Discurso no Senado Federal

VOTO DE PESAR PELO FALECIMENTO DO EX-SENADOR BEZERRA NETO.

Autor
Carlos Bezerra (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/MT)
Nome completo: Carlos Gomes Bezerra
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • VOTO DE PESAR PELO FALECIMENTO DO EX-SENADOR BEZERRA NETO.
Aparteantes
Lúcio Alcântara.
Publicação
Publicação no DSF de 27/05/1999 - Página 13080
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, BEZERRA NETO, EX SENADOR, ESTADO DE MATO GROSSO (MT).

O SR. CARLOS BEZERRA (PMDB-MT. Para encaminhar a votação. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, faleceu na noite de ontem o ex-Senador da República Vicente Bezerra Neto, um cearense emérito, que foi para Mato Grosso ainda jovem, recém-formado em Direito, em busca de exercer a sua profissão em Mato Grosso.

A sua morte consterna a sociedade mato-grossense e o vazio que nos assola a alma não há de ser preenchido de forma alguma. Todavia, o Senador Vicente Bezerra Neto lega, para a sociedade mato-grossense e para a Pátria, exemplo forte de dignidade pessoal e honradez; exemplo forte de um homem que, nas funções públicas que exerceu, teve como finalidade única promover o bem comum.

Fica o exemplo de pai carinhoso e extremado de amor pela esposa, filhos, netos e genros; fica o exemplo de advogado que, até os 89 anos, lutou não pela aplicação do Direito, mas pela aplicação da Justiça.

Foi escritor emérito, tendo publicado diversas obras monográficas, dentre as quais destaco a obra jurídica “O Estrangeiro nas Leis do Brasil”, além de ter sido emérito conferencista de temas jurídicos.

Vicente Bezerra Neto, nos idos de 1940, fundava o PTB no meu Estado e militou nesse Partido - pelo qual se elegeu Deputado Estadual Constituinte -, fazendo dele um instrumento de transformação da sociedade, defendendo princípios de democracia e de cidadania, quando o País caminhava pelas trevas do obscurantismo e da negação dos direitos públicos do cidadão.

Com a extinção dos partidos por ato da quartelada militar de 64, não hesitou, em nenhum momento, em fundar o MDB, pelo qual foi Senador da República. Aqui no Senado, encantou a todos com sua personalidade: homem simples, modesto, sem pretensões pessoais, registrou sua presença nas comissões técnicas, destacando-se em plenário.

Em síntese, Mato Grosso, consternado, verifica a morte de um homem extremamente sério.

Vicente Bezerra Neto nunca se rendeu ao culto das homenagens fáceis; era firme, sem transigir, quando se tratava de interesse da Pátria.

Em nome do Senado da República e em nome do PMDB, Partido que Vicente Bezerra Neto construiu e presidiu em Mato Grosso por largo tempo, presto à família enlutada os nossos sentimentos de pesar e, permitam-se, como última homenagem a esse patriota cujo valor moral e cujas virtudes transbordam as raias da compreensão humana.

O Sr. Lúcio Alcântara (PSDB-CE) - V. Exª me permite um aparte, Senador Carlos Bezerra?

O SR. CARLOS BEZERRA (PMDB-MT) - Com prazer, Senador Lúcio Alcântara.

O Sr. Lúcio Alcântara (PSDB-CE) - Eu apenas quero me associar ao pronunciamento de V. Exª, pois, embora não tivesse privado com o Senador Bezerra Neto, ele foi contemporâneo do meu pai aqui no Senado - foram Senadores juntos. Além disso, ele era cearense, como V. Exª fez questão de assinalar ao iniciar o seu pronunciamento, e pertence a uma família que tem muitas ligações políticas e pessoais conosco. De forma que o que posso fazer, agora, como cearense, é trazer também a minha voz para associá-la à de V. Exª e render esse preito, essa homenagem, àquele que, aqui nesta Casa, representou o Estado de Mato Grosso. Salvo engano, ele era de Lavras da Mangabeira....

O SR. CARLOS BEZERRA (PMDB-MT) - Ele era de Lavras da Mangabeira.

O Sr. Lúcio Alcântara (PSDB-CE) - Exatamente, V. Exª confirma. Ele era de uma família tradicional de uma das mais antigas cidades do Ceará, de sorte que essa dor não deve ser - e certamente não é -, por maior que seja, apenas do povo de Mato Grosso: o Ceará também participa desse tributo no momento em que ele nos deixa. Muito obrigado.

O SR. CARLOS BEZERRA (PMDB-MT) - Agradeço o aparte de V. Exª, Senador Lúcio Alcântara.

Na minha vida, quando jovem, dois homens influenciaram decisivamente o meu caminhar político. O primeiro deles foi Getúlio Vargas. Tornei-me trabalhista ainda guri, admirador de Getúlio Vargas, e passei a ler Alberto Pasqualini e as suas obras sobre o socialismo brasileiro. Lá em Mato Grosso, outra figura muito importante para mim foi o Senador Vicente Bezerra Neto, Líder do Partido Trabalhista Brasileiro em nosso Estado. Tornei-me trabalhista e a minha primeira militância foi na Mocidade Trabalhista do PTB de Vargas, lá no meu Estado.

Bezerra Neto foi uma das pessoas que passou por toda a vida sem se prostituir, sem denegrir a sua imagem. Do mesmo modo como eu o conheci, há muitos e muitos anos atrás, ele morreu: honrado, um homem de bem, um homem idealista, um homem que serve como paradigma para a nossa sociedade. Hoje, infelizmente, existem poucos assim. Um homem que nunca vacilou politicamente, um homem que nunca mudou de partido, só saiu do PTB para fundar o MDB porque a ditadura extinguiu o PTB de Vargas, numa época em que ele era Senador. E, juntamente com um punhado de idealistas brasileiros, foi fundar o MDB. Com o Senador Oscar Passos, do Acre; com Ulysses Guimarães, com Pedroso Horta e tantos outros, ele foi fundar o MDB, do qual foi o primeiro Presidente em Mato Grosso.

A minha primeira candidatura a Deputado, em 1970, teve a influência decisiva dele, que chegou na minha cidade querendo lançar um candidato a Deputado pelo MDB e o Partido não tinha nenhum. E ele perguntou ao pessoal: “O Carlos Bezerra não está aí?” Responderam: “Está, mas está recém-chegado”. E ele falou: “Por que não lançam a candidatura dele, então?” E ele foi, com o grupo do Diretório, ao meu escritório de advocacia, insistir numa candidatura minha a Deputado. Eu, que estava recém-chegado na cidade, disse: “Olha, Senador, é difícil para mim, porque vim para cá ganhar a vida. Tenho família. Não conheço praticamente ninguém”. Mas terminei sendo candidato a Deputado pela influência dele. Pela força que ele exercia sobre a minha pessoa, abdiquei de tudo e fui ser candidato a Deputado Estadual. Foi a minha primeira candidatura lá em Mato Grosso.

Mas Bezerra Neto era o Presidente de Honra do PMDB de Mato Grosso. Era figura de destaque em todas as reuniões do Partido, em todas as convenções. Nunca deixou de participar sequer de um ato do Partido, estando presente em todos.

De modo que fazemos esta homenagem aqui não somente em meu nome, mas em nome de todo o PMDB de Mato Grosso e do Brasil, como também de toda a sociedade mato-grossense.

Muito obrigado, Sr. Presidente.


Este texto não substitui o publicado no DSF de 27/05/1999 - Página 13080