Discurso durante a 12ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

DEFESA DE CONCESSÃO DE REAJUSTE SALARIAL AOS SERVIDORES PUBLICOS.

Autor
Lúcio Alcântara (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/CE)
Nome completo: Lúcio Gonçalo de Alcântara
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA SALARIAL.:
  • DEFESA DE CONCESSÃO DE REAJUSTE SALARIAL AOS SERVIDORES PUBLICOS.
Aparteantes
Roberto Saturnino.
Publicação
Publicação no DSF de 14/03/2000 - Página 4229
Assunto
Outros > POLITICA SALARIAL.
Indexação
  • DEFESA, CONCESSÃO, REAJUSTE, SALARIO, FUNCIONARIO PUBLICO.
  • SOLICITAÇÃO, ANTONIO CARLOS MAGALHÃES, PRESIDENTE, SENADO, CONGRESSO NACIONAL, SUGESTÃO, DISCUSSÃO, REAJUSTE, SALARIO, FUNCIONARIO PUBLICO, AUSENCIA, DISCRIMINAÇÃO, CATEGORIA FUNCIONAL, DEFESA, INTERESSE, SERVIDOR.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB – CE. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr Presidente, Sr as. e Sr s. Senadores, ao longo dos últimos dias tem se estabelecido uma polêmica muito grande em torno da fixação do teto máximo dos servidores públicos, de acordo com que preconiza a Constituição Federal.  

Reuniões vêm ocorrendo entre os chefes dos Poderes. Aparentemente acordos têm sido feitos e, em seguida, negados ou desrespeitados. Tudo isso cria um grande mal-estar na sociedade. Por quê? O Brasil é um País em que as injustiças e as desigualdades são muito grandes. A diferença entre o maior e o menor salário é enorme. Evidentemente, isso choca a sociedade quando se trata de fixar valores que são muito mais altos se comparados aos salários das pessoas que percebem o salário mínimo ou próximo a ele.  

Penso que a única maneira de se dar um tratamento mais justo a essa questão seria a elaboração de uma política salarial para os servidores públicos.  

Há cinco anos ou seis, salvo engano, não ocorre reajuste de salários dos servidores. E, apesar de uma certa estabilidade da economia, há inegavelmente alguma inflação acumulada ao longo desse tempo.  

A discussão em torno do teto devia ser deixada de lado, para se dar um reajuste geral aos servidores públicos. Isso seria muito mais correto, englobaria o Juiz, o Parlamentar, uma vez que a Constituição estabelece que o Parlamentar terá reajuste sempre que o servidor público tiver. Assim, teríamos uma manifestação de consideração e de apreço pelo servidor público.  

Essa questão deveria ser levada na devida conta. Dever-se-ia deixar de lado, na minha opinião, a discussão de teto e estabelecer-se para o servidor público um reajuste num valor suportável pelo Tesouro. Seria uma medida geral; não se estaria privilegiando ninguém, nem aceitando-se a pressão dos juízes que ameaçam com greve; não se poderia dizer que Parlamentares ou o Presidente estariam tentando elevar seus subsídios; não se trata do teto do dúplex ou o teto como tem sido objeto de discussão, se deve ser "X" ou "Y".  

Seria um reajuste para o servidor público. Tratamos do salário mínimo e do reajuste geral do servidor público. Penso que o aumento é justo e necessário. A inflação represada aconselha isso. Chegou-se a cogitar aqui, num determinado momento, que havia essa idéia do Presidente da República; depois, Sua Excelência negou, mas ninguém pode esconder que o servidor público necessita desse reajuste.  

O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PSB – RJ) – V. Exª. permite-me um aparte?  

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB – CE) – Pois não, Exª.  

O Sr. Roberto Saturnino (Bloco/PSB – RJ) – Nobre Senador Lúcio Alcântara, folgo em ouvir finalmente uma palavra de bom-senso a esse respeito. O fato é que esses acontecimentos nos atropelaram, com uma escalada de insensatez a partir da greve dos juízes, depois daquela solução esdrúxula de um auxílio-moradia para se evitar a greve. Em seguida, levou-se a discussão para o teto, que foi recebido pela opinião pública como o que ele realmente seria, um aumento para o Parlamentares num momento em que o funcionário público está há cinco anos sem reajuste. E os Parlamentares teriam cerca de 40% de reajuste... Quer dizer, uma escalada de insensatez que nos deixou a todos perplexos. Finalmente, vem V. Exª. com a voz do bom-senso, da sabedoria comum, de dizer por que discutir isso. Vamos discutir a política de salários para o funcionalismo, para os servidores públicos e nós, Parlamentares, colocamo-nos dentro dessa política, assim como os Juízes e os Magistrados, enfim, os servidores públicos que estão realmente com os seus salários completamente defasados. Como disse V. Exª., ainda que a taxa de inflação tenha sido pequena, escalada em cinco anos, já produziu uma erosão substancial nos salários. Então, cumprimento-o pela sabedoria de suas palavras e pelo bom-senso que V. Exª. recupera nesse embate que está deixando-nos perplexos.  

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB – CE) – Muito obrigado, Senador Saturnino Braga, pelas suas palavras, que são fruto da amizade que nos une. Na verdade, nesses dias em que o Senado esteve em recesso, estive ouvindo e vendo tudo isso e pareceu-me curial: vamos ver o que podemos fazer pelo servidor público.  

Até entendo que o Parlamentar só poderia ser considerado servidor público lato sensu . Somos agentes políticos, dependemos de eleição e temos mandato por tempo fixo. Mas nada disso serve como argumento para que, a propósito de cumprir um dispositivo constitucional – e existem centenas deles completamente ignorados –, se queira produzir um aumento automático.  

Destarte, pedi ao Senador Antonio Carlos Magalhães – um homem de longa experiência na vida pública e que, muitas vezes, tem levantado temas no mínimo prudentes, como o exame dessa questão levando em conta o salário mínimo, a realidade do País e a desigualdade de rendas – que ele, como Presidente do Senado e do Congresso Nacional, leve esta proposta: vamos discutir o reajuste do servidor público. Evidentemente, não podemos discriminar nenhuma categoria funcional, atribuindo maior ou menor importância, maior ou menor peso a essa ou àquela – todas, dentro do seu papel, dentro das suas funções, dentro das suas obrigações, têm a sua importância. Com esse procedimento, estaríamos dando uma demonstração de desprendimento, mostrando que estamos cumprindo nossa obrigação ao buscar algo de interesse de todo o funcionalismo público. Mas o percentual que viesse a ser estabelecido de acordo com a disponibilidade do Tesouro deveria se estender a todos. Na hora em que se tem um critério, na hora em que se tem um só peso e uma só medida, as pessoas podem até não gostar da solução por preferirem um tratamento melhor, mas acabam aceitando uma realidade que é comum a todos.  

Creio que é tempo, ainda, de se buscar esse tipo de solução para o problema porque estamos discutindo o salário mínimo e seria oportuno discutir também a situação do servidor público, que está há seis anos sem reajuste. Não estou falando em aumento, mas em reajuste, e é evidente que esse só pode ser concedido de acordo com a realidade do Tesouro. Assim saberíamos até que ponto o reajuste poderia ser oferecido aos servidores públicos.  

Por outro lado, ninguém ignora que dentro desse processo de mudança do Estado brasileiro o funcionário público tem sido sacrificado, tem sido alcançado no seu direito, na sua prerrogativa. Portanto, é chegado o momento de se conceder algum tipo de estímulo para que as pessoas que têm aptidão para o serviço público e que nele ingressaram mediante concursos públicos, muitas vezes extremamente concorridos e disputados, possam também encontrar agora uma forma de reconhecimento que estimule o seu trabalho e a sua atuação.  

Deixo aqui essa sugestão. Entendo que o nosso Presidente, Senador Antonio Carlos Magalhães, tem toda a condição pessoal e funcional para levar a sugestão de se discutir um reajuste geral para o funcionalismo público, independentemente da categoria a que pertencem e o Poder que integram. Seria muito mais justo, e a sociedade veria isso como uma manifestação de equilíbrio e desprendimento; veria que os chefes de Poderes reunidos ali não estariam apenas estabelecendo tetos que seriam alcançados de maneira a configurar na prática reajustes salariais para essa ou aquela categoria. É a sugestão que trago a esta Casa como fruto de alguma reflexão pessoal em função do noticiário e do sentimento que vamos captando da opinião pública, pelas manifestações na imprensa, em conversas. Enfim, é o que estamos vendo e ouvindo diariamente como um espécie de perplexidade da sociedade diante do debate e da discussão que se está travando em relação ao tema do teto salarial. Muito obrigado.  

 

àÞ


Este texto não substitui o publicado no DSF de 14/03/2000 - Página 4229