Discurso durante a 65ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

COMEMORAÇÃO DO CENTENARIO DE CRIAÇÃO DA FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ.

Autor
Geraldo Cândido (PT - Partido dos Trabalhadores/RJ)
Nome completo: Geraldo Cândido da Silva
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
HOMENAGEM.:
  • COMEMORAÇÃO DO CENTENARIO DE CRIAÇÃO DA FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ.
Publicação
Publicação no DSF de 25/05/2000 - Página 10703
Assunto
Outros > HOMENAGEM.
Indexação
  • HOMENAGEM, CENTENARIO, ANIVERSARIO DE FUNDAÇÃO, FUNDAÇÃO INSTITUTO OSWALDO CRUZ (FIOCRUZ), REGISTRO, HISTORIA, ATUAÇÃO, DEFESA, SAUDE PUBLICA, PESQUISA CIENTIFICA.

O SR. GERALDO CÂNDIDO (Bloco/PT – RJ. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) – Sr. Presidente, Senador Carlos Patrocínio; Sr. Presidente da Fundação Oswaldo Cruz, Dr. Eloi de Souza Garcia, a quem cumprimento, e a toda a direção da Fundação em seu nome e todos os servidores da Fiocruz. A exemplo do Senador Saturnino Braga e como representante do Estado do Rio de Janeiro, tenho o maior prazer de orgulhosamente participar desta justa homenagem de reconhecimento ao Instituto Oswaldo Cruz.  

Quando eu passo pela Avenida Brasil, fico observo Castelinho com aquela iluminação lilás – muito bonita por sinal – que nos provoca a sensação de tranqüilidade e harmonia. Aliás, foi muito feliz a escolha dessa cor para iluminar o castelo da Fundação Oswaldo Cruz.  

As milhares de pessoas que passam diariamente em frente ao n° 4.365 da Avenida Brasil, na altura do Bairro de Manguinhos, no Rio de Janeiro, e observam uma majestosa e imponente construção, não imaginam que ali estão guardados cem anos de história.  

Em 1904, começa a ser edificado o castelo em estilo mourisco, sede da instituição. O projeto do arquiteto português Luís Moraes Júnior, baseou-se em um desenho feito por Oswaldo Cruz, que teria se inspirado no Palácio de Alhambra, na Espanha. O castelo foi erguido numa colina voltada para o mar, que, àquela época, quebrava a poucos metros do seu jardim.  

Nesse ano, alguns setores da sociedade e da imprensa realizaram grande oposição às campanhas de vacinação. O sanitarista Oswaldo Cruz foi ridicularizado pelos chargistas e atacado pelos articulistas. Enfrentou um levante popular que ficou conhecido como "Revolta da Vacina".  

Depois de ganhar a medalha de ouro na Exposição Internacional de Higiene do VI Congresso Nacional de Higiene e Demografia de Berlim, em 1907, o Instituto Soroterápico foi rebatizado no ano seguinte, passando a se chamar Oswaldo Cruz. Em 1909, Carlos Chagas descobre o parasita Trypanosoma cruzi , causador da doença de Chagas, e seu hospedeiro, o barbeiro.  

Em 1920, os cientistas de Manguinhos pesquisam as condições de vida das populações do interior, o que gerou grandes debates, resultando na criação do Departamento Nacional de Saúde Pública. Dez anos depois, o Instituto é transferido para o Ministério da Educação e Saúde Pública e perde autonomia. Já no ano de 1950, o Governo passa a priorizar a produção de vacinas. Começa a ser articulado no Instituto um movimento que defendia a criação do Ministério da Ciência e a transferência do setor de pesquisa para o novo órgão.  

Na ditadura militar, acontece o episódio mais perverso contra o Instituto, o chamado "Massacre de Manguinhos". Dez pesquisadores tiveram seus direitos políticos cassados e aposentadorias suspensas. Esse fato lamentável refletia a truculência do regime de exceção e, segundo o Presidente da Fundação Oswaldo Cruz, o biólogo molecular Eloi Garcia, "atrasou em dez anos as pesquisas".  

Mesmo assim, em 1984, pesquisadores da Fiocruz isolaram o vírus da Aids e começaram a pesquisar a doença, desenvolvendo kits de diagnósticos e experimentos com vacinas.  

Hoje, a Fiocruz é o mais importante centro de pesquisa em saúde pública da América Latina. Responsável pela produção de 200 milhões de doses de vacinas e 300 milhões de unidades de medicamentos. Números impressionantes para um País em que aconteceu, no início do século, um quebra-quebra nas ruas contra a vacinação obrigatória.  

Nas palavras do Presidente da Instituição, "este é o centenário que deu certo: investir em saúde pública. Em 1900, a expectativa de vida do brasileiro era de 36, 37 anos. Hoje, nas grande cidades, chega a 70 anos. Isso só foi possível graças e muita ciência e tecnologia".  

A Fundação Oswaldo Cruz tem 48 laboratórios de referência mundial e 3.180 funcionários, sendo 700 pesquisadores, metade deles com doutorado. Além disso, não é apenas um pólo de pesquisas avançadas e estudos complexos. Também é um parque temático, de ciências, é claro. O Museu da Vida foi inaugurado há um ano e já recebeu cerca de 60 mil visitantes. Visando gerar o interesse dos jovens pela ciência, o espaço mostra, em experiências interativas, que assuntos como química, física ou biologia podem divertir.  

É dever de todos aqueles que querem construir um Brasil melhor, lutar pela continuidade e fortalecimento da Fiocruz, sonho de um ilustre cientista, Oswaldo Gonçalves Cruz, falecido aos 44 anos, em fevereiro de 1917. O homem pode ter morrido, mas o ideal daquele gênio visionário continuará imortalizado pela obra que muito justamente recebeu o seu nome.  

Meus parabéns aos funcionários e diretores da Fundação Oswaldo Cruz. Espero que o povo brasileiro possa comemorar e festejar muitos outros centenários dessa instituição que é um orgulho do Brasil.  

Muito obrigado.  

(Palmas) 

 

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Este texto não substitui o publicado no DSF de 25/05/2000 - Página 10703