Discurso durante a 81ª Sessão Deliberativa Ordinária, no Senado Federal

DESCRENÇA QUANTO A EFICACIA DO PLANO DE SEGURANÇA PUBLICA A SER ANUNCIADO PELO GOVERNO FEDERAL.

Autor
Eduardo Suplicy (PT - Partido dos Trabalhadores/SP)
Nome completo: Eduardo Matarazzo Suplicy
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SEGURANÇA PUBLICA.:
  • DESCRENÇA QUANTO A EFICACIA DO PLANO DE SEGURANÇA PUBLICA A SER ANUNCIADO PELO GOVERNO FEDERAL.
Publicação
Publicação no DSF de 21/06/2000 - Página 13375
Assunto
Outros > SEGURANÇA PUBLICA.
Indexação
  • COMENTARIO, INSUFICIENCIA, PLANO NACIONAL, SEGURANÇA PUBLICA, NECESSIDADE, CONSCIENTIZAÇÃO, GOVERNO, URGENCIA, DESENVOLVIMENTO SOCIAL, EMPREGO, RENDA MINIMA, PREVENÇÃO, VIOLENCIA.

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP. Para uma comunicação inadiável. Sem revisão do orador.) – Aiiiiii...! Fico pensando, Sr. Presidente, nos gritos que eu ouvia quando menino, dez anos de idade; em frente à janela de meu quarto, ouvia mulheres gritando. Eram 23 horas, meia noite, e a história se repetia. E eu ia lá para a janela olhar, e depois procurei saber por que as mulheres estavam gritando. Eram mulheres que haviam, por não ter alternativa, resolvido vender o seu corpo. E ficava pensando no seu destino. Depois de alguns dias, tendo passado a noite no distrito policial, voltavam à rotina, para, alguns dias depois, a cena se repetir. Essas coisas me fizeram procurar pensar por que é que era assim, e se não poderia ser diferente.  

Eu me lembro dessas coisas por causa do Presidente da República, que, daqui a instantes, anunciará o plano de segurança. Fico pensando nos gritos daquelas pessoas que estavam no ônibus seqüestrado por Sandro do Nascimento. Fico pensando nas razões que levaram Sandro do Nascimento, tendo sobrevivido ao massacre da Candelária, onde tantas crianças foram mortas por policiais, e não tendo encontrado alternativa de viver, a tal procedimento, ele que, quando menino, escreveu em sua composição: "eles não são animais não, são crianças indefesas, sem nenhuma riqueza, eles saíram do inferno!"  

Ah!, será que o Plano de Segurança, em que o Presidente disse que vai lançar as Forças Armadas para vigiar as fronteiras; será que simplesmente impedir que haja licença para adquirir armas por seis meses; será que planos de iluminar melhor a cidade – isso é até razoável; mas será que sem perceber que se faz necessário, com maior urgência, transformar a realidade socioeconômica brasileira, assegurar emprego, senão renda adequada para todos, renda suficiente para assegurar a sobrevivência digna; será que o Presidente não se lembra das lições de há tantos séculos? Thomas More disse - quando instituída a pena de morte na Inglaterra, que não havia assegurado a diminuição das mortes, dos assaltos, dos assassinatos - "que muito mais eficaz do que infringir estes castigos horríveis a quem não tem outra alternativa senão de, primeiro, tornar-se um ladrão" - como Sandro do Nascimento - "para depois ser transformado em cadáver, é assegurar a sobrevivência das pessoas".  

Ora, Sr. Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o plano do Presidente Fernando Henrique Cardoso é extraordinariamente insuficiente, porque não atinge a raiz do problema da violência no Brasil. Se, de 1979 a 1998, o número de assassinatos no Brasil aumentou sete vezes mais do que o crescimento da população, conforme ressaltou o jornal O Estado de S. Paulo , em sua edição de domingo último, e consta de estudos que o Presidente anunciará hoje, Sua Excelência precisa se dar conta de que a razão dessa quantidade cada vez maior de homicídios está estreitamente relacionada à não resolução dos problemas sociais. O Presidente ainda não se deu conta de que este é o principal problema. Apenas quando Sua Excelência perceber isso iremos avançar na direção da sociedade mais justa a que ele, ao se despedir do Senado, se referiu. O Brasil tinha pressa de chegar a ela, segundo Sua Excelência. Uma nação civilizada e justa faz-se com a percepção adequada desses valores e da necessidade de transformar as causas principais.  

O Sr. Roberto Saturnino (PSB – RJ) – Senador Eduardo Suplicy, V. Exª me permite um aparte?  

O SR. EDUARDO SUPLICY (Bloco/PT – SP) – Senador Roberto Saturnino, eu gostaria muito de conceder o aparte a V. Exª, mas já estou concluindo a minha oração, pois disponho de apenas cinco minutos.  

Muito obrigado.  

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 


Este texto não substitui o publicado no DSF de 21/06/2000 - Página 13375