Discurso no Senado Federal

TRANSCURSO DOS CINCO ANOS DO FALECIMENTO DE AYRTON SENNA. ELOGIO AO TRABALHO DESENVOLVIDO PELO INSTITUTO AYRTON SENNA, TENDO A FRENTE A SRA. VIVIANE SENNA, QUE SUPRE VARIAS LACUNAS DEIXADAS PELO PODER PUBLICO.

Autor
Carlos Patrocínio (PFL - Partido da Frente Liberal/TO)
Nome completo: Carlos do Patrocinio Silveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • TRANSCURSO DOS CINCO ANOS DO FALECIMENTO DE AYRTON SENNA. ELOGIO AO TRABALHO DESENVOLVIDO PELO INSTITUTO AYRTON SENNA, TENDO A FRENTE A SRA. VIVIANE SENNA, QUE SUPRE VARIAS LACUNAS DEIXADAS PELO PODER PUBLICO.
Publicação
Publicação no DSF de 25/06/1999 - Página 16658
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, ANIVERSARIO DE MORTE, AYRTON SENNA, MOTORISTA PROFISSIONAL, COMPETIÇÃO ESPORTIVA, AUTOMOVEL, ESTADO DE SÃO PAULO (SP).
  • ELOGIO, TRABALHO, VIVIANE SENNA, EMPRESARIO, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), DIREÇÃO, FUNDAÇÃO, PRESTAÇÃO DE SERVIÇO, COMUNIDADE.

O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PFL - TO. Pronuncia o seguinte discurso.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, há cinco anos, o Brasil perdia uma de suas mais extraordinárias personalidades. Sem jamais ter sido político, não tendo ocupado qualquer cargo político, tampouco foi o artista que, pela voz ou pela imagem, pudesse ter encantado seus compatriotas. Sua opção foi o esporte altamente especializado, o automobilismo, cujas características essenciais agregam velocidade, tecnologia e arrojo pessoal.  

Assim foi Ayrton Senna. Se buscarmos a razão determinante para sua extraordinária identificação com a alma brasileira, seguramente não a encontraremos apenas no fato de ter sido um exímio piloto. É claro que suas magníficas performances nas pistas de todo o mundo eram reconhecidas e admiradas por todos. Havia, no entanto, algo que o tornava diferente dos demais, inclusive dos outros pilotos brasileiros que, como ele, participavam das mesmas competições.  

A diferença - não tenho dúvida - estava situada em outro nível, muito mais abstrato que concreto. Residia - e disso tenho clareza absoluta agora - no conjunto de ações e atitudes de Senna, quase sempre motivadoras de uma catarse coletiva. Explico-me: Ayrton sempre fez questão de identificar-se como brasileiro. Assim, suas vitórias não ficavam contidas nas mãos do vencedor; por decisão própria, Ayrton fazia com que elas fossem partilhadas por aqueles milhões de compatriotas que, pela tela da TV, acompanhavam suas peripécias nas pistas, vibrando com seu arrojo, destemor, senso de oportunidade e infinita garra.  

No fundo, era como se, a cada batalha nas pistas de automobilismo, Senna estivesse empunhando a liderança de um imenso batalhão à busca da vitória. Ao obtê-la, desfraldando a bandeira nacional, era como se estivéssemos nos redimindo de fracassos históricos, de mazelas estruturais, das agruras do cotidiano. Com seus feitos espetaculares, Ayrton Senna não vencia apenas por si, mas nos levava a todos ao pódio. A vitória do corredor afastava-se do indivíduo e, feito magia e encantamento, transmutava-se em glória coletiva.  

Por tudo isso, a gente brasileira chorou - de um choro sentido, amargurado - a morte precoce, em trágico acidente, do ídolo que todos compartilhavam. Naquele momento, o Circuito de Ímola representava muito mais que o fim abrupto de uma jovem e promissora vida; assinalava também, no imaginário brasileiro, mais um violento tropeço em sua auto-estima, mais uma amarga derrota em meio a uma trajetória histórica de tantas dificuldades.  

Eis que, das trevas, faz-se a luz. Em meio à escuridão profunda da noite, irrompe a luminosidade da manhã. Morto Ayrton, sua bandeira é empunhada de novo, com o mesmo sentido patriótico, mas com ânimo redobrado. Da aparentemente frágil figura de sua irmã, Viviane, emerge a força gigantesca de um ideal e de um compromisso. Compromisso com o legado do irmão morto, não permitindo que se perdesse. Ideal de fazer algo para transformar a Pátria que seu irmão tanto amou em uma Nação solidária, fraterna e menos desigual.  

É para registrar o extraordinário trabalho de Viviane Senna, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, que ocupo a tribuna neste momento. Sinto-me no dever de enaltecer o trabalho de alguém que, mal enxugadas as lágrimas da dor pela grande perda, compreendeu ter à sua frente uma missão irrecusável: dar vida a um sonho acalentado por alguém que, fisicamente, não pode mais concretizá-lo. Decidida, com o integral apoio de toda a família, criou o Instituto Ayrton Senna.  

Ao se conhecer o trabalho executado pelo Instituto, vê-se logo um sentido novo e inovador de filantropia. Não se trata de uma mera ajuda a quem precisa. Nada que se confunda com a simples doação aos despossuídos. Ao contrário, faz o Instituto Ayrton Senna, sob o comando direto de Viviane, um trabalho sistemático de suprir graves lacunas deixadas pelo Poder Público. Identificando milhares de crianças e adolescentes perdidos nos desvios da incúria ou do abandono, sobre eles atua diretamente, abrindo as portas e ajudando a construir os caminhos da cidadania.  

Nada ali se faz sem planejamento. Nenhuma ação é desencadeada sem que esteja vinculada a um projeto detalhado. Não há espaço para a improvisação. Formas as mais diversas de captação de recursos são utilizadas: desde o resultado da venda dos produtos licenciados com a marca Ayrton Senna ao que se obtém via convênio com órgãos governamentais, passando pelo aporte oferecido por grandes empresas. Um conceito torna-se chave no comportamento que Viviane Senna impõe ao Instituto: parceria. Assim, buscando parceiros em todos os cantos, chega-se ao esplêndido número de 180 mil pessoas sendo atendidas pelos projetos do Instituto, nas mais carentes áreas do País, tendo na educação seu principal vetor.  

Consciente do seu papel, Viviane Senna define o trabalho que lidera no Instituto: "Não sou uma empresa que possui uma fundação; sou uma fundação que possui uma empresa 100% a serviço do País". Dela, recolho uma preciosa lição, a ser meditada sobretudo por aqueles que se comprazem em chorar as misérias nacionais, mas que são incapazes de agir no sentido de superá-las: "Sinto enorme prazer no que faço. Ajudo as pessoas a entender este País como algo luminoso e não um amontoado de problemas".  

Para que se tenha idéia da fantástica obra que essa mulher incansável dirige pelo Brasil, reproduzo pequena parte da reportagem publicada pela revista Época, em sua edição do último dia 3 de maio, referindo-se a alguns dos projetos implementados pelo Instituto Ayrton Senna: "Um deles deslocou para centros esportivos de seis universidades brasileiras cerca de três mil crianças carentes. Outro vem oferecendo a 43 mil crianças desnutridas um programa completo de recuperação física, mental e motora".  

A revista destaca: "O mais ambicioso de todos eles abrange 67 mil crianças. Elas saem de casa com as cartilhas de capa azulada do Programa "Acelera, Brasil", assistem às aulas com professores treinados pelo Instituto e escapam à vala comum dimensionada pela estatística sobre evasão escolar. No município mineiro de Virginópolis, no paupérrimo Vale do Jequitinhonha, o Programa zerou, em dois anos, os índices de repetência da primeira à quarta série. A proeza foi reprisada em Campo Novo, no Rio Grande do Sul. No final de 1999, oito cidades terão atingido a meta - entre elas, Porto Nacional, no meu Estado, e Rio Branco, no Estado do Acre.  

Sr. Presidente, ao finalizar, expresso o meu profundo reconhecimento ao trabalho desenvolvido por Viviane Senna, extensivo a todos os que a auxiliam nessa empreitada de civismo e de intrínseca humanidade. Ao ver a magnitude da obra do Instituto Ayrton Senna, honrando a memória do seu patrono, só nos resta dar razão a Tiradentes, o herói de Vila Rica, quando dizia: "Se quisermos, poderemos fazer deste País uma grande Nação". Viviane Senna dá o exemplo de que isso é possível.  

Muito obrigado, Sr. Presidente.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/06/1999 - Página 16658