Discurso no Senado Federal

INDIGNAÇÃO COM A DEVASTAÇÃO DA AMAZONIA, A PROPOSITO DA EXCELENTE MATERIA DA REVISTA VEJA DESTA SEMANA, INTITULADA 'O MASSACRE DA MOTO-SERRA'. (COMO LIDER)

Autor
Marina Silva (PT - Partido dos Trabalhadores/AC)
Nome completo: Maria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • INDIGNAÇÃO COM A DEVASTAÇÃO DA AMAZONIA, A PROPOSITO DA EXCELENTE MATERIA DA REVISTA VEJA DESTA SEMANA, INTITULADA 'O MASSACRE DA MOTO-SERRA'. (COMO LIDER)
Publicação
Publicação no DSF de 06/04/1999 - Página 7287
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • COMENTARIO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DENUNCIA, SUPERIORIDADE, DESMATAMENTO, REGIÃO AMAZONICA, EXISTENCIA, TRABALHADOR, REGIME, ESCRAVATURA, ESTADO DO PARA (PA).
  • APREENSÃO, EFEITO, PECUARIA, EXPLORAÇÃO, MADEIRA, DESTRUIÇÃO, REGIÃO AMAZONICA, FALTA, CRIAÇÃO, EMPREGO.
  • SUGESTÃO, REUNIÃO, MINISTRO DE ESTADO, MINISTERIO DO MEIO AMBIENTE (MMA), AUTORIDADE, REGIÃO AMAZONICA, DEFESA, DESENVOLVIMENTO SUSTENTAVEL.

A SRª MARINA SILVA (Bloco-PT/AC. Como Líder. Sem revisão da oradora.) - Sr. Presidente, há algo de extrema relevância para mim, que é a matéria de capa da Veja, na qual podemos sentir a tristeza dos massacre que está sendo feito pelas motosserras e por pessoas inescrupulosas em nome de um progresso que não se sabe a quem serve.

Dão-nos vergonha os números catastróficos, como, por exemplo, 270 quilômetros quadrados na Amazônia, equivalentes a 32.700 campos de futebol.

O interessante da matéria da revista Veja é que apresentam um ranking perverso: os dez maiores desmatadores da Amazônia. E poderia citar os nomes de três deles, os primeiros dessa famigerada corrida pela devastação de uma região tão fantástica, rica e bela. O primeiro deles, com 3.524ha de área desmatada, é o Sr. Emilio Zamproni; o segundo lugar, no sul do Pará - terra de V. Exª, Senador que agora preside os trabalhos -, o Sr. Canrobert Domingos da Costa, com 2.770ha e, em terceiro lugar, Sadi Bortolotti, com 2.724ha de área desmatada. Assim, vamos até o décimo lugar, que é do Sr. Loinir Gatto, com 2.400ha de área desmatada.

Sr. Presidente, para mim isso é motivo de indignação. A matéria feita pela revista Veja é excelente. Devo registrar que foi realizada pelos jornalistas Alexandre Mansur e Klester Cavalcanti. A reportagem nos mostra que, nessa mesma região, existe um contingente, principalmente na área do sul do Pará, de 850 trabalhadores vivendo em regime de escravidão e de semi-escravidão, segundo dados do Ministério do Trabalho.

É uma matéria que escandaliza aqueles que têm preocupação ambiental, aqueles que têm preocupações sociais e, acima de tudo, aquelas pessoas que procuram fazer do desenvolvimento um meio de dar resposta aos problemas econômicos e sociais de uma região tão vasta, que corresponde a mais de 50% do nosso território, com 20 milhões de habitantes.

Estou fazendo um breve registro para que já fique nos Anais da Casa hoje, nesta segunda-feira, um pronunciamento de protesto com relação a essa triste notícia que temos estampada para o Brasil inteiro. Conhecemos a realidade da Amazônia e sua face não oculta, porque ela é visível, porque ela é vista por todos aqueles que acompanham o problema do desmatamento na nossa região. Trata-se de pessoas em atividades de pecuária e de exploração madeireira. Se perguntarmos qual é o progresso que, de fato, tem trazido para a nossa região esse tipo de atividade produtiva, posso responder sem sombra de dúvidas que é muito pouco, para ser generosa. Digo isso porque a mão-de-obra ocupada por uma grande fazenda é infinitamente menor a que era ocupada na época do extrativismo por milhares e milhares de famílias. A mão-de-obra ocupada na exploração irregular de madeira, sem licença, sem manejo florestal, é sazonal e acaba com o tempo, quando são destruídas espécies nobres, quando a floresta fica empobrecida, completamente à deriva de todo e qualquer tipo de abuso, principalmente de acontecimentos catastróficos, como é o caso dos incêndios.

Amanhã estarei fazendo um pronunciamento sobre esse aspecto. Já havia preparado um discurso para tratar de assuntos relativos à portaria do Ministério do Meio Ambiente, que proíbe qualquer tipo de desmatamento, no prazo de 120 dias. A partir dessa portaria, por sugestão minha e de outros Srs. Deputados, Senadores e entidades representativas de Organizações Não-Governamentais, sugerimos ao Ministro que fizesse uma reunião, para discutirmos uma agenda positiva na Amazônia, no sentido de que não fôssemos apenas pelo lado do que não pode ser, mas do como deve ser, como tem dito reiteradas vezes o Governador Jorge Viana.

Então, essa matéria da revista Veja só vem reforçar aquilo que já estamos defendendo, que é o desenvolvimento econômico e sustentável para a região, o zoneamento ecológico e econômico, que, graças a Deus, já está sendo realizado no Estado do Acre e, com certeza, no Estado do Amapá, com o Governador Capiberibe. Se não tivermos cuidado, em 50 anos a Amazônia poderá já estar vivendo as agruras de uma fase terminal. Todos sabemos que a Amazônia é uma floresta senil, que não tem capacidade de se reproduzir, de se refazer ao ser exterminada. Sua cobertura vegetal original não se refaz com a mesma exuberância, com a mesma condição, principalmente no que se refere à diversificação de espécies. O que surge ali é uma capoeira de terceira classe, que não conta com as mesmas condições do ecossistema que foi devastado.

A publicação dessa matéria, como já disse anteriormente, vem em um momento oportuno para que nesta Casa possamos discutir questões como essa.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 06/04/1999 - Página 7287