Discurso no Senado Federal

INDIGNAÇÃO FACE AS INSINUAÇÕES INJURIOSAS A SUA PESSOA, CONTIDAS NO LIVRO 'NOTICIA DO PLANALTO, A IMPRENSA E FERNANDO COLLOR,' DO JORNALISTA MARIO SERGIO CONTI.

Autor
Iris Rezende (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/GO)
Nome completo: Iris Rezende Machado
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
IMPRENSA.:
  • INDIGNAÇÃO FACE AS INSINUAÇÕES INJURIOSAS A SUA PESSOA, CONTIDAS NO LIVRO 'NOTICIA DO PLANALTO, A IMPRENSA E FERNANDO COLLOR,' DO JORNALISTA MARIO SERGIO CONTI.
Aparteantes
Maguito Vilela.
Publicação
Publicação no DSF de 01/12/1999 - Página 32450
Assunto
Outros > IMPRENSA.
Indexação
  • COMENTARIO, LIVRO, AUTORIA, MARIO SERGIO CONTI, JORNALISTA, ASSUNTO, RELACIONAMENTO, IMPRENSA, GOVERNO, FERNANDO COLLOR DE MELLO, EX PRESIDENTE DA REPUBLICA, ESPECIFICAÇÃO, INEXATIDÃO, DENUNCIA, SUBORNO, ORADOR, PUBLICAÇÃO, ARTIGO DE IMPRENSA, PERIODICO, VEJA, ESTADO DE SÃO PAULO (SP), PERIODO, CAMPANHA ELEITORAL.
  • DEFESA, REPUTAÇÃO, ORADOR, QUESTIONAMENTO, LUTA, PODER, GRUPO ECONOMICO, EDITORA, AUSENCIA, PROVA, MARIO SERGIO CONTI, JORNALISTA, ACUSAÇÃO, SUBORNO.

O SR. IRIS REZENDE (PMDB - GO. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a nova polêmica no universo da imprensa brasileira diz respeito ao recém-lançado livro do jornalista Mário Sérgio Conti, que dirigiu a revista Veja no período de 1991 a 1997 e atualmente se encontra em licença remunerada pela Editora Abril.  

A obra intitulada "Notícias do Planalto — a imprensa e Fernando Collor", da Editora Companhia das Letras, aparentemente objetiva mostrar, ao longo de suas 719 páginas, o relacionamento dos meios de comunicação com o ex-Presidente da República em um dos mais conturbados períodos da história do País. No entanto, pelo que informam os jornais, o que de fato interessa na extensa obra de Conti são apenas duas páginas em que o autor insinua que seu antecessor no cargo de diretor da Veja, José Roberto Guzzo, teria recebido dinheiro para publicar na revista duas reportagens favoráveis à minha pessoa no ano de 1989.  

O autor das insinuações, em um desesperado gesto para recuperar a notoriedade perdida, questiona o fato de a Veja ter publicado duas análises sobre minha atuação política naquele período. A primeira, intitulada "O cacife de Iris", aborda batalha que empreendi como pré-candidato do PMDB à Presidência da República. A segunda matéria, com o título "O candidato peão", fala de minha campanha ao Governo do Estado de Goiás num momento em que estava liderando todas as pesquisas.  

Na linha do ataque a seus colegas de profissão, Conti acusa o jornalista Mário Alberto de Almeida, que, em 1989, atuava como empresário e hoje comanda o jornal Gazeta Mercantil , de supostamente ser o portador do suborno imaginado por ele.  

Mas o denunciante não apresenta prova alguma. Não enumera nenhum fato concreto que possa justificar as suas acusações. Nada de palpável indica para demonstrar que estava falando a verdade. Fabrica mentiras e falsidades em uma ânsia incomum de atingir a fama.  

Dessa forma, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, assumo a tribuna, nesta tarde de hoje, para fazer algumas reflexões a respeito do episódio que enfoca, com bastante evidência, o papel da imprensa em uma sociedade democrática.  

Em primeiro lugar, devo esclarecer que o autor do livro não me acusa diretamente. Ele sequer se preocupou em colher o meu depoimento para compor a obra, em uma demonstração cabal de que preferiu guiar-se pela parcialidade, pela facção, ferindo frontalmente a ética e o sentido plural, que devem comandar a ação dos profissionais de imprensa.  

O objetivo central de Mário Conti é atingir o seu antecessor na revista Veja, expondo, pela primeira vez, o que podemos qualificar como uma verdadeira guerra de bastidores pelo poder na Editora Abril. O que lamentamos é que intrigas entre ex-diretores da referida revista acabem tentando atingir a minha honra pessoal, mesmo que não tenha sido diretamente atacado.  

Assim, deixo claro que não aceito o papel de bode expiatório nesse episódio mal contado e mal resolvido. Não tenho, nunca tive e jamais terei qualquer tipo de atuação que possa significar suborno ou favorecimento em busca de manchetes ou matérias positivas. A minha vida e a minha história falam por si mesmas.  

Sr. Presidente, 40 anos de vida pública! Não são 40 meses, nem 40 dias. Ocupei, ao longo desse tempo, as mais variadas posições. Passei pela Câmara Municipal de Goiânia de 1959 a 1962, tendo sido, em dois períodos, Presidente daquele Legislativo municipal. Fui Deputado Estadual, Presidente da Assembléia Legislativa de Goiás e Prefeito Municipal de Goiânia. Também exerci dois mandatos de Governador e fui Ministro de Estado em duas ocasiões.  

Lanço um repto a quem quer que seja neste País: provar que um dia estive envolvido em qualquer ação que pudesse deixar dúvida no povo do meu Estado e do meu País. Sr. Presidente, durante quarenta anos na política, ninguém é capaz de dizer que um dia eu tenha utilizado o poder que o povo colocou nas minhas mãos em benefício pessoal ou em benefício de pessoas ligadas a mim, quer sejam parentes, quer sejam amigos, quer sejam de grupos; nunca, nunca!  

É claro: muitas vezes fui vítima de injúrias, de calúnias, como todo homem que milita na política, mas posso dizer que chego aos 65 anos de idade sem envergonhar-me de um ato sequer da minha vida pública. E agora, não seria a luta numa convenção de meu Partido que me levaria a imiscuir-me em atos que não coadunassem com os nossos princípios.  

Sr. Presidente, o que lamento mais profundamente é que, ao lançar dúvidas sobre a conduta de profissionais respeitados, Conti acabe por tentar macular a trajetória da própria imprensa brasileira, que vem, ao longo da história, prestando relevantes serviços ao País, sempre atuando na vanguarda das grandes transformações e das grandes conquistas que hoje resultam no aperfeiçoamento das instituições democráticas.  

Sobre a parte que me toca em "Notícias do Planalto", as primeiras questões que se colocam são as seguintes: Por que Mário Conti, consciente de seu papel e de suas responsabilidades como dirigente de uma revista do porte de Veja, não apresentou a denúncia em 1989? Por que, mesmo atuando no comando da empresa, preferiu se omitir? Por que, somente agora, dez anos depois, resolveu publicar suas versões e, ainda por cima, sem o agravante da falta de provas?  

Isso sim, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, chama-se irresponsabilidade, incorreção, injustiça. Vejam que as vítimas centrais das insinuações são dois profissionais do primeiro time da imprensa nacional: Roberto Guzzo, que hoje dirige a revista Exame, também da Editora Abril, e Mário Alberto de Almeida, que comanda o imparcialíssimo jornal Gazeta Mercantil.  

De uma hora para outra, guiando-se apenas pelo ritmo frenético das suposições, Conti tenta manchar a carreira de dois jornalistas respeitáveis, de longa militância nos meios de comunicação do País, sequer se importando com as dramáticas conseqüências de suas denúncias vazias.  

Aliás, o próprio Conti duvida de suas estórias e demonstra absoluta insegurança em relação ao que escreveu de maneira irresponsável e inconseqüente. Em entrevista ao jornal Correio Braziliense de 26 de novembro, ele diz textualmente que não sabe se houve ou não suborno. "Não consegui apurar. No livro, apresento os fatos, sem tirar conclusões ou fazer ilações. Houve corrupção? Eu não concluo. Foi apenas coincidência? Eu não concluo".  

Pelo exposto, fica claro que o autor se guiou apenas pelo disse-me-disse, produzindo para os leitores material desprovido de qualquer compromisso com a verdade, tentando macular o nome de pessoas honestas e honradas apenas para se colocar no centro da polêmica e, quem sabe, alcançar sucesso de vendas com sua publicação.  

O sucesso a qualquer preço é uma atitude mesquinha, insere-se no vale-tudo que contamina alguns setores da sociedade, não se importa com a vida, a trajetória e o caráter das pessoas que o autor busca gratuitamente atingir.  

O mais terrível é constatar que o acusador, definitivamente, parece ter aversão às boas notícias. Mário Conti tenta me envolver nesta rede de intrigas simplesmente porque Veja, assim como toda a imprensa da época, focalizou as conquistas de minha gestão à frente do Ministério da Agricultura, quando o País experimentou, pela primeira vez em sua história, a colheita de três supersafras recordes.  

Em 1987, o Brasil pôde comemorar a sua primeira supersafra, saindo de pouco mais de 50 milhões de toneladas de grãos para a colheita de 65 milhões de toneladas. Um ano depois, a produção subiria para 66 milhões. Em 1989, chegamos ao terceiro recorde sucessivo, atingindo a marca de 72 milhões e 200 mil toneladas. O fato de Veja considerar esses fatos relevantes, num momento em que o Brasil estava mergulhado numa crise sem precedentes, é absolutamente normal. Mais do que isso: o que a imprensa brasileira fez na época foi apenas retratar a realidade como ela é, sem retoques nem maquiagens, cumprindo o seu papel de bem informar e manifestando o seu irrestrito compromisso com os leitores, com a sociedade.  

Além das brigas e das rivalidades com o seu antecessor em Veja, a denúncia de Mário Conti só pode ser interpretada como mais uma carga de preconceitos em relação às pessoas que, como eu, começaram lá embaixo, vindo da roça, no interior de Goiás, passando pelas funções públicas que já mencionei.  

Minha presença na imprensa nacional, portanto, vem de longe. Começou em 1966, quando a revista Realidade, a maior publicação da época, com mais de 400 mil exemplares de tiragem - salvo engano - deslocou a sua reportagem até Goiânia para retratar o fenômeno dos mutirões que ali comandávamos. O Brasil até então não tinha notícia dessa prática solidária e participativa de administração popular. Difundimos o mutirão para todo o País e, hoje, tornou-se uma instituição nacional, sendo praticado nos quatro cantos desta Pátria pelos poderes públicos e pelas diversas organizações sociais.  

Ainda me lembro, Sr. Presidente, foram oito páginas daquela revista destacadas para mostrar ao Brasil que, em Goiânia, surgia um novo sistema de administração pública, ou seja, administração pública participativa.  

A análise de minha pré-candidatura à Presidência, em 1989, não foi a única vez que a revista Veja me focalizou. Já estive, inclusive, presente em suas páginas amarelas, o que se traduziu para mim numa grande honra e privilégio. Dentre os inúmeros fatos que a revista trouxe a meu respeito, Mário Conti preocupou-se com apenas um, justamente porque, naquele período, estava o seu rival dirigindo a publicação.  

As notícias de Mário Sérgio Conti, portanto, são as da vingança, da vindita, da desforra e da revanche. O que move o seu livro é um verdadeiro acerto de contas com os colegas com quem conviveu durante décadas de profissão e, ao que tudo indica, de infortúnio. Seus relatos não são edificantes. Pelo contrário, eles revelam amargura, ressentimento, rancor. São traumas que se acumulam e que hoje são despejados nas páginas de um livro que mais parece um relato de um homem dominado pelo ódio.

 

Conti tenta incriminar sem provas - e ele mesmo reconhece isso. Tenta jogar lama na integridade das pessoas sem olhar para o próprio umbigo. E isso é inadmissível.  

Repito: a minha prática e os meus atos são movidos pela mais profunda honestidade. Não aceito insinuações e provocações de qualquer natureza. Não admito o papel de pivô num confronto pessoal de jornalistas. Nunca participei das histórias e das notícias que o autor descreve. Sou um homem íntegro. Com 40 anos de vida pública, tenho autoridade suficiente para repelir essas maquinações e esses conluios, porque nunca faltei com a ética, com a seriedade e com a responsabilidade.  

A minha vida e a minha luta são um livro aberto. Nada tenho a esconder. Nada tenho a ocultar. Jamais patrocinei ou ordenei que patrocinassem esquemas para favorecer a quem quer que seja. Tenho uma trajetória limpa, marcada por conquistas e grandes realizações. O que me move são o trabalho, as virtudes, os ideais, a determinação de servir Goiás, o Brasil e o seu povo. É nesta linha que continuarei a perseverar. As calúnias não me atingirão porque permaneço ao lado da verdade, da sinceridade e da justiça. Comigo, Sr. Presidente, não!  

O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - V. Exª me permite um aparte, nobre Senador Iris Rezende?  

O SR. IRIS REZENDE (PMDB - GO) - Com muito prazer, nobre Senador Maguito Vilela.  

O Sr. Maguito Vilela (PMDB - GO) - Senador Iris Rezende, ouço atentamente o pronunciamento de V. Exª. Causa-me também indignação as afirmações desse jornalista, sem prova alguma. Infelizmente, isto tem ocorrido freqüentemente no Brasil: jornalistas irresponsáveis falam o que lhes vem à cabeça, nada provam, e fica tudo por isso mesmo. Infelizmente, não existe uma legislação rigorosa no Brasil, capaz de proteger quem é correto, honesto e dedicado ao seu Estado e ao seu povo. Fui Líder do seu primeiro Governo; fui Vice-Governador do segundo; fui Governador apontado e apoiado por V. Ex a. Por essa razão, posso dar o meu testemunho da sua idoneidade moral, da sua competência, do seu dinamismo. E o jornalista é tão contraditório! Observe os próprios títulos da revista! Veja o primeiro: "O Cacife de Iris", naquela época, na revista Veja. Realmente, naquele momento, V. Exª possuía as melhores condições no PMDB. Havia sido Governador por duas vezes e mudado a história do seu Estado, construindo toda uma infra-estrutura rodoviária e energética. Um homem com uma liderança muito grande. Naquela época, para ser candidato a candidato à Presidência da República, pelo PMDB, tinha que ter muito cacife, ainda mais sendo um político de Goiás, um Estado pequeno, humilde. E chegar aonde V. Exª chegou desperta inveja, realmente causa despeito em muita gente. O segundo título: "O Candidato Peão". Peão pelas suas origens de sertanejo, conhecedor da labuta na roça, mas que veio para a cidade e venceu pelos próprios méritos: competência, dignidade, responsabilidade e, acima de tudo, honestidade. Goiás tem por V. Ex a o maior carinho, respeito e admiração. O Brasil também deve muito à sua pessoa. Quando ocupou a Pasta da Agricultura, V. Ex a promoveu três grandes safras. Ademais, sempre honrou e dignificou o País e o povo brasileiro. É lamentável que jornalistas se utilizem de determinados métodos. Há poucos dias, V. Exª sabe, fui vítima da imprensa do nosso Estado. Usei a tribuna para desafiá-la e desafiar também o Governador de Goiás, dizendo que renunciaria a meu mandato de Senador se alguém provasse qualquer traço de corrupção em minha vida pública. Ninguém provou. Usaram o Ministério Público, a polícia e a Justiça. Recebi um calhamaço de documentos do Ministério Público afirmando que verificaram todas as denúncias e que nada encontraram. Os documentos estão em meu gabinete. Minha imagem, no entanto, já estava comprometida. Quem vai pagar pelo ocorrido? A revista IstoÉ que publicou um sumiço de 5 bilhões em meu governo? O jornal de Goiás irá pagar os estragos feitos à minha imagem? É inócuo o Ministério Público dizer que nada encontrou. O Promotor que me investigou deveria ter a dignidade de mandar publicar suas conclusões em jornais e revistas. Sr. Presidente, deve haver uma legislação rigorosa para proteger, ao menos, os homens honestos que estão na vida pública, porque, do contrário, ninguém mais vai querer se envolver com política. Eu mesmo já estou pensando seriamente em encerrar a minha carreira política por causa dessas injustiças, dessas poucas-vergonhas de jornalistas que não têm o que fazer e que querem vender livros à custa muitas vezes de maldades e insinuações. V. Exª conta com a minha solidariedade e, tenho certeza, com a do povo goiano que conhece o seu passado, o seu presente e tudo o que V. Exª representa para o nosso Estado, para o nosso País. Muito obrigado.  

O SR. IRIS REZENDE (PMDB - GO) - Muito obrigado, Senador Maguito Vilela. O seu aparte não me surpreende. V. Exª tem sido um amigo e um companheiro solidário. De forma que o testemunho que V. Exª dá a meu respeito realmente me sensibiliza muito.  

Sabemos que a vivência política implica, muitas vezes, injustiças profundas em relação a todos os agentes políticos. Como disse no decorrer do meu pronunciamento, ao longo da minha vida pública, muitas vezes fui alvo de acusações, de injustiças e, quando não tinha condições de me justificar, pela falta de espaço na imprensa, o próprio tempo se encarregava de fazê-lo. Hoje, posso, em qualquer lugar deste País, em qualquer local do meu Estado, proclamar o meu comportamento pessoal exemplar, ao longo da minha vida pública.  

A V. Exª, que também manifestou nas entrelinhas do seu aparte uma certa decepção, uma certa angústia, devo dizer que o povo de Goiás não permitirá, em hipótese alguma, que abandone a vida pública. Goiás precisa muito ainda da sua ação e do seu trabalho.  

Ocorre, ainda aproveitando o aparte de V. Exª, que nós do interior do País nem sempre temos condições de conviver com os jornalistas, com os repórteres dos órgãos de imprensa, quer dos jornais, das emissoras de rádio e das televisões. Com freqüência, o nosso relacionamento é muito distante, e essas pessoas não têm noção do que são as nossas vidas em nossos Estados, qual tem sido o nosso comportamento como homens públicos.  

Esse episódio, tenho certeza, ocorre porque tanto o editor do respeitado O Estado de S.Paulo , à época, quando fez esses comentários - eu não entendo por que -, e que agora o Mario Sergio Conti passa para o livro essas afirmações levianas - não conhece nossa formação, não conhece nosso temperamento de político nem nossa posição a respeito da própria imprensa.  

Tenho, por exemplo, o privilégio de ter relacionamento com a família Mesquita de O Estado de S.Paulo , com aqueles que já estiveram e com os que estão à frente desse grande jornal, que respeito.  

Se eu quisesse espaço, em hipótese alguma, não precisaria buscar intermediários para comprar consciência de editor. Não! Eu teria a liberdade de procurar os próprios donos e pedir socorro naquela hora para um projeto pessoal que eu desenvolvia.  

Tenho amizade pessoal com Luís Frias da Folha de S.Paulo . Nunca recorri a ele para pedir uma publicação ou para evitá-la. Nunca! Tenho o privilégio de desfrutar da amizade pessoal de Dr. Roberto Marinho. Nunca busquei espaço em seus órgãos de imprensa. É minha formação, minha inibição pessoal em relação a ações dessa natureza.  

Assim, felizmente, ao longo da minha vida pública, conquistei amizades, relacionamentos com a imprensa nacional, mas, lamentavelmente, nunca tive a coragem ou a ousadia pessoal de, por amizade, buscar espaços, não. Se tenho ocupado as páginas da grande imprensa nacional ao longo dos anos, isso se deve às minhas ações e às posições que assumi em minha vida pública.  

Eu dizia, há poucos instantes, que oito páginas da revista Realidade fez alusão ao meu trabalho. Estava no meu primeiro ano de Governo, quando chegou ao meu gabinete o jornalista Mercadante e um fotógrafo, dizendo: "A revista almeja documentar o trabalho de mutirão que o senhor aqui realiza". Toda a imprensa nacional, então, ocupou-se de difundir no país aquela prática administrativa de Goiânia.  

Quando as revistas Veja e IstoÉ e os jornais Folha de S.Paulo , Jornal do Brasil , O Globo e O Estado de S.Paulo publicavam em suas páginas notícias sobre a administração do Estado, faziam-no porque era em Goiás que, num só dia, como Governador, eu tinha o privilégio de comandar um mutirão e construir 3.300 casas em 68 cidades ou, em outra oportunidade, mil casas num só dia, na capital do Estado, quando mais de 100 mil pessoas ocupavam o canteiro de obras e, num verdadeiro sentimento de solidariedade, juntavam-se ricos, pobres, brancos, pretos, jovens e crianças para mostrar ao Brasil que do centro da pátria realmente surgia aquela demonstração de solidariedade, de amor do povo brasileiro, a apontar soluções para a questão grave da habitação em nosso país. Este tem sido nosso comportamento na vida pública: buscar a participação do povo e nos conduzir de tal forma que nunca esse mesmo povo se sentisse envergonhado pelos nossos atos.  

Eu dizia há poucos instantes que fui ministro duas vezes. Tive o privilégio de compor a equipe do nosso querido Presidente Fernando Henrique e a do nosso querido ex-Presidente José Sarney. É claro que gozava daquele privilégio de relacionamento com toda a equipe de Governo. Não condeno - quem seria eu para condenar? - lideranças maiores deste país que utilizam a influência e a força políticas para uma formar uma estrutura na área da comunicação. Chego a essa fase da vida e não sou dono de uma emissora de rádio, não sou dono de uma emissora de televisão, não sou dono de jornal porque eu entendia - é uma formação pessoal, sem que isso signifique crítica a outros - que eu não poderia usar o meu prestígio, que não era meu mas do meu povo, para beneficiar-me e para aumentar o meu patrimônio. Não. Todas as minhas ações de Governo foram empreendidas no sentido de moralização em todas as áreas. Ainda terei oportunidade de descrever o meu comportamento na vida política e na vida pública.

 

Sr. Presidente, eram essas as considerações que eu queria fazer, em respeito ao Senado, em respeito ao povo de Goiás e em respeito ao meu país.  

Muito obrigado.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 01/12/1999 - Página 32450