Discurso durante a 25ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

CUMPRIMENTO, EGYDIO BIANCHI, PRESIDENTE DA ECT, PELO TRABALHO DE RESTAURAÇÃO DOS SEUS PREDIOS HISTORICOS.

Autor
Carlos Patrocínio (PFL - Partido da Frente Liberal/TO)
Nome completo: Carlos do Patrocinio Silveira
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
POLITICA CULTURAL.:
  • CUMPRIMENTO, EGYDIO BIANCHI, PRESIDENTE DA ECT, PELO TRABALHO DE RESTAURAÇÃO DOS SEUS PREDIOS HISTORICOS.
Publicação
Publicação no DSF de 31/03/2000 - Página 5719
Assunto
Outros > POLITICA CULTURAL.
Indexação
  • CUMPRIMENTO, EGYDIO BIANCHI, PRESIDENTE, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), INICIATIVA, RESTAURAÇÃO, PATRIMONIO HISTORICO, ELOGIO, CONSERVAÇÃO, HISTORIA, MANUTENÇÃO, TRADIÇÃO, PAIS.
  • ELOGIO, CONTRIBUIÇÃO, EMPRESA BRASILEIRA DE CORREIOS E TELEGRAFOS (ECT), PARTICIPAÇÃO, DESENVOLVIMENTO NACIONAL.

O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PFL - TO) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a identidade de um povo é alcançada pela preservação de seu passado. As heranças histórica, cultural e artística cultivadas, por si sós, são capazes de manter a soberania de uma Nação. As tradições antigas devem ser protegidas, a fim de que se tenha sempre um referencial para as mudanças tão céleres no mundo moderno. Se um país não se apegar aos fatos históricos e às tradições de seu povo não conseguirá sobreviver numa época de globalização, em que as potências ricas tentam impor às regiões menos desenvolvidos sua maneira de pensar e agir, em detrimento de todo um passado que deve ser preservado.  

O Brasil, que se orgulha de completar este ano os 500 anos de descobrimento, deve também se orgulhar do crescimento alcançado, das lutas gloriosas que, por séculos, contribuíram para torná-lo o rico país de dimensões gigantescas, hoje invejado e, por que não dizer, cobiçado por Nações mais poderosas. E, para que continue mantendo sua identidade, é preciso preservar sua história, seus costumes, sua cultura.  

Compreendendo a importância dessa atitude, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, que completou 300 anos de existência ano passado, tem contribuído de modo admirável para a manutenção dessas tradições, para a conservação da memória brasileira. São louváveis os esforços da empresa no sentido de valorizar seus prédios históricos, o que não é de estranhar, pois os Correios brasileiros participaram ativamente da construção e do desenvolvimento do País. Sua trajetória identifica-se com a História do Brasil.  

Os mais antigos prédios dos Correios estão sendo transformados em espaços culturais, após a recuperação física da área, mantidas as características iniciais da construção primária. Outros estão sendo reformados com a finalidade de manter suas características originais.  

O grande impulso dos Correios brasileiros foi dado em 1798, quando um Decreto da Coroa Portuguesa passou para a Colônia o controle sobre o tráfego da correspondência. Com a instalação da família real portuguesa no Brasil, em 1808, os Correios transformaram-se em repartição independente, seguindo os moldes adotados na Inglaterra. A primeira linha telegráfica foi instalada em 1857, da praia da Saúde, no Rio, até Petrópolis. Décadas depois, o Marechal Rondon, o "bandeirante moderno", expandia as linhas telegráficas até a região Norte, desbravando regiões inóspitas. Desde então, os Correios tornaram-se um importante instrumento de integração territorial e tiveram profunda significação nos grandes centros urbanos, com a construção de sedes suntuosas.  

Recentemente, foi lançado o livro Os Correios e Telégrafos no Brasil – Um Patrimônio Histórico e Arquitetônico , escrito pela professora do departamento de arquitetura da Universidade Federal do Rio de Janeiro, Margareth da Silva Pereira. A autora divide as construções dos prédios dos Correios em três fases distintas. A primeira iniciada em 1878, com a inauguração do edifício da Rua 1° de Março, no Rio de Janeiro, que, seguindo a tendência da época, era grandiosa e opulenta. As linhas arquitetônicas neo-renascentistas, entretanto, não lhe tiraram a discrição e o decoro. A professora Margareth descreve: "salvo alguns poucos detalhes, como o uso de balaustradas colocadas como platibandas e cortadas por pequeno frontão, ou o tratamento das sobrevergas das janelas e portas do segundo pavimento em estuque, não se nota qualquer excesso ornamental, comum nas construções ecléticas..."  

Nessa ocasião, o ecletismo arquitetônico que vigorava no mundo, originou, entre outras construções, a dos Correios de Porto Alegre, em 1914, com pormenores góticos. Seus arquitetos eram formados em escolas alemãs, e o estilo que imprimiram ao prédio foi considerado "neobarroco alemão". A professora Margareth acrescenta que "se olhada isoladamente, a torre do relógio, bulbosa e de inspiração quase rococó pelo ritmo das linhas, remetia às construções religiosas da Baviera". A delicadeza do trabalho de serralheria na escada interna é motivo de admiração até os dias de hoje.  

O edifício dos Correios e Telégrafos de Niterói é considerado a obra mais requintada da instituição, entre aquelas construídas no início do século. O livro citado diz que "a engenhosidade do jogo volumétrico, a delicadeza nos ornatos, a erudição no tratamento da composição e o ritmo das aberturas atestam a sólida formação do autor do projeto..." Seguiu-se o edifício de São Paulo, projeto audacioso do arquiteto Ramos de Azevedo, com grandes vãos de circulação e de grande beleza.  

Não vamos nos alongar citando todos os belíssimos prédios dos Correios e Telégrafos construídos nessa primeira fase. Lembraremos alguns ainda hoje existentes, como o da Rua Visconde de Itaboraí, no Rio de Janeiro; os de Manaus e Recife, com primorosos detalhes arquitetônicos; o da Paraíba e, finalmente, o de Petrópolis, no Estado do Rio de Janeiro, uma das concepções mais eruditas, cuja planta foi elaborada pelo arquiteto Christiano Stockler das Neves e construído pela Ambrogi Construtora, no final do governo Epitácio Pessoa. A fachada é tripartida, com semicolunas encastradas e não se pode deixar de admirar o volume contínuo do telhado em ardósia e os belíssimos vitrais que traduzem a vida dos Correios.  

A segunda fase veio com Getúlio Vargas, em 1930. A necessidade de expansão dos serviços de correios e telégrafos exigiu a padronização das novas construções por todo o País. Posteriormente, em 1969, novas mudanças visando ao melhor aproveitamento das instalações e à procura de um desempenho financeiro saudável, racionalizaram as novas construções procurando, em primeiro lugar, torná-las eficientes. A partir daí, um logotipo estilizado passou a representar o serviço e, pela primeira vez, surgiu um balanço financeiro positivo.  

Finalizando quero cumprimentar o Dr. Egydio Bianchi, presidente da Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, pelo belíssimo trabalho que vem fazendo à frente da empresa. A procura de parcerias para a restauração dos belíssimos e tradicionais prédios dos Correios é louvável e constitui uma importante iniciativa no sentido da manutenção do patrimônio histórico brasileiro, ação essencial para a preservação da identidade do povo brasileiro.  

Era o que tinha a dizer.  

Muito obrigado.  

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 31/03/2000 - Página 5719