Discurso no Senado Federal

HOMENAGEM POSTUMA A POETISA GOIANIA CORA CORALINA. (COMO LIDER)

Autor
Maguito Vilela (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Luiz Alberto Maguito Vilela
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • HOMENAGEM POSTUMA A POETISA GOIANIA CORA CORALINA. (COMO LIDER)
Publicação
Publicação no DSF de 20/08/1999 - Página 21702
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM POSTUMA, CORA CORALINA, POETA, ESTADO DE GOIAS (GO).

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB-GO) - Sr. Presidente, peço a palavra, por delegação do Líder de meu Partido, Jader Barbalho, para falar em nome da Liderança por cinco minutos.  

O SR. PRESIDENTE (Carlos Patrocínio) - Concedo a palavra a V. Exª por cinco minutos.  

O SR. MAGUITO VILELA (PMDB-GO. Como Líder. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, em primeiro lugar, agradeço ao Líder do meu Partido, Senador Jader Barbalho, por nos ter concedido a oportunidade de falar em nome da Liderança do PMDB, para prestar homenagem a uma goiana muito especial, certamente uma das pessoas mais talentosas e importantes que Goiás produziu neste século. Ana Lins dos Guimarães Peixoto Brêtas, a Aninha, que se transformou, por decisão própria, na poetisa Cora Coralina, completaria, se ainda estivesse viva, 110 anos nesta sexta-feira, 20 de agosto.  

Autora de versos puros, sensíveis, que a consagraram em todo o Brasil, dona de uma personalidade forte, honesta, portadora de caráter invejável, a poetisa-doceira da Cidade de Goiás, antiga capital de meu Estado, teve a infância e a juventude marcadas pela mais absoluta falta de perspectivas, fato natural no final do século passado na região em que nasceu.  

A mãe severa, Dona Jacintha, extremamente conservadora, e os demais familiares nunca a apoiaram em seu dom para as letras. O sonho da mãe, naturalmente, era prepará-la para ser uma dedicada dona de casa. Condenava, insistentemente, o gosto da filha pela leitura e reprovava o que ela definia como "perda de tempo fazendo versinhos".  

Razões que só o coração de Cora Coralina poderiam explicar mudaram totalmente o seu destino.  

Com a morte do marido, os quatro filhos crescidos e criados, Cora Coralina, então com 60 anos, volta à Cidade de Goiás. Começou a fazer e comercializar os hoje famosos doces caseiros de Goiás, para garantir seu sustento. A poesia, nunca deixou de lado.  

Começou timidamente a publicar seus poemas em jornais locais. A grande receptividade alcançada por seus versos fez com que ela se encorajasse e voltasse a São Paulo para tentar a publicação de seu primeiro livro.  

Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais foi publicado pela José Olympio Editora, quando a poetisa já tinha 70 anos de idade. A partir daí foi eleita para a Academia Goiana de Letras, Academia Feminina de Letras e Artes de Goiás, Instituto Histórico e Geográfico de Goiás, União Brasileira dos Escritores de Goiás e Associação Goiana de Imprensa. Recebeu também o título de Doutora Honoris Causa pela Universidade Federal de Goiás.  

Contudo, a consagração nacional veio mesmo quando o imortal Carlos Drummond de Andrade abençoou sua obra num inesquecível artigo no Jornal do Brasil , em que definiu Cora Coralina, pela qualidade de seus versos, como "a pessoa mais importante de Goiás".  

A partir daí não faltaram editoras querendo publicar seus poemas e não faltaram poemas para publicação. Vieram então outras obras: Meu Livro de Cordel , Estórias da Casa Velha da Ponte , O Tesouro da Casa Velha , Os Meninos Verdes , A Moeda de Ouro que o Pato Engoliu e Vintém de Cobre , obra que acabou premiada com o troféu Juca Pato, conferido pela União Brasileira de Escritores, um dos mais cobiçados prêmios literários do Brasil. Cora Coralina foi a primeira mulher a conquistar o troféu, em 22 anos de existência do prêmio.  

Para os goianos e para os brasileiros amantes da poesia, Cora é inesquecível. Mulher excepcional, viveu 95 anos, rompendo barreiras e preconceitos, fiel aos desígnios de seu coração e de sua alma. Faleceu em Goiânia, em abril de 1985.  

Como Senador goiano, no dia em que Cora Coralina completaria 110 anos, não poderia deixar de prestar a minha homenagem, em nome de meus conterrâneos e de todos os brasileiros, a essa goiana extraordinária, que viveu com toda intensidade e morreu deixando-nos um legado de sabedoria, honestidade, humildade e uma poesia pura, recheada de singela sabedoria.  

Muito obrigado.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 20/08/1999 - Página 21702