Discurso durante a 24ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

CONSIDERAÇÕES SOBRE O RELATORIO DE ATIVIDADE DA WWF BRASIL.

Autor
Lúcio Alcântara (PSDB - Partido da Social Democracia Brasileira/CE)
Nome completo: Lúcio Gonçalo de Alcântara
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA DO MEIO AMBIENTE.:
  • CONSIDERAÇÕES SOBRE O RELATORIO DE ATIVIDADE DA WWF BRASIL.
Publicação
Publicação no DSF de 30/03/2000 - Página 5615
Assunto
Outros > POLITICA DO MEIO AMBIENTE.
Indexação
  • COMENTARIO, RELATORIO, ATIVIDADE, ORGANIZAÇÃO NÃO-GOVERNAMENTAL (ONG), AMPLIAÇÃO, PARTICIPAÇÃO, DEBATE, POLITICA DO MEIO AMBIENTE, BRASIL, DESENVOLVIMENTO, PROJETO, CONCILIAÇÃO, DESENVOLVIMENTO ECONOMICO, PRESERVAÇÃO, NATUREZA, REGIÃO AMAZONICA, CERRADO, PANTANAL MATO-GROSSENSE, MATA ATLANTICA.

O SR. LÚCIO ALCÂNTARA (PSDB - CE) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a organização não-governamental WWF Brasil publicou recentemente seu primeiro relatório de atividades. Tive o prazer de tomar conhecimento dessa publicação e pude verificar o quanto pôde tal instituição realizar em tão pouco tempo de existência no Brasil. Sua presença no cenário ambiental tem sido tão atuante e extensiva, além de decididamente marcante em determinados momentos, que nos deixa a impressão de que sua história entre nós começou há muito mais tempo. Mas, na verdade, o WWF Brasil foi criado oficialmente apenas em 30 de agosto de l966.  

Sua história começou a se desenvolver efetivamente em 1971, quando o WWF iniciou seu trabalho no Brasil apoiando o Programa de Conservação do Mico-Leão-Dourado, no Rio de Janeiro. Vários outros pequenos projetos foram sendo apoiados financeiramente pela organização, em todo o País, nos anos seguintes.  

Foi, entretanto, na década de 80 que a presença do WWF no Brasil ganhou dimensão maior, com o apoio aos primeiros anos do Projeto Tamar, entre outras iniciativas. Criada com o objetivo de contribuir para a conscientização de uma sociedade cada vez mais evoluída e atuante nos temas ambientais, o WWF foi ampliando cada vez mais, nessa época, o número de projetos a receberem seu suporte técnico-financeiro. A tal ponto que se tornou necessária a criação de um escritório de representação no Brasil para melhor administrar as atividades desenvolvidas.  

Não é de estranhar que um país de dimensões continentais, dotado da maior concentração de espécies do planeta, tenha atraído a criação de uma entidade nacional própria, capacitada a contribuir de forma mais efetiva para o debate e as soluções de seus problemas ambientais. O WWF se transformou, então, numa organização autônoma, técnica e administrativamente habilitada para a realização de seus objetivos.  

Com um quadro técnico de sólida formação, integrado por biólogos, engenheiros florestais, zoólogos, agrônomos, sociólogos e economistas, sua participação no debate de pontos-chave da política ambiental brasileira tem aumentado de forma gradativa, e seus projetos têm conquistado expressivo destaque nos meios de comunicação e junto aos tomadores de decisão. Entende a instituição que, ao buscar soluções que conciliem desenvolvimento econômico com a conservação da natureza, está oferecendo à sociedade brasileira a via para construir um futuro melhor e mais saudável.  

O WWF desenvolve, atualmente, 33 projetos próprios ou em parceria com outras organizações não-governamentais nas regiões da Amazônia, Cerrado, Pantanal e Mata Atlântica. Integram suas atividades: a pesquisa e o diagnóstico ambiental; a preservação de espécies e ecossistemas ameaçados; o desenvolvimento de modelos alternativos de conservação; novas formas de uso sustentável de recursos naturais; ações de educação ambiental, políticas públicas e comunicação; campanhas de mobilização social.  

O relatório do WWF traz uma amostra do que foi feito pela organização nos últimos três anos. Percebe-se que são vários os resultados positivos. Permitam-me os nobres Colegas, que me ouvem com tão prestigiosa atenção, mencionar alguns desses trabalhos e projetos.  

O WWF desenvolve, no tocante a parques e reservas, um modelo de conservação especial para as florestas inundadas do Alto Amazonas, em parceria com a Sociedade Civil Mamirauá, no Amazonas. Mamirauá talvez seja o sistema de água doce de maior densidade do mundo, com espécies como o boto-vermelho, o tucuxi e o peixe-boi. A Reserva do local, Senhor Presidente, é a única área de várzea protegida no País, ameaçada constantemente pela pesca comercial. O projeto do WWF se iniciou ali em 1991, com apoio técnico e financeiro. Hoje, a organização vem apoiando atividades de Educação Ambiental e Ecoturismo.  

É importante ressaltar que, embora as várzeas cubram apenas 2% da Amazônia brasileira, integram elas um ecossistema de grande diversidade e endemismo. Ao contribuir para o plano de manejo da Reserva de Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá, o WWF está protegendo não apenas os mananciais e as espécies ameaçadas, mas garantindo a sobrevivência das populações ribeirinhas. Existem 60 comunidades na Reserva e em seu entorno, onde vivem mais de 5 mil habitantes.  

Desde 1990, o WWF trabalha para ajudar a implementar o Parque Nacional do Jaú, no Amazonas. Foi esse Parque criado em 1986 para proteger a bacia do Rio Jaú, incluindo as florestas de terra firme e as áreas sazonalmente inundadas. É o maior parque brasileiro, com mais de 22 mil quilômetros quadrados, área maior que o Estado de Sergipe. Tendo como parceira a Fundação Vitória Amazônica, o WWF também apoiou a aquisição, por parte dessa Fundação, de um barco equipado para pesquisas. Foi criada uma base flutuante na entrada do Parque e um centro para visitantes.  

O principal resultado desse investimento foi a conclusão, em 1998, do Plano de Manejo do Jaú, elaborado de forma participativa, envolvendo as populações ribeirinhas da região. Vale registrar que, nos últimos anos, foram identificadas no Parque 434 novas espécies de aves e 300 novas espécies de peixes.  

Quanto a parques e reservas, o WWF atua em vários outros projetos, que estão em andamento, como no Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros, em Goiás; Parque Nacional de Fernando de Noronha, em Pernambuco; Reserva Biológica de Paço das Antas, no Rio de Janeiro; Reserva Biológica de Una, na Bahia, além de outras.  

Sabemos que a Amazônia reúne um terço das florestas tropicais do mundo. A principal ameaça à diversidade da região continua sendo o desmatamento desenfreado e predatório. A exploração inadequada do solo e o uso não-sustentável dos recursos naturais causaram a destruição de aproximadamente 15% da floresta original.  

A ação do WWF nesse cenário se faz sentir em várias frentes, que vão desde a exploração de produtos extrativistas até o manejo florestal. Quanto a esse último tópico, o WWF desenvolveu, junto com o IMAZON, um modelo de manejo florestal que reduz o desperdício e o tempo de regeneração da floresta em 50%, além de aumentar o lucro da atividade madeireira em 13%. Essa metodologia foi testada em Paragominas, maior pólo madeireiro do País, e já está sendo utilizada por empresas madeireiras em 12 localidades da Amazônia.  

O desenvolvimento dessa metodologia de manejo florestal traz grande impacto positivo para o uso sustentável da floresta, dado o monumental desperdício provocado pela forma convencional de exploração. Estima-se que para cada árvore cortada segundo o método tradicional perdem-se outras 27, destruídas na queda ou durante o transporte. Para facilitar a multiplicação dessa nova forma de manejo, o WWF e o IMAZON produziram, em 1998, o kit "Floresta para Sempre", composto de um manual e um vídeo sobre a exploração de madeira sustentada.  

Atento para a fonte de recursos na conservação do meio ambiente que pode representar o ecoturismo, o WWF apoiou a construção do Hotel Aldeia dos Lagos, em Silves, uma ilha fluvial no Amazonas. Inaugurado em 1997, o hotel é administrado pela Associação de Silves pela Preservação Ambiental e Cultural – ASPAC, parceira no projeto, e já está trazendo benefícios econômicos para os moradores locais, além de estar favorecendo a preservação de importantes lagos, por meio de um modelo de manejo da pesca.  

Há outro projeto digno de nota, desenvolvido em parceria com a Cooperativa dos Produtores do Cajari, no Amapá, que contribui para viabilizar economicamente a Reserva Extrativista do Cajari, por meio do manejo sustentável do açaí. Foi inclusive construída ali a primeira fábrica de palmito sustentável dentro de uma reserva extrativista, com capacidade para beneficiar 30 toneladas do produto por mês.  

O WWF já concluiu projetos de sistemas agroflorestais em Araras e no Rio Capim, no Pará, que trouxeram visível melhoria de vida para as famílias locais, além do aumento da produção da floresta. O projeto do Rio Capim organizou o plantio de 100 mil mudas de cupuaçu na floresta e está sendo reproduzido atualmente em 10 outras localidades. A comunidade do assentamento de Araras instalou inclusive uma unidade de processamento de polpa congelada de cupuaçu, que proporciona um retorno 18 vezes maior do que o do arroz.  

Há outros projetos de manejo florestal e ecoturismo sendo desenvolvidos em Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará e Rondônia.  

Na área da pesquisa e da disseminação científicas, o WWF tem demonstrado inegável compromisso com a geração de novos conhecimentos em conservação e desenvolvimento. Visando atingir uma relação mais harmônica entre homem e natureza, a organização desenvolve iniciativas voltadas especificamente para a capacitação de profissionais e instituições que atuam na área do meio ambiente, além do componente de pesquisa que já consta em seus projetos.  

Nessa área, o Programa "Natureza e Sociedade" apoiou 96 teses de mestrado e doutorado de pesquisadores brasileiros na área de conservação. O livro "Muda o mundo, Raimundo" atingiu 85 mil estudantes, que passaram a receber educação ambiental com uma metodologia de aprendizagem que insere o estudante na realidade de seu ambiente local. Associado à Fundação Roberto Marinho, o WWF produziu 10 programas para a série "Globo Ecologia", mostrando experiências bem-sucedidas de conservação da natureza em vários países. Foi lançado, em 1997, em parceria com a Revista Caras, o Atlas do Meio Ambiente, um material completo de referência sobre os principais temas ambientais em todo o mundo.  

As populações rurais da Amazônia, que dependem do rádio para se informarem, dispõem, desde 1993, de um programa de rádio com 30 minutos de duração, transmitido diariamente em ondas curtas, para toda a região Norte e parte das regiões Centro-Oeste e Nordeste, com informações sobre meio ambiente. Neste projeto, o WWF conta com a parceria da Rádio Nacional da Amazônia, do Ministério do Meio Ambiente e do Grupo de Trabalho Amazônico – GTA. A audiência do programa, que se chama "Natureza Viva", tem se mostrado bastante alta, e três prêmios de jornalismo já foram concedidos ao programa.

 

Enfim, Sr. Presidente, poderia ir me alongando por mais páginas e páginas para falar das realizações do WWF no Brasil. Mas registrei empreendimentos em número suficiente para que tenhamos uma idéia de quanto foi realizado pela organização nos anos de seu funcionamento no Brasil, e mais do que isso, para que tenhamos uma idéia de quão dinâmica tem sido e de quão necessária é sua presença em nosso País.  

De todos os resultados positivos que obteve até agora, falta mencionar um, aquele de que talvez mais se orgulhem seus dirigentes, destacado como um marco na conservação da natureza e que melhor reflete a filosofia de trabalho do WWF: a vitória dos 10%, ou seja, o compromisso anunciado pelo governo brasileiro, em 1998, com a proteção de pelo menos 10% das florestas brasileiras até o ano 2000. A medida triplica a área de florestas protegidas, o que significa a conservação de uma área adicional equivalente ao Estado de São Paulo. O WWF teve intensa participação nesse processo, com a campanha "Florestas para a Vida".  

Tomo emprestado ao Senhor Garo Batmanian, Diretor Executivo do WWF, as palavras com que finalizo meu pronunciamento. Diz ele no Relatório de Atividades da organização:  

 

O Brasil é o maior país tropical, com a maior concentração de espécies do mundo. Podemos aprender com as lições de outros países, que já degradaram muito. O que falta é trabalharmos de forma mais integrada e atuante para que os nossos recursos naturais sejam usados de forma racional. Assim deixaremos de herança aos nossos filhos um país como o que temos agora, ainda rico em florestas, espécies e água.  

 

Era o que tinha a dizer.  

Muito obrigado.  

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 30/03/2000 - Página 5615