Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM A MEMORIA DO REVERENDO JAIME WRIGHT.

Autor
Paulo Hartung (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/ES)
Nome completo: Paulo César Hartung Gomes
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM A MEMORIA DO REVERENDO JAIME WRIGHT.
Publicação
Publicação no DSF de 15/06/1999 - Página 15267
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, JAIME WRIGHT, PASTOR, ELOGIO, ATUAÇÃO, IGREJA.

O SR. PAULO HARTUNG (PSDB-ES) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, na semana passada, tive a honra de entregar à viúva do saudoso reverendo Jaime Wright, Dona Alma Wright, o certificado Mérito-Cidadão. Um diploma que o Legislativo Municipal oferece às pessoas que se destacam na construção da cidadania e da justiça social. Hoje, quero deixar registrado, nos anais desta Casa, uma parte da história de vida desse homem que tanto lutou pela garantia dos direitos humanos no Brasil. Uma história que tem muito a ver com a minha própria história de vida.  

Paranaense da cidade de Curitiba, Jaime Wright era filho de norte-americanos. Brilhante aluno, formou-se em Administração na Universidade de Ozarks, nos Estados Unidos, e foi seminarista em Princeton. Na faculdade, conheceu Alma Cole, com quem se casou e teve cinco filhos. Em 1950, recebeu o ministério de pastor presbiteriano. Foi o início de um dedicado trabalho em defesa da democracia e da justiça social. Ele começou como diretor do Colégio Instituto Ponte Nova, em Itacira, na Bahia, onde atuou por dez anos. Nos sete anos posteriores, foi secretário-executivo da Missão Brasil Central, em São Paulo. Depois, passou mais sete anos como pastor em Caetité, na Bahia.  

Educador, administrador, jornalista, executivo e líder nas áreas de relações ecumênicas, o reverendo Jaime Wright era um incansável soldado na luta pelos direitos humanos. Em Caetité, denunciou a existência de corrupção fiscal na Bahia. De São Paulo, escrevia – sob o pseudônimo Roberto Barbosa - artigos para periódicos no exterior, denunciando as injustiças sociais que estavam acontecendo no Brasil.  

Em 1973, quando a Coordenadoria Ecumênica de Serviço (CESE) foi organizada, o pastor Jaime Wright foi escolhido para elaborar o projeto que resultou na publicação de 1.800 exemplares da edição ecumênica da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Nessa época, ajudou a organizar, no Rio e em São Paulo, a estrutura de apoio aos refugiados políticos vindos do Uruguai, Argentina, Chile, Paraguai e Bolívia. E, ao lado de Jan Rocha e Luiz Eduardo Greenhalgh, fundou o Comitê de Defesa dos Direitos Humanos nos Países do Cone Sul.  

Foi também em 1973 que o pastor Jaime Wright se aproximou da Igreja Católica. Em setembro daquele ano, tentando descobrir o paradeiro de seu irmão, deputado Paulo Wright, que - como um dos fundadores do grupo de esquerda Ação Popular – havia sido cassado, preso e estava desaparecido, ele conheceu aquele que viria a se tornar um de seus grandes aliados na luta em defesa dos direitos humanos: o cardeal arcebispo de São Paulo, Dom Paulo Evaristo Arns.  

Em setembro daquele ano, ao lado de dom Paulo Evaristo Arns e do rabino Henry Sobel, o pastor Jaime Wright participou do "Culto Proibido", em memória a Wladimir Herzog. Em 1977, ajudou a formar o "Movimento Justiça e Libertação", que reuniu 20 mil entidades laicas de São Paulo. Dessa articulação surgiu o documento "Pela Justiça e Libertação".  

Juntos, o pastor Jaime Wright e dom Paulo Evaristo organizaram um dossiê baseado em processos dos tribunais militares contra os opositores do regime. Com mais de mil páginas, o relatório continha 700 depoimentos de presos que foram vítimas de tortura. O documento deu origem ao livro "Brasil Nunca Mais", que chegou às livrarias em julho de 1985, quatro meses depois de o general João Batista Figueiredo ter deixado o Governo.  

Com prefácio de dom João Evaristo, o livro vendeu, em pouco tempo, 200 mil exemplares. O reverendo Wright, que coordenou a pesquisa, traduziu a obra para o inglês, editando o "Torture in Brazil". Jaime Wright encontrou provas da morte de seu irmão nos documentos que pesquisou, mas nenhuma pista sobre seu corpo.  

Em 1993, Jaime Wright se aposentou como pastor. Mas não encerrou seu trabalho em defesa dos direitos humanos. Morando em Vitória, continuou participando de várias entidades ecumênicas e de solidariedade. Até o último dia 29 de maio, quando morreu - vítima de um infarto – ele era presidente da Fundação Samuel, em São Paulo, e do Instituto Pró-Vida, do Rio de Janeiro, e estava ajudando escrever a biografia do cardeal Paulo Evaristo Arns.  

Com esse pronunciamento, quero prestar uma sincera homenagem a esse homem que tanto lutou contra a opressão e que dedicou sua vida à defesa da democracia e da garantia dos direitos humanos. Nesse momento quero me solidarizar com dona Alma e seus filhos, Anita, Débora, Sílvia, Sônia e Nelson, e registrar que todos nós, que acreditamos e lutamos por um futuro melhor para o país, sentimos profundamente essa perda.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 15/06/1999 - Página 15267