Discurso no Senado Federal

TRANSCURSO DO PRIMEIRO ANO DO FALECIMENTO DO CANTOR LEANDRO.

Autor
Maguito Vilela (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Luiz Alberto Maguito Vilela
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • TRANSCURSO DO PRIMEIRO ANO DO FALECIMENTO DO CANTOR LEANDRO.
Aparteantes
Eduardo Suplicy.
Publicação
Publicação no DSF de 24/06/1999 - Página 16189
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, LEANDRO, CANTOR, ESTADO DE GOIAS (GO).

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB-GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em primeiro lugar, eu gostaria de fazer um agradecimento ao eminente Senador Luiz Otávio, do rico e próspero Estado do Pará, que, gentilmente, cedeu o seu espaço para que eu pudesse fazer uso da palavra neste momento. Ontem, tentei fazê-lo, mas, em função da Ordem do Dia, não me foi possível. Hoje, graças à sua generosidade, terei essa oportunidade.  

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, não é apenas a condição de Senador da República que me traz hoje a esta tribuna. A ela me conduz a condição de goiano e de brasileiro, que, durante alguns anos, pôde embalar emoções e sentimentos por meio das canções do eterno e saudoso cantor Leandro, da dupla Leandro e Leonardo, falecido em 23 de junho do ano passado. Hoje, completa-se um ano do seu falecimento.  

Falo com orgulho, com admiração; falo como o conterrâneo que teve a felicidade de acompanhar toda a sua difícil, mas gloriosa trajetória. Falo como amigo, com todo o ímpeto e vigor de minha voz, para homenageá-lo e para unir-me à sua família e à sua incontável legião de fãs, que, com toda a razão, ainda hoje choram e lamentam a sua triste e precoce partida.  

Mas falo também com a alegria de quem vê seu irmão Leonardo seguindo o seu destino, embalado pelo impulso dado pelo próprio Leandro, que, em seus momentos finais, praticamente implorou para que desse seqüência ao que ambos construíram com tanta dificuldade. Leonardo continua brilhando nos palcos, cantando por ele e por Leandro; cantando por Goiás e para Goiás; cantando pelo Brasil e para o Brasil.  

As Srªs e os Srs. haverão de perdoar-me pela digressão sentimental deste pronunciamento. Mas não há como falar de um grande amigo que se foi e que, em vida, fez de sua missão traduzir e embalar as emoções populares, senão com o coração.  

Há exatamente um ano, morria, em São Paulo, esse que continuará sendo sempre um dos maiores ícones da música brasileira. Todos ainda se lembram da verdadeira comoção que se abateu sobre o Brasil, num momento só comparável àquele em que havíamos perdido duas figuras também inesquecíveis: Tancredo Neves e Ayrton Senna.  

E não era para menos. Parentes, amigos, fãs, todos se surpreenderam e se chocaram com a repentina e virulenta doença que se abateu sobre Leandro. Um câncer raríssimo, que nem os mais revolucionários avanços obtidos pela medicina foram capazes de combater.  

Da trágica descoberta do tumor ao falecimento de Leandro foram menos de dois meses. Um tempo de uma angústia dolorosa, vivido dia a dia, hora a hora, minuto a minuto. Dias de uma espera triste e sufocante, mas alimentados pela esperança de multidões que se aglomeravam nas proximidades do Hospital São Luís, em São Paulo, embalando a fé num apelo emocionado aos céus pela recuperação do ídolo.  

Pequenas multidões transformaram-se em gigantescas multidões após o inevitável passamento de Leandro. Mais de 30 mil no velório em São Paulo. Quase 100 mil velando o corpo em Goiânia. Milhares correndo atrás do cortejo, que o levou ao sepultamento no cemitério Jardim das Palmeiras, até hoje ponto de encontro de milhões de fãs que dia a dia ainda acorrem até lá para prestar suas homenagens a ele.  

De onde vinha tanta comoção? Por que tantas pessoas choraram aquele rapaz com jeito tímido, simples e humilde, forjado nas lides do interior do Brasil? Por que tantas lágrimas? Perguntas que só faziam sentido para aqueles que não o conheciam ou não tinham acompanhado sua trajetória de verdadeiro tradutor, de intérprete de emoções. Sim, porque essa era a sua marca: um tradutor, um intérprete das emoções mais simples, das emoções sinceras, das emoções verdadeiras, das emoções doídas de milhões e milhões de pessoas em suas pequenas ou grandes paixões. Para esses milhões de fãs, amigos e admiradores, foram, sim, momentos de grande comoção, de grande dor, de grande tristeza pelo imenso vazio que ficou.  

Volto aos dias difíceis da infância de Leandro e Leonardo. Plantadores de tomate na pequena cidade de Goianápolis, interior de Goiás, .à vista de quem não conhecesse o talento de ambos, o futuro talvez se desenhasse sem horizontes e sem perspectivas. Não na cabeça e no sonho dos dois. No âmago de seu singelo lar, tiveram como exemplos de vida as virtudes da honestidade e da obstinação, ensinadas pelos seus pais, o Sr. Avelino e Dona Carmem; virtudes aprendidas e que os guiaram vida afora.  

O Sr. Avelino até hoje não se recompôs. Triste, vive realmente dias de muita amargura após a morte de seu filho; e Dona Carmem, hoje, presta grandes serviços aos portadores de câncer. Fundou em Goiânia uma casa para receber e proteger os cancerosos de Goiânia, do interior e de outros Estados. É uma mulher extraordinária.  

Assim como Leonardo, Leandro sempre foi um homem singularmente fiel ao espírito de sua criação e às suas origens rurais. A dupla Leandro e Leonardo talvez seja um dos mais bem-acabados exemplos que confirmam o ditado de que a fonte do êxito está sempre ligada à raça, à fé, à fibra e ao talento. O sucesso que conseguiram não tem outra explicação. Tinham um objetivo e a ele dedicaram suas vidas. Mesmo quando ainda colhiam tomate em Goiás - Goianápolis, mais precisamente -, seus sonhos e o trabalho estavam ligados à musica. Por ali mesmo, nos bares, nas boates, nas feiras agropecuárias, entoaram os primeiros acordes. Acordavam de madrugada para a lida nos canteiros. Trabalhavam pesado o dia todo e, à noite, arrumavam ainda tempo para trabalhar o sonho. Isso é raça, é talento, é fibra, é obstinação, características que fizeram os dois, na realização dos seus destinos, atingirem um patamar de respeito e de admiração que pouquíssimos alcançaram no Brasil.  

Para nós que tanto admirávamos Leandro, nele havia mais que um cantor. Havia uma força. Ele representava a verdadeira força do interior do Brasil. Representava o menino pobre que, por sua luta renhida, alcança a dignidade; e não apenas alcança a dignidade como profissional, mas projeta uma cidade inteira, um Estado inteiro, uma região inteira. Pois era com imenso orgulho que nós, goianos, acompanhávamos sua trajetória de sucesso em todo o Brasil. E era com o mesmo orgulho que ele cantava, pelos quatro cantos do Brasil e do exterior, as qualidades e as riquezas do nosso Estado de Goiás.  

Num Brasil cada vez mais urbano e tendente a admirar, consumir e acompanhar a cultura estrangeira, Leandro sempre representou o pedaço forte do Brasil: o sertão, o interior, o campo, de onde provém a grande riqueza deste País, de onde provém o verdadeiro Brasil. Talvez por isso a facilidade com que o apelo de seu talento e o seu sentimento sincero de homem do campo tocava todos os corações, desde as pequenas cidades do interior aos grandes centros urbanos. Leandro era essa paixão de um Brasil que trabalha e produz, mas que sabe se emocionar com as coisas do amor. Leandro era o retrato do Brasil esperança, do Brasil sonhador.  

Um sonhador, aliás, o último trabalho que pôde assinar com o irmão Leonardo, que vendeu milhões e milhões de cópias em todo o País. E foi isso o que ele foi até o fim: um sonhador. Desde que deixou a infância e a adolescência pobre, passando pelo tempo em que cantava em pequenos shows, até a consagração, com a venda de 2,8 milhões de discos, em 1990, com Pense em mim , e daí até o auge da fama, com mais de 13 milhões de discos vendidos, era sempre Leandro, o sonhador.  

Acometido pela terrível doença, quando aparecia em público, envolto na bandeira do Brasil, era para nos dar esperança, para que pudéssemos sonhar com a sua volta. Um sonhador, mas sempre com os pés firmemente plantados no chão. Menino de juízo, como se poderia dizer daquele rapaz brincalhão, sério e responsável em sua digna profissão, que tão bem soube investir o que ganhava, mostrando, até nisso, o seu amor à terra, através dos muitos empreendimentos que mantinha em Goiás.  

À memória de Leandro, como amigo, fã e admirador, sei que os seus amigos, familiares, fãs, todos, enfim, podemos dizer que continuamos pensando nele, chorando por ele, rezando por ele. Sua imagem, seu símbolo, suas palavras, seu exemplo de carinho, amor, trabalho, dignidade, honestidade e de amor à sua terra e às suas origens continuarão sempre a embalar nossos sonhos e as nossas ações.  

Guardo também palavras amigas ao que mais de perto sofreu o baque da doença e da separação repentina, que sofreu a interrupção de uma convivência que se poderia chamar, realmente, de fraterna. Leonardo terá sido aquele que mais sofreu, em função da proximidade, da convivência e dos profundos laços que os uniam. Não é sem admiração que vemos como ele está prosseguindo com a carreira, seguindo a orientação do próprio irmão. Com profissionalismo inabalável, mesmo no auge da doença, continuou a se apresentar nas mais diversas cidades do interior do Brasil. Na hora em que Leandro se foi, abalado, chegou a pensar em parar, mas prosseguiu, como, aliás, queria seu irmão e como implorou a legião de milhões e milhões de fãs de todos os cantos do Brasil. A ele presto a minha homenagem. E expresso a minha mais sincera alegria em constatar que seu primeiro disco sem o irmão já é sucesso em todo o Brasil.  

Leonardo representa, hoje, a imagem da dupla num homem só. Quando falamos nele, quando o ouvimos cantar, sempre haveremos de lembrar de Leandro. Altivo, ele segue com seu destino, com sua missão. Cantar esperanças, sonhos, paixões, levar, enfim, alegria ao povo brasileiro, tão sofrido com tantas e tão sucessivas crises. Parabéns pela sua coragem, Leonardo. Continue a dar o exemplo do sucesso e de abnegação que você e seu irmão sempre deram a todos os brasileiros. Você continua representando essa força do interior, essa força do Brasil, esse sentimento da terra, essa paixão, e, tenho certeza, embalará ainda muitos corações; sua música continuará sendo a trilha sonora de muitas paixões. E, por você, poderemos ter a perpetuação da imagem e da força de Leandro.

 

Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, encerro o meu pronunciamento para levar, também, a minha palavra de fé e de amizade ao Sr. Avelino e a Dona Carmem, pais de Leandro, que ainda hoje sofrem com a sua estúpida e prematura perda. Um casal de pessoas humildes, mas dotadas de um sentimento de honestidade e de pureza raros nos dias de hoje. A eles uno as minhas orações neste momento de dor e de muito sofrimento, em que todo o País está relembrando a morte de seu filho. Aos irmãos de Leandro e Leonardo, também a minha mensagem de fé: Mariana, que acompanhou de perto todos os momento da doença, Carlos e Alessandro, que já formam uma dupla também famosa, Carmem, Maria Aparecida e a toda a sua grande família. À esposa Andréia, aos filhos Tiago, Leandro e Leandra, e aos milhões de fãs em todo o Brasil, que, com certeza, durante toda esta semana estarão orando, numa grande corrente, pela alma do inesquecível Leandro.  

Que Deus o tenha no Reino dos Céus.  

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT-SP) - Permite-me V. Exª um aparte?  

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB-GO) - Se o Presidente permitir, eu o concederei com o maior prazer, Senador Eduardo Suplicy.  

O Sr. Eduardo Suplicy (Bloco/PT-SP) - Gostaria de me solidarizar à homenagem que V. Exª faz a Leandro e também a Leonardo, que tem honrado tanto a música sertaneja brasileira. Certamente, a morte de Leandro constituiu um tremendo baque para todos brasileiros, mas foi muito importante perceber a solidariedade do povo. É muito justa a homenagem que V. Exª faz, inclusive também em nome do povo de Goiás. Minha solidariedade.  

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB-GO) - Muito obrigado.  

Muito obrigado, Sr. Presidente, pela tolerância.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 24/06/1999 - Página 16189