O SR. CARLOS PATROCÍNIO (PFL - TO) – Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Brasil acaba de alcançar um feito notável na área de biotecnologia. Pesquisadores brasileiros acabam de concluir o seqüenciamento genético da bactéria Xylella fastidiosa , causadora da doença conhecida vulgarmente como "amarelinho". Essa doença infestou mais de um terço das plantações de laranja do País, causando um prejuízo estimado em 100 milhões de dólares por ano aos nossos citricultores.  

A pesquisa que levou ao seqüenciamento do DNA da Xylella fastidiosa faz parte do Projeto Genoma, da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo – FAPESP, instituição que concebeu, articulou e financiou o Projeto Genoma paulista. Só no Estado de São Paulo, estavam envolvidos no Projeto 35 laboratórios e 192 pesquisadores. O investimento inicial foi de 15 milhões de dólares, montante muito pequeno comparativamente ao grande avanço obtido.  

No âmbito científico, o seqüenciamento do genoma da bactéria Xylella fastidiosa projeta o Brasil para a liderança internacional na pesquisa genética de organismos causadores de doenças em plantas. Esse é o primeiro – e por enquanto o único – trabalho de seqüenciamento do código genético de uma bactéria responsável por praga agrícola.  

Para se ter uma idéia do impacto dessa descoberta no mundo científico, devemos lembrar que apenas 14 grupos de cientistas em todo o mundo foram capazes de seqüenciar um genoma inteiro. São grupos europeus, norte-americanos e japoneses. O décimo-quinto grupo é o brasileiro, articulado pela FAPESP. Até o momento, no mundo todo, são conhecidas apenas 24 seqüências completas de genomas microbianos. Nenhuma delas, entretanto, foi elaborada fora do eixo Estados Unidos-Europa-Japão.  

Com esse extraordinário feito, o Brasil se torna a primeira nação do hemisfério sul a dominar a tecnologia do seqüenciamento genético. Tem razão o Governador Mário Covas ao dizer que esse trabalho levanta a auto-estima do País. Não tenho dúvida em afirmar que estamos diante de uma façanha de rara magnitude para a história da ciência no País, daquelas que marcam época e se tornam verdadeiramente revolucionárias.  

Os resultados do projeto deverão ser publicados na Nature, uma das bíblias da ciência mundial, e já está sendo requerida a patente de nove genes da Xylella, para assegurar a propriedade intelectual sobre a descoberta. Esses genes têm aplicação na indústria de alimentos e no controle da praga.  

Além do avanço genético propriamente dito, a pesquisa traz em si outros méritos. Para realizar o estudo sem a necessidade de construir um espaço físico próprio, a FAPESP organizou um instituto virtual de pesquisa, a Organização para Seqüenciamento e Análise de Nucleotídeos , cuja sigla do nome em inglês é ONSA. Essa organização é composta por uma rede de mais de 50 laboratórios. A rede ONSA funciona como um grande laboratório de gerenciamento genético, com capacidade de gerar, por dia, uma quantidade de informações equivalente a 20 mil vezes as obras completas de Shakespeare. Pois bem, esse é outro mérito do Projeto Genoma da FAPESP. Ele implantou no País a bioinformática.  

A pesquisa levou ainda ao desenvolvimento de um novo método de seqüenciamento genético, batizado de "método Orestes", que já está sendo patenteado internacionalmente. Graças a esse método, conseguiu-se a façanha recorde de identificar, em apenas um mês de trabalho, mais de uma centena de genes novos do cromossomo humano 22. A comunidade científica internacional está vendo essa técnica de seqüenciamento genético desenvolvida no Brasil como uma saída provável para acelerar o Projeto Genoma Humano internacional. Esse projeto internacional é um empreendimento gigantesco financiado pelo governo norte-americano, que envolve centenas de laboratórios e universidades do Primeiro Mundo, com a tarefa de mapear todos os genes da espécie humana.  

A FAPESP tomou uma decisão acertada ao direcionar recursos de pesquisa para o seqüenciamento genético da Xylella fastidiosa. Identificada em 1987, a Xylella causa a doença Clorose Variegada dos Citros, a CVC, mais conhecida como "amarelinho". Por atacar principalmente as plantas jovens, especialistas acreditam que o futuro da citricultura em São Paulo estará seriamente ameaçado, caso a doença não seja detida a tempo.  

O parque citricultor paulista é o maior do mundo, Senhor Presidente! Tem perto de 800 mil hectares plantados com laranja, faturamento anual de 2 bilhões de dólares, e gera mais de 1 milhão e 600 mil empregos entre diretos e indiretos. O Brasil responde por quase 35% da produção mundial de laranja, seguido pelos Estados Unidos, que produzem quase 18% do total. Estatísticas apontam que a cada 10 copos de suco concentrado de laranja servidos no mundo, 8 são de suco brasileiro. Tais números mostram a importância dos avanços científicos no combate às doenças da laranja.  

É por isso que faço questão, Senhor Presidente, de registrar, nos anais desta Casa, a extraordinária façanha dos pesquisadores paulistas no conhecimento genético da bactéria causadora da CVC, o terrível "amarelinho". E faço-o, ademais, com o orgulho de ser brasileiro! Esses pesquisadores merecem ter seu mérito reconhecido por esta Casa. Merecem, acima de tudo, nosso louvor e aplauso. Também merece nosso louvor e aplauso a instituição paulista FAPESP, que, com discernimento e competência, direcionou seus recursos para financiar pesquisa de alto valor social e econômico para o País.  

Feitos dessa natureza servem para comprovar a capacidade competitiva de nossos pesquisadores, mesmo em áreas científicas de ponta. Com parcas sete décadas de existência, nosso sistema universitário mostra sua pujança, diante de outros países que contam com universidades seculares. É preciso termos isso em mente no momento em que chegar a nossos ouvidos o clamor dos professores universitários e dos pesquisadores por melhores condições de trabalho e remuneração mais condizente com sua alta função social.  

Era o que tinha a dizer.  

Muito obrigado.  

¿ =