberal/TO)
Nome completo: Carlos do Patrocinio Silveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA FISCAL.:
  • PREOCUPAÇÃO COM O ARCAISMO DO SISTEMA ADUANEIRO NO BRASIL.
Publicação
Publicação no DSF de 01/04/1999 - Página 7046
Assunto
Outros > POLITICA FISCAL.
Indexação
  • APREENSÃO, ORADOR, DEMORA, DESEMBARAÇO ADUANEIRO, MERCADORIA, DEFESA, NECESSIDADE, MODERNIZAÇÃO, ALFANDEGA.
  • COMENTARIO, PROPOSTA, RUBENS RICUPERO, EX MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DA FAZENDA (MF), SECRETARIO GERAL, ORGANISMO INTERNACIONAL, SIMULTANEIDADE, IMPLANTAÇÃO, PROGRAMA, PAIS, AMERICA DO SUL, PADRONIZAÇÃO, SIMPLIFICAÇÃO, CONTROLE ADUANEIRO, BENEFICIO, MERCADO COMUM DO SUL (MERCOSUL).

O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PFL-TO) - Sr. Presidente, Srªs. e Srs. Senadores, o custo Brasil, que tanto castiga nossa economia, tem componentes que são já bem conhecidos, como o transporte dificultoso e caro, os tributos em cascata e os serviços portuários onerosos. São custos que reduzem a competitividade de nossas mercadorias no comércio internacional, além de encarecê-las também internamente. Os produtos brasileiros, na porta das fábricas e nas porteiras das fazendas, são, muito freqüentemente, os mais competitivos do mundo.  

Nosso problema são os custos que se agregam a seguir e que incidem unicamente em nosso País, dando vantagem indevida a nossos concorrentes.  

Um caso lamentável de componente de custo Brasil, menos conhecido mas não menos nocivo, são as despesas de armazenagem devidas à demora no desembaraço alfandegário para embarque. Sim, a falta de modernização de nossa Alfândega também é um componente do custo Brasil. Ademais, essa lentidão da Alfândega infla, do mesmo modo, as faturas de armazenagem das importações, gravando o custo das mercadorias pagas pelas empresas e pela população.  

Segundo pesquisa do Instituto de Estudos das Operações de comércio Exterior, a Alfândega brasileira detém uma triste liderança mundial quanto à demora para desembaraço de mercadorias. Nossa média geral alcança o inconcebível total de 168 horas, isto é, sete dias, contra 24 horas na Argentina e apenas 6 horas na União Européia. Isso, na média geral de importação e exportação. Quanto à liberação da exportação, embora mais rápida que a importação, a demora ainda é excessiva, leva 72 horas, em média. Ora, três dias para desembaraçar exportação é um acinte para um País que tanto precisa de divisas. Nos países mais industrializados, o controle e fiscalização das exportações e importações é automático, computadorizado, com registro de dados apenas para fins estatísticos. Dados que são fornecidos pelas empresas. No caso de descoberta de fraude quando de posterior fiscalização, as punições são severas: não só multas, mas também suspensão das atividades da empresa envolvida.  

O ex-Embaixador Rubens Ricúpero, em recente visita ao Brasil, externou sua preocupação com o arcaísmo do nosso sistema aduaneiro, em tão forte contraste com o que se vê lá fora, mesmo em nações de desenvolvimento equivalente ao nosso. Rubens Ricúpero, ex-Ministro da Fazenda, passou os últimos quatro anos como Secretário-Geral da UNCTAD - Agência das Nações Unidas para o Comércio e o Desenvolvimento.  

Ele conhece bem as facilidades proporcionadas às empresas em países nossos concorrentes, tão diversas das onerosas deficiências burocráticas nacionais.  

A própria UNCTAD, na década de oitenta, lançou o Programa de Reforma, Modernização e Automação das Alfândegas, já aplicado com sucesso em 75 países. É um programa dirigido a países em desenvolvimento, que reduz o tempo de liberação alfandegária e, assim, reduz custos.  

A UNCTAD, há tempos, ofereceu esse programa ao Brasil, que, no entanto, ainda não se manifestou a respeito.  

Outro programa vitorioso lançado pela UNCTAD é o de rastreamento, por todo um país, de mercadorias importadas. O programa reduz consideravelmente os prejuízos gerados pelo contrabando e pelas fraudes. No Brasil, somente o contrabando paraguaio é estimado em 9 bilhões de dólares, em grande parte realizado via contêineres desembarcados na zona franca paraguaia do Porto de Paranaguá. Trata-se de concessão brasileira ao país vizinho.  

Pois bem, há fortes indícios de que muitos desses contêineres, carregados de toda sorte de mercadoria, jamais chegam a Ciudad del Este, ficam mesmo é pelos desvios de estradas brasileiras.  

Caso fossem adotados esses dois programas informatizados, o de agilização e o de rastreamento, a própria redução da papelada em tramitação burocrática ajudaria a coibir a corrupção. Seriam reduzidos os custos de armazenagem e os prejuízos com o contrabando. Todos os procedimentos de fiscalização aduaneira seriam facilitados, diminuindo a pressão sobre o quadro de servidores, que é reduzido para as dimensões do Brasil.  

Aliás, o Ministro Ricúpero propõe a implantação desses programas simultaneamente em todos os países da América do Sul, carreando grande vantagem para o Mercosul, que, como união aduaneira, se beneficiaria com a padronização e a simplificação.  

Para se ter uma idéia de como é relevante a questão dos procedimentos alfandegários, veja-se o seguinte: na segunda reunião do comitê de preparação da Área de Livre Comércio da América – ALCA, realizada em dezembro próximo passado no Suriname, foram propostas 217 medidas; pois bem, desse total, 51 eram relativas a prioridades de procedimentos alfandegários.  

O Ministro Celso Lafer, do Desenvolvimento, pasta recém-criada, conhece muito bem o ambiente do comércio internacional e os programas da UNCTAD e suas implicações para nossa economia. Temos esperança de que ele dê apoio eficaz às sugestões de Rubens Ricúpero.  

De resto, apelamos a nossas autoridades fazendárias, para que estejam sensíveis a esse custo Brasil que nos é tão nocivo e que adotem, em prazo breve, os remédios para essas desnecessárias patologias em nosso comércio exterior. Modernize-se já a nossa Alfândega.  

Muito obrigado.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/04/1999 - Página 7046