O SR. MAURO MIRANDA (PMDB-GO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, dois assuntos trazem-me a esta tribuna na tarde de hoje; dois assuntos alegres.  

A cidade de Goiás Velho, antiga capital do meu Estado, poderá conquistar em breve o título de Patrimônio Histórico da Humanidade. Se a aspiração que vem mobilizando todos os setores ligados à cultura no Estado de Goiás for aprovada pela Unesco, estaremos inscrevendo na agenda cultural da região Centro-Oeste o acontecimento mais importante deste final de século. Com o reconhecimento internacional desse sítio histórico que foi fundado pelo bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, o Anhangüera, em 1729, estaremos garantindo a preservação de um monumento vivo que é único entre as capitais das antigas províncias, porque mantém as principais características arquitetônicas dos povoados do começo do século XVIII, além de conservar boa parte do casario da época, como a casa em que viveu a poetisa Cora Coralina, falecida há 14 anos.  

Ocorreu ontem, no Ministério da Cultura, o ato oficial de entrega do dossiê que mostra as virtudes de nossa antiga Vila Boa para obter o titulo da Unesco. O coordenador do grupo de trabalho que elaborou o documento, Fernando Madeira, lembra que o núcleo urbano foi tombado há 21 anos pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o IPHAN, procurando-se com isso garantir a preservação do estilo oitocentista herdado dos colonizadores portugueses. Ainda hoje, de acordo com o depoimento técnico que vai orientar a decisão do órgão da ONU, "o núcleo mantém sua escala, seu arruamento e a pavimentação, e a maior parte dos seus 660 edifícios, incluindo-se aí as sete igrejas. Ficaram também preservados o seu entorno, sua moldura natural formada por matas ciliares, as serras e a vegetação típica".  

Srªs e Srs. Senadores, a consagração de Goiás Velho como Patrimônio da Humanidade é um objetivo que merece a luta e o apoio de autoridades e instituições brasileiras que possam mostrar à Unesco a justiça de uma futura decisão favorável. Seria o primeiro marco histórico internacional da região Centro-Oeste, além de constituir homenagem aos povos primitivos que habitaram os nossos cerrados, dos quais, afinal, guardamos descendência direta. O Nordeste já tem seus monumentos reconhecidos pela Unesco, como a cidade de São Luís, o Pelourinho de Salvador, a cidade pernambucana de Olinda e a Serra da Capivara, no Piauí. Minas Gerais tem as cidades de Ouro Preto e Congonhas, enquanto na Região Sul já fazem parte do mapa universal de preservação a área histórica das Missões de São Miguel, no Rio Grande do Sul, e as cataratas do Iguaçu, na fronteira tríplice com o Paraguai e a Argentina.  

Com os 500 anos que está a completar, o Brasil é uma Nação ainda jovem, mas com um passado rico de história nas lutas regionais de afirmação, na miscigenação étnica, na arquitetura, nas artes e no conjunto de sítios que marcaram a busca do ouro e a penetração dos bandeirantes. O desenvolvimento da Região Centro-Oeste começou a ser intensificado com o apoio do Governo Getúlio Vargas e o aparecimento da Fundação Brasil Central como a primeira agência de desenvolvimento do País e teve sua fase de ouro nos cinco anos revolucionários de Juscelino Kubitscheck. A conquista de novas fronteiras agrícolas, a urbanização, os avanços da industrialização e o inevitável crescimento das atividades imobiliárias mudaram radicalmente a paisagem física e a face social do Estado de Goiás.  

Mesmo assim, Sr. Presidente, Srs. Senadores, creio sinceramente que ainda temos um longo caminho a percorrer no processo de extroversão política, econômica e social do Estado de Goiás; e o progresso material, tão necessário quanto irreversível, tem seu preço no sacrifício da história das cidades. Aqui mesmo neste nosso ambiente, Srªs. e Srs. Senadores, quantos de nós ainda podemos mostrar a filhos e netos a casa onde nascemos, os caminhos por onde passeavam os nossos sonhos de infância, ou a praça onde conhecemos a primeira namorada? O mesmo progresso que constrói o futuro apaga as pegadas do passado, se não houver um esforço para assegurar a permanência dos elos históricos entre as gerações. Goiás é uma terra rica de sentimentos, de raízes. E o Arraial de Sant’Anna, a Vila Boa ou a nossa querida Goiás Velho é uma lembrança, é uma história, é uma síntese que reúne o espírito de cada pedaço do nosso Estado, e o sentimento de cada goiano nascido em qualquer de nossas regiões. Nesse sentido, ela continua sendo a nossa grande capital, porque é a capital de nossa história, de nossos sentimentos, de nossas raízes.  

Por todas essas razões, creio que todos nós, goianos, estamos juntos na torcida, na ação e no esforço para ver vitorioso esse movimento. Transformada em monumento histórico, a nossa Goiás Velho será beneficiada por uma rotina de ações preservacionistas, a cargo da Unesco. A entidade da ONU envia periodicamente os seus técnicos, como faz nos quase 600 monumentos já classificados em todo o mundo, para fiscalizar a conservação e participar dos trabalhos de restauração, despoluição, saneamento e preservação ambiental. Além disso, a Unesco orienta projetos culturais de interesse da comunidade. Mas é importante observar que a intensificação do turismo ecológico e cultural será conseqüência direta do prestígio de Goiás Velho como monumento da humanidade. Para evitar ações predatórias que possam prejudicar as características essenciais da cidade, creio que a fiscalização da Unesco será ainda mais indispensável.  

É necessário reconhecer os méritos da campanha em favor da cidade de Goiás, sob a presidência da Srª Brazilete Caiado, tendo na vice-presidência o meu amigo Leonardo Rizzo. Com a entrega do dossiê, preparado sob a liderança de Fernando Madeira, e com a presença de ilustres representantes da cidade, creio que já demos um passo importante e decisivo para transformar Goiás Velho em patrimônio histórico da humanidade. O Ministro Francisco Weffort, que recebeu o documento, é forte aliado das aspirações do povo vilaboense e de todos os goianos, ao lado do Ministro do Turismo, Rafael Greca. Os dois ministros estiveram em visita à cidade de Goiás Velho, nos festejos religiosos da última Semana Santa, e também foram contaminados pelo sagrado ambiente de tradição que haverá de ser perpetuado com a decisão favorável da Unesco.  

Sr. Presidente, tenho um segundo assunto importante sobre o meu Estado, Goiás.  

Quero trazer a esta tribuna o meu mais sincero agradecimento ao Presidente Fernando Henrique Cardoso, ao Ministro dos Transportes, Eliseu Padilha e ao Ministro do Planejamento, Pedro Parente, pelas decisões mais recentes que foram tomadas para concretizar a duplicação do eixo de desenvolvimento que liga Goiânia ao Estado de São Paulo. Felizmente, temos todas as razões para alimentar o nosso otimismo em relação a esse projeto, ao qual tenho dedicado todas as minhas forças desde que assumi meu mandato nesta Casa. Como relator da comissão especial que analisou todas as questões ligadas ao desenvolvimento do corredor de transportes Centroleste, tivemos oportunidade de promover uma audiência pública na cidade de Itumbiara. Lá compareceram os Governadores de Goiás e de Minas Gerais, o representante do Governo de São Paulo, os ex-Governadores Maguito Vilela e Eduardo Azeredo, além dos Ministros Iris Rezende, Eliseu Padilha e Antonio Kandir.  

Naquela oportunidade, tivemos, em mensagem formal divulgada pelo Presidente da República, o compromisso de apoiar o projeto de duplicação. Pouco tempo depois, o Presidente Fernando Henrique realizou um grande encontro político, reunindo mineiros e goianos no Palácio do Planalto, para ratificar o seu compromisso. Em nenhum momento, colocamos em dúvida as intenções do Presidente quanto a esse projeto de elevado interesse para o desenvolvimento de toda a região Centro-Oeste, que vai garantir a agilização do acesso de nossos produtos ao porto de Santos e aos países do Mercosul. Mesmo naqueles momentos difíceis em que ataques especulativos vindos de fora comprometeram a nossa capacidade de investimentos em projetos de infra-estrutura, mesmo naqueles momentos, repito, não abandonamos o nosso otimismo.  

Agora, Srªs. e Srs. Senadores, o motivo de minha presença nesta tribuna, para uma comunicação inadiável. Fui honrado hoje com convites dos Ministérios dos Transportes e do Orçamento e Gestão, para comparecer ao encontro especial que será realizado em Goiânia, nesta sexta-feira. Durante seminário com autoridades federais, serão discutidos os eixos nacionais de desenvolvimento, dentro do Plano Plurianual de Investimentos. A duplicação da BR-153, no trecho entre Aparecida de Goiânia e Itumbiara, é parte do programa a ser discutido. Estamos aí, Srªs e Srs. Senadores, diante de um fato concreto que não é apenas uma promessa; é um programa de governo, uma resposta objetiva à grande luta que temos travado nos últimos anos, em nome do povo goiano e da extroversão econômica do nosso Estado. Diante desse fato, estamos todos mais felizes e mais esperançosos em relação ao futuro. Tenho certeza que, dessa forma, Goiás estará participando mais ativamente do desenvolvimento nacional.  

Muito obrigado, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores.  

O SR. PRESIDENTE (Ademir Andrade) - Senador Mauro Miranda, esta Presidência deseja se associar a V. Exª e ao povo de Goiás na luta importante para tornar Goiás Velho patrimônio histórico da humanidade. Goiás Velho, além de ter sido Capital de Goiás, é uma cidade histórica extremamente importante, uma das mais bem conservadas do País, além de ser um lugar extremamente agradável, localizada em área privilegiada para quem quer conhecer a natureza e ver as coisas belas do nosso País. De forma que desejo, em nome da Presidência, todo o sucesso nessa luta do povo de Goiás para tornar Goiás Velho, por meio da Unesco, patrimônio histórico da humanidade.  

O SR. MAURO MIRANDA (PMDB-GO) - Agradeço, Sr. Presidente, as palavras, o empenho, o conhecimento que V. Exª tem da minha querida cidade de Goiás Velho. Agradeço profundamente. Ficará marcado nos Anais desta Casa o testemunho de V. Exª a favor do meu Estado, a favor da cidade de Goiás Velho.

Muito obrigado.  

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