Discurso durante a 115ª Sessão Não Deliberativa, no Senado Federal

Preocupação com a intervenção norte-americana na Colômbia e a possível invasão das fronteiras brasileiras pelos guerrilheiros daquele País que protegem o narcotráfico.

Autor
Nabor Júnior (PMDB - Movimento Democrático Brasileiro/AC)
Nome completo: Nabor Teles da Rocha Júnior
Casa
Senado Federal
Tipo
Discurso
Resumo por assunto
SOBERANIA NACIONAL.:
  • Preocupação com a intervenção norte-americana na Colômbia e a possível invasão das fronteiras brasileiras pelos guerrilheiros daquele País que protegem o narcotráfico.
Publicação
Publicação no DSF de 07/09/2000 - Página 18226
Assunto
Outros > SOBERANIA NACIONAL.
Indexação
  • APREENSÃO, ORADOR, INTERVENÇÃO, PAIS ESTRANGEIRO, ESTADOS UNIDOS DA AMERICA (EUA), COLOMBIA, POSSIBILIDADE, OCORRENCIA, INVASÃO, COMBATENTE, GUERRILHA, PROTEÇÃO, TRAFICO, DROGA, FRONTEIRA, BRASIL, AMEAÇA, SOBERANIA NACIONAL.

  SENADO FEDERAL SF -

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O SR. NABOR JÚNIOR (PMDB - AC. Pronuncia o seguinte discurso. Sem revisão do orador.) - Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, a intervenção militar e política dos Estados Unidos na Colômbia é um fato da maior seriedade, mesmo tendo sido feita de comum acordo com o Governo daquele país. Mas isso apenas repete o que aconteceu no Vietnã, onde os americanos diziam estar “atendendo” a um pedido de socorro dos seus aliados de Saigon, duramente surrados pelos vietcongues.

Tal tipo de situação traz grandes ameaças para todo o sistema democrático continental, porque, embora saibamos como ela começa, é impossível prever seu desfecho.

Seria mais ou menos como o caso daquele técnico de futebol que, no vestiário, antes do jogo, esbanjava doutrinamentos táticos, dizendo que o time ia “atacar assim”, “defender-se assado”, ia infiltrar-se pelas laterais e cruzar da linha de fundo, construindo uma verdadeira batalha e antecipando as movimentações de ambos os times - ou exércitos, como ele parecia armar. Mané Garrincha, que era menos tolo do que parecia, ouvia, muito atento e calado; só abriu a boca para fazer uma pergunta: “Tá legal. Mas o senhor já combinou isso tudo com os adversários?”.

            No caso da Colômbia, a pergunta seria basicamente a mesma: “Os Estados Unidos já combinaram tudo com as FARC, o ELN, os outros grupos esquerdistas, as milícias paramilitares direitistas e os poderosíssimos cartéis produtores de cocaína?”.

Não se trata de ser pró-americano ou anti-americano, a questão é pensar no que realmente interessa ao Brasil ou o ameaça.

Como sempre, faço as minhas opções - políticas, ideológicas e partidárias - com equilíbrio; pondero atitudes conservadoras, resistindo às tentações de mudar por mudar, ao mudancismo irresponsável, e propostas progressistas - a luta contra todas as ditaduras e em favor das liberdades básicas do homem, voltada para o progresso social do povo brasileiro, em particular, do acreano. Portanto, não vou entrar no aspecto doméstico dos problemas colombianos, embora lastime o terrível drama vivido pelos irmãos vizinhos que destrói, a cada dia, novos pedaços da rica cultura e da alma generosa que os caracterizam.

Mas a partir do momento em que a tragédia começa a voltar-se contra nós, brasileiros, o problema passa a ser nosso, sim! Alguém pretende ver os 30 mil guerrilheiros obstinados e bem municiados, que hoje dominam metade da Colômbia, simplesmente abrindo os braços e gritando welcome para os “conselheiros” do Pentágono? Ou, na hipótese mais verossímil, quando forem derrotados os rebeldes, em combates que se prevêem encarniçados, para onde eles fugirão? Pior ainda: erradicadas as plantações de coca, que farão seus senhores? Dirão “sim, perdemos, tudo bem” ou buscarão outro lugar para continuar produzindo a droga maldita, que tem no próprio mercado dos Estados Unidos seu maior ponto de consumo?

Acontecendo isso, não fica muito difícil prever para onde eles vão fugir, em que outro país os rebeldes reagruparão suas forcas e os cocaineiros darão início a novas plantações, em larga escala. Basta olhar o mapa! Basta prestar atenção aos números, aos dados geográficos, à precária presença do Estado brasileiro na Amazônia; basta isso para descobrirmos que eles vão atravessar as nossas fronteiras e se instalar aqui.

Srª Presidente, Srªs e Srs. Senadores, o Acre faz divisa com a Bolívia, que já foi o maior produtor de coca antes dos cartéis colombianos, e Peru, cuja produção é significativa e onde a efervescente mobilização rebelde cria forte clima de permanente instabilidade regional. Ou seja, não é difícil antever o que vem por aí!

Estive, até o início desta semana, mergulhado na campanha eleitoral, em nosso Estado, mas as preocupantes notícias que chegavam pelos jornais e pelo noticiário da TV e informações recebidas do Senado fizeram-me retornar a Brasília, para, cumprindo as obrigações do mandato recebido do povo acreano, tomar ciência do que realmente vem ocorrendo.

A situação, de fato, é grave e ameaça toda a Amazônia, pois embute velhos sonhos de internacionalização da área, metade da América do Sul, onde estão imensas reservas minerais e de recursos naturais.

A partir da próxima segunda-feira, os Senadores deixarão de lado o processo eleitoral, e, estou certo, esse tema vai centralizar as atenções do Plenário e das Comissões. O Brasil não pode ficar inerte ou se omitir perante ameaças tão concretas e preocupantes à sua soberania e à sua paz interna.

Era o que tinha a dizer, Srª Presidente.

Muito obrigado.


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Este texto não substitui o publicado no DSF de 07/09/2000 - Página 18226