Discurso no Senado Federal

SATISFAÇÃO COM A DECISÃO DO REITOR DA USP, SR. JACQUES MARCOVITCH, EM PROIBIR OS 'TROTES' NAQUELA UNIVERSIDADE. ADMIRAÇÃO AO GESTO DE ESTUDANTES VETERANOS DA UNB, QUE SUBSTITUIRAM OS 'TROTES' POR TRABALHO SOCIAL E PRESTAÇÃO DE SERVIÇO A POPULAÇÃO.

Autor
Carlos Patrocínio (PFL - Partido da Frente Liberal/TO)
Nome completo: Carlos do Patrocinio Silveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
ENSINO SUPERIOR.:
  • SATISFAÇÃO COM A DECISÃO DO REITOR DA USP, SR. JACQUES MARCOVITCH, EM PROIBIR OS 'TROTES' NAQUELA UNIVERSIDADE. ADMIRAÇÃO AO GESTO DE ESTUDANTES VETERANOS DA UNB, QUE SUBSTITUIRAM OS 'TROTES' POR TRABALHO SOCIAL E PRESTAÇÃO DE SERVIÇO A POPULAÇÃO.
Publicação
Publicação no DSF de 12/06/1999 - Página 15191
Assunto
Outros > ENSINO SUPERIOR.
Indexação
  • ELOGIO, DECISÃO, JACQUES MARCOVITH, REITOR, UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO (USP), PROIBIÇÃO, VIOLENCIA, RECEPÇÃO, ESTUDANTE, INGRESSO, UNIVERSIDADE.
  • SAUDAÇÃO, DECISÃO, ESTUDANTE, UNIVERSIDADE DE BRASILIA (UNB), SUBSTITUIÇÃO, VIOLENCIA, RECEPÇÃO, ALUNO, INGRESSO, UNIVERSIDADE, TRABALHO, ASSISTENCIA SOCIAL, PRESTAÇÃO DE SERVIÇO, POPULAÇÃO CARENTE.

O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PFL-TO) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, alguns dos ilustres colegas se manifestaram, nas últimas semanas, contra a violência nas escolas. Também eu registrei minha apreensão com a impropriedade de algumas brincadeiras juvenis, como os tradicionais "trotes" universitários, assim como o porte e a manipulação de armas por menores.  

Relatei-lhes o ocorrido na Universidade do Rio de Janeiro, na manhã do dia 28 de abril passado, quando alunos dos cursos de Economia e de Administração foram atingidos por 200 futuros engenheiros, armados com bombas artesanais e pedaços de ferro. Apesar das testemunhas – estudantes, funcionários e professores –, os organizadores do "trote" alegaram não ter ocorrido violência.  

Essa alegação é a tônica, mesmo nos casos que resultaram em acidentes graves ou morte. O silêncio atemorizado dos demais estudantes, embora compreensível, não facilita a punição dos prováveis culpados. Impunes e acobertados pelo sigilo, alunos mais velhos e desajustados continuarão satisfazendo as próprias tendências sádicas.  

Desejo, portanto, louvar a decisão firme do Reitor Jacques Marcovitch, da Universidade de São Paulo. Foi naquela instituição que o "calouro" do curso de Medicina, Edison Tsung, morreu afogado aos 22 anos. Os promotores responsáveis pelo caso não têm dúvidas de que o jovem foi assassinado durante um trote violento – hipótese também considerada pela direção da faculdade.  

Enquanto aguarda a identificação e a punição dos culpados – o que pode demorar alguns anos –, o reitor da USP decidiu tomar as providências que lhe competem, ou seja, nos aspectos administrativo e pedagógico. Resumindo, nobres Colegas, o Reitor da USP assinou, na primeira semana deste mês de maio, portaria que proíbe a prática de trotes na recepção aos novos alunos.  

Como qualquer determinação coercitiva só é respeitada quando se determina a punição correspondente, o aluno que desobedecer à ordem do Reitor poderá ser suspenso ou expulso daquela instituição de ensino superior.  

Não é uma atitude simpática, a do Professor Marcovitch; mas sim uma decisão firme e necessária.  

Vozes se levantarão contra a portaria que impede a realização desses eventos universitários tradicionais que, com o passar das gerações, degeneraram em selvageria. Mas está correta a atitude do Reitor, já que o objetivo daquela decisão é proteger a comunidade discente dos abusos da minoria agressiva e descontrolada.  

Não podemos esquecer que os universitários de hoje representam a futura camada dirigente, tanto no setor público quando no âmbito privado, deste País. Espera-se que, além de conhecimentos, técnicas e habilidades, possuam, também, hábitos saudáveis, princípios e valores, para que possam exercer corretamente a cidadania, nas funções e papéis sociais que desempenharem, após formados.  

Se os princípios cristãos lhes são desconhecidos; se a divina diretriz do "Amai ao próximo como a si mesmos" lhes parece ultrapassada e piegas, pelo menos respeitem as disposições constitucionais, que têm, como um dos seus pilares, a dignidade da pessoa humana. É o mínimo que a sociedade pode esperar de seus futuros dirigentes.  

Sr. Presidente, é necessário, é urgente que a nação brasileira ressuscite os valores morais, esquecidos ao longo das décadas. A ética, a moral e a religião não são inimigas do desenvolvimento de um povo. Ao contrário, ilustres Senadores, a cultura da esperteza e o famoso "jeitinho brasileiro" têm levado o cidadão a descrer das nossas instituições – e com toda a razão.  

Entretanto, nobres Colegas, não basta apurar responsabilidades, punir aqueles que se locupletam; que prevaricam; que utilizam a inteligência e o conhecimento apenas em benefício próprio; que desviam verbas; que se apropriam de recursos públicos; que prejudicam o povo e a Nação.  

É necessário punir todos os que agem dessa forma. Porém, Sr. Presidente, é importante zelar pelas gerações mais novas, para que a esperteza e a vontade de levar vantagem em tudo não encaminhem os nossos jovens na trilha da corrupção.  

Alguns talvez considerem que eu exagero, porém, nobres Colegas, os que não respeitam a integridade e a vida dos seus iguais saberão respeitar e preservar os bens públicos, as verbas públicas? Estarão à altura de lutar pelos direitos e garantias do povo brasileiro?  

Preocupam-me a ausência de valores da nossa população, o declínio da fé e a decadência dos costumes.  

Assistimos, com desgosto, à falência moral de homens ilustres e temos motivos de sobra para temer a influência desse final-de-milênio sobre a mentalidade dos nossos jovens. Por isso, congratulo-me com o Reitor da Universidade de São Paulo, por sua firmeza e responsabilidade.  

Foi, portanto, com grande satisfação que li a matéria do Jornal de Brasília, do dia 17 de maio passado, intitulada "Uma recepção diferente na UnB", segundo a qual veteranos daquela instituição substituíram os tradicionais trotes violentos por trabalho social e prestação de serviços à população.  

O chamado "Trote Cidadão" surgiu em São Paulo, em 1998, e aos poucos está se espalhando pelo Brasil. Agora chegou a vez desta Capital. No próximo dia 29, cada veterano adotará um calouro e irão juntos desenvolver atividades sociais relativas ao respectivo curso, junto à população da Vila Planalto. Participarão do "Trote Cidadão" os estudantes da Universidade de Brasília, dos cursos de Medicina, Odontologia, Nutrição, Enfermagem, Farmácia, Administração, Engenharia Elétrica e Ciências da Computação.  

Sr. Presidente, quero externar minha admiração não só aos alunos da UnB, mas a todos os estudantes brasileiros capazes de canalizar sua criatividade, inteligência e energia para o atendimento à comunidade, especialmente às camadas mais carentes.  

É hora de impedir os desmandos, os abusos, a impunidade. É hora de erradicar as ervas daninhas; de semear as boas sementes e cuidar do seu crescimento, para que, em breve tempo, o povo brasileiro, ordeiro e trabalhador, se lembre da violência e da corrupção como males sociais extintos no final do século XX.  

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 12/06/1999 - Página 15191